André da Ponte de Quental da Câmara e Sousa

André da Ponte de Quental da Câmara e Sousa (Ponta Delgada, 15 de Abril de 1768 — Ponta Delgada, 21 de Abril de 1845), frequentemente referido por André de Quental, foi um morgado da ilha de São Miguel (Açores), intelectual e poeta de mérito,[1] aderente aos ideais do liberalismo, que se destacou como um dos líderes da revolta liberal de Ponta Delgada que em 1 de Março de 1821 implantou o regime liberal na ilha. Foi deputado às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa e governador da ilha de São Miguel em 1834. Foi avô de Antero de Quental.[2]

Biografia editar

Nasceu no seio de uma das principais famílias da aristocracia terratenente micaelense. Filho mais velho, foi morgado e administrador dos bens da família.

Aparentando estar inicialmente destinado a seguir a vida militar, foi estudar para Lisboa, alistando-se como cadete no Regimento da Armada. Integrou-se na vida boémia de Lisboa, sendo amigo íntimo do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, com quem partilhou a casa.[2] Cedo aderiu aos ideais do liberalismo, aderiu à Maçonaria e foi fundador e membro directivo da sociedade secreta do Conselho Conservador.[3] Em consequência da vida boémia e dos ideais liberais, foi preso e ficou sujeito a vigilância policial.

Ainda assim, durante a ocupação francesa, andou na clandestinidade, percorrendo diversas localidades numa tentativa de organizar um levantamento contra os franceses. Em 1811 foi preso e deportado para a ilha da Madeira, mas em 1812 é autorizada a regressar à ilha de São Miguel, desiludido com a política e obrigado a tomar conta da administração do morgadio familiar. Na viagem de regresso encontrou o tenente-coronel Manuel de Assis Mascarenhas Castelo Branco da Costa Lencastre, o 5.º conde de Sabugal, que vinha deportado pela Regência do Reino para Ponta Delgada. Conviveram e colaboraram na expansão na ilha de São Miguel das ideias do liberalismo e dos ideais maçónicos.[2]

Foi um dos líderes da revolução liberal de 1 de Março de 1821, que implantou o regime liberal em Ponta Delgada e estabeleceu a independência da ilha em relação ao governo da Capitania Geral dos Açores com sede em Angra. Foi eleito vice-presidente do governo interino que ficou a dirigir os destinos da ilha.[4]

Foi eleito deputado às Cortes Constituintes de 1821-1822, sendo um dos signatários da Constituição Portuguesa de 1822. Teve um importante papel na extinção da Capitania Geral dos Açores e na separação do governo das ilhas de São Miguel e Santa Maria do governo da ilha Terceira, embrião da divisão do arquipélago em distritos.

Com a Vilafrancada regressou à ilha de São Miguel, retirando-se da vida política. Em 1833 foi nomeado governador da ilha de São Miguel, mas demitiu-se na sequência do fuzilamento dos calcetas condenados à pena de morte por participarem na Revolta do Castelo. Não voltou a participar na vida política.[2]

Notas

  1. Urbano de Mendonça Dias, Literatos Açorianos, p. 199. Vila Franca do Campo, Empresa Litográfica Lda, 1931.
  2. a b c d Nota biográfica de André de Quental na Enciclopédia Açoriana.
  3. A. H. de Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, vol. I, p. 336. Lisboa, Presença, 1990.
  4. Francisco de Ataíde Machado de Faria e Maia, Capitães Generais (1766-1831). Subsídios para a História de S. Miguel e Terceira. Ponta Delgada, Typografia Regional, 1943. [2.ª ed., Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988].