Hispano-Suiza

Empresa automotiva espanhola

Hispano-Suiza (Português: Hispânica-Suíça) é uma empresa espanhola automotiva. Em 1923, sua subsidiária francesa tornou-se em uma parceira semi-autônoma com a empresa espanhola. Após a Segunda Guerra Mundial, a subsidiária francesa tornou-se uma fabricante de componentes e motores aeronáuticos. A Hispano-Suiza é conhecida por seus automóveis de luxo e motores aeronáuticos de antes da Segunda Guerra Mundial. Em 1946, a empresa espanhola venderia todos os seus ativos automobilísticos para a ENASA. Em 1968, o braço francês foi adquirido pela empresa aeroespacial Snecma, agora parte da francesa Safran e do Peralada Group.[1]

Hispano-Suiza
Hispano-Suiza
Indústria automobilística
Indústria aeronáutica
Fundação 14 de junho de 1904
Fundador(es) Damián Mateu
Marc Birkigt
Francisco Seix
Destino Automóveis: extinta em 1946, refundada em 2019.
Aviação: hoje parte da Safran e Grup Peralada.
Sede Barcelona, Espanha
Produtos Automóveis
Componentes aeronáuticas
Website oficial www.hispanosuizacars.com

História editar

Primeiros anos editar

Em 1898 um capitão de artilharia espanhol, Emilio de la Cuadra, iniciou a produção de automóveis em Barcelona com o nome La Cuadra. Em Paris, De la Cuadra conheceu o engenheiro suíço Marc Birkigt e o contratou para trabalhar em sua empresa na Espanha. Em conjunto, construíram dois modelos a gasolina, um com um motor de único cilindro com 4,5 hp e outro com motor de dois cilindros e 5 hp. Em 1900, estes dois motores foram os primeiros projetados e construídos na Espanha por La Cuadra a partir de um projeto de Birkigt. Estes carros tinham quatro rodas, com dois mecanismos direcionais para a embreagem, caixa de transmissão com 3 velocidades e suspensão de arcos. Dois veículos completos foram montados e havia outros em construção.[2] Em algum momento durante 1902, a empresa passa a pertencer a José María Castro Fernández e tornou-se Fábrica Hispano-Suiza de Automóviles (Fábrica Hispânica-Suíça de Automóveis), mas esta faliu em dezembro de 1903.

Outra reestruturação ocorreu em 1904, criando a La Hispano-Suiza Fábrica de Automóviles, sob a direção de Castro, também em Barcelona. Quatro novos motores foram introduzidos no próximo um ano e meio; um de 3,8 L e outro de 7,4 L de quatro cilindros e um par de grandes motores com seis cilindros. Essa empresa conseguiu evitar a falência e suas principais operações permaneceram em Barcelona até 1946, onde carros, caminhões, ônibus, motores aeronáuticos e armas foram produzidos. Outras fábricas na Espanha foram sediadas em Ripoll, Sevilha e Guadalajara.

Em 1910, Jean Chassagne competiu em conjunto com a Hispano-Suiza com os pilotos Pilleveridier e Zucarelli nas corridas Coupe des Voiturettes Boulogne e Catalan Cup, ganhando em segundo e quarto lugares respectivamente. A França estava logo provando ser o maior mercado para os carros de luxo da Hispano-Suiza, maior inclusive que a própria Espanha. Em 1911, uma fábrica de montagem chamada Hispano France iniciou as operações em Paris no subúrbio de Levallois-Perret. A produção foi movida para fábricas maiores em Bois-Colombes, sob o nome de Hispano-Suiza em 1914 e logo tornou-se a principal fábrica para produção de seus maiores e mais caros modelos.

Primeira Guerra Mundial editar

 
Um motor aeronáutico Hispano-Suiza HS.8A SOHC da Primeira Guerra Mundial preservado em um museu

Com o início da Primeira Guerra Mundial, a Hispano-Suiza começou a produzir motores aeronáuticos sob a direção de Marc Birkigt. Seu engenheiro-chefe durante esse período foi outro suíço, Louis Massuger. Tradicionalmente, os motores eram fabricados ao usinar cilindros de aço separadamente e então prendendo-os diretamente no bloco do motor. A solução de Birkigt foi tornar o bloco do motor formado de uma única peça de alumínio, no qual as camisas do pistão eram colocadas. Fabricar o motor dessa forma simplificou a construção e resultou em um motor leve, mas ainda mais forte e durável. Então, o novo método de Birkgit criou o primeiro prático e atualmente conhecido como motor "cast block". Seu bloco de alumínio no tipo V8 também incorporou Árvore de Cames à cabeça, caixa de redução para a hélice e outras características que não apareceriam nos motores de seus competidores até o final da década de 1920. Outra característica importante de projeto, na linha do HS.8B foi o uso de um eixo de hélice oco em ambas as versões com caixa de redução 8B e 8C, que permitiam o disparo de um canhão de 37 mm através do eixo, evitando a necessidade de um mecanismo sincronizador, uma característica utilizada nos futuros motores militares da Hispano-Suiza. Seus motores aeronáuticos, produzidos em suas próprias fábricas e sob licença, tornaram-se um dos motores mais usados pelas Forças Aéreas da França e da Grã-Bretanha, motorizando mais da metade das aeronaves dos caças dessa aliança.[3]

1918–1936 editar

 
Ação da Hispano-Suiza Fabrica de Automoviles SA, emitida em 21 de dezembro de 1918

Após a Primeira Guerra Mundial, a Hispano-Suiza voltou à fabricação de veículos e em 1919 introduziram o Hispano-Suiza H6. O H6 vinha equipado com um motor de seis cilindros em linha OHC, baseado nas características de seus motores aeronáuticos V8 de alumínio da Primeira Guerra Mundial, enquanto que a carroceria era produzida por fabricantes famosos, tais como Hibbard & Darrin e D'Ieteren.[4]

As licenças para as Patentes da Hispano-Suiza estavam em muita demanda por fabricantes conhecidos mundo afora. A Rolls-Royce utilizou algumas das patentes. Por exemplo, por muitos anos a Rolls Royce instalou freios projetados pela Hispano-Suiza em seus veículos.

Em 1923, o braço francês da Hispano-Suiza foi incorporado e tornou-se a Société Française Hispano-Suiza, com a empresa espanhola mantendo controle sobre 71% de seu capital. A subsidiária francesa teve, entretanto, uma grande independência financeira e liberdade para projetar e produzir em contato mais próximo com seus principais mercados, com a direção geral ainda em Barcelona. Essa configuração aumentou a importância da fábrica Bois-Colombes próxima a Paris, como a fábrica de carros de luxo da Hispano-Suiza, enquanto na Espanha a fábrica permanecia produzindo carros luxuosos, a maior parte de modelos menores e mais baratos, passando a aumentar a produção de ônibus, caminhões e motores aeronáuticos em várias fábricas ao redor do país.

Durante as décadas de 1920 e 1930, a Hispano-Suiza construiu uma série de carros luxuosos como motores OHC com desempenho cada vez melhor. Por outro lado, na década de 1930, os motores V12 reverteram a atuação de válvula por hastes, para reduzir o ruído do motor.

 
Ornamento de capô de uma cegonha da Hispano-Suiza.

A estatueta de mascote sobre o radiador após a Primeira Guerra Mundial era uma cegonha, o símbolo da província francesa de Alsácia, tirada do emblema do esquadrão pintado na lateral de um caça motorizado com um motor da Hispano-Suiza que foi voado na Primeira Guerra Mundial pelo ás francês Georges Guynemer.

O Hispano-Suiza T49 também foi projetado e fabricado pela empresa espanhola entre 1924 e 1944; era a versão espanhola do modelo francês H6B, com um motor de 6 cilindros de 8.000 cm3, 160 hp e uma velocidade máxima de 177 km/h.[5]

Em 1925, Carlos Ballester obteve a permissão de representar a Hispano-Suiza na Argentina. O acordo consistia de uma fase em que o chassi era importado, seguido de uma produção completa na Argentina. A então Hispano Argentina Fábrica de Automóviles (HAFDASA) foi criada, para a produção de motores e automóveis da Hispano-Suiza e também a produção de peças para outros fabricantes de automóveis.

Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial editar

Após o início da Guerra Civil Espanhola em 1936, o governo regional da Catalunha, pela Segunda República Espanhola, coletivizou o controle das fábricas espanholas da Hispano-Suiza e as colocou em estado de guerra. A empresa foi dividida em três seções:

  • motores aeronáuticos e canhões
  • carros e caminhões
  • ferramentas e maquinários

Devido ao isolamento internacional da República Espanhola, o braço espanhol da empresa sofreu com a escassez de materiais.

Em 1937, o governo francês tomou o controle da subsidiária da Hispano-Suiza com 51 por cento do capital para provisão de material de guerra, renomeando a empresa para La Société d’exploitation des matériels Hispano-Suiza. Em 1938, a empresa francesa encerrou a produção de automóveis e concentrou-se na produção de motores aeronáuticos. Na época, a Hispano-Suiza havia acabado de introduzir uma nova série de motores V12 refrigerados à água e o Hispano-Suiza 12Y estava em grande demanda para praticamente todos os modelos de aeronaves francesas. Entretanto, sem as fábricas espanholas, a Hispano-Suiza não conseguia entregar motores rápido o suficiente para a crescente força aérea e muitos caças franceses ficaram em solo esperando motores quando a Segunda Guerra Mundial começou.

O desenvolvimento da época foi a série de um canhão automático de 20 mm, primeiramente o Hispano-Suiza HS.9, seguido pelo Hispano-Suiza HS.404. O 404 foi licenciado para produção na Grã-Bretanha e equipou praticamente todos os caças da RAF durante a guerra. A produção também ocorreu nos Estados Unidos, mas essas versões não amadureceram mesmo apesar de o USAAC e de a Marinha dos Estados Unidos querer substituir suas atuais .50 BMG. Uma arma também de sucesso, mas menos conhecida, foi a Hispano-Suiza HS.820, um projeto também de 20 mm com alto desempenho que foi usado nos Estados Unidos como M139. A variação das armas de 20 mm usadas nas aeronaves Lockheed P-38 Lightning foram produzidas pela International Harvester.[6] Em 1970, a Hispano-Suiza vendeu sua divisão de armamento para a Oerlikon, com a HS.820 tornando-se a KAD.

Em 1940, a Hispano-Suiza, em conjunto com o banco espanhol Banco Urquijo e um grupo de empresas industriais espanholas, fundou a 'Sociedad Ibérica de Automóviles de Turismo' (S.I.A.T.). Esta ação levou a Espanha a ter a primeira indústria automotiva de produção em massa, a SEAT. Após a guerra civil, a Hispano-Suiza na Espanha estava severamente afetada pela economia devastada e os embargos impostos pelos aliados. Em 1946, vendeu seus ativos automotivos para a ENASA, uma empresa pública pertencente ao Instituto Nacional de Industria, fabricante dos caminhões Pegaso.

1950–atualmente editar

 
Hispano-Suiza Carmen com 1.005 HP (1.019 CV) no Salão de Genebra em 2019.

Após a Segunda Guerra Mundial, o braço francês da Hispano-Suiza continuou primariamente como uma empresa aeroespacial. Entre 1945 e 1955, estava produzindo o Rolls-Royce Nene sob licença, projetando trem de pouso em 1950 e o assento ejetor Martin-Baker em 1955. A atenção da empresa virou-se cada vez mais para a manufatura de turbinas e, em 1968, foi adquirida e tornou-se uma divisão da SNECMA. Em 1999, a Hispano-Suiza moveu suas operações de turbina para uma nova fábrica em Bezons, próximo a Paris, usando as fábricas originais para transmissões e sistemas acessórios para motores a jato. Em 2005, a SNECMA fundiu-se com a SAGEM para formar a SAFRAN.

A marca tentou reavivar-se no setor automotivo com a demonstração de um modelo no Salão de Genebra de 2010. Entretanto, a produção planejada nunca se materializou.[7]

Em 2019 a empresa espanhola foi refundada pelos bisnetos de Damián Mateu, e nesse mesmo ano a marca apresentou seu carro esportivo elétrico 'Carmen' no Salão de Genebra de 2019.[8] [9] O atual presidente da empresa é o empresário e advogado Miguel Suqué Mateu (bisneto de Damián Mateu).[10]

Galeria editar

Veículos editar

Modelo Ano N° de cilindros Potência (PS) Cilindrada (cc) Freios Caixa de transmissão Velocidade máxima
10 HP 1904 6 10 ~ ~ ~ ~
14–16 HP 1904 6 De 14 a 16 ~ ~ ~ ~
Armoured type Birkigt 1905 4 20 ~ ~ ~ 87 km/h
20–30 HP 1906 ~ De 20 a 24 ~ ~ ~ 100 km/h
40 HP 1906 ~ 40 ~ ~ ~ 100 km/h
60–75 HP 1907 6 De 60 a 75 ~ ~ ~ ~
12–15 HP 1907 ~ De 12 a 15 ~ ~ ~ ~
20–30 HP 1908 4 De 20 a 30 ~ ~ ~ ~
24–30 HP 1908 4 De 24 a 30 ~ ~ ~ ~
30–40 HP 1908 4 De 30 a 40 ~ ~ ~ ~
Alfonso XIII 1912 4 64 3620 Freio a tambor nas rodas traseiras (rodas dianteiras não tinham freios) Transmissão manual, 3 marchas e ré 121 km/h
15–20 HP 1909 4 De 15 a 20 ~ ~ ~ ~
20–30 HP 1909 4 De 20 a 30 ~ ~ ~ ~
T21 1913–14 ~ De 15 a 30 ~ ~ ~ ~
T22 1913–14 ~ De 18 a 60 ~ ~ ~ ~
T23 1913–14 ~ De 30 a 90 ~ ~ ~ ~
T26 1914–15 ~ 20 ~ ~ ~ ~
T30 1915–24 ~ 16 ~ ~ ~ ~
32 HP 1916 ~ 32 ~ ~ ~ ~
H6B 1919–29 6 135 6600 Freio a tambor nas quatro rodas Transmissão manual, 3 marchas e ré 137 km/h
I6 1924 6 3746 Freio a tambor nas quatro rodas Transmissão manual, 3 marchas e ré 145 km/h
T48 1924 4 90 2500 ~ ~ ~
T49 1924–36 ~ ~ ~ ~ ~ ~
T64 1929–33 ~ ~ ~ ~ ~ ~
T60/T60 RL/T60 1932–43 ~ ~ ~ ~ ~ ~
H6C 1924–29 6 160 8000 Freio a tambor nas quatro rodas Transmissão manual, 3 marchas e ré 177 km/h
T56 1928–36 6 46 ~ ~ ~ ~
J12 1931–38 12 220 9500 ~ Transmissão manual, 3 marchas e ré 150 km/h[11][12]
K6 1934–37 6 120 5200 Freio a tambor nas quatro rodas Transmissão manual, 3 marchas e ré 140 km/h
H6B "Xenia" 1938 6 160 7983 Freio a tambor nas quatro rodas Transmissão manual, 4 marchas e ré 177 km/h

Os modelos H6B (1919–29), H6C (1924–29), I6 (1924), Hispano-Suiza Junior ou HS26 (1931–32), J12 (1931–38) e K6 (1934–37) foram fabricados pela divisão francesa. O restante foi fabricado na Espanha.

Aeronaves editar

 
Um Hispano-Suiza E-30 da Aeronáutica Naval

Motores aeronáuticos editar

 
Um Wright-Hisso H de 300 hp em exibição

Referências

  1. «La Hispano-Suiza – Anciennes Oldies – FORUM Anciennes – FORUM auto mythiques et d'exception». Forum-auto.com. Arquivado do original em 13 de junho de 2010 
  2. «Hispano Suiza» (em espanhol) 
  3. Browne, T.C. «Retrospect: 1924 Hispano-Suiza H6c Speedster». Motor Trend. p. 118 
  4. Georgano, G. N. (1985). Cars: Early and Vintage, 1886–1930. Londres: Grange-Universal 
  5. «Hispano-Suiza clásicos, entre los vehículos más bellos de la historia» (em espanhol). 31 de outubro de 2018 
  6. «International Harvester Corporation. "Mr. Dealer Plan Now for the Future"». 34 11 ed. Chicago: Harvester Press. Novembro de 1943. p. 16 
  7. Lieberman, Jonny (2 de março de 2010). «Geneva 2010: Hispano Suiza debuts the... Hispano Suiza — Autoblog» (em inglês). Autoblog.com 
  8. «Hispano Suiza Carmen Debuts In Geneva With 1930's Style, 1,005 HP» 
  9. Glucker, Jeff (30 de outubro de 2018). «Hispano-Suiza revival set for 2019 Geneva auto show» (em inglês). motorauthority.com 
  10. Hispano Suiza, la cigüeña vuelve a volar (22-03-2021). Motor.elpais.com (em castelhano).
  11. «1934 Hispano Suiza J12 Technical Specifications and Dimensions» (em inglês) 
  12. «1934 Hispano-Suiza J12» (em inglês) 
  13. a b c d e f g h i j k l m n o Hartmann, Gérard. Hispano-Suiza, Les moteurs de tous les Records (em francês). [S.l.: s.n.] 
  14. a b Gunston, Bill (2006). World Encyclopedia of Areo Engines 5 ed. Stroud: Sutton Publishing. ISBN 0-7509-4479-X 

Ligações externas editar

 
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