Maria Rufino Duarte

Maria Rufino Duarte (m. Salvador, 1928), também chamada Mariquinha de Lembá, Dona Mariquinha ou Dona Mariazinha,[1] foi uma candomblecista de Salvador, na Bahia, a quem a tradição oral atribuiu a criação de uma das vertentes do Candomblé Banto no estado,[2] o Angolão Paquetã. Possivelmente descendia duma linhagem real de Angola e sua parentela esteve envolvida na fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e na construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Maria Rufino Duarte
Nascimento 1826
Angola
Morte 1928
Salvador, Bahia, Brasil
Cargo Mameto-de-inquice

Vida editar

Maria Rufino Duarte nasceu em data incerta no século XIX. Tata Edinho, com base em informações obtidas com Angelina Santana, alega que ela tinha 17 anos em 1843, o que daria 1826 como o ano de seu nascimento. Supostamente era filha de um soba (chefe tribal), nascendo princesa em Angola. Foi escravizada e levada ao Brasil,[3] onde sua família se envolveu na fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e na construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, localizada na ladeira do Pelourinho.[4][5] Era consagrada ao inquice Lembá e alegadamente ajudou o muxicongo Manuel do Incoce na iniciação de Manoel Bernardino da Paixão (1881–1956), que recebeu o nome religioso de Ampumandezu.[1] Contemporânea e irmã de santo de Maria Neném, do Terreiro Tombenci,[6] teria sido a fundadora da vertente do Candomblé Banto chamada Angolão Paquetã, cujo primeiro terreiro se encontra na avenida Vasco da Gama, no bairro da Federação, onde era mameto-de-inquice (mãe-de-santo).[5] Faleceu em Salvador em 1928.[7] No bairro de Cajazeiras XI há o terreiro de Mutalambô iê Caiangô (Mutalambo ye Kaiongo), cujo tata-de-inquice (pai-de-santo), Mutá Imê, é filho de santo de Mameto Casindé, e ambos são da navalha (linhagem de terreiro) de Duarte.[8]

A tradição oral sustenta que Duarte recusava-se a tratar com pessoas brancas e tal postura é tida como atitude de orgulho preto. Como consequência, coloca Jamie Lee Andreson, visto que a maioria das narrativas sobre o candomblé foram produzidas por brancos e acadêmicos estrangeiros naquele momento, sua linhagem é pouco representada nos estudos científicos. O silêncio por ela escolhido é visto pelos candomblecistas como um sinal de lealdade e dedicação à fé, além de indignação com observadores e gravadores brancos que muitas vezes se intrometiam e deturpavam as religiões.[9] Além de seu silêncio, Duarte iniciou poucos filhos de santo, de modo que a sua navalha não é extensa. Isso se deu por sua rígida observância dos fundamentos e sua valorização da observância silenciosa. Um deles era Nicássio Manuel dos Reis, que iniciou mulheres influentes como Maria Olho de Gato and Doroteia de Carvalho.[10]

Referências

  1. a b Figueiredo 2016, p. 83, nota 78.
  2. Santos 2011, p. 126.
  3. Santos 2011, p. 68-69.
  4. Santos 2011, p. 94, nota 69.
  5. a b Figueiredo 2016, p. 119, nota 122.
  6. Mendes 2012, p. 66.
  7. Figueiredo 2016, p. 119.
  8. Santos 2011, p. 94.
  9. Anderson 2020, p. 66-67.
  10. Anderson 2020, p. 67-68.

Bibliografia editar

  • Figueiredo, Janaína de (2016). Entre Portos e Ritos - A memória do Candomblé Angola em Santos. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Departamento de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
  • Mendes, Andrea Luciane Rodrigues (2012). Vestidos de Realeza: Contribuições Centro-Africanas no Candomblé de Joãozinho da Gomeia (1937-1967). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História 
  • Santos, Emilena Sousa de (2011). Os encantados infantes do Candomblé baiano: estudo sócio-religioso em terreiros de Salvado. Salvador: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas