Aquarelas foi uma coluna que o jovem Machado de Assis, então com 20 anos, manteve na revista semanal dominical de literatura, modas, indústria e artes O Espelho, editada no Rio de Janeiro.[1] Nessa coluna publicou quatro crônicas (uma delas em duas partes), assinadas como "M-as", com perfis caricaturais de tipos da sociedade carioca (ou seja, reproduzia "em aquarelas as formas grotescas e sui generis do tipo").[2] São elas: "Os Fanqueiros Literários" (11/9/1859), "O Parasita" (18/9 e 9/10), "O Empregado Público Aposentado" (16/10) e o "Folhetinista" (30/10).

Machado de Assis jovem

Em "Os Fanqueiros Literários" o autor caricatura o escritor que faz "do talento uma máquina, e uma máquina de obra grossa movida pelas probabilidades financeiras do resultado". O termo "fanqueiro" significa "mercador que vende lençaria de linho, ou algodão"[3], portanto o "fanqueiro literário" seria um mercador de obras literárias compostas visando mais o "resultado pecuniário" do que por inspiração artística genuína.

A primeira parte de "O Parasita" descreve o parasita "da mesa", "o mais vulgar", que "vive por toda parte em que há ambiente de porco assado" e "adivinha a duas léguas de distância a qualidade de um bom prato". A segunda parte aborda os demais parasitas sociais: o parasita literário ("vampiro da paciência humana"), da Igreja, da política, da diplomacia. "Extinguir o parasita não é uma operação de dias, mas um trabalho de séculos."

O empregado público aposentado" é uma "grande múmia do passado", que rejeita qualquer progresso: "Reforma, é uma palavra que não se diz diante do empregado público aposentado. Há lá nada mais revoltante do que reformar o que está feito! abolir o método! desmoronar a ordem!"

A última crônica aborda a figura do folhetinista, autor dos folhetins dos jornais, naquela época ainda com o sentido de "texto publicado no rodapé dos jornais, na primeira página, geralmente aos domingos" contendo "um resumo de todos os fatos importantes acontecidos ao longo da semana",[4] onde se misturavam o útil e o fútil, o sério com o frívolo.

"O ponto de vista adotado por Machado é o do observador da vida social, que busca apresentar as características de certos tipos que deslustram a sociedade em que vivem."[5] Além, dessa coluna, Machado publicou nessa revista uma outra de crítica teatral ("Revista de Teatros"), além de poesias e artigos diversos.

Referências

  1. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "Espelho (O)".
  2. Machado de Assis, O Espelho, organização, introdução e notas de João Roberto Faria, Editora Unicamp, "Os fanqueiros literários".
  3. Dicionário da Língua Portuguesa do padre Bluteau
  4. Machado de Assis, O Espelho, organização, introdução e notas de João Roberto Faria, Editora Unicamp, Nota 1 de "O Folhetinista".
  5. Machado de Assis, O Espelho, organização, introdução e notas de João Roberto Faria, Editora Unicamp, Introdução.

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