Micheas Gomes de Almeida

Micheas Gomes de Almeida ou "Zezinho do Araguaia" (Capanema, 21 de abril de 1934) é um militante comunista e ex-guerrilheiro brasileiro, único sobrevivente da Guerrilha do Araguaia que jamais foi preso, atuando durante os três anos de combate entre a guerrilha e as Forças Armadas, entre 1972 e 1975.

Micheas Gomes de Almeida
(Zezinho do Araguaia)
Nascimento 21 de abril de 1934 (90 anos)
Capanema, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação guerrilheiro

Biografia editar

Filho de camponeses, andarilho e pedreiro na juventude, que trabalhou na construção de Brasília,[1] nasceu no interior do Pará e foi criado em Belém e na ilha de Marajó. Na juventude, fixou-se em Goiás e filiou-se ao Partido Comunista do Brasil no início dos anos 60. Enviado para treinamento militar na China pelo partido, em 1966, antes da guerrilha,[2] no retorno, sendo um militante com maneiras de homem do campo, foi enviado ao Araguaia, na região do hoje estado de Tocantins com outros companheiros no fim da década para ajudar a preparação de guerrilha rural, idealizada pelo partido como forma de combater de armas na mão a ditadura militar brasileira da época.

"Zezinho", seu codinome na guerrilha e pelo qual é conhecido até hoje (apesar de ter utilizado mais de 80 nomes na clandestinidade),[3] foi o guerrilheiro que mais se adaptou à selva, servindo constantemente de guia e principal mensageiro da guerrilha. Paraense, de aspecto físico parecido com o dos caboclos da região, o que não levantava suspeitas, era o guerrilheiro sempre escalado para entrar e sair da mata, procurando remédios, suprimentos e transportando integrantes para fora e para dentro da área ocupada pelo PCdoB. Além disso, foi o principal elemento de ligação entre a comissão militar e os destacamentos armados e planejador e explorador de rotas alternativas na selva para o deslocamento dos guerrilheiros.

No começo de 1974, quando a guerrilha estava em condição já de aniquilamento e extermínio de seus integrantes, e a batalha havia virado apenas uma caça aos sobreviventes comunistas[4] onde os guerrilheiros que se rendiam eram assassinados,[5] "Zezinho" fugiu da região junto com Ângelo Arroyo, codinome "Joaquim", um dos líderes da guerrilha, atravessando o norte de Goiás (hoje Tocantins), sul do Pará, Maranhão, Piauí, cruzando rios agarrados em troncos de madeira, roubando cavalos e andando apenas à noite,[6] até embarcarem num ônibus para São Paulo, onde ele desapareceu.

Por mais de 20 anos, "Zezinho" foi dado como desaparecido político. Na verdade, entre 1975 e 1996, ele foi Antônio Pereira Oliveira. "Ou acreditava ser, pois havia se esquecido de tudo – seu verdadeiro nome, Micheas, a guerrilha, sua família, a visita à China, o Partido (…) Como esqueceu, ele não sabe. Suas memórias foram se esvaindo de sua cabeça, e ficaram em algum lugar escondidas por essas duas décadas. Para todos os efeitos, ele era o pedreiro e depois eletricista Antônio, sem parentes."[7] Como Antônio, assumiu nova vida, casou, teve filhos e netos.[1] Os flashes de lembranças começaram a iluminar a memória de Zezinho somente em 1996, após ver as imagens de uma reportagem na televisão, que mostrava duas sobreviventes da guerrilha do Araguaia: Crimeia Alice Schmidt de Almeida e Elza Monnerat. A primeira delas Zezinho havia retirado da mata, grávida, carregando-a rio abaixo, em agosto de 1972.[7][8]

Hoje vive em São Paulo e foi convidado a ser o curador do monumento à guerrilha, que será erguido em Xambioá, cidade na região do rio Araguaia onde ele combateu e sobreviveu nos anos 70.[3] Em 2010, foi eleito presidente do IAPA – Instituto de Apoio aos Povos do Araguaia.[9]

Ver também editar

Bibliografia editar

Referências

  1. a b «Jornal Opção». Jornalopcao.com.br [ligação inativa]
  2. Gaspari, Elio. «A Ditadura Escancarada, As Ilusões Armadas». Google books. Books.google.com.br. p. 450 
  3. a b «Zezinho do Araguaia em entrevista ao Jornal do Tocantins». vermelho.org. Consultado em 27 de maio de 2016 
  4. Coronel Pedro Paulo Costa em depoimento a Rinaldo Gama, Veja, 13 de outubro de 1993
  5. Depoimento do coronel Pedro Correa Cabral à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, maio de 2001
  6. MORAIS, Tais de. SILVA, Eumano. Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha. ISBN 85-7509-119-0
  7. a b Fernanda Campagnucci (Julho de 2006). «O Homem Invisível» (PDF). WordPress 
  8. PESSOA, Romualdo Campo Filho, Guerrilha do Araguaia: a esquerda em armas Editora UFG, 1997 ISBN 85-7274-079-1
  9. «Histórico dos fundamentos do Memorial». Memorial do Araguaia. Consultado em 27 de maio de 2016. Arquivado do original em 9 de junho de 2016