Vila Arroio Pavuna

A Vila Arroio Pavuna é uma favela localizada na foz do Arroio Pavuna, que desagua na Lagoa de Jacarepaguá, no município do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil.

Entrada da vila de pescadores Arroio Pavuna, 2010.

História editar

A comunidade de pescadores que hoje ocupa as margens do Arroio Pavuna já existia desde a década de 1910, habitando a Praia das Pedrinhas, à margem da Lagoa de Jacarepaguá. No ano de 1938, a comunidade se transferiu para a foz do Arroio Pavuna, cujas águas desembocam na lagoa. O Arroio Pavuna foi o antigo marco divisório entre as fazendas de Martim Correia de Sá e Gonçalo Correia de Sá, filhos de Salvador Correia de Sá, o Velho, que governou o Rio de Janeiro de 1578 a 1598.

 
Foto de uma das casas da vila de pescadores do Arroio Pavuna, 1966.

Na década de 1960, o robalo abundava as águas da Lagoa de Jacarepaguá. Pescadores vindos de vários bairros próximos, como Campo Grande e Senador Camará, ao final do dia, retiravam suas redes repletas do peixe, que depois seria vendido nas feiras. Também eram pescadas a tainha e a curvina, que vinham do mar para desovar nas raízes do extenso manguezal. Nos anos 1980 e 1990, os moradores tiveram seu primeiro embate com a empreiteira que queria a saída dos moradores, pois estavam muito próximo de onde seria construído um grande condomínio de luxo. Os moradores lutaram contra esta ideia e venceram, permanecendo no lugar. Em 2006, os moradores não tiveram tempo de lutar pela permanência: em tempo recorde, as casas foram demolidas para construção de um acesso aos condomínios Rio II e Cidade Jardim.

No lugar onde havia as 68 casas, nada foi construído. Foi feito um jardim, o que demonstra uma limpeza social. As 28 casas restantes em 2007 a prefeitura queria remover para revitalizar o espaço. Começa então uma luta contra a intenção da prefeitura. Com o termino do mandato do prefeito a remoção ficou para o Prefeito eleito, que colocou em execução o plano de remoção das 28 casas restantes para construção da Via Transcarioca. Começa uma luta contra a ideia da prefeitura a de retirar toda comunidade. Em março de 2013 ficou acertado que sairia somente 5 moradias e não toda comunidade com queria a prefeitura. Assim a comunidade permanece com 23 casas. A SPU (Secretaria do Patrimônio da União ) proprietária da terra esta fazendo a Regularização Fundiária.

 
Uma das primeiras casas de alvenaria da Vila de Pescadores Arroio Pavuna, 1979. O Sr. Carlos Dazzi, que aparece na foto, ainda possui descendentes morando no lugar.

O linguado, espécie muito exótica e que exige água sempre limpa, existia igualmente na lagoa. A "saveia", ou savelha, servia de alimento às garças brancas e azuis, flamingos e grous que visitavam a Lagoa de Jacarepaguá, atraídos pelos peixes. Era possível, até os anos de 1970, avistar durante o dia, estirados ao sol, jacarés-de-papo-amarelo; famílias inteiras de capivaras, pastando as margens da lagoa e do arroio; enormes sucuris e lontras, que cruzavam a lagoa e o arroio a nadar.

Até a década de 1980 a lagoa manteve o seu fundo de areia, onde as caraunas desovavam, após fazerem as locas. Era possível andar dentro da lagoa consideráveis distancias, com a água na altura do peito. Na mesma década, toneladas de areia foram retiradas do fundo da lagoa e utilizadas para aterrar a área onde posteriormente foi construído um condomínio de luxo.Onde havia areia, hoje existem canais com 8 a 18 metros de profundidade.

Foram muitos os impactos ambientais que a retirada do fundo de areia da lagoa causou, dentre eles o sumiço de várias espécies das citadas acima, além da a carauna, a 'saveia'e os pitus. A diminuição dos peixes também afastou as garças, e outras aves, como o socó e o biguá. Devido a um programa de aquicultura, houve a introdução na Lagoa de Jacarepaguá da tilápia, uma espécie de hábito alimentar onívoro, que reduziu consideravelmente a já ameaçada fauna nativa.

 
Os pescadores também viviam do aluguel de barcos. Na foto a filha de pescadores do Arroio Pavuna, brincando sobre o barco Bôto-Azul. Ao fundo a Barra da Tijuca, ainda com poucos condomínios de apartamentos, 1980.

Já a poluição na lagoa teve início nos anos de 1990. A partir de então, a pesca praticamente deixou de ser realizada pelos pescadores da Comunidade Arroio Pavuna, que tinham a lagoa como principal fonte de sustento a décadas. Várias famílias do lugar também sobreviviam do aluguel de barcos para pescadores que vinham de fora. Com a diminuição da pesca, essas famílias perderam sua principal fonte de renda. Atualmente, apenas uma família mantem a tradição do aluguel de barcos.

No entanto, pescadores vindos de fora ainda pescam, pois a lagoa e o arroio, mesmo enfrentando inúmeros problemas advindos da especulação imobiliária, não estão completamente mortos. As famílias que lá ainda vivem, descendentes dos primeiros moradores, procuram preservar o que restou da fauna e da flora local, em constante vigilância contra caçadores que perseguem os remanescentes de jacarés e capivaras. Também a Acrostichum aureum, samambaia-do-brejo, protegida por lei ambiental, recebe especial atenção dos moradores da Vila Arroio Pavuna, que zelam pela sua preservação. A interação entre os pescadores, a fauna e a flora local, iniciada em 1910, se mantém através de seus descendentes, formando um elo que comemora, em 2010, 100 anos de história.

Ligações externas editar