Afonso de Viseu

Condestável de Portugal (1482-1504)

D. Afonso de Viseu, 8.º Condestável de Portugal (Castela, c.1482Beja, outubro de1504) foi um nobre e militar português, filho natural de Diogo, Duque de Beja e de Viseu e de Leonor de Sotomayor y Portugal, duquesa de Villahermosa,[1] que era trineta de Dom Pedro I de Portugal.

Afonso de Viseu
Nascimento 1482
Reino de Castela
Morte outubro de 1504 (21–22 anos)
Beja (Reino de Portugal)
Cidadania Reino de Portugal
Progenitores
Cônjuge Joana de Noronha
Filho(a)(s) Brites de Lara
Ocupação Condestável de Portugal, aristocrata
Título Dom

Biografia

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Nasceu da ligação amorosa de seu pai com a duquesa de Villahermosa, durante a estadia do duque de Viseu em Castela, entre o verão de 1481 e o verão de 1482, no âmbito do chamado "Tratado das Terçarias de Moura", que previa uma troca de reféns, membros das famílias reais de Portugal e Castela, como garantia da paz entre os dois reinos, na sequência da invasão de Castela por D. Afonso V, em 1476.[1][2]

Logo após o seu nascimento em Castela, D. Afonso de Viseu veio para Portugal com o seu pai e foi educado no maior segredo por Antão de Faria,[3] alcaide-mor de Portel, seguindo as instruções de D. João II, no sentido de D. Afonso ser criado "como o filho de algum lavrador, sem se saber quem era".[4]

Porém, logo que D. João II faleceu, a infanta D. Beatriz, mãe do duque D. Diogo e do novo rei D. Manuel I, e avó paterna de D. Afonso, mandou buscá-lo a Portel e passou a criá-lo na sua casa, "como convinha a um seu neto".[3] E, pouco depois de ascender ao trono, D. Manuel I reconheceu D. Afonso como seu sobrinho e confiou formalmente à sua mãe, a referida D. Beatriz de Portugal, Duquesa de Viseu, a tutela do sobrinho. Em 31 de maio de 1500, nomeou-o para o cargo de Condestável de Portugal e ainda promoveu o seu casamento, poucos dias depois, com D. Joana, irmã do 2.º Marquês de Vila Real.[1]

D. Afonso de Viseu viria a falecer muito jovem, em 1504, pelo que nunca teve papel relevante na cena política portuguesa da época.

Esteve sempre envolto numa auréola de mistério, devido à identidade da sua mãe. É praticamente certo que tenha sido filho da relação de seu pai com D. Leonor, duquesa de Villahermosa, tendo nascido quando o marido desta, Alfonso de Aragón y Escobar, ainda estava vivo (Alfonso de Aragón faleceria no ano de 1485, ou seja, três anos depois do nascimento de D. Afonso, e foi também em 1485 que nasceu a sua última filha legítima com sua mulher D. Leonor, chamada María de Aragón y de Sotomayor).[5]

O cronista Damião de Góis, escrevendo na Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, é enfático na atribuição da filiação materna e na data aproximada do nascimento de D. Afonso de Viseu:[3]

"Este dom Afonso houve ho duque dom Diogo da Marquesa de Villa Fermosa, andando em Castella, per caso das terçarias"

Na época, era raro que uma duquesa casada tivesse um filho ilegítimo, mas o comportamento do pai de D. Afonso sempre revelou tendência a fugir das regras vigentes. E isso especialmente ao longo do ano que passou como refém em Castela, em que D. Diogo manifestou desejo de partir para a guerra contra os mouros (no que logo foi cerceado pelo monarca português) e violou por mais que uma vez as regras de deslocamento a que estava sujeito, na sua condição de refém.[1]

Sempre mostrando muita, porventura excessiva, autoconfiança, D. Diogo foi ao ponto de ter um filho durante a sua estadia em Castela, no caso, com uma mulher - D. Leonor de Sotomayor e Portugal - casada com um duque espanhol e, por essa via, cunhada do rei de Aragão.

Estas circunstâncias muito especiais do nascimento de D. Afonso impunham extrema discrição, até por razões políticas, pois envolviam garantias de cumprimento de um tratado de paz entre Portugal e Espanha. Mas não impediram D. Manuel I de dar a D. Afonso de Viseu a posição formal de membro da família real, um casamento na alta nobreza lusa e o prestigiado cargo de Condestável. D. Afonso faleceria porém com pouco mais de 20 anos de idade, não chegando assim a ser figura principal na corte manuelina.[1]

Casamento e descendência

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Casou em Leiria, a 2 de Junho de 1500, com D. Joana de Noronha, filha de Pedro de Menezes, 1.º Marquês de Vila Real. Do casamento nasceu uma uma única filha:

Referências

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  1. a b c d e Costa, João Paulo Oliveira e (2017). Dom Manuel I: Un prince de la Renaissance (em francês). France: Poisson Volant. 2370-2432 (ed. Kindle). ISBN 979-1097273071. O nascimento deste filho ilegítimo, em condições particulares (filho de uma mulher casada na mais alta aristocracia) ilustra bem o perfil psicológico que se pode traçar do seu pai, Dom Diogo 
  2. Infopédia. «Tratado das Terçarias de Moura - Infopédia». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 7 de fevereiro de 2025 
  3. a b c Góis, Damião de (2 de janeiro de 2014). Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel - a partir da edição princeps de 1566-1567, cotejada com a edição de 1749. Minho, Braga: Ediçoes Vercial. pp. 79–80. Consultado em 8 de fevereiro de 2025 
  4. «Antão de Faria. Chancelaria de D. João II. 9 de janeiro de 1486. Mercê de bens - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 7 de fevereiro de 2025 
  5. Menache, Sofía (1987). «Una personificación del ideal caballeresco en el medievo tardío: Don Alonso de Aragón» (PDF). Anales de la Universidad de Alicante. Historia medieval (6): 9-29. ISSN 0212-2480. Consultado em 8 de fevereiro de 2025 
  6. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra. Livro Terceiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. p. 357, 387 

Bibiliografia

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