Eleições estaduais no Ceará em 1986

As eleições estaduais no Ceará em 1986 ocorreram em 15 de novembro como parte das eleições no Distrito Federal, em 23 estados e nos territórios federais do Amapá e Roraima.[1] Foram eleitos o governador Tasso Jereissati, o vice-governador Castelo de Castro, os senadores Mauro Benevides e Cid Saboia de Carvalho, mais 22 deputados federais e 46 deputados estaduais. Foi a derradeira eleição para governador em que não vigiam os dois turnos e nela a vitória foi de Tasso Jereissati, candidato apoiado pelo então governador Gonzaga Mota no único triunfo do PMDB em disputas pelo Palácio Iracema.[2][3][4][nota 1][nota 2]

1982 Brasil 1990
Eleições estaduais no  Ceará em 1986
15 de novembro de 1986
(Turno único)
Candidato Tasso Jereissati Adauto Bezerra
Partido PMDB PFL
Natural de Fortaleza, CE Juazeiro do Norte, CE
Vice Castelo de Castro Aquiles Mota
Votos 1.407.693 807.315
Porcentagem 61,46% 35,25%
Candidato mais votado por município (164):
  Tasso (120)
  Adauto Bezerra (44)

Titular
Gonzaga Mota
PMDB

Para entender o resultado desta eleição é preciso recuar até 1962 quando Virgílio Távora engendrou uma coligação denominada "União pelo Ceará" ao unir UDN e PSD e isto serviu como embrião da ARENA tão logo o Regime Militar de 1964 forçou o bipartidarismo e dividiu o poder estadual também com César Cals e Adauto Bezerra que formavam um triunvirato de coronéis cujo poder vinha do clientelismo e das patentes militares ostentadas pelo trio.[5][6] Tamanho era o domínio exercido que, exceto pela vitória de Mauro Benevides para senador em 1974,[4] o grupo não sofreu qualquer revés eleitoral. Entretanto com a proximidade das eleições de 1982 as tensões no PDS, o novo partido governista, levaram à escolha do professor e economista Gonzaga Mota, único nome capaz de aglutinar os grupos divergentes.[7] Escolhido o cabeça de chapa os coronéis acertaram que Adauto Bezerra seria o vice-governador e Virgílio Távora o senador com César Cals tendo o direito de indicar seu filho, César Cals Neto, à prefeitura de Fortaleza num tratado confirmado pela vitória de Gonzaga Mota.[7]

A eleição de Tancredo Neves e o subsequente governo de José Sarney, todavia, mudaram o quadro político no estado a ponto de Gonzaga Mota romper com seus padrinhos e ingressar no PMDB[nota 3] abrindo o caminho à vitória do empresário Tasso Jereissati ao governo.[8] Natural de Fortaleza, filho de Carlos Jereissati e genro de Edson Queiroz, o novo governador do Ceará é formado em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas e desenvolve a atividade política desde 1976, quando ingressou no Centro Industrial do Ceará, uma espécie de fórum para debates políticos e econômicos. Sua gestão à frente do executivo estadual deu força política ao tassismo, responsável pela vitória de Ciro Gomes para prefeito de Fortaleza em 1988 e com o ingresso deles no PSDB em 16 de janeiro de 1990[9] foi erigida formalmente uma aliança política responsável pela chegada de Ciro Gomes ao Palácio Iracema naquele ano numa união que durou até às vésperas do pleito de 2006 quando a união foi rompida visto que Ciro Gomes e seu irmão, o então governador Cid Gomes, davam suporte ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Consumada a defecção de Gonzaga Mota, os coronéis da política cearense reeditaram a extinta ARENA ao anunciar a chamada "Coligação Democrática" formada pelo PFL de Adauto Bezerra e o PDS de César Cals e Virgílio Távora com o apoio do PTB.[10]

Resultado da eleição para governador editar

De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará houve 293.271 (10,90%) votos em branco e 106.687 (3,97%) votos nulos calculados sobre um total de 2.690.314 eleitores com os 2.290.356 votos nominais assim distribuídos:[4][11]

Candidatos a governador do estado
Candidatos a vice-governador Número Coligação Votação Percentual
Tasso Jereissati
PMDB
Castelo de Castro
PMDB
15
Movimento Pró-Mudanças
(PMDB, PDC, PCB, PCdoB)
1.407.693
61,46%
Adauto Bezerra
PFL
Aquiles Mota
PDS
25
Coligação Democrática
(PFL, PDS, PTB)
807.315
35,25%
Haroldo Coelho
PT
Walton Miranda Leitão
PSB
13
PT, PSB
68.044
2,97%
Francisco Quintela
PSC
Hugo Martins Lessa
PSC
20
União Liberal-Cristã
(PSC, PL)
7.304
0,32%
  Eleito

Resultado da eleição para senador editar

De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará houve 1.163.694 (21,63%) votos em branco e 210.989 (3,92%) votos nulos calculados sobre um total de 5.380.628 eleitores com os 4.005.945 votos nominais assim distribuídos:[4][12][nota 4]

 
Candidato mais votado por município (184):
  Mauro Benevides e Cid Saboia (136)
  Paulo Lustosa (46)
  Cesar Cals (1)
  Empate
Candidatos a senador da República
Candidatos a suplente de senador Número Coligação Votação Percentual
Mauro Benevides[nota 5]
PMDB
Djalma Eufrásio
PMDB
Humberto Esmeraldo Barreto
PMDB
151
Coligação Pró-Mudanças
(PMDB, PDC, PCB, PCdoB)
1.219.289
30,44%
Cid Saboia de Carvalho
PMDB
[nota 6]
PMDB
152
Coligação Pró-Mudanças
(PMDB, PDC, PCB, PCdoB)
950.231
23,72%
Paulo Lustosa
PFL
Ernani Viana
PFL
251
Coligação Democrática
(PFL, PDS, PTB)
732.169
18,28%
César Cals
PDS
Manuel de Castro Filho
PDS
111
Coligação Democrática
(PFL, PDS, PTB)
602.546
15,04%
Esmerino Arruda[nota 7]
PMDB
[nota 6]
PMDB
154
Coligação Pró-Mudanças
(PMDB, PDC, PCB, PCdoB)
116.990
2,92%
Pedro Gurjão
PDT
Não disponível
PDT
121
PDT (sem coligação)
114.019
2,85%
Eduardo Jucá
PSB
Não disponível
PSB
401
PT, PSB
104.644
2,61%
Nestor Vasconcelos
PMDB
[nota 6]
PMDB
153
Coligação Pró-Mudanças
(PMDB, PDC, PCB, PCdoB)
65.151
1,63%
Cleide Bernal
PT
Não disponível
PT
131
PT, PSB
49.878
1,24%
Alberto Teixeira
PDT
Não disponível
PDT
122
PDT (sem coligação)
19.668
0,49%
Francisco Rodrigues
PSC
Maria Valquíria Veras
PSC
202
União Liberal-Cristã
(PSC, PL)
16.375
0,41%
Olga Silva
PL
Não disponível
PL
222
União Liberal-Cristã
(PSC, PL)
14.985
0,37%
  Eleitos

Deputados federais eleitos editar

São relacionados os candidatos eleitos com informações complementares da Câmara dos Deputados.[13][14]

Representação eleita

  PMDB: 12
  PFL: 6
  PDS: 3
  PDT: 1
FonteːTSE[1]
Deputados federais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Lúcio Alcântara PFL 102.691 Fortaleza   Ceará
Moema São Thiago PDT 83.341 Formiga   Minas Gerais
Paes de Andrade PMDB 72.748 Mombaça   Ceará
Mauro Sampaio PMDB 64.089 Fortaleza   Ceará
Bezerra de Melo PMDB 57.815 Crateús   Ceará
Expedito Machado PMDB 56.462 Crateús   Ceará
Ubiratan Aguiar PMDB 56.342 Cedro   Ceará
Luís Marques[nota 8] PFL 53.697 Tauá   Ceará
César Cals Neto PDS 49.554 Fortaleza   Ceará
Orlando Bezerra PFL 49.291 Juazeiro do Norte   Ceará
Firmo de Castro PMDB 48.786 Fortaleza   Ceará
Osmundo Rebouças PMDB 46.452 Aracati   Ceará
Carlos Virgílio Távora PDS 45.673 Fortaleza   Ceará
Carlos Benevides PMDB 43.915 Fortaleza   Ceará
Etevaldo Nogueira PFL 43.495 Pedro II   Piauí
Moisés Pimentel PMDB 41.457 Crateús   Ceará
Aécio de Borba PDS 40.929 Fortaleza   Ceará
Gidel Dantas PMDB 40.459 Caraúbas   Rio Grande do Norte
Manuel Viana PMDB 40.084 Fortaleza   Ceará
José Lins PFL 39.954 Crateús   Ceará
Furtado Leite PFL 39.104 Santana do Cariri   Ceará
Raimundo Bezerra PMDB 38.053 Crateús   Ceará

Deputados estaduais eleitos editar

Na distribuição das cadeiras os números foram os seguintes: PMDB vinte e quatro, PFL treze, PDS cinco, PDT duas, PT duas.[4][15]

Representação eleita

  PMDB: 24
  PFL: 13
  PDS: 5
  PDT: 2
  PT: 2
FonteːTSE[1]
Deputados estaduais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Narcélio Limaverde PMDB 36.468 Fortaleza   Ceará
Antônio Câmara PMDB 31.734 Tauá   Ceará
Alexandre Figueiredo PMDB 30.043 Sobral   Ceará
Maria Dias PMDB 29.057 Fortaleza   Ceará
Francisco Aguiar PMDB 28.983 Fortaleza   Ceará
Macário de Brito PMDB 28.598 Campos Sales   Ceará
Antônio dos Santos PFL 27.427 Crateús   Ceará
Tomaz Brandão PMDB 26.961 Crateús   Ceará
Jarbas Bezerra PFL 25.888 Juazeiro do Norte   Ceará
Agaci Fernandes PMDB 25.337 Russas   Ceará
Erasmo Alencar PMDB 25.088 Catolé do Rocha   Paraíba
Manuel Duca PMDB 23.910 Fortaleza   Ceará
Maria Lúcia PMDB 23.319 Monsenhor Tabosa   Ceará
José Prado PFL 22.113 Sobral   Ceará
Antônio Bitu dos Santos PFL 22.083 Crato   Ceará
Pinheiro Landim PMDB 21.778 Solonópole   Ceará
Edson Silva PDT 21.215 Fortaleza   Ceará
Eudoro Santana PMDB 20.947 Quixeramobim   Ceará
Liardeson Pontes PDS 20.713 Fortaleza   Ceará
Everardo Silveira PMDB 20.651 Baturité   Ceará
Teófilo Girão PFL 19.952 Morada Nova   Ceará
Marcos Cals PDS 19.693 Recife   Pernambuco
Carlos Cruz PMDB 19.021 Juazeiro do Norte   Ceará
Antônio Tavares PMDB 18.852 Barro   Ceará
Tarcísio Monteiro PMDB 18.829 Icó   Ceará
Eufrasino Neto PMDB 18.697 Poranga   Ceará
Domingos Fontes PFL 18.420 Fortaleza   Ceará
João Luiz Ramalho PFL 17.626 Fortaleza   Ceará
Ciro Gomes PMDB 17.602 Pindamonhangaba   São Paulo
Fonseca Coelho PFL 17.712 Tamboril   Ceará
Luiz Pontes PMDB 17.381 Fortaleza   Ceará
Barros Pinho PMDB 17.337 Teresina   Piauí
Antônio Jacó PDS 17.158 Redenção   Ceará
Erivano Cruz PFL 17.129 Barbalha   Ceará
Júlio Rego PFL 17.043 Tauá   Ceará
Geraldo Azevedo PFL 16.632 Itapipoca   Ceará
Nilo Sérgio PDS 16.332 Várzea Alegre   Ceará
Franzé Moraes PMDB 16.264 Fortaleza   Ceará
Cláudio Pinho PMDB 15.825 Fortaleza   Ceará
Gomes Farias PMDB 15.689 Ipu   Ceará
Pedro José PFL 15.682 Pacajus   Ceará
Elmo Moreno PDS 15.354 Iguatu   Ceará
Ednaldo Bessa PFL 15.174 Beberibe   Ceará
João Alfredo PT 9.588 Fortaleza   Ceará
Paulo Quezado PDT 6.636 Aurora   Ceará
Ilário Marques PT 6.086 Quixadá   Ceará

Notas

  1. O Distrito Federal elegeu três senadores e oito deputados federais de acordo com a Emenda Constitucional 25 de 15/05/1985 enquanto os territórios federais elegeram quatro deputados federais cada de acordo com a Emenda Constitucional nº 22 de 29/06/1982, sendo que em Fernando de Noronha não houve escolha de representantes.
  2. A sede anterior do governo, o Palácio da Abolição, só recuperaria seu status em 2011.
  3. Em 1982 o PDS elegeu todos os governadores do Nordeste, dos quais sete ingressaram no PFL (Luís Rocha, Hugo Napoleão, José Agripino Maia, Wilson Braga, Roberto Magalhães, Guilherme Palmeira, João Alves Filho) e Gonzaga Mota passou rapidamente pelo PFL antes de optar pelo PMDB enquanto João Durval Carneiro ficou no PDS.
  4. Após a promulgação da Emenda Constitucional Número Um, a Constituição de 1967 dizia (Art. 41 § 2º) que cada senador seria eleito com o seu suplente. Em 1986 os candidatos ao Senado Federal concorriam ao lado de dois suplentes (exceto em casos de sublegenda), entretanto citamos aqui apenas o primeiro de cada chapa sem, contudo, deixar de referenciar o outro quando necessário.
  5. A candidatura de Mauro Benevides foi abrigada numa sublegenda enquanto os demais postulantes do PMDB concorreram em outra.
  6. a b c Havendo três candidatos a senador numa sublegenda, o mais votado seria eleito e os demais figurariam como suplentes conforme a ordem de votação, de acordo com a lei.
  7. Sua eleição à prefeitura de Granja em 1988 o fez renunciar à suplência.
  8. Renunciou em 23 de maio de 1990 para assumir a direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) sendo efetivado Flávio Marcílio.

Referências

  1. a b c BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Repositório de Dados Eleitorais». Consultado em 31 de janeiro de 2022 
  2. BRASIL. Presidência da República. «Emenda Constitucional n.º 25 de 15/05/1985». Consultado em 5 de junho de 2016 
  3. BRASIL. Presidência da República. «Emenda Constitucional n.º 22 de 29/06/1982». Consultado em 5 de junho de 2016 
  4. a b c d e «Banco de dados do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará». Consultado em 23 de setembro de 2013 
  5. "Coronéis" cearenses se unem para eleição (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 24/03/1986. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 11 de agosto de 2020.
  6. Tasso x Coronéis (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 06/09/1986. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 11 de maio de 2016.
  7. a b Coronéis vão à guerra. Disponível em Veja, ed. 935 de 06/08/1986. São Paulo: Abril.
  8. Tasso, 37 anos, milionário. É o nome do PMDB no Ceará (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 29/04/1986. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 4 de junho de 2016.
  9. Tasso Jereissati se filia ao PSDB e diz que sua opção é "definitiva" (online). Folha de S.Paulo, 17/01/1990. Página visitada em 24 de setembro de 2013.
  10. Três partidos selam acordo com coronéis (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 28/07/1986. Primeiro caderno, p. 02. Página visitada em 4 de junho de 2016.
  11. Ceará tem quatro candidatos (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 04/08/1986. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 4 de maio de 2016.
  12. PDT pode apoiar PT no Ceará e PMDB faz festa para homologar Tasso (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 02/08/1986. Primeiro caderno, p. 02. Página visitada em 4 de maio de 2016.
  13. «Página oficial da Câmara dos Deputados». Consultado em 10 de maio de 2016. Arquivado do original em 2 de outubro de 2013 
  14. BRASIL. Presidência da República. «Lei nº 9.504 de 30/09/1997». Consultado em 10 de maio de 2016 
  15. Maia Diógenes, Osmar (1 de novembro de 1999). «Legislatura de 1987 - Assembleia Legislativa do Ceará» (PDF). Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. Consultado em 7 de dezembro de 2020