Augusto Hilário
Augusto Hilário da Costa Alves (Viseu, 7 de janeiro de 1864 – Viseu, 3 de abril de 1896) foi um intérprete português da canção de Coimbra.[1]
Augusto Hilário | |
---|---|
Informação geral | |
Nome completo | Augusto Hilário da Costa Alves |
Nascimento | 7 de janeiro de 1864 |
Origem | Viseu |
País | ![]() |
Morte | 3 de abril de 1896 (32 anos) Viseu, Portugal |
Gênero(s) | Fado |
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/93/Viseu_-_Casa_de_Augusto_Hil%C3%A1rio.jpg/220px-Viseu_-_Casa_de_Augusto_Hil%C3%A1rio.jpg)
Hilário nasceu em Viseu em Janeiro de 1864 na Rua Nova. A data do seu nascimento é ainda uma incógnita, porquanto o registo de baptismo refere que foi “exposto na roda desta dita cidade pelas cinco horas da manhã do dia sete do dito mês e ano”, sendo baptizado a 15 do mesmo mês e ano pelo páraco da Sé, com o nome de Lázaro Augusto. Ao receber o crisma em 26 de Maio de 1877, muda o nome para Augusto Hilário.
As dúvidas que se poderiam levantar em relação à sua filiação ficam desfeitas em face da certidão de óbito que refere Augusto Hilário como filho legítimo de António Alves e de Ana de Jesus Mouta. Crê-se assim, que Hilário terá sido fruto de um enlace pré-matrimonial sendo por isso exposto na Roda e posteriormente reconhecido.
Frequentou o liceu de Viseu com o intuito de fazer os estudos preparatórios para a admissão à Faculdade de Filosofia, mas os anos foram passando sem que concluísse a disciplina de filosofia. Matriculou-se em Coimbra, mas também aí os resultados não foram famosos e revela-se então um apaixonado pela boémia coimbrã, notabilizando-se como cantor e executante de guitarra. Os temas de sua autoria correram o país de lés a lés, ficando imortalizado o Fado Hilário.
Em 1889-90, foi examinado no liceu de Coimbra e tendo feito uma prova admirável foi aprovado com boa classificação. Matriculou-se então no 1º ano de Medicina, tendo assentado praça na Marinha Real para obviar à falta de recursos, recebendo um subsídio do Estado.
A sua actividade de cantor e trovador era conhecida pelo país inteiro, em particular na Academia Coimbrã, onde era o “Rei da Alegria”. O seu esmerado trato e a sua cordialidade faziam dele o grande animador dos serões académicos. Nos seus temas, interpretou poemas de Guerra Junqueiro, António Nobre, Fausto Guedes Teixeira, para além dos que ele próprio criou.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c7/Guitarra_Hil%C3%A1rio.jpg/220px-Guitarra_Hil%C3%A1rio.jpg)
Parte alta da sua vida de intérprete foi a participação na festa de homenagem ao grande poeta João de Deus, que se realizou em Lisboa no Teatro D. Maria II, a que se associou a Academia de Coimbra e onde participaram entre outros o Doutor Egas Moniz. No decorrer do espectáculo, após a sua intervenção e em plena apoteose do público presente, Hilário atirou para o meio da multidão a sua guitarra, da qual nunca mais nada se soube. O Ateneu Comercial de Lisboa a 2 de Junho de 1895, oferece-lhe aquela que foi a sua derradeira guitarra e que se encontra actualmente na posse do Museu Académico de Coimbra, por especial oferta da família.
Como poeta escreveu dezenas de quadras que se imortalizaram, e das quais se destacam Fado Hilário (36 quadras); Novos fados do Hilário, recolha de um conjunto apreciável de quadras; Carteira de um Boémio, conjunto de versos manuscritos de que se ignora o seu paradeiro. A sua grande capacidade de improvisar fazia dele uma figura popular e sublime que entusiasmava quem o ouvia tendo actuado em Viseu, Coimbra, Lisboa, Espinho e Figueira da Foz, entre outros lugares.
Foi uma hora de luto nacional aquela que o ceifou à vida no dia 3 de Abril de 1896, pelas 21 horas, vitimado por uma “ictericia grave hypertermica”. Morreu na sua casa da Rua Nova, contando 32 anos. Frequentava então o 3º ano da Escola Médica da Universidade de Coimbra e era aspirante da Escola Naval.
O seu funeral foi imponente, com uma aparatosa multidão que o quis acompanhar até à sua última morada no cemitério da cidade de Viseu onde ficou sepultado em jazigo de família [um erro, pois nunca existiu jazigo de família]. Em carta de condolências datada de 5 de Abril de 1896, remetida de Mangualde à sua mãe pelos seus colegas é feita a síntese do sentimento académico de então: “Está de lucto a mocidade portugueza!”
Chorado por admiradoras, amigos e conhecidos, chorado por simples amantes do fado, Hilário marcou para sempre a academia conimbricense ao enraizar-lhe na alma o que lhe faltava. A admiração provocada nos seus contemporâneos levou a que o seu nome fosse dado a um jornal que se fundou em Viseu pouco tempo após a sua morte. Em 12 de Junho de 1896, surge nas bancas O Hylário, com a figura do cantor ao centro da 1ª página e tendo a guitarra como ex-libris. Semanário “imparcial e livre de quaesquer agrupamentos partidários”, assim foi também o seu homónimo.
Se nunca foi feita uma biografia do poeta-cantor, referências em jornais e revistas não faltam. Vejam-se, por exemplo, os artigos publicados logo após a sua morte, na revista O Occidente, de 1896, no jornal que teve o seu nome ou noutro semanário de Viseu, A Liberdade, que transcreve em vários números as notícias saídas em jornais de todo o país aquando da sua morte.
Em 1967, a família, por intermédio da Srª Dª Maria Alice Trindade de Figueiredo, entregou ao Museu Académico de Coimbra uma das guitarras que o seu tio-avô dedilhara em muitas ocasiões e que lhe tinha sido oferecida pelo Ateneu Comercial de Lisboa quando ali se deslocou a cantar.
Em 30 de Junho de 1979, é a vez da Camara Municipal de Viseu promover uma grande homenagem ao poeta a que se associou toda a população da cidade e academia Coimbrã, tendo sido atribuído o seu nome a uma rua da cidade e descerrada uma lápide na casa onde nasceu.
Em 1 de Dezembro de 1987, a Associação Académica de Coimbra, recordou o grande Augusto Hilário, por ocasião do I Centenário da Academia, editando um desdobrável onde se podia ler um artigo escrito no Jornal dos Estudantes, de 1 de Maio de 1896, poucos dias, portanto, decorridos sobre a sua morte. É mais um testemunho da dor que a morte do intérprete provocou no coração de todos os estudantes, futricas e tricanas de Coimbra[2][3]
Referências
- ↑ «Personalidades: Augusto Hilário». Museu do Fado. Consultado em 16 de junho de 2015
- ↑ «Augusto Hilário». muito provavelmente baseado em José Niza, Fado de Coimbra II (Da Colecção “Um Século de Fado”, Edição da Ediclube, Alfragide, 1999), obra que contém diversas imprecisões
- ↑ Octávio Sérgio (3 Março 2014). «Imprecisões sobre Augusto Hilário». Guitarra de Coimbra V
Ligações externas
editar- «Biografia». em macua.org
- «A Canção de Coimbra no século XIX». em guitarradecoimbra.blogspot.com