Francisco Manuel da Silva

Compositor e professor de música brasileiro

Francisco Manuel [Manoel] da Silva (Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1795 — Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1865) foi um compositor, regente e educador brasileiro. É melhor conhecido como autor da música do Hino ao Sete de Abril, o Hino Nacional Brasileiro.

Francisco Manuel da Silva
Francisco Manuel da Silva
Nascimento 21 de fevereiro de 1795
Rio de Janeiro, Capitania do Rio de Janeiro, Estado do Brasil, Império Português
Morte 18 de dezembro de 1865 (70 anos)
Rio de Janeiro, Município Neutro, Império do Brasil
Nacionalidade brasileira
Ocupação compositor
maestro
Assinatura

Biografia editar

 
Francisco Manuel da Silva, por Luís Aleixo Boulanger.

Pouco se sabe acerca de seu pai, Joaquim Mariano, também músico[1]. Ainda criança, ingressou no curso público de música ministrado por José Maurício Nunes Garcia, no Rio de Janeiro[2]. A partir de 1811 estudou violino com Manuel Joaquim Correia dos Santos, por ordem do Príncipe-Regente Dom João e com recomendação de Marcos Portugal[3]. Além disso, foi aluno de composição de Sigismund von Neukomm[4], que visitou o Brasil de 1816 a 1821.

 
Hymno Nacional Brazileiro em 1931
 
José Correia de Lima, "O maestro Francisco Manuel ditando o Hino Nacional". Museu Nacional de Belas Artes, óleo em tela, 1850.

No coro e depois na orquestra da Real (Imperial após a Independência) Câmara e Capela dos Bragança no Rio de Janeiro, serviu sucessivamente como tiple (1809), timpanista (1823) e violoncelista (1825)[5]. Em 1831, por motivos orçamentários, a orquestra da Capela Imperial foi dissolvida, perdendo Silva sua posição de violoncelista; o coro foi mantido para a continuidade dos serviços litúrgicos. A recuperação ocorreu na década de 1840. Em 1841 e 1842 Silva foi nomeado mestre compositor da Imperial Câmara[6] e Capela[7], respectivamente, e no ano seguinte foi co-responsável pela reativação da orquestra da Capela Imperial em 1843[8]. À época a corte bragantina vivia um momento de efervescência, em função da Maioridade e da Coroação, e sobretudo do casamento de Dom Pedro II[9]. Paralelamente às suas atividades no âmbito da Catedral e Capela, desde ao menos o início da década de 1820 Silva colaborou com as irmandades, confrarias e ordens terceiras de sua cidade, associações leigas tais como as de São Francisco de Paula, Nossa Senhora da Candelária, São José, São Francisco da Penitência e Nossa Senhora do Carmo, em cujas festividades atuou como “diretor de música” (misto de regente e agenciador)[10].

Em 1834 foi nomeado regente da orquestra da recém-instituída Sociedade Filarmônica, um grêmio aristocrático formado de músicos amadores e profissionais[11], casando-se com uma integrante, sua segunda esposa, no ano seguinte[12]. No mesmo ano de 1834 foi eleito diretor da Sociedade de Música (mais tarde Sociedade Beneficência Musical), também recém-fundada, instituição que sucedeu a Irmandade da Gloriosa Virgem e Mártir Santa Cecília na regulamentação do exercício da profissão musical[13]. Dessa entidade emergiu o Conservatório de Música (atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro), criado em 1841 e inaugurado em 1848, o primeiro da América do Sul, do qual Silva foi co-fundador, diretor e professor[14]. Embora jamais tenha composto uma ópera, destacou-se na cena lírica do Rio de Janeiro como membro do corpo de censores do Conservatório Dramático Brasileiro (1844)[15]; diretor dos corpos estáveis do Teatro São Januário (1851;  do Teatro Provisório, após 1852)[16]; e integrante do conselho artístico da efêmera Imperial Academia de Música e Ópera Nacional (1857), cujo objetivo principal era estimular a produção de óperas no vernáculo[17]. Obteve extraordinário sucesso ao reger 653 cantores e 242 instrumentistas por ocasião da inauguração da estátua equestre de D. Pedro I[18].

Silva faleceu de “tísica laríngea pulmonar”, segundo o atestado de óbito[19]. A encomendação e o enterro, cercados de considerável solenidade, tiveram música executada por alunas do Conservatório e colegas da Sociedade de Música, instituições que observaram oito dias de luto em sinal de pesar[20]. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi.

Foi dignitário das insígnias de Oficial da Ordem da Rosa e Cavaleiro da Ordem de Cristo.

É o patrono da cadeira de número 7 da Academia Brasileira de Música.

Francisco Manuel da Silva publicou três compêndios musicais a nível elementar, respectivamente dedicados: aos “amadores e artistas brasileiros” (segunda obra do gênero a ser impressa no país; Tipografia Nacional, 1832); aos “alunos do Colégio Dom Pedro II” (versão ampliada do item anterior; Pierre Laforge, 1838); e aos “alunos do Conservatório de Música” (Heaton & Rensburg, 1848). Também para os alunos do Conservatório, neste mesmo ano e pelo mesmo editor, Silva publicou a primeira parte de uma compilação de solfejos de outros compositores,[21] preservada em edição posterior; não há notícia de que outros volumes tenham sido publicados.

Compôs vasto número de peças litúrgicas e para-litúrgicas, entre elas sete Ladainhas, sete Matinas, três Novenas, dois Salmos, duas Sequências e dois Te Deum, além de diversas obras sobre textos do Ordinário da Missa[22]. Sua última peça documentada consiste de um terceto de soprano, harpa e harmônio, com acompanhamento de coro e orquestra, composto para a Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula e apresentado na igreja desta associação em 7 de maio de 1865[23].

Sua produção também inclui cerca de dez canções de salão e duas valsas para piano solo, assim como sete Hinos profanos sob cujos acordes foram celebrados alguns dos eventos políticos mais marcantes de sua era, incluindo as coroações de Dom João VI (1817) e Dom Pedro II (1841) e a Guerra do Paraguai (1865). Entre estes Hinos se destaca o Hino ao Sete de Abril (1831), saudando a abdicação de Dom Pedro I, prontamente acolhido como Hino Nacional Brasileiro, em caráter extra-oficial[24]. A oficialização deu-se somente em 1890, por iniciativa do recém-empossado governo republicano, sem letra (o texto atual foi adotado em 1922).

Referências bibliográficas editar

  • ALBUQUERQUE, Amarylio de. Ouviram do Ipiranga; vida de Francisco Manuel da Silva. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1959. 143 p.
  • ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo: 1808-1865: uma fase do passado musical do Rio de Janeiro à luz de novos documentos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. 2 v.
  • AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Carlos Gomes e Francisco Manoel. Correspondência inédita (1864-1865). Revista Brasileira de Música, Rio de Janeiro, v. 3, 1936, p. 323-338.
  • AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. A Imperial Academia de Música e Opera Nacional e o canto em vernaculo. Anais do 1o Congresso de Língua Nacional Cantada. São Paulo: Departamento de Cultura, 1938. p. 589-636.
  • CARDOSO, André. A Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro, 1808-1889. Rio de Janeiro, 2001. Tese (Doutorado) em Musicologia Histórica. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Letras e Artes. 329 p.
  • HAZAN, Marcelo Campos. Francisco Manuel da Silva’s Swan Song. Inter-American Music Review, v. 16, n. 2, 2000, p. 33-43.
  • HAZAN, Marcelo Campos. The Sacred Works of Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Washington, DC, 1999. Tese (Doutorado) em Musicologia Histórica. Universidade Católica da América. 2 v.
  • MAGALDI, Cristina. Music for the Elite: Musical Societies in Imperial Rio de Janeiro. Latin American Music Review, Austin, v. 16, n. 1, 1995, p. 1-41.
  • PEREIRA,  Avelino Romero  Simões. Hino  Nacional Brasileiro:  que  história  é  esta? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, v. 38, 1995, p. 21-42.
  • PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre a vida e obras do Padre José Mauricio Nunes Garcia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 19, 1856, p. 354-369.
  • SANTOS, Maria Luiza de Queiroz Amâncio. Origem e evolução da música em Portugal e sua influência no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942. 343 p.
  • SILVA, Janaina Girotto da. “O florão mais belo do Brasil”: o Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro, 1841-1865. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado) em História Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. 234 p.

Referências

  1. Banhos, Joaquim Mariano da Silva e Joaquina Maria Rosa, 6 fev. 1793. Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, Cx. s.n., f. 12v.
  2. PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Apontamentos sobre a vida e obras do Padre José Mauricio Nunes Garcia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 19, 1856, p. 359.
  3. Requerimento de Manuel Joaquim Correia dos Santos, 6 dez. 1811. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Seção de Manuscritos, C-98,16, anexo 3.
  4. Francisco Manuel da Silva a Antônio Carlos Gomes, nov. 1864. Apud: AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Carlos Gomes e Francisco Manoel. Correspondência inédita (1864-1865). Revista Brasileira de Música, Rio de Janeiro, v. 3, 1936, p. 328-329.
  5. Requerimentos de Francisco Manuel da Silva, [1823], 23 jul. 1825. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Seção de Manuscritos, C-728-8, C-953-41, respectivamente. Apud: ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo: 1808-1865: uma fase do passado musical do Rio de Janeiro à luz de novos documentos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. v. 1, p. 56-60.
  6. Por decreto imperial de 26 jun. 1841. Apud: SANTOS, Maria Luiza de Queiroz Amâncio. Origem e evolução da música em Portugal e sua influência no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942. p. 320.
  7. Por decreto imperial de 17 maio 1842. Apud: SANTOS, op. cit., p. 125.
  8. CARDOSO, André. A Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro, 1808-1889. Rio de Janeiro, 2001. Tese (Doutorado) em Musicologia Histórica. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Letras e Artes. p. 116-136.
  9. CARDOSO, Lino de Almeida. O som social: Música, poder e sociedade no Brasil. São Paulo: Edição do Autor, 2011. p. 34.
  10. HAZAN, Marcelo Campos. Francisco Manuel da Silva’s Swan Song. Inter-American Music Review, v. 16, n. 2, 2000, p. 33.
  11. MAGALDI, Cristina. Music for the Elite: Musical Societies in Imperial Rio de Janeiro”. Latin American Music Review, Austin, v. 16, n. 1, 1995, p. 6.
  12. Assentamento de casamentos das pessoas ocupadas no serviço do Paço, Francisco Manuel da Silva e Mônica Rosa do Sacramento, 23 fev. 1830. Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, Livro s.n., f. 71v; e Matrimônios, Francisco Manuel da Silva e Teresa Joaquina Nunes, 26 jun. 1835. Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, Freguesia do Sacramento, Livro 6, f. 4r.
  13. ANDRADE, op. cit., v. 1, p. 175-177.
  14. SILVA, Janaina Girotto da. “O florão mais belo do Brasil”: o Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro, 1841-1865. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado) em História Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. p. 21-80.
  15. ANDRADE, op. cit., v. 2, p. 88-89 e 231-232.
  16. Ibid., v. 2, p. 25-26.
  17. AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. A Imperial Academia de Musica e Opera Nacional e o canto em vernaculo. Anais do 1o Congresso de Língua Nacional Cantada. São Paulo: Departamento de Cultura, 1938. p. 589-636.
  18. ANDRADE, op. cit., v. 2, p. 111-116.
  19. ALBUQUERQUE, Amarylio de. Ouviram do Ipiranga; vida de Francisco Manuel da Silva. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1959. p. 141.
  20. Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 20 dez. 1865, p. 1. Apud: ANDRADE, op. cit., v. 2, p. 233.
  21. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 14 set. 1848, p. 3. Apud: ANDRADE, op. cit., v. 2, p. 236.
  22. HAZAN, Marcelo Campos. The Sacred Works of Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Washington, DC, 1999. Tese (Doutorado) em Musicologia Histórica. Universidade Católica da América. p. 227-229 (listagem não-atualizada).
  23. HAZAN, op. cit., 2000, p. 33-43.
  24. PEREIRA, Avelino Romero Simões. Hino Nacional Brasileiro: que história é esta? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, v. 38, 1995, p. 21-42.

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