Máximo de Éfeso (c. 310-372) foi um filósofo e teurgo neoplatónico. É recordado sobretudo pela influência que exerceu sobre o imperador Juliano, com quem entrou em contacto através de Edésio da Capadócia. Incentivou o interesse do imperador pela magia e teurgia e alcançou uma posição elevada na corte graças à sua inteligente gestão dos presságios. A sua prepotência fez com que ganhasse muitos inimigos. Depois da morte de Juliano foi preso e mais tarde executado por Valente.

Máximo de Éfeso
Nascimento 310
Éfeso
Morte 372 (61–62 anos)
Éfeso
Cidadania Roma Antiga
Ocupação filósofo, astrólogo
Causa da morte decapitação

Biografia editar

A fonte principal para a vida de Máximo são as Vidas dos sofistas de Eunápio de Sardes. Também falaram dele Amiano Marcelino, Juliano e Libânio. Os autores cristãos também o mencionam, mas em termos muito negativos.

Máximo nasceu no começo do século IV. Segundo Amiano Marcelino, nasceu em Éfeso, ainda que alguns historiadores ponham esse facto em causa.[1] Em qualquer caso, a sua proveniência era da Ásia Menor ocidental. Seus pais eram ricos. Máximo tinha um irmão chamado Claudiano, que foi também filósofo.[2] Outro irmão, Ninfidiano de Esmirna, foi nomeado pelo imperador Juliano "mestre das epístolas gregas" (em latim: magister epistolarum graecarum), o secretário da correspondência em grego. Amónio de Hérmias afirma que Máximo foi discípulo do neoplatónico Hiério.[3]

No período de 335-350 Máximo viveu em Pérgamo e foi discípulo de Edésio da Capadócia. Durante a sua estadia, Máximo estudou juntamente com Crisâncio de Sardes, Eusébio de Mindo e Prisco de Epiro. Muitos neoplatónicos practicavam a teurgia (tentativa de comunicação com a divindade mediante rituais específicos), e chegaram relatos de que Máximo teria conseguido romper um feitiço de amor que havia sido lançado à filósofa Sosípatra de Éfeso por um dos seus parentes.

Por volta de 350, Máximo deixou Pérgamo e mudou-se para Éfeso, onde foi professor de filosofia. Aparentemente, teve discípulos cristãos: conta-se que Sisínio, mais tarde bispo novaciano em Constantinopla, estudou com Máximo.[4] No ano de 351, Juliano foi a Pérgamo para estudar com Edésio. Eusébio de Mindo preveniu Juliano, advertindo-o para que não se deixasse enredar nas artes mágicas de Máximo, mas apenas conseguiu despertar a curiosidade do jovem, que partiu para Éfeso para conhecer Máximo entre maio de 351 e abril de 352. Fascinado por ele, converteu-se em seu devoto discípulo.

Em novembro de 355 Juliano foi designado César. Durante a sua estadia nas Gálias, manteve o contacto com o seu mestre. Em 361, já imperador, Juliano convidou Prisco e Máximo para Constantinopla. Ambos os filósofos aceitaram o convite. Máximo não se deixou desencorajar pelo augúrios desfavoráveis, pois segundo dizia, era possível forçar o favor dos deuses.[5]

Os dois mestre neoplatónicos permaneceram desde essa altura junto ao imperador, que apreciava os seus conselhos religioso-filosóficos e como parceiros de discussão. Eunápio assegura que os dois não teriam autoridade política,[6] mas assinala que Máximo tornou-se arrogante e inacessível e que utilizou a sua posição influente para enriquecer. Máximo viajou durante o Verão de 362 com Juliano até Antioquia e mais tarde, em Março de 363, partiu a seu lado para a campanha persa. O sábio conseguiu convencer que o imperador era uma reencarnação de Alexandre Magno, cujas conquistas deveria superar.[7] No entanto, Juliano, ferido de morte em combate, veio a morrer em 26 de Junho do 363 depois manter uma última conversação filosófica com Máximo e Prisco.

Máximo continuou a gozar do favor imperial durante o reinado de Joviano, mas depois da morte deste, os inimigos do filósofo mobilizaram-se contra ele contra ele. No Verão de 364 foi acusado de ter causado uma doença prolongada nos novos imperadores Valentiniano I e Valente. A acusação não chegou a bom termo e Máximo ficou em liberdade, mas os seus numerosos oponentes não se deram por vencidos. Nos anos 365-366 foi preso novamente acusado de ter enriquecido de forma ilícita. Uma multa elevada foi-lhe imposta, e foi enviado "para a Ásia" - provavelmente a sua terra natal - para reunir o dinheiro. Não conseguiu pagar a multa e por causa disso foi torturado. Eunápio reporta que Máximo se queria suicidar, por não aguentar mais a dor, sendo que a sua mulher encontrou um veneno. A mulher bebeu o veneno primeiro mas Máximo não o tomou.

Mais tarde, o procônsul da Ásia, Clearco, que era partidário da religião antiga, ajudou o prisioneiro. Deixou em liberdade o filósofo, tendo-lhe restaurado grande parte das suas propriedade, que havia perdido. Máximo voltou a ensinar filosofia e chegou mesmo a regressar a Constantinopla.

Cerca de 370, o imperador Valente foi informado de que um grupo de pessoas tinha consultado um oráculo para saber quem seria o próximo imperador, tendo-lhe sido reportado que o seu nome começaria pelas letras ThEOD e que o imperador Valente iria "morrer de uma forma estranha e não lhe seria dado enterre nem a honra de uma campa". Como resultado, o imperador ordenou um massacre dos indivíduos com essas letras no inicio dos seus nomes.[8] Eunápio indica que Máximo estaria falsamente implicado no oráculo, mas no entanto foi executado pelo novo procônsul da Ásia, em 372.[9][10]

Obras editar

Segundo a Suda, Máximo escreveu várias obras, entre elas Sobre as contradições insolúveis, Sobre as predições, Sobre os números e um comentário sobre Aristóteles. Outras fontes dão testemunho de dois comentários perdidos: um sobre as Categorias de Aristóteles (de que nos chegou um fragmento) e outro sobre os Analíticos Anteriores, que mereceu uma réplica de Temístio.[11] Diz-se que Máximo concordava com Eusébio de Mindo, Jâmblico e Porfírio, em proclamar a perfeição da segunda e terceira figuras do silogismo[12]

Referências

  1. Delfim Santos (2005) p. 314. Note-se que na Encyclopaedia Britannica de 1911 é chamado de Máximo de Esmirna.
  2. Richard Goulet: "Claudianus", en: Richard Goulet (ed.): Dictionnaire des philosophes antiques, Bd. 2, París 1994, p. 401.
  3. Henri Dominique Saffrey: Hiérios, in: Richard Goulet (ed.): Dictionnaire des philosophes antiques, Bd. 3, Paris 2000, p. 684 (No. 121).
  4. Klaus Rosen: Julian. Kaiser, Gott und Christenhasser, Stuttgart 2006, S. 97f.
  5. Sobre a maneira como Máximo manejava os presságios, v. Penella (1990) pp. 68-70, 119ss.
  6. Penella (1990) p. 15.
  7. Lucien. Juliano el Apóstata (em español). [S.l.]: Edhasa (ed.). 386-387 p. ISBN 978-84-350-2599-7
  8. Robinson, J.; Francis Young (1873). Ancient History. p. 115.
  9. Trombley, Frank R. (2001). Hellenic Religion and Christianization, C. 370-529. Leiden: Brill. pp. 50.
  10. Theodossiou, Efstratios; Vassilios Manimanis, Milan S. Dimitrijevic (2012). "ASTROLOGY IN THE EARLY BYZANTINE EMPIRE AND THE ANTI-ASTROLOGY STANCE OF THE CHURCH FATHERS". European Journal of Science and Theology 8 (2): 7-24.
  11. Sobre a controvérsia, v. Tae Soo Lee: Die griechische Tradition der aristotelischen Syllogistik in der Spätantike, Gotinga 1984, pp. 127-132. Existe uma tradução francesa do único escrito de Temístio conservado em árabe: Aburraḥmān Badawi, La transmission de la philosophie grecque au monde arabe, París 1987, pp. 180-194.
  12. Amónio, Sobre os Analíticos Anteriores 31,13-23. Ver J. Barnes, 'Peripatetic Logic', em R.W. Sharples y R. Sorabji (eds.), Greek and Roman Philosophy 100 BC-200 AD, Vol. II (Londres, 2007).

Bibliografia editar

  • Eunápio, Vidas dos sofistas (em inglês).
  • Filipe Delfim Santos: artigo Maxime (d’Éphèse?), em: Richard Goulet (Hrsg.): Dictionnaire des philosophes antiques, Bd. 4, CNRS, París 2005, ISBN 2-271-06386-8, pp. 313-322.
  • Robert J. Penella: Greek Philosophers and Sophists in the Fourth Century A.D. Studies in Eunapius of Sardis, Francis Cairns, Leeds 1990, ISBN 0-905205-79-0.