"Rio Preto de Luto" é uma canção brasileira do gênero sertanejo composta por Joaquim Moreira e Benedito Francisco Alves (Zé Matão) e originalmente gravada pela dupla sertaneja da qual Alves fazia parte, Garcia e Zé Matão. No entanto, foi a regravação da dupla Tião Carreiro e Pardinho, de 1981, que acabou se tornando a versão mais popular da canção. A canção retrata um período trágico na história da cidade de São José do Rio Preto, marcado pela perda de várias personalidades importantes da cidade, além do acidente rodoviário responsável pela morte de 59 estudantes de uma escola técnica do município.

Composição e gravação editar

Rio Preto de luto foi composta por Joaquim Moreira e Benedito Francisco Alves (Zé Matão) na década de 1960, ela está entre as mais de duzentas composições de Moreira e entre as mais de cem que foram gravadas.

Joaquim Moreira da Silva nasceu no dia 08 de dezembro de 1920 na região de Catanduva, interior de São Paulo, e mais tarde migrou para São José do Rio Preto, onde ele cantava na festa de Folia de Reis. A proximidade de Moreira com a cidade o incentivou a compor a canção. A parceria com Zé Matão resultou na primeira gravação, que foi feita pela dupla sertaneja da qual Zé Matão fazia parte. No entanto, esta versão não obteve sucesso.[1]

Foi José Dias Nunes, o Tião Carreiro, da dupla Tião Carreiro e Pardinho, o responsável pela gravação de sucesso da música. Tião Carreiro, nascido em Minas Gerais e radicado em Araçatuba, fez de Rio Preto a extensão de sua casa. Em solo Rio Pretense, o cantor participava de encontros com outras duplas caipiras da região, e foi desta forma que a canção chegou aos seus ouvidos. Porém, a versão original não o agradou completamente e ele propôs algumas mudanças, magoando o compositor, que afirmou em uma entrevista que “não precisava, mas deixa pra lá. Fez sucesso, né?”.[2]

Conteúdo editar


Rio Preto e toda região vive muito aborrecido
De uns certo tempos pra cá quantos golpes tem sofrido
Quantos homens de valor a cidade tem perdido
Seus nomes ficou na História gravado em nossa memória
E jamais será esquecido


Em sua composição, Moreira lamenta uma série de perdas de personalidades locais ocorridas entre 1958 e 1961, incluindo também a morte de cinquenta e nove estudantes de uma escola técnica da cidade em um acidente rodoviário. O título "Rio Preto de Luto" refere-se então ao sentimento gerado pela perda dessas pessoas públicas e influentes em um espaço de tempo tão curto, e ao fato de que cinquenta e nove famílias perderam seus entes queridos.

Anísio Moreira editar


Quantas perdas irreparáveis quase que num tempo só
As derrotas foram tantas, falo apenas das maior
Doutor Anísio Moreira, da vizinha Mirassol
Na selva de Mato Grosso, caiu n'água num destroço
A morte não teve dó


A primeira personalidade citada pela música é Anísio José Moreira, que abandonou a carreira de médico para se dedicar a política. Como citado na música, foi prefeito na cidade de Mirassol e morreu num acidente aéreo, no estado de Mato Grosso, em outubro de 1958. Também foi deputado estadual e federal.[3]

Milton Verdi editar


Num desastre na Bolívia, Milton Verdi e seu cunhado
A bordo de um avião fizeram um pouso forçado
Lá viveu setenta dias do mundo desamparado
Triste fim teve os dois homens: morreram de sede e fome
Completamente isolados


A morte de Milton Verdi ficou conhecida como a tragédia do Cessna 140. Milton Verdi e seu cunhado fizeram um pouso forçado na Bolívia e, isolados, faleceram após 70 dias. Os dois tinham 25 anos e Milton morreu por inanição e seu cunhado faleceu após beber gasolina, tamanho seu desespero por água.[4] A família Verdi é proprietária do Grupo Verdi, que possui entre seus bens a empresa Rodobens.

Bady Bassitt editar


O Doutor Bady Bassitt, ilustre batalhador
Pela Nossa Rio Preto não poupava o seu labor
Lutava pelo progresso com carinho e com amor
Mas por uma infeliz sorte foi tragado pela morte
Aumentando a nossa dor


Bady Bassitt era médico e um influente político da região, tendo sido vereador e prefeito de São José do Rio Preto, além de deputado estadual. Ele faleceu no exercício de seu mandato.[5]

Alberto Andaló editar


Meus prezados ouvinte e amigos, isso tudo não foi só
A morte também levou Doutor Alberto Andaló
Das derrotas Rio-pretense foi uma das mais pior
Ex prefeito e deputado, lutava desesperado
Por um Rio Preto melhor


Alberto Andaló era advogado e é reverenciado como prefeito até os dias de hoje, ele atuou também como juiz. Ele fez sucesso na política defendendo a implantação da telefonia automática e o tratamento de água. Ele foi eleito deputado em 1955 e no mesmo ano abdicou para assumir o cargo de prefeito. Ele faleceu dois meses antes de completar seu mandato, vítima de ataque cardíaco fulminante.[6]

Coutinho Cavalcante, Javert de Andrade e o acidente no Rio Turvo(Morte de 59 estudantes) editar


Rio Preto também perdeu o Coutinho Cavalcanti
Morreu o Doutor Jafét, outra figura importante
Nas águas do Rio Turvo cinquenta e nove estudantes
Meus Deus tenha piedade defenda nossa cidade
E também seus habitantes


Joaquim Nunes Coutinho Cavalcanti, era médico e foi prefeito de Rio Preto por um curto espaço de tempo em 1935. Ele foi deputado federal e morreu no exercício do cargo em novembro de 1960.[7] Javert de Andrade era advogado e promotor público, foi um entusiasta defensor da instalação do Instituto Penal Agrícola (IPA) de Rio Preto e seu primeiro diretor. Ele foi assassinado em 1961, por uma reeducando que foi apontado por Javert como modelo de detento recuperado. O acidente do Rio Turvo ocorreu em agosto de 1960.[8] Componentes da Escola de Comércio Dom Pedro II, de Rio Preto, seguiam de ônibus para uma apresentação na cidade de Barretos. O motorista perdeu o controle do veículo perdeu a direção quando se aproximava da ponte de madeira sobre o Rio Turvo. No saldo da tragédia, cinquenta e nove (59) estudantes morreram.[9] A comoção parou São José do Rio Preto e ficará para sempre na memória de seus habitantes.

Referencias editar

  1. Cury, Toninho. «Quem Faz História». Consultado em 12 de outubro de 2014 
  2. Correa, Marival (24 de agosto de 2014). «Noticias Cidades». Consultado em 12 de outubro de 2014 
  3. Magri, Paulo. «Escola recebe herança esquecida». Consultado em 12 de outubro de 2014. Arquivado do original em 25 de outubro de 2014 
  4. Correa, Marival (agosto de 2010). «Martírio de rio-pretenses começava há 50 anos». Consultado em 12 de outubro de 2014 
  5. Lacaz, Carlos da Silva. Médicos Sírios e Libaneses do Passado. Trajetória em busca de uma nova Pátria 1 ed. [S.l.]: ALMED 
  6. Demian, Cecília (outubro de 2003). «Ex-prefito Andaló completaria 87 anos hoje». Consultado em 12 de outubro de 2014. Arquivado do original em 25 de outubro de 2014 
  7. Arantes, Lelá. «Projeto de Coutinho Cavalcanti foi aplicado em Cuba». Consultado em 12 de outubro de 2014. Arquivado do original em 25 de outubro de 2014 
  8. Baffi, Guilherme (dezembro de 2010). «História de 55 anos do IPA termina hoje». Consultado em 12 de outubro de 2014 
  9. Magri, Paulo (agosto de 2007). «Acidente no rio Turvo completa 47 anos». Consultado em 12 de outubro de 2014. Arquivado do original em 25 de outubro de 2014