Maria Teresa Silveira de Barros Camargo

política brasileira

Maria Teresa Silveira de Barros Camargo (Piracicaba, 12 de novembro de 1894São Paulo, 29 de julho de 1975) foi uma política e empresária brasileira, diretora da Macchina S. Paulo, em Limeira, fundada por seu marido Trajano de Barros Camargo. Era conhecida como Dona Teresinha.

Maria Teresa Silveira de Barros Camargo
Nascimento 12 de novembro de 1894
Piracicaba
Morte 29 de julho de 1975
São Paulo
Cidadania Brasil
Ocupação política, empresária

Foi uma das primeiras prefeitas do Brasil, tendo sido nomeada na cidade paulista de Limeira, em 1934. Também foi a primeira deputada do Estado de São Paulo, eleita para a Constituinte de 1934.

Viúva de dr. Trajano de Barros Camargo, carregou seu legado, assumindo todos os negócios do marido, incluindo empresas em Santos e Limeira e uma fazenda em Brotas. Enfrentou as dificuldades da época para as mulheres e mostrou-se vitoriosa na educação de seus nove filhos(dois deles mortos).

Era neta do primeiro presidente civil do Brasil, o ituano Prudente de Morais, nascida três dias antes de sua posse em 15 de novembro de 1894, tendo sido batizada no Palácio do Itamaraty, onde era a sede do governo.

Biografia editar

Após tornar-se Viúva do dr. Trajano de Barros Camargo assumiu a direção da Indústria Machina São Paulo que, em 1931, constituiu sua gráfica própria, com equipamentos de um pequeno órgão de imprensa desativado, tornando-se uma das mais modernas e completas gráficas de todo o Brasil, na época. A Machina imprimia material de uso próprio, catálogos publicitários, boletins e outros. Merece destaque que, em 1932, Maria Thereza imprimiu os boletins da revolução constitucionalista, que eram vendidos em Limeira e região, colaborando com os soldados revolucionários, com impressão tipográfica em várias cores, e em policromia. À frente da Machina São Paulo, D. Therezinha participa ainda do esforço bélico da revolução, produzindo corpos de granadas de mão. Soma-se a isso o fato de haver prestado grandes serviços ao Curso de Enfermagem, ao Hospital do Sangue de Limeira e à Assistência às Famílias dos Voluntários, contribuindo com a campanha de fornecimento de roupas aos soldados que estavam no front.Foi neste mesmo município que concentrou suas atividades políticas e sociais, mesmo antes de exercer cargos públicos, tendo fundado, inclusive, a Associação Cívica Feminina de Limeira. Outra realização de D. Therezinha foi a Escola Profissional Trajano Camargo, criada pelo governo do Estado em 1933, de acordo com seu pedido. A Machina São Paulo doou as primeiras máquinas para iniciar o funcionamento da escola.Em reconhecimento à prestação destes serviços ao município e ao Estado, Armando de Salles, então interventor federal em São Paulo e futuro governador, nomeu Maria Thereza prefeita de Limeira por alguns meses em 1934, tornando-a a primeira mulher a assumir uma prefeitura no Estado de São Paulo, e uma das três ou quatro primeiras no Brasil inteiro.Segundo a Câmara Municipal de Limeira, em seu governo, Maria Thereza calçou as ruas do centro de Limeira, então de terra, com o próprio dinheiro, uma vez que a prefeitura não tinha verba suficiente.Em 1935, deixou a prefeitura ao ser eleita deputada estadual em São Paulo pelo Partido Constitucionalista, somando 223.091 votos, no total. Foi uma das duas únicas mulheres eleitas na ocasião, juntamente com Maria Thereza Nogueira de Azevedo.Professora de formação, defendeu priorita-riamente a Educação durante seu mandato legislativo. Assumiu a cadeira até 1937, quando a Assembleia Legislativa foi fechada e os partidos políticos extintos, em decorrência do Estado Novo.Após o fim deste regime político, em 1945, segundo depoimento de sua neta Thereza Christina Rocque da Motta, D. Therezinha não se candidatou mais, porém permaneceu ativa na área pública, trabalhando sempre nos bastidores, acompanhando a vida política e cultural brasileira. Filiou-se ao PSD, junto com Ulysses Guimarães e, quando o partido se associou ao PTB, em 1948, ela apoiou Getúlio Vargas - que havia cassado seu mandato parlamentar em 1937 - durante sua campanha política pelo interior do Brasil para eleição à Presidência da República. Faleceu em 29 de julho de 1975, em São Paulo, onde foi residir definitivamente após 1960, aos 81 anos de idade.

Discurso sobre 1932 editar

Durante seu mandato, Maria Thereza participou da Assembleia Estadual Constituinte que promulgou a Constituição de São Paulo em 09 de julho de 1935. Neste sentido, pedindo a reconstitucionalização do Estado, a parlamentar discorre sobre a data de 23 de maio de 1932, ocasião em que um confronto dos paulistas, que pediam maior autonomia estadual e uma constituição própria, com as tropas do Governo de Getúlio Vargas acabou matando quatro estudantes de São Paulo. Esse episódio originou o movimento conhecido como MMDC, que tinha esse nome por causa dos quatro jovens assassinados: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Um quinto jovem foi gravemente ferido e morreu meses depois, em agosto, Orlando de Oliveira Alvarenga. Meses depois, em 9 de julho, os revolucionários decidiram pegar em armas e convocar voluntários para o que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista.Nas palavras da parlamentar Maria Thereza em sessão legislativa: “O 23 de maio é, portanto, um dia que fala eloquentemente ao nosso civismo e que nos toca o coração, porque foi precisamente nessa data que os paulistas, num belo gesto de independência e de altivez, readquiriram, sob impulso indômito, sua autonomia, ineptamente sacrificada. Todavia, aves agoureiras do mal corvejavam sobre nós, buscando desviar-nos do rumo, prévia e cuidadosamente traçado, obrigando-nos, consequentemente, a levantar bem alto a nossa sagrada bandeira de reivindicações, que sintetizava os anseios de todos os brasileiros livres, – reconstitucionalização. Dado o brado de alarme, o nosso povo, numa edificante e verdadeiramente maravilhosa transmutação, trocou as suas vestes de operário da grandeza comum, que lutava firmemente pela concretização de um ideal desde há muito acalentado e, envergando a túnica do soldado, marchou para o bom combate, para o combate da redenção, sem a qual não poderia haver progresso e prosperidade, escrevendo, com o heroísmo dos iluminados, sobre o solo da pátria angustiada, a página homérica de 9 de julho de 1932.” (discurso proferido na 33ª Sessão Ordinária do Poder Constituinte, realizada em 23 de maio de 1935).

Discurso sobre a autonomia política e financeira dos municípios editar

Ainda durante as discussões da Assembleia Constituinte, a deputada faz referência a sua experiência enquanto prefeita de Limeira para justificar suas posições sobre a organização política-administrativa do Estado, discutindo a autonomia política e financeira dos municípios:“Como prefeita que fui de um dos mais importantes municípios do estado, conhecedora, portanto, da atuação do Departamento de Administração Municipal, em todos os seus detalhes, venho discordar do ilustre deputado [SR. BENTO SAMPAIO VIDAL], já porque o Partido Constitucionalista inscreve em seu programa o princípio da autonomia ‘política’ e não ‘financeira’ dos municípios, já porque os resultados práticos obtidos no sistema atual não podem deixar de ser reconhecidos como superiores aos do regime de completo desamparo e que se encerrou com um déficit de cerca de 230.000:000$00 e uma acervo Histórico5sobrecarga de erros administrativos, que tornam o prejuízo incalculável.A autonomia política dos municípios, mas só esta, é que entrou para o programa do partido político a que o nobre deputado Sr. Bento Sampaio Vidal e eu estamos filiados. A autonomia financeira e irrestrita não figurou, nem podia ter figurado no seu programa, de vez que a própria bancada constitucionalista, na Câmara Federal, foi quem mais vigorosamente se bateu pela inclusão, na Carta Magna, do dispositivo que permite aos estados a criação de órgãos de assistência técnica e de fiscalização das finanças municipais.”(discurso proferido na 36ª Sessão Ordinária do Poder Constituinte, realizada em 27 de maio de 1935).

Discurso sobre reivindicações femininas editar

Já nas sessões ordinárias ocorridas após o período constituinte, Maria Thereza utilizou seu mandato para discorrer sobre temas diversos, como a proposta de anexação do município de São Caetano do Sul à capital paulista, em 1935, de acordo com clamor de seus habitantes que se sentiam deixados à margem do desenvolvimento industrial.Em mais de um pronunciamento, também em 1935, a parlamentar defende o desenvolvimento da sericicultura no Estado de São Paulo, considerando que a indústria da seda poderia gerar uma grande fonte de renda e, inclusive, tendo apresentado projeto de lei autorizando o governo do estado de São Paulo a receber, em doação, terreno oferecido pela prefeitura de Limeira para a instalação de uma estação sericícola experimental.Em setembro deste mesmo ano, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo faz referência e enaltece a outra pioneira da representação feminina nas Casas Legislativas: Carlota Pereira de Queiroz, a primeira deputada federal da história do Brasil, eleita pelo estado de São Paulo em 1934, que também ocupou seu cargo até o início da Ditadura do Estado Novo, quando Vargas fechou o Congresso Nacional. Diz a deputada Maria Thereza: “Refiro-me à fulgurante oração da Dra. Carlota Pereira de Queiroz, proferida na Câmara Federal, em 8 do corrente. Sr. Presidente, trata-se de uma obra de elevado valor, tanto na forma como no fundo, em que a insigne artista da palavra, soube, com o fascínio do seu primoroso talento, colocar a questão das reivindicações femininas em nossa pátria em seus justos e exatos termos. A preclara representante da mulher, no parlamento nacional, que teve a fortuna da primazia, no Brasil, de receber essa alta investidura, e que desempenha com a elegância e a superioridade dignas de uma paulista de escola (muito bem), acaba de focalizar, magistralmente, um problema de palpitante atualidade, e que deve, por todos os títulos, figurar também em nossos Anais, como jóia inapreciável de idéias cintilantes engastadas no ouro de lei de uma forma deslumbrante.”(discurso proferido na 45ª Sessão Ordinária, realizada em 2 de setembro de 1935).

Ver também editar

Ligações externas editar

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