Medicina de Emergência

A Medicina de Emergência é uma especialidade médica focada no atendimento inicial, diagnóstico e tratamento de pacientes em situações urgentes e emergenciais. Ela engloba uma ampla variedade de condições clínicas que exigem respostas rápidas e eficientes, muitas vezes sob pressão extrema. Esta especialidade é crucial para o sistema de saúde, agindo como o primeiro ponto de contato para muitos pacientes que necessitam de cuidados imediatos[1].

História da Medicina de Emergência no Mundo editar

A Medicina de Emergência, que se desenvolveu inicialmente durante a Primeira Guerra Mundial, beneficiou-se da organização e rapidez no atendimento a soldados feridos, levando à criação de sistemas de triagem e conceitos de atendimento pré-hospitalar. Este enfoque militar influenciou a medicina civil, resultando na evolução de ambulâncias e no estabelecimento de serviços emergenciais organizados[2][3].

Com o passar do tempo, a especialização médica evoluiu e, na década de 1960, a Medicina de Emergência começou a ser formalizada como especialidade, especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde associações médicas específicas foram criadas e programas de formação foram desenvolvidos. Essa expansão incluiu a publicação de periódicos dedicados e o fortalecimento do apoio à especialidade, que culminou na implementação de um processo de certificação baseado em exames e experiência prática[2].

Nos Estados Unidos a primeira residência foi estabelecida na Universidade de Cincinnati em 1970. Isso foi seguido pela formação do primeiro departamento dedicado à especialidade na University of Southern California em 1971. Em 1979, o American Board of Medical Specialties reconheceu oficialmente a Medicina de Emergência como uma especialidade médica. A partir daí, programas de formação se espalharam por diversos países, moldando o desenvolvimento de práticas e protocolos que hoje são fundamentais para o atendimento emergencial global[2][4].

Globalmente, a Medicina de Emergência ganhou raízes em diversas áreas médicas, como clínica médica em Taiwan, anestesiologia na França, cirurgia no Japão, e medicina de família no Canadá e na Jordânia. Em 2023 havia mais de 70 sociedades médicas da especialidade em todo o mundo, em mais de 50 países[5][6][7][8][9][10].

Com o apoio de organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a especialidade tem passado pela criação de subespecialidades e pela maior integração global. A pandemia do COVID-19 destacou a importância dos emergencistas, que atuam na linha de frente em crises de saúde pública, desastres e pandemias. Esta é uma era de crescimento e inovação na Medicina de Emergência, com um foco renovado na melhoria dos sistemas de atendimento emergencial em todo o mundo[11].

História da Medicina de Emergência no Brasil editar

A Medicina de Emergência no Brasil teve um desenvolvimento significativo desde os anos 90. Em 1992, a Universidade de São Paulo introduziu a disciplina de Emergências Clínicas e, simultaneamente, sistemas de atendimento pré-hospitalar começaram a ser implementados em Campinas, Ribeirão Preto e Porto Alegre, inspirados no modelo francês do SAMU. Em 1996, o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre estabeleceu a primeira residência de Medicina de Emergência do Brasil, marcando a transição da emergência de uma subespecialidade para uma área de treinamento autônoma e formal[12][13][14].

A consolidação da especialidade continuou com a reestruturação da SOCEMU em Fortaleza em 1998 por médicos como Lindemberg Lima, Celio Vidal e Itamarcia Araújo, e a fundação da SOBRAMEDE em Brasília em 2002, presidida inicialmente por Luiz Henrique Hargreaves. Apesar de desafios iniciais, a Associação de Medicina de Emergência do RS (AMERS) foi formada em 2003, reforçando a identidade e a infraestrutura da emergência médica no Brasil[15][12][13].

A implementação nacional do SAMU em 2002, baseada na Portaria 2048/2022[16], ajudou na expansão e organização dos serviços de emergência, preparando o terreno para eventos significativos como o Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência em Gramado, 2007, e a subsequente fundação da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) em 2008 em Porto Alegre, sob liderança de Luiz Alexandre Alegretti Borges e Frederico Arnaud[12][13][17].

Em 2008, a segunda residência em Medicina de Emergência foi criada em Fortaleza, consolidando ainda mais a especialidade. As discussões e encontros científicos subsequentes, especialmente em São Paulo (2011) e Curitiba (2013), culminaram na aprovação pelo Conselho Federal de Medicina em 2013[18], reconhecendo oficialmente a Medicina de Emergência como especialidade médica no Brasil[12][13].

Desde então, a especialidade cresceu exponencialmente, com mais de 40 centros formadores e a ABRAMEDE conduzindo exames de especialização em colaboração com a Associação Médica Brasileira (AMB). A especialidade continua a evoluir, garantindo treinamento e educação contínua para profissionais que atuam nas frentes de emergência em todo o país[12][19].

Competências e Formação do Médico Emergencista editar

A matriz de competências do Programa de Residência Médica em Medicina de Emergência visa formar médicos altamente qualificados para o atendimento em pronto-socorro, salas de emergência e unidades de tratamento intensivo. O objetivo geral é equipar os residentes com habilidades necessárias para diagnosticar, tratar e monitorar as condições mais comuns e graves encontradas em emergências médicas[20][21].

As competências abrangem uma ampla gama de habilidades técnicas e procedimentais, incluindo ultrassonografia à beira do leito, manejo de vias aéreas, suporte básico e avançado de vida, procedimentos invasivos como cateterizações, punções e drenagens, atendimento pré-hospitalar e transporte de pacientes, etc. Os residentes aprendem a aplicar princípios éticos nas decisões clínicas e a gerenciar recursos e equipes em unidades de emergência. Além disso, os médicos são treinados para a colaboração com equipes multidisciplinares e para desenvolver uma comunicação eficaz com pacientes e familiares em momentos críticos[21]

Ao longo dos três anos de treinamento, os residentes progridem de habilidades básicas para o manejo de condições complexas e múltiplos sistemas, culminando na habilidade de lidar com emergências oncológicas, paliativas, e outras situações de alta gravidade. A capacitação também inclui gestão de emergências em desastres e catástrofes., garantindo uma formação abrangente e preparada para os desafios contemporâneos da medicina de emergência[21][22].

  1. «Breve Resumo da História da Especialidade de Medicina de Emergência no Brasil». portal.abramede.com.br. Consultado em 22 de abril de 2024 
  2. a b c Bloem, Dra Christina (2021). «História da Medicina de Emergência». Revista Brasileira de Medicina de Emergência (1): 2–3. ISSN 2764-1430. Consultado em 22 de abril de 2024 
  3. Suter, Robert E (2012). «Emergency medicine in the United States: a systemic review». World Journal of Emergency Medicine (1). 5 páginas. ISSN 1920-8642. doi:10.5847/wjem.j.issn.1920-8642.2011.02.003. Consultado em 22 de abril de 2024 
  4. «American Board of Emergency Medicine | An ABMS Member Board». American Board of Medical Specialties (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2024 
  5. «About Us». International Federation for Emergency Medicine (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2024 
  6. BULLARD, M; LIAW, S; CHEN, J (novembro de 1996). «Emergency Medicine Development in Taiwan». Annals of Emergency Medicine (5): 542–548. ISSN 0196-0644. doi:10.1016/s0196-0644(96)70118-x. Consultado em 22 de abril de 2024 
  7. Nikkanen*, Heikki Erik; Pouges, Claude; Jacobs, Lenworth M (janeiro de 1998). «Emergency Medicine in France». Annals of Emergency Medicine (1): 116–120. ISSN 0196-0644. doi:10.1016/s0196-0644(98)70293-8. Consultado em 22 de abril de 2024 
  8. Beveridge, Robert C (outubro de 1995). «Emergency Medicine: A Canadian Perspective». Annals of Emergency Medicine (4): 504–507. ISSN 0196-0644. doi:10.1016/s0196-0644(95)70120-6. Consultado em 22 de abril de 2024 
  9. «Distinguished ACEP member given honorary membership». Annals of Emergency Medicine (4). 105 páginas. Abril de 1980. ISSN 0196-0644. doi:10.1016/s0196-0644(80)80050-3. Consultado em 22 de abril de 2024 
  10. Abbadi, Suleiman; Abdallah, Abdel Karim; Holliman, C.James (setembro de 1997). «Emergency Medicine in Jordan». Annals of Emergency Medicine (3): 319–321. ISSN 0196-0644. doi:10.1016/s0196-0644(97)70168-9. Consultado em 22 de abril de 2024 
  11. Bloem, Dra Christina (2021). «História da Medicina de Emergência». Revista Brasileira de Medicina de Emergência (1): 2–3. ISSN 2764-1430. Consultado em 22 de abril de 2024 
  12. a b c d e «Breve Resumo da História da Especialidade de Medicina de Emergência no Brasil». portal.abramede.com.br. Consultado em 22 de abril de 2024 
  13. a b c d «História da Emergência no Brasil - Emergência Já. Amor pra Sempre.». emergenciajaamorprasempre.com.br. Consultado em 22 de abril de 2024 
  14. «Tudo sobre a Residência em Medicina de EmergênciaMedicina de Emergência». 20 de julho de 2017. Consultado em 22 de abril de 2024 
  15. JMédico, Redação (16 de setembro de 2019). «Dia da Medicina de Emergência». Jornal do Médico®. Consultado em 22 de abril de 2024 
  16. «PORTARIA Nº 2048, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2002». Sistema Legis. 5 de novembro de 2002. Consultado em 22 de abril de 2024 
  17. «Tudo sobre a Residência em Medicina de EmergênciaMedicina de Emergência». 20 de julho de 2017. Consultado em 22 de abril de 2024 
  18. «Plenária do CFM aprova proposta de emergência como especialidade médica». Conselho Federal de Medicina CFM. 18 de abril de 2013. Consultado em 22 de abril de 2024 
  19. https://www.conferencesoftware.com.br. «ABRAMEDE». ABRAMEDE (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2024 
  20. «Programa de Residência Médica em Medicina de Emergência - COREME - FMRP-USP» (PDF). Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 31 de outubro de 2021. Consultado em 22 de abril de 2024 
  21. a b c «RESOLUÇÃO CNRM Nº 12, DE 6 DE JULHO DE 2021 - Aprova a matriz de competências dos programas de ResidênciaMédica em Medicina de Emergência no Brasil». portal.mec.gov.br/. 6 de julho de 2021. Consultado em 22 de abril de 2024 
  22. «Breve Resumo da História da Especialidade de Medicina de Emergência no Brasil». portal.abramede.com.br. Consultado em 22 de abril de 2024