Música junina, canção junina[1] e ainda de São João[2][3][4] ou joanina[4] é o gênero musical brasileiro de canções dedicadas aos festejos que ocorrem no mês de junho em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. Como gênero teve início na década de 1930 e até a de 1950 houve vários compositores a lançar canções exclusivamente para as festas juninas, quando encontrou uma diminuição na popularidade.[4]

Grupos novos como Mastruz com Leite mantêm vivo o gênero da música junina.

Com a diversificação de gêneros e estilos da música do Brasil, aquelas que podem ser reunidas num mesmo grupo como o da música junina (tais como o xote, o xaxado, o baião e o forró) ainda assim se dividem em várias tendências, como no caso do forró que apresenta ramificações como o forró universitário, que logo saem de moda.[5]

Em relatórios baseados nas informações de anos anteriores o órgão responsável pela arrecadação dos direitos autorais no Brasil revela que o compositor preferido das músicas juninas é Luiz Gonzaga; apesar de morto em 1989 suas canções como "Pagode Russo", "Asa Branca" e outras, lideravam a execução nos festejos juninos; isto se deu sobretudo com a renovação do estilo na década de 1990 quando houve a modernização do gênero por regravações atualizadas, como por exemplo a realizada pelo grupo cearense Mastruz com Leite que regravou "Pagode Russo".[6]

Assim como o Carnaval, as comemorações juninas fazem parte do calendário festivo brasileiro (numa herança portuguesa, onde as "festas" se traduziam no Natal, Páscoa e São João),[7] e geram todos os anos festas ao longo do país como "arraiais", "quadrilhas", "forrós", além de concursos de composições dedicadas ao momento.

Origens editar

No século XVI surgiram as escolas jesuítas para índios e dali se originou a música junina se espalhando pelo Brasil, em 1603 a obra História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, relatou que os índios eram muito amigos das novidades, como do dia de São João Batista por causa das fogueiras e capelas.[4]

Foi a primeira festa brasileira a contar com um repertório musical próprio; já em 1837 o padre Lopes Gama (mais conhecido como "Padre Carapuceiro') publicara no seu jornal "O Carapuceiro" a existência de várias cantigas juninas entoadas por ocasião das festas de meio de ano.[4][nota 1]

Primeiras gravações editar

 
"Chegou a Hora da Fogueira" (1933).

Um dos maiores sucessos do gênero, de Lamartine Babo com Carmen Miranda (foto).

A primeira canção inteiramente dedicada aos festejos juninos é a marcha "Cai, Cai, Balão" de 22 de maio de 1933, de autoria do compositor baiano Assis Valente e gravada originalmente em dueto por Francisco Alves em parceria com a então desconhecida Aurora Miranda, e foi lançada pela gravadora Odeon sob o número 11.018.[8]

Para J. Severiano e Z. H. D. Mello a música popular brasileira do pós-guerra atravessava um processo transitório e modernizador, de adaptação cultural onde vários gêneros foram criados (como o samba): "Ao contrário do samba, um produto mestiço, resultante da fusão da melodia e harmonia europeias com a rítmica afro-brasileira, a marchinha é uma descendente da polca-marcha, que incorpora algumas características das marchas portuguesas e de certos ritmos americanos, em moda na ocasião."[9] Assis Valente foi provavelmente o primeiro compositor do país a compor no estilo junino, seguido no mesmo ano de 1933 por "Chegou a Hora da Fogueira", de Lamartine Babo).[9] Também neste ano o flautista Benedito Lacerda venceu um concurso do jornal "A Noite" com a canção junina "Briguei com São João".[1] Carmen Miranda foi a cantora que mais gravou nesse estilo, e seu dueto com Mário Reis em "Chegou a Hora da Fogueira" de Lamartine Babo, lançado pela Victor também em 1933, foi o maior sucesso do gênero.[1]

Ajudaram este sucesso inicial na década de 1930 o grande aumento no mercado fonográfico e também o advento das propagandas radiofônicas, cada vez mais populares; o gênero ainda contribuiu para a divulgação no restante do país da produção artística e cultural do Rio e de São Paulo que se desenvolveram com a crescente urbanização destes centros, e foi incrementada nas revistas, discos e rádios - aproveitando-se da "onda" caipira que ganhava popularidade.[1]

Decadência inicial editar

Já em 1949 o colunista musical de A Scena Muda, F. Corrêa da Silva, registrava que "a nossa música popular possui uma boa porção de músicas juninas que, no passado, mereceram a franca aceitação popular e que, por isso mesmo, não deveriam ser alvo de desprezo de nossas fábricas de discos", enumerando a seguir: "Entre essas podemos destacar "Matrimônio, matrimônio", de Lamartine Babo, "Antônio, Pedro e João", de Benedito Lacerda e "Cai, cai, balão", de Assis Valente", e defende que as principais gravadoras dediquem maior espaço a tal gênero.[10]

Na década de 1950 a música junina, com as mudanças do mercado musical, passou a ser algo secundário[4]

Sucessos antigos e modernos editar

Levantamento dos relatórios do Ecad até 2009 dão conta de que novos e antigos sucessos juninos convivem a cada ano nos festejos pelo país; se Luiz Gonzaga é o cantor/compositor com mais gravações executadas, os campeões de arrecadação também apresentavam cantores/compositores ainda em atividade; entre estes destacavam-se nomes como Targino Gondim, graças a regravações de sua canção "Esperando na Janela" feitas por Gilberto Gil e pelo Padre Antônio Maria.[6]

Dentre os nomes do passado que continuam a se fazer presentes nas festas juninas estão Lamartine Babo com temas como "Chegou a Hora da Fogueira" e "Isto é Lá com Santo Antônio" (aka "Matrimônio, Matrimônio"), Haroldo Lobo com "O Sanfoneiro Só Tocava Isso", os parceiros Braguinha e Alberto Ribeiro com "Capelinha de Melão" ou Benedito Lacerda com "Antônio, Pedro e João".[6]

Mesmo nomes associados a outros estilos musicais apresentam sucessos juninos, com é o caso dos "caipiras" Mário Zan (sanfoneiro paulista, com "Festa na Roça") e Tonico (da dupla Tonico & Tinoco, com "Moreninha Linda"); o próprio Gilberto Gil, a partir do sucesso de "Esperando na Janela" que em 2000 fora incluído na trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles, passou a dedicar maior espaço ao gênero em seu repertório.[6]

Alguns sucessos juninos extrapolam o momento e o meio em que foram lançados; um claro exemplo é o cantor Dorgival Dantas e sua canção "Você Não Vale Nada", ou do forró Homem com H, de Antônio Barros, que foi grande sucesso nacional na década de 1980 na voz de Ney Matogrosso.[6]

Música junina no contexto atual editar

Várias cidades realizam concursos de música junina, a exemplo da paulista São Luiz do Paraitinga com o "Festival de Música Junina",[11] ou da baiana Cachoeira.[12]

Notas e referências editar

Notas

  1. O Dicionário Cravo Albin traz, erradamente, o nome do jornal do "Padre Carapuceiro" como sendo "O Capuzeiro" (sic).

Referências

  1. a b c d Wander Nunes Frota (2003). Auxílio luxuoso: samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural. [S.l.]: Annablume. 252 páginas. ISBN 9788574193335. Referências às págs. 81, 119, 121, 123 e 124 
  2. Sandra R. Klafke. «Raízes Histórico-dialógicas: o gênero medieval farsa» (PDF). PUC RS. Consultado em 8 de julho de 2018. Cópia arquivada em 8 de julho de 2018 
  3. Cibelle Hoffmann Schmitz (2013). «Cantando também se aprende» (PDF). UFRGS. Consultado em 8 de julho de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 8 de julho de 2018 
  4. a b c d e f «Música Junina». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 8 de julho de 2018. Cópia arquivada em 12 de julho de 2018 
  5. Milton Moura (2010). «Cultura e Diversidade: Considerações sobre a multiplicidade das manifestações». Antíteses, vol. 3, n. 5, jan.-jun. Consultado em 10 de julho de 2018. Cópia arquivada em 10 de julho de 2018. pp. 321-346; arquivado a partir do cache do Google 
  6. a b c d e Pedro Alexandre Sanches (22 de junho de 2010). «Luiz Gonzaga é o compositor mais tocado nas festas juninas». Último Segundo - iG. Consultado em 10 de julho de 2018. Cópia arquivada em 10 de julho de 2018 
  7. Luís Camâra Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro 10ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro. 930 páginas. ISBN 8500800070. Verbete "Festa", pág. 391 
  8. Luiz Américo Lisboa Júnior (2006). Compositores e Intérpretes Baianos: de Xisto Bahia a Dorival Caymmi. [S.l.]: Via Litterarum / Editus. 371 páginas. ISBN 8598493244. (referência contida às páginas 199-200) 
  9. a b SEVERIANO, J.; MELLO, Z. H. D. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras. 6ª. ed. São Paulo: 34, v. 1: 1901-1957, 2006. in: Márcio Mattos Aragão Madeira (2015). «A contribuição da música tradicional do Cariri cearense à música popular brasileira por meio do baião de Luiz Gonzaga» (PDF). Universidad Complutense de Madrid. Consultado em 6 de julho de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 6 de julho de 2018 
  10. F. Corrêa da Silva (28 de junho de 1949). «Notas e comentários (seção: Melodias para você)». A Cena Muda (nº 29). pág. 12-13; disponível no acervo digital da Biblioteca Nacional do Brasil. 
  11. «São Luiz do Paraitinga». Chão Caipira. Consultado em 11 de julho de 2018. Cópia arquivada em 12 de julho de 2018 
  12. Alzira Costa (21 de junho de 2014). «Cachoeira mantém viva às tradições do São João com Karte Love. Opa! (sic)». Bahia Já. Consultado em 11 de julho de 2018. Cópia arquivada em 12 de julho de 2018 

Ligações externas editar

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