A + B foi uma coluna de crônicas dialogadas de Machado de Assis publicada apenas sete vezes pelo jornal Gazeta de Notícias de 12 de setembro de 1883 até 24 de outubro de 1886.[1] Nestas crônicas o autor usou o pseudônimo de uma figura histórica, João das Regras, jurista conselheiro de D. João I (1358-1433), "monarca que se empenhou na criação do Estado moderno em Portugal em fins da Idade Média".[2] Trata-se de crônicas sobre atualidades, em especial "a movimentação política no tempo do império brasileiro",[3] em que os temas vão se sucedendo por associação de ideias em ritmo vertiginoso, com uma pegada satírica, beirando o nonsense, como em:

B - {...} mas, apesar de tudo, o general fica. Eu faria a mesma coisa.
A - Eu faria outra coisa.
B - Que farias tu?
A - Suprimia os coronéis.
B - Matando-os?
A - Não, homem de Deus, suprimia os postos: nem coronéis, nem generais. Eu faria decretar que todos os filhos da república [alusão ao Estado Oriental do Uruguai; o Brasil ainda era uma monarquia] fossem cabeleireiros. Cabeleireiro, como se sabe, é o mais pacato dos cidadãos de um Estado. [...]
B - Singular disparate! Mas se todos fossem cabeleireiros, a quem é que eles penteariam, pateta?
A - Uns aos outros, pateta! reciprocidade capilar [...]

"Em cada uma das sete crônicas o mesmo padrão é repetido: as figuras A e B esbarram-se na rua por acaso e iniciam um diálogo concernente às notícias dos jornais e ao que se discute na Câmara e no Senado, entre outros comentários relativos principalmente à pauta da vida política do império brasileiro em fins do século XIX. Desse modo, Machado de Assis faz com que as duas figuras passeiem por diversos assuntos, sem se deter ou muito menos se aprofundar em nenhum deles."[4] "Apesar de reduzir-se a apenas sete crônicas, A+B aborda um grande número de temas, pois o que salta à vista como objetivo da série, num primeiro olhar, é o desejo de fazer ecoar as notícias mais atuais que constam nos jornais e tecer comentários sobre as mesmas." A narração "consiste em não se prender de fato a nenhum assunto e sobrevoar todos". [5]

Colaboração de Machado na Gazeta de Notícias

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A Gazeta de Notícias foi o jornal em que Machado de Assis colaborou por mais tempo como cronista, de 1883 até 1900, adotando vários pseudônimos. "Teve este grande jornal dos tempos do Império uma influência considerável na carreira jornalística e literária de Machado".[6] De 1883 a 1886 publicou, sob o pseudônimo de Lélio, os "comentários humorísticos" das "Balas de Estalo". Em 1886 publicou, sob o pseudônimo João das Regras, os diálogos de "A + B", de duração efêmera. Como os jornais da época vinham publicando folhetins rimados e a Gazeta de Notícias estava sem "poeta", Machado veio a suprir a lacuna, publicando, de 1886 a 1888, sob o pseudônimo de Malvólio, os "comentários rimados" da "Gazeta de Holanda" De 1888 a 1889, publicou "crônicas leves, alegres, bem humoradas" com o título de "Bons Dias" e de 1892 a 1900 publicou sua coluna de mais longa duração, "A Semana".[7]

Referências

  1. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "A + B", pág. 20.
  2. Ludmylla Mendes Lima, A SÉRIE DE CRÔNICAS A+B, DE MACHADO DE ASSIS, em Revista Cerrados, nº 45, ano 26, acessível da Internet (ver Ligações externas).
  3. Idem, pág. 185.
  4. Idem, pág. 181.
  5. Idem, pág. 183.
  6. R. Magalhães Júnior, Prefácio a Diálogos e Reflexões de um Relojoeiro, 2a edição, Ediouro.
  7. Idem.

Ligações externas

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