Theatro São José

O Theatro São José foi um importante teatro existente na cidade de São Paulo. Inaugurado em 4 de setembro de 1864, seu primeiro edifício tinha capacidade para 1200 pessoas e estava localizado no Largo São Gonçalo, atual Praça Doutor João Mendes. Após um incêndio ocorrido às vésperas do carnaval de 1898 que destruiu o edifício, um novo Theatro São José foi construído ao lado Viaduto do Chá.[1]

Theatro São José
Theatro São José
Fachada do Theatro São José em 1911
Tipo Teatro
Estilo dominante Eclético
Arquiteto Carlos Ekman
Início da construção 7 de abril de 1858 (primeiro edifício)
Inauguração 4 de setembro de 1864
Demolição 29 de agosto de 1924 (segundo edifício)
Geografia
País Brasil
Coordenadas 23° 32' 48" S 46° 38' 19" O

O novo teatro projetado pelo arquiteto Carlos Ekman tinha capacidade para 3000 pessoas e foi inaugurado em 28 de dezembro de 1909. Depois da inauguração do Theatro Municipal de São Paulo em 1911, o Theatro São José sofreu impacto em sua programação, permanecendo em atividade até 1919. Posteriormente foi adquirido pela Light São Paulo que passou a utilizar suas instalações até 1924, quando foi demolido e deu lugar ao Edifício Alexandre Mackenzie, inaugurado em 1929.[1][2]

História editar

 
O teatro em 1862 com obras inacabadas.

A criação do teatro foi decidida em 1854 na Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, que autorizou por lei o governo a contratar a construção de um novo teatro para a cidade, pois a antiga Casa da Ópera, o primeiro teatro da cidade localizado no Pátio do Colégio, estava muito deteriorada.[3]

No início houve uma indefinição sobre a localização do novo teatro. Havia a possibilidade de inaugurá-lo no Largo de São Francisco, onde hoje está a Escola de Comércio Álvares Penteado. Por fim foi decidido que o edifício seria localizado no Largo São Gonçalo, atual Praça Doutor João Mendes.[3]

A construção ficou a cargo de Antônio Bernardo Quartim, mesmo empreiteiro responsável pela reforma da Casa da Ópera. Seriam sócios o governo e Quartim, que ficaria com a concessão do teatro por vinte anos.[3] De acordo com o contrato assinado, o teatro teria “72 camarotes, cada um com 6 palmos de frente e 13 de fundo, uma tribuna decente para o Presidente, tudo cercado por corredores com suficiente largura, uma plateia com 350 assentos e 100 cadeiras, e, além disso, salas espaçosas para recreio, bem como para pintura e guarda-roupa, e 2 botequins no saguão, sendo as paredes do edifício de pedra”.[3]

 
Theatro São José após reformas em 1876.

A pedra fundamental foi lançada em 7 de abril de 1858 com grandes comemorações e o engenheiro Francisco Antônio de Oliveira ficou responsável pelo projeto do edifício. O prazo inicial para a obra era de três anos, porém os constantes atrasos e solicitações de verbas adicionais provocaram a crítica da imprensa.[3]

O teatro foi inaugurado em 4 de setembro de 1864 com apresentação da peça Túnica de Nessus, do estudante de direito Sizenando Nabuco.[3] Considerado um dos maiores teatros do Brasil na época, não era visto como um monumento de arte. Possuía uma fachada com a combinação de tijolos expostos, pilastras rudimentares e caixilhos de janelas sem adornos, encimados por um triângulo pesado que era o teto do salão.[4]

As instalações do teatro comportavam 1200 pessoas e foram inspiradas nas grandes casas europeias de espetáculo, porém o edifício ainda permanecia inacabado e em precárias condições, com a plateia ainda em chão de terra, permanecendo assim por um bom tempo. Quem quisesse sentar para melhor apreciar os espetáculos levava sua própria cadeira de casa.[5]

Em 1868 o presidente da província de São Paulo, Saldanha Marinho, irritado com as obras infindáveis do edifício, determinou ao Procurador Fiscal do Tesouro que tomasse providências.[3] Em 1870, por força de uma lei provincial, foi determinado a encampação do teatro. O efeito prático da lei surgiu somente em 1873, no governo de João Teodoro, quando foram constatadas todas as irregularidades na obra. Após ser encampado pelo governo, o Theatro São José passou para a administração de Antônio da Silva Prado, que reformou o edifício e concluiu o trabalho em março de 1876, quando o teatro foi inaugurado novamente.[3]

 
Incêndio no teatro ocorrido às vésperas do carnaval de 1898.

Com o passar dos anos, o Theatro São José se consolidou como um importante polo cultural da cidade e passou a receber importantes companhias internacionais, como a famosa companhia de Ermete Novelli, que apresentou dez peças no local. Passaram pelo São José malabaristas japoneses, mágicos alemães, companhias dramáticas italianas e artistas como o maestro Arturo Toscanini, a atriz Sarah Bernhardt, Eugênia Câmara e o poeta Castro Alves, que fazia declamações de seu camarote. Além disso, o teatro passou a ser palco para as pregações abolicionistas de Antonio Bento.[3][5]

Na madrugada de 15 de fevereiro de 1898, às vésperas do carnaval, um grande incêndio acabou destruindo o tradicional teatro. Dizem que um funcionário, preparando o teatro para o baile de carnaval, havia esquecido uma um bico de gás aberto. Ao amanhecer, o edifício ficou em ruínas, permanecendo apenas as paredes externas.[3]

O segundo Theatro São José editar

 
Novo edifício do teatro.

Após o incêndio que destruiu o edifício do teatro no Largo São Gonçalo, foi ordenada a construção de uma nova sede para o São José no começo do século XX, porém desta vez em outro local: ao lado do Viaduto do Chá.

Projetado em estilo eclético pelo arquiteto Carlos Ekman, o novo teatro foi inaugurado em 28 de dezembro de 1909. Em sua reabertura, foi executado o Hino Nacional, sucedido pela abertura da ópera Il Guarary, de Carlos Gomes. Seguiu-se com a apresentação da ópera Gueisha, de Howen Hallo e Sidney Jones, com elenco da Cia. Ernesto Lahoz. No dia seguinte foram anunciadas I Saltinbanchi, do maestro Ganné, sucedendo-se Sonho de Valsa, de Strauss e A Viúva Alegre, de Franz Lehár, que fechou a temporada de 1909.[1]

 
Fachada do Teatro em 1910, por Guilherme Gaensly.

O novo São José tinha capacidade para 3000 espectadores,[2] distribuídos em 387 cadeiras na plateia, 39 camarotes, 28 frisas, 356 lugares no anfiteatro, 415 nos balcões e 629 nas galerias. Todos os lugares da plateia, que tinha forma tradicional de ferradura, possuíam uma visão privilegiada do palco, pois o projeto do edifício aproveitou o declive para o Vale do Anhangabaú, que se situava ao fundo, nas vizinhanças da rua Formosa.[1] O local contava com salas para administração, sala de espera dos espectadores, instalação de bufê, sanitários e outros. O palco, um dos maiores de São Paulo até então, era adequado a qualquer tipo de espetáculo e tinha fosso de orquestra capaz de abrigar 70 músicos, treze camarins e quatro salas de comparsaria.[1]

 
Interior do teatro com visão para o fosso da orquestra e palco, em 1920.

O teatro teve uma temporada de sucesso em 1910, trazendo artistas internacionais. Em 23 de dezembro estreou a Cia. Lírica Italiana Ratoli-Biloro, conjugada à Cia. Schiaffino, que encenaram, seguidamente, uma após a outra, as óperas: Aida, Manon Lescaut, Cavalleria Rusticana, I Pagliacci, Rigoletto, Werther, L'amico Fritz, Il Guarany, La Traviata, Tosca, La Gioconda, La Bohème, Carmen, Il Trovatore, Faust, Un ballo in maschera e Mefistófele. Essa temporada de óperas acabou sendo o ponto mais alto de toda a programação do teatro.[1]

Após a inauguração do Theatro Municipal de São Paulo, em 1911, o Theatro São José teve sua programação fortemente alterada, passando a contar com temporadas curtas, elencos de segunda linha e plateias reduzidas. O teatro foi obrigado a recorrer às fontes de renda alternativa: aluguel das suas dependências para pequenas lojas, ateliês, oficinas de alfaiates e, até mesmo, residências. Em 1919 foi desativado como teatro e passou a pertencer à Assunção e Cia.[1]

Neste Período, a Light São Paulo estava procurando um novo local para sediar suas atividades. Paulo Assunção, proprietário do teatro, ofereceu o edifício no dia 3 de junho de 1919, porém a empresa demonstrou desinteresse na proposta. Posteriormente as negociações foram retomadas e a empresa adquiriu o edifício 27 de junho de 1920.[1]

Após comprar o teatro, a Light solicitou em juízo a notificação dos inquilinos, oferecendo 60 dias para que desocupassem o prédio. Houve um prazo especial de apenas 30 dias para Madame Ravidadt, uma inquilina do teatro que sublocava quartos para encontros amorosos. Foi também solicitada a retirada dos painéis de propagandas pertencentes à Água Platina e ao Cimento Rodovalho, afixados na fachada do teatro. A empresa só se viu livre dos inquilinos em maio de 1923.[1]

 
Parque Anhangabaú, com vista para o teatro.

Inicialmente a Light tentou adaptar o prédio às suas atividades, transferindo em 1 novembro de 1923 o setor de recebimento de contas de luz. Foram traçadas algumas alternativas para adaptação do prédio, porém a empresa concluiu que o melhor seria demolir o teatro e construir um edifício novo em seu lugar.[1]

Em 29 de agosto de 1924 foi assinado o contrato para a demolição do edifício. O entulho resultante da demolição do Theatro São José serviu para o aterramento da área onde hoje existe o Mercado Municipal de São Paulo. As peças que ornavam as fachadas do teatro, como os mascarões e as esculturas em cimento, foram reaproveitadas na construção da Vila Itororó, então construída pelo comerciante português Francisco de Castro, onde permanecem decorando o local até hoje.[1]

No local do Theatro São José foi construído o Edifício Alexandre Mackenzie, que durante muitos anos abrigou as atividades da Light São Paulo e posteriormente da Eletropaulo. Atualmente o edifício abriga Shopping Light.[2]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Nastri, Pedro (23 de abril de 2013). «Teatro São José». São Paulo Minha Cidade. Consultado em 25 de dezembro de 2017 
  2. a b c Veiga, Edison (18 de setembro de 2009). «O teatro São José». Veja São Paulo 
  3. a b c d e f g h i j Loureiro, Edison (8 de agosto de 2015). «O Começo e o Fim do Teatro São José». São Paulo Passado. Consultado em 24 de dezembro de 2017 
  4. Levy, Aiala (1 de julho de 2013). «Stages of a state: from São Paulo's Teatro São José to the Teatro Municipal, 1854–1911». Planning Perspectives. 28 (3): 461–475. ISSN 0266-5433. doi:10.1080/02665433.2013.800718 
  5. a b Oliveira, Abrahão (15 de janeiro de 2015). «A Triste Destruição de Um Monumento – O Teatro São José». São Paulo in foco. Consultado em 24 de dezembro de 2017