Adoração dos Reis Magos (Museu Grão Vasco)

pintura de Grão Vasco

A Adoração dos Reis Magos é uma pintura a óleo sobre madeira realizada cerca de 1501-06 com a intervenção do pintor português do renascimento Vasco Fernandes (c. 1475-1542)[1] e do pintor flamengo Francisco Henriques (act. 1508-1518)[2] e que está presentemente no Museu Grão Vasco, em Viseu.

Adoração dos Reis Magos
Adoração dos Reis Magos (Museu Grão Vasco)
Autor Grão Vasco, Francisco Henriques
Data 1501-6
Técnica Pintura a óleo sobre madeira de carvalho
Dimensões 131 cm × 81 cm 
Localização Museu Grão Vasco, Viseu

Esta obra corresponde a um dos painéis do antigo Retábulo (1501-1506) da capela-mor da Sé de Viseu. Uma das características distintivas da Adoração dos Reis Magos, para além da representação do tema tradicional na pintura daquela época, é a presença de um Índio brasileiro na figura do rei negro Baltazar, tratando-se da primeira representação de um representante dos Povos indígenas do Brasil na arte ocidental, pouco depois da Descoberta do Brasil.[2]

Descrição editar

Situado no centro da composição, Baltazar ostenta um traje onde se misturam influências europeias tradicionais - a camisa e os calções - com a novidade exótica de um toucado de penas, bem como inúmeros colares de contas coloridas, grossas manilhas de ouro nos pulsos e tornozelos, brincos de coral branco, remate de penas, idênticas às do toucado, no decote e na franja do corpete, e uma flecha tupinambá com o seu longo cabo. Segura igualmente uma taça feita de nós de coco montada em prata, o que reforça ainda o seu carácter exótico.[2]

A sua inserção num contexto religioso tão importante como é o da Adoração dos Reis Magos tem subjacente a ideia da cristianização do continente recém-descoberto, de acordo com as sugestões da carta de Pêro Vaz de Caminha, onde se relata a par do primitivismo dos habitantes a sua disponibilidade para a mensagem cristã. Saliente-se, ainda, o facto de o Menino Jesus segurar na mão esquerda uma moeda de ouro, numa sugestão ao secular desejo de riqueza associada aos Descobrimentos Portugueses.[2]

Integrado na segunda fileira do retábulo de que fazia parte, este painel comprova o esforço de realismo minucioso dos pormenores bem ao gosto flamengo que o autor procurou seguir. Assim, de notar a textura do brocado ricamente adornado do Rei Mago (Gaspar?) de joelhos, em primeiro plano, o brilho dos metais, o rigor descritivo da cabana, onde figuram, para além dos animais tradicionais, um vaso de barro e uma vela acesa, ou o tratamento da paisagem arquitectónica em pano de fundo.[2]

Tema editar

 
Detalhe de Adoração dos Reis Magos

A Adoração dos Reis Magos é o nome dado tradicionalmente ao episódio evangélico integrado da Natividade, em que três reis magos seguindo a estrela de Belém encontram Jesus após o seu nascimento e lhe dão de presente ouro, incenso e mirra, reconhecendo-o como "rei dos judeus". Ocasionalmente a partir do século XII, e com frequência a partir do século XV, os magos passam a representar as três partes conhecidas do mundo: Baltazar é geralmente mostrado como um jovem africano ou mouro, o velho Gaspar recebe traços ou roupas orientais e Belchior de meia-idade representa os europeus.

A iconografia cristã desenvolveu consideravelmente o sintético relato dos Reis magos no Evangelho de Mateus (Mateus 2:11), e utilizou-o para sublinhar que Jesus foi reconhecido, desde o início, como rei acima dos reis.

História editar

O grande Retábulo da Sé de Viseu foi encomendado pelo bispo D. Fernando de Miranda (falecido em 1505) e ultimado pelo bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas, sendo constituido por quinze pinturas com passos da Vida de Maria e da Paixão de Cristo. Os painéis foram dispersos após o desmembramento do Retábulo no século XVIII, mas posteriormente catorze deles foram reunidos no Museu Grão Vasco, estando o restante, o Calvário, no Seminário de Coimbra.[1]

A Adoração dos Reis Magos foi transferida da Sala do Capítulo da Sé de Viseu, ao abrigo da lei de 1916[3] que criou o Museu Grão Vasco.[2]

Veja também editar

Referências editar

  1. a b Pedro Dias e Vítor Serrão, História da Arte em Portugal, Volume 5 - Manuelino, Publicações Alfa, Lisboa, 1986, pags. 139-140
  2. a b c d e f Nota sobre a obra na Matriznet [1]
  3. Decreto 2: 284-C de 16 de Março de 1916

Ligação externa editar