Buraqueira-de-Fagilde

espécie de aracnídeo

A buraqueira-de-Fagilde (Nemesia berlandi) é um dos animais mais raros no mundo,[1] é “tão portuguesa como o Fado” [2] e é apenas conhecida de Fagilde e da aldeia adjacente de Vila Garcia[3][4][5], ambas no municipio de Mangualde na Beira Alta, em pleno vale do Rio Dão.[6] Esta espécie não foi registada cientificamente durante quase um século, desde de que os primeiros exemplares foram recolhidos antes de 1931, para a sua descrição ciêntifica,[7][8] e teme-se que em 1978, um incêndio no Museu Bocage tenha destruido os unicos exemplares conhecidos. [9][10]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaBuraqueira-de-Fagilde
Buraqueira-de-Fagilde na mão de Sérgio Henriques
Buraqueira-de-Fagilde na mão de Sérgio Henriques
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Arachnida
Ordem: Araneae
Subordem: Mygalomorphae
Família: Nemesiidae
Género: Nemesia
Espécie: N. berlandi
Nome binomial
Nemesia berlandi
Frade & Bacelar, 1931

A espécie foi descrita pela pioneira portuguesa da ciência Amélia Bacelar e o seu marido, Fernando Frade.[6] O nome ciêntifico N. berlandi foi atribuido pelo casal em homenagem ao seu colega Lucien Berland, do Museu de Paris. [11] O nome comum é uma toponímia da localidade onde foi originalmente encontrada, localidade tipo, em Fagilde.[6]

Fagilde
Habitat da buraqueira-de-Fagilde, nas margens do Rio Dão.

Redescoberta e conservação editar

 
Bolo da buraqueira-de -Fagilde produzido pela pastelaria Quinta da Tapada

As aranhas com este tipo de comportamento de toca com tampa, são uma das prioridade da União Internacional para a Conservação da Natureza [12], e esforços estão em curso para proteger a buraqueira-de-Fagilde [10].

Em 2022 foi a unica espécie Europeia e a primeira aranha, a ser incluída na lista de Espécies Perdidas (Lost Species) da Re:Wild [7][10], um projecto que seleciona as 25 espécies mais procuradas no mundo, por não haver registos desta espécie há quase um século.[5]

Em 2023, depois de dez anos de expedições, Sérgio Henriques, do Global Center for Species Survival, Jardim Zoológico de Indianapolis, Pedro Sousa e outros investigadores Portugueses encontraram tocas abandonadas, varios juvenis e uma fêmea adulta com crias, que correspondiam à descrição original de 1931. A equipa confirmou que era, de facto a espécie de aranha perdida depois de analisar amostras de ADN.[2][5][13][14][15][16][17][18][19][20][21][22][23][24][25][26][27][28][29][3] O artigo escrito sobre a redescoberta desta especie foi o mais lido no jornal Publico quando foi publicado, tendo ultrapassado o artigo sobre um presidente Americano [3]

O grupo de investigadores colaborou com a pastelaria Quinta da Tapada, em Fagilde na produção de um bolo que replica o comportamento de toca da aranha, colaboraram também com Nuno Campos do projecto CUIDA - Fauna e Flora de Lafões, com Sónia Ferreira e sua equipa do CIBIO-InBIO Universidade do Porto, Isabel Serra, Diretora da EduFor, com Ana Marto e outros docentes da Escola Ana de Castro Osório em Mangualde, com Ana Martins professora da Escola Básica de Fagilde, com a Casa do Rio Fagilde e com a Associação Cultural e Desportiva de Vila Garcia. [5][13][14][15][16][17][18][19][20][21][22][23][24][25][26][27][28][29]

Biologia editar

Como outras aranhas do género Nemesia, esta espécie constroi uma toca com tampa, embora os detalhes desse comportamento nunca tenham sido oficialmente descrito para esta espécie.[6][8] Resultados preliminares indicam que os juvenis podem construir tocas completamente horizontais, enquanto outros membros deste genero fazem sobretudo armadinhas verticais, perpendiculares ao solo.[7]

 
Buraqueira com toca horizontal
 
Buraqueira com toca vertical


Os machos nunca foram descritos, mas as fêmeas teem cerca de 22 milímetros de comprimento com um padrao dorsal do abdomen composto por uma mancha anterior, duas manchas ciculares, uma linha longitudinal fina e quatro linhas transversais posteriores.[6]

Referências

  1. Sousa, Ana. «Há um grupo no Texas que anda à procura de espécies perdidas. Uma delas desapareceu em Portugal em 1931: a aranha alçapão de Fagilde». Observador. Consultado em 17 de novembro de 2023 
  2. a b «"Tão portuguesa como o Fado": Redescoberta em Mangualde aranha que não era avistada há 92 anos» 
  3. a b c «Aranha rara, "desaparecida" há 92 anos, redescoberta numa aldeia da Beira Alta» 
  4. «Aranha rara, "desaparecida" há 92 anos, redescoberta numa aldeia da Beira Alta» 
  5. a b c d «Lista de "espécies perdidas" mais procuradas do mundo inclui árvore de Pernambuco, salamandra cega e aranha dançarina». Um Só Planeta. 11 de fevereiro de 2022. Consultado em 16 de fevereiro de 2022 
  6. a b c d e Frade & Bacelar 1931, p. 234
  7. a b c «top 25 most wanted lost species». Re:wild (em inglês). Consultado em 17 de fevereiro de 2022 
  8. a b Decae, Arthur E.; Cardoso, Pedro; Selden, Paul (2007). «Taxonomic review of the Portuguese Nemesiidae (Araneae, Mygalomorphae)» (PDF). Revista Ibérica de Aracnología (em inglês). 14: 1-18 
  9. «Museu Bocage, incêndio». www.triplov.com. Consultado em 16 de novembro de 2023 
  10. a b c Mayer, Lindsay Renick (21 de maio de 2022). «A web of mystery: In search of the lost Fagilde's Trapdoor Spider». Re:wild (em inglês) 
  11. Frade & Bacelar 1931, p. 222
  12. «The segmented trapdoor spiders, an EDGE species - Story | IUCN». www.iucn.org (em inglês). Consultado em 17 de novembro de 2023 
  13. a b «Encontrada em aldeia de Mangualde espécie de aranha que não era vista há 92 anos». Jornal de Notícias. 15 de dezembro de 2023. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  14. a b «Lost tap-dancing spider rediscovered barricaded in a burrow in a small Portuguese town after 92 years» 
  15. a b «Tap-dancing spider rediscovered after disappearing for 92 years» 
  16. a b «Cientistas encontraram em Fagilde (Mangualde) aranha 'desaparecida' há 92 anos» 
  17. a b «Gosta de aranhas? Esta reapareceu 92 anos depois e até lhe fizeram bolos» 
  18. a b «Tap Dancing Spider Lost To Science For 92 Years Rediscovered In Portugal» 
  19. a b «a tap dancing spider has come back from the dead» 
  20. a b «Portugal's missing spider» 
  21. a b «Aranha que faz sapateado foi redescoberta numa aldeia portuguesa ao fim de 92 anos sem ser vista» 
  22. a b «Rediscovery of Fagilde's Trapdoor Spider: A Beacon of Hope for Conservation» 
  23. a b «Portugal's missing spider» 
  24. a b «Tap-dancing spider rediscovered after disappearing for 92 years» 
  25. a b «Portugal's Missing Spider» 
  26. a b «Portugal's Missing Spider» 
  27. a b «A tap dancing spider has come back from the dead» 
  28. a b «Aranha sapateadora é reencontrada depois de 92 anos em Portugal» 
  29. a b «Aranha dançarina perdida pela Ciência reencontrada em aldeia portuguesa» 

Bibliografia editar

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