A Passagem do gado (Cristino da Silva)

pintura a óleo sobre tela de 1867 de João Cristino da Silva

A Passagem do gado é uma pintura a óleo sobre tela de 1867 do artista português João Cristino da Silva (1829-1877) da corrente do Naturalismo e que está atualmente no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa.

A Passagem do gado
A Passagem do gado (Cristino da Silva)
Autor João Cristino da Silva
Data 1867
Técnica Pintura a óleo sobre tela
Dimensões 100 cm × 182 cm 
Localização Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa

Expressão exuberante de coloridos e contrastes tonais, esta obra anuncia a estética naturalista, colocando-a ao lado de propostas internacionais, apresentadas nesse ano de 1867, na Exposição Universal de Paris.[1]

Descrição editar

Numa pintura marcadamente de paisagem, uma ribanceira abrupta, virada para o sol, divide a composição que se desdobra noutra, mais ao fundo, sob um céu azulado, preenchido por novelos de nuvens pouco densas.[2] A faixa quase em diagonal da vegetação que cobre a terra como que faz a separação entre esta e o meio gasoso do céu.

Inserida numa paisagem grandiosa, a escarpa abrupta de terra seca e alaranjada está coberta no cimo e nas extremidades por pastagem e num banco da ravina, em primeiro plano, por aloés. O lado esquerdo superior da tela é encoberto pela sombra de uma mancha diáfana de nuvens em tons que vão do terroso aos verdes e aos azuis parecendo transmitir a dissolução nelas da terra e das plantas.[1]

O sol bate de frente na parede da ravina, mal se notando um campino a cavalo que conduz uma manada de gado pela passagem perigosa junto ao precipício. No horizonte, à direita, surge o meandro de um rio coberto por um céu em tons de azul e branco, vendo-se a meia distância duas figuras femininas que poderão expressar a pequenez do humano face à imensidão da natureza. Sente-se uma tensão na relação do homem e dos animais com a natureza numa paisagem com uma amplitude notável.[1]

A obra foi doada por Madalena Adelaide Namura à Academia Real de Belas-Artes de Lisboa, tendo sido integrada no MNAC em 1912.[2]

Apreciação editar

Segundo Maria Aires Silveira, a paisagem, estudada ao ar livre conforme propunha Tomás da Anunciação, encontra na obra a plenitude, revelando uma poética própria, apenas pontuada pelo campino a conduzir o gado. Obra romântica pela amplitude da paisagem, anuncia também a estética naturalista, triunfante nesse ano, na Exposição Universal de 1867, onde esta tela foi apresentada. Comprometido no entendimento da natureza, sem figuras ou edificações que a reduzam a segundo plano, Cristino confere à paisagem uma dramaticidade própria.[2]

Um jogo de contrastes acentua estas características desenvolvendo-se em todo o espaço: o colorido alaranjado intenso chapeado de luz, utilizado mais tarde por José Malhoa; a oposição entre a densidade da falésia e a leveza do céu azulado, em apontamentos dourados; a aridez e a frescura do solo através por um lado do escalvado da arriba, onde surgem piteiras e troncos retorcidos de velhas árvores, contrasta com o tapete verde dos prados.[2]

Expressão de uma exuberância cromática e contraste de tonalidades, segundo a crítica da época, a tela revela o temperamento intolerante e explosivo que caracterizava Cristino da Silva. A Passagem do gado aglutina em si dois propósitos: esforça-se por corresponder de passagem ao Romantismo, e simultaneamente pretende captar a Natureza como gigantesca matriz de sentidos plenos que o artista angustiadamente perscruta.[2]

Referências editar

  1. a b c Nota sobre a obra na Matriznet, [1]
  2. a b c d e Nota sobre a obra na página web do MNAC, [2]

Ligação externa editar