Douglas Diegues

poeta brasileiro

Douglas Diegues (Rio de Janeiro, 1965) [1] é um poeta considerado de vanguarda e co-autor de estudo que é considerado um dos mais sérios sobre as poéticas de povos indígenas do Brasil.

Douglas Diegues
Douglas Diegues
Dieges da Bienal de Poesia de Moscou 2019
Nascimento 1965 (59 anos)
Rio de Janeiro
Residência Campo Grande, Ponta Porã e Asunción (Paraguai)
Nacionalidade Brasil Brasileiro
Ocupação Poeta
Principais trabalhos Dá gusto andar desnudo por estas selvas (2002), Triplefrontera dreams (2012) e El astronauta paraguayo (2012)

Notícia biográfica editar

Filho de um carioca que foi fotógrafo profissional da revista O Cruzeiro com uma falante hispano-guarani [2], Douglas Diegues carregará esta herança cultural complexa para sua atividade cultural.

Tendo sido criado e vivido por muito tempo em Ponta Porã, na fronteira do Brasil com o Paraguai, o poeta viveu posteriormente entre as cidades de Assunção do Paraguai e Campo Grande, Brasil[3].

Tornando-se amigo e frequentador da companhia de Manoel de Barros, escreveu em parceria com este o roteiro do documentário televisivo "O Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina", exibido pela TV Cultura de São Paulo em agosto de 2004, que aborda a vida e a obra de Barros.

Em 2006, organiza e traduz a antologia de poesia guarani Kosmofonia mbya guarani, em co-autoria com o antropólogo e musicólogo Guillermo Sequera, estudo que será considerado um dos mais sérios sobre poéticas ditas primitivas no Brasil até hoje.

Em 2007 funda a Yiyi Jambo, em Assunção, editora que publicará em edições artesanais autores do Brasil e do Paraguai, além de traduções a um particular tipo de "portunhol", língua em que o poeta também escreverá, quase que exclusivamente, de autores consagrados da poesia mundial.

Atualmente, o poeta vive na capital paraguaia.

A pesquisa em etnopoesia editar

A antologia de poesia guarani chamada Kosmofonia mbya guarani, com traduções em co-autoria com Guillermo Sequera, é considerada uma das mais sérias pesquisas feitas sobre etnopoesia no Brasil [4], não se limitando a trazer a tradução destes cantos, agregando-se a um livro com artigos e depoimentos, um CD e transcrições dos cantos indígenas.

O poeta Manoel de Barros, após ouvir os cantos ali reunidos afirmou: "Eles (os cantos) me transportaram para os ancestrais, para os fósseis lingüísticos, lá onde se misturam as primeiras formas, as primeiras vozes. A voz das águas, do sol, das crianças, dos pássaros, das árvores, das rãs. Passei quase duas horas deitado nos meus inícios, nos inícios dos cantos do homem" [5].

A poética incomum editar

 
Recitando seus poemas

Considerado por poetas como um dos maiores poetas brasileiros das últimas gerações [6], Douglas Diegues produz uma obra poética, definitivamente, incomum, escrevendo em uma interlíngua resultante do português, do castelhano e do guarani, que o poeta chama de Portunhol Selvagem. A respeito desta língua sem gramática escrita, explorada pelo poeta de forma muito particular, Diegues declara: "A língua mestiça com que escrevo é visceral. O portunhol fronteiro tem uma graça encantatória que me fascina. Acho-o feio, de mau gosto, bizarro, rupestre, mas tem uma graça que me seduz, me impacta antes e depois dos meus gostos, dos gostos do meu cérebro aculturado" [7].

Sendo seus poemas, muitas vezes, sonetos, concomitantemente Diegues faz uso dos mitos guaranis e de referências à poesia e à arte de vanguarda, como por exemplo, ao Dadaísmo e ao Ready made, resultando, por este motivo, em arranjos ao mesmo tempo "muito antigos e muito atuais" [8].

Desta forma, sobre seus 30 sonetos publicados sob o título "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas - Sonetos Salvajes", o poeta Glauco Mattoso afirma que "provocam um estranhamento que desalinha a percepção e constrói um espaço mítico". Por isso Mattoso os chama de "sonetos insurretos"[7].

A esta maneira peculiar de escrever, ao mesmo tempo nova e antiga, que pretende elevar o portunhol ao nível de língua literária, demonstrando também a novidade da poética primitiva, Diegues denominou de Vanguarda primitiva, conceito inventado por ele e Manoel de Barros para definir a poesia de ambos.

Obra editar

Poemas próprios editar

 
Diegues na feira Non/fictio№21 em Moscou
  • Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas (Travessa dos Editores; Curitiba, PR, 2003);
  • Uma Flor na Solapa da Miséria (Eloisa Cartonera, Buenos Aires, 2005); Rocio (Jakembo Editores, Asuncion, Paraguay, 2007);
  • El Astronauta Paraguayo, (Yiyi Jambo, Asunción, 2007);
  • La Camaleoa, (Yiyi Jambo, Asunción, 2008);
  • DD Erotikon & Salbaje, (Felicita Cartonera, Asunción, 2009);
  • Sonetokuera en aleman, portuniol salvaje y guarani (Mburukujarami kartonera, Luquelandia, Paraguay, 2009).

Organização editar

  • Antologias: Lluvia Negra, 11 narradores paraguayos y non-paraguayos (Yiyi Jambo, Asuncion, 2009).

Organização e co-tradução editar

  • Kosmofonia Mbyá-Guarani. Tradução Guillermo Sequera. Adaptação dos textos e organização Douglas Diegues. (Mendonça & Provazi Editores, São Paulo, 2006).

Traduções (recriações para o portunhol) editar

  • Open Eyes and otros poemas kaures, de Malcolm Lowry (Yiyi Jambo, Asuncion, 2009);
  • El Kuervo, de Edgar Allan Poe (Yiyi Jambo, Asuncion, 2009);
  • El Rey Lear en Asuncionlandia", de Tomas Eloy Martinez, (Yiyi Jambo, 2009).

Referências

Ligações externas editar

 
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