Banco Econômico

banco brasileiro com sede em Salvador

O Banco Econômico foi um banco brasileiro. Com sede em Salvador, fundado em 13 de julho de 1834, era o banco privado mais antigo do Brasil quando sofreu intervenção pelo Banco Central do Brasil em 1995.

Banco Econômico
Banco Econômico
Razão social Banco Econômico S/A
Empresa de capital aberto
Slogan O Banco da Gente
Atividade Serviços financeiros
Gênero Privada
Fundação 13 de julho de 1834 (190 anos)
Encerramento 1995
Sede  Salvador, Bahia Bahia,  Brasil
Proprietário(s) Independente (1834-1910)
Família Calmon (1910-1995)
BTG Pactual (2022-presente)
Presidente Ângelo Calmon de Sá (até 1995)
Produtos Bancos
Sucessora(s) Banco Excel-Econômico

Enquanto seu controlador e principal acionista Ângelo Calmon de Sá culpou o Plano Real pela intervenção (chamando-a de "capricho ainda não explicado" do governo FHC)[1], o Banco Central sustentou que o Econômico sofria de gestão temerária por parte de Calmon de Sá e que desde 1989 se encontrava com patrimônio negativo e balanços supostamente maquiados. Apesar disso, o Banco Central se viu impedido de atuar contra o Econômico graças ao poder e influência política de Calmon de Sá (ex-ministro nas gestões Geisel e Collor e ex-presidente do Banco do Brasil na gestão Médici). A intervenção tardia do Banco Central no Econômico causou um prejuízo de 3 bilhões de reais ao governo federal.[2]

História

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Caixa Econômica da Bahia

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Primeira sede da Caixa Econômica da Bahia e do Banco Econômico da Bahia. Desde 1959 abriga o Museu Numismático Eugênio Teixeira Leal.

Em 13 de julho de 1834 um grupo de 171 cidadãos baianos fundou a Caixa Econômica da Bahia, com sede na Rua do Açouguinho, número 1 em Salvador.[3] Para a formação da Caixa Econômica, o tenente-coronel Manuel Coelho de Almeida Sande convocou uma reunião com o objetivo de levantar um fundo de 1:200$000 réis, o mínimo necessário para a constituição da nova empresa. Foram oferecidas inicialmente quatro mil ações com preço de $300 para a sociedade baiana. No fim, os 171 acionistas iniciais acabaram adquirindo 31372 ações, perfazendo um capital inicial de 9:411$600 réis para a Caixa Econômica da Bahia.[4]

Durante a Sabinada, a Caixa Econômica da Bahia foi invadida e saqueada em 7 de novembro de 1837. O prejuízo causado foi de 5:979$831 réis, com a maior parte do saque concentrado em peças de ouro e prata guardadas na seção de penhor da instituição. Após a notícia do saque, dezenas de correntistas e clientes do penhor iniciaram uma corrida para sacar seus recursos, ameaçando a existência da instituição que acabou interrompendo suas atividades. Com o fim da revolta e o restabelecimento das atividades econômicas, a Caixa Econômica da Bahia conseguiu sobreviver (embora com uma queda de 120 contos de réis em seu capital, que passou de 900 contos para 780 contos de réis).[5]

A sede mais tarde foi transformada no Memorial do Banco Econômico, formado pelo Museu Eugênio Teixeira Leal, a Biblioteca Innocêncio Calmon e o Arquivo Histórico, que sobrevivem até os dias de hoje.[3]

O lema do Banco era "Economia, Perseverança e Socorro nas Dificuldades”.[6]

Banco Econômico da Bahia

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Edifício Nobre, sede do Banco Econômico entre 1928 e 1984. Atualmente abriga a Secretaria Municipal de Educação de Salvador e uma filial do Banco do Nordeste.

Em 1910, foi vendido para o político e banqueiro Francisco Marques de Góis Calmon.[7]

Em 1968 incorporou o Banco Meridional, antes Banco Sinimbu, com agências em Porto Alegre e Santa Cruz do Sul.[8]

Banco Econômico S/A

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Expansão

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Edifício Góes Calmon, sede do Banco Econômico entre 1984 e 1995. Atualmente é sede do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região.

Em 1970 o Econômico se encontrava estagnado, ocupando o modesto 39º lugar entre os maiores bancos do país. Naquele momento seu diretor superintendente João Augusto Calmon Du Pin e Almeida havia deixado cargo, sendo substituído por Alberto Martins Catharino. Com novas baixas na diretoria do banco, três novos diretores são nomeados em julho de 1971. Entre eles está Ângelo Calmon de Sá. Calmon de Sá passou a coordenar os trabalhos do banco e em seis meses o Econômico passou do 39º para o 32º lugar. Incentivado pela política econômica vigente, o Econômico passou a estudar a aquisição de bancos menores. Em 1972 foram adquiridos o Banco S. Gurgel e o Banco de Comercio e Industria de Pernambuco. Com essa última aquisição, o Banco Econômico da Bahia alterou sua denominação para Banco Econômico S/A.[9] Após a fracassada tentativa de aquisição do Banco da Bahia, o Econômico adquiriu o Banco Novo Mundo em 1974.[10]

Rede de Agências do Banco Econômico S/A
Ano Agências
1972 104[11]
1973 118[12]
1976 205[13]
1981 300[14]

Tentativa de aquisição do Banco da Bahia

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No início dos anos 1970 o Econômico passou a adquirir ações do Banco da Bahia, de Clemente Mariani, visando alcançar uma posição que lhe permitisse posteriormente uma tomada do controle acionário daquele banco (takeover). O movimento chegou a ser tratado pelo mercado e imprensa como preparativos para uma futura fusão entre o Econômico e o Bahia (inicialmente negada por Mariani)[15], incentivada pelo governador baiano Antonio Carlos Magalhães (ACM). Caso a fusão entre o Bahia e o Econômico ocorresse, o novo banco surgido passaria a ser o 9º maior do país.[16] Liderado por Calmon de Sá, o movimento de aquisição de ações foi descoberto por Mariani que passou a ampliar o capital do Banco da Bahia e chegou a admitir uma proposta de fusão.[17][18] Naquela época, os acionistas do Banco da Bahia eram "perseguidos" nas ruas de Salvador por pessoas ligadas ao Econômico interessadas em adquirir suas ações.[19]

Quando o Econômico alcançou o controle de 42% das ações do Banco da Bahia, Mariani decidiu vender o banco para o Bradesco. A incorporação do Banco da Bahia pelo Bradesco gerou protestos de ACM (contrário a venda do banco a um grupo de fora do estado) e deixou o Econômico em situação delicada, com grande parte dos seus recursos imobilizados em ações do Bahia.[20][21] Em represália ao negócio, o governo da Bahia cancelou todos os seus negócios e fechou todas as suas contas no Bradesco e no Banco da Bahia. Ao mesmo tempo, três agências do Bradesco em Salvador foram apedrejadas[22] Para salvar as finanças do Econômico, ACM convenceu o governo Médici a obrigar o Bradesco a adquirir todas as ações do Banco da Bahia em posse do Econômico.[23]

Crise e intervenção do Banco Central

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Em 1989 o Banco Central (BC) apresentou um relatório confidencial ao governo brasileiro classificando a gestão de Calmon de Sá sobre o Econômico como temerária. Naquela época a seção regional do BC em Salvador havia aberto diversos processos por empréstimos irregulares a empresas ligadas a diretores do Econômico, descumprimento de normas e falta de transparência. No ano seguinte, novo relatório elaborado pela fiscalização do BC recomendava uma intervenção no Econômico. O relatório acabou rechaçado e arquivado pela diretoria do BC. [2] Ao mesmo tempo Calmon de Sá realizou cerca de 2,5 milhões de dólares em contribuições para candidatos nas Eleições gerais no Brasil em 1990 [2] e passou a se aproximar do Governo Collor.[24]

Visando modernizar o Econômico, Calmon de Sá criou seis vice-presidências e passou a dividir a gestão do banco. Entre 1989 e 1990 foram investidos 30 milhões de dólares na modernização de suas 331 agências. Ocupando o 20º lugar entre as maiores instituições em volume de empréstimos, o Econômico projetava estar no 5º lugar em 1995. No ano de 1991 o Econômico teve seu pior resultado dos últimos dez anos, com um lucro de 20 milhões de dólares. Seis meses depois, Calmon de Sá foi nomeado pelo governo Collor para a Secretaria de Desenvolvimento Regional.[25]

Apesar do cargo com status de ministro, Calmon de Sá não pôde evitar que em 1993 o BC suspendesse as operações do Econômico por 90 dias com o Convênio de Credito Recíproco da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). [2] A concessão de empréstimos sem exigência de garantia a amigos e parentes de Calmon de Sá também contribuía para ampliar os prejuízos do Econômico. Para Nascimento Brito, dono do Jornal do Brasil que tencionava abrir uma emissora de televisão, o Econômico emprestou cerca de 100 milhões de dólares entre as década de 1970 e 1980. Os empréstimos do Jornal do Brasil nunca foram pagos.[26]

Apesar de receber ajuda do governo através do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), acabou sofrendo intervenção bem no início de 1995.

Foi tentada a formação de um grupo de empresas baianas como Ultra, Odebrecht (atual Novonor) e Mariani para salvar o banco. O governador do estado Paulo Souto e o senador Antonio Carlos Magalhães aventaram ajuda do Banco do Estado da Bahia.[27] Falhadas essas tentativas, em agosto o banco foi fechado assim como suas 276 agências. O banco tinha mais de nove mil funcionários e novecentos mil clientes.[27]

Os técnicos do Banco Central do Brasil sustentaram ter encontrado indícios de maquiagem no balanço contábil do Banco Econômico, assim como desvio de recursos da instituição para outras empresas dos controladores.[28]

Liquidação e venda

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Parte do banco foi então incorporada pelo Banco Excel, que passou a se chamar Banco Excel-Econômico. Posteriormente, em agosto de 1998, o conjunto foi incorporado pelo Banco Bilbao Vizcaya Argentaria e, em 2003, ao Bradesco.[6] Seu ex-controlador, Ângelo Calmon de Sá, foi processado por gestão fraudulenta.[29]

Em setembro de 2021, o BNDES e o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) realizaram um leilão dos créditos do Banco Econômico que eles mantinham desde 1995, quando o Banco Central interveio no banco.[30] Houve três participantes cadastrados: NPL Brasil, FIDC NP Atlântico e o Alternative Asset 1, mas só este último, fundo administrado pelo BTG, fez lance, vencendo pelo valor mínimo, de R$ 937,750 milhões.[31]

Segundo o BTG Pactual, a finalização do processo de aquisição estava condicionada a algumas situações.[30] Entre elas, o fim do regime de liquidação extrajudicial do Econômico, que seria possibilitada pela liquidação dos passivos financeiros, além das aprovações regulatórias.[32] Em outubro de 2022, foi verificado o cumprimento de todas as respectivas condições precedentes, dessa forma concluindo o processo de aquisição do controle acionário do Banco Econômico, que passa a se chamar Banco BESA.[33]

Referências

  1. «Para Calmon de Sá, Real quebrou Econômico». Folha de S.Paulo. 20 de Agosto de 1999. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  2. a b c d COSTA, Fernando Nogueira da (2014). Brasil dos Bancos 1ª ed. [S.l.]: Editora da Universidade de São Paulo. p. 281-290. 532 páginas. ISBN 8531413192 
  3. a b BAUMANN, Eneida Santana (2011). «O arquivo da família Calmon à luz da arquivologia contemporânea» (PDF). Salvador, BA: Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação 
  4. FAGUNDES, Augusto (28 de julho de 2022). «A criação da Caixa Econômica no alvorecer do Capitalismo na Bahia (1834-1850)» (PDF). XI Encontro Estadual de História da Associação Nacional de História. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  5. Augusto Fagundes da Silva dos Santos. «A primeira Caixa Econômica da Bahia: Gênese e atividades iniciais (1834-1850)». Areas. Revista Internacional de Ciencias Sociales - Universidad de Murcia. Consultado em 29 de setembro de 2024 
  6. a b SOUZA, Ana Maria dos Santos Pereira de (2003). «Comprometimento Organizacional em Contexto de Fusões & Aquisições: Estudo de caso em trajetória de organização bancária» (PDF). UFBA 
  7. Padilha, Marcia (6 de janeiro de 1996). «Instituição foi fundada em 1834 e estava com os Calmon desde 1910». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de março de 2023 
  8. GARCIA, Darcy. O sistema financeiro do Rio Grande do Sul: da criação da Caixa Econômica Estadual ao surgimento dos bancos múltiplos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1990.
  9. OLIVEIRA, Waldir Freitas (1993). História de um banco. [S.l.: s.n.] p. 227-238. 375 páginas. ISBN 8585425040 
  10. «Econômico adquire o Novo Mundo». Jornal do Brasil, ano LXXXIV, edição 76, página 31. 23 de junho de 1974. Consultado em 19 de setembro de 2024 
  11. Aziz Ahmed (14 de abril de 1972). «Sofisticação do BEB». Correio da Manhã, Ano LXXI, edição 24234, Seção Diretor Econômico, página 3. Consultado em 28 de setembro de 2024 
  12. Banco Econômico S/A (10 de fevereiro de 1973). «Anúncio publicitário». Manchete, ano 20, edição 1086, página 89. Consultado em 28 de setembro de 2024 
  13. Banco Econômico S/A (24 de julho de 1976). «Anúncio publicitário». Manchete, ano 21, edição 1266, página 64. Consultado em 28 de setembro de 2024 
  14. Banco Econômico S/A (15 de agosto de 1981). «Anúncio publicitário». Manchete, ano 30, edição 1530, página 115. Consultado em 28 de setembro de 2024 
  15. «Mariani nega fusão do Banco da Bahia mas os entendimentos prosseguem». Jornal do Brasil, ano LXXXIII, edição 6, página 21. 14 de abril de 1973. Consultado em 19 de setembro de 2024 
  16. «Mercado comenta, mas fusão de novos bancos é negada pela direção do Econômico». Jornal do Brasil, ano LXXXIII, edição 5, página 23. 13 de abril de 1973. Consultado em 19 de setembro de 2024 
  17. «Comercial da Produção... Bahia Econômico». Jornal do Brasil, ano LXXXIII, edição 10, página 25. 18 de abril de 1973. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  18. «Clemente Mariani admite a possibilidade de fusão do B.da Bahia com o Econômico». Jornal do Brasil, ano LXXXIII, edição 9, página 39. 17 de abril de 1973 
  19. O barão da Bahia beija a lona Veja, Ano 28, nº 33, Edição 1405, 16/8/1995 ed. [S.l.]: Abril. 1995. p. 91. 128 páginas 
  20. «A estrela do Amador». Opinião, edição 35, página 8. Junho de 1973. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  21. «Baianos x Paulistas». Opinião, edição 36, página 9. Julho de 1973. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  22. «Bradesco e Banco da Bahia perdem as contas estaduais». Jornal do Brasil, ano LXXXIII, edição 90, página 18. 7 de julho de 1973. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  23. «Bancos: Final (feliz) de uma briga». Opinião, edição 55, página 11. 3 de dezembro de 1973. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  24. Tatiana Petit (6 de janeiro de 1991). «Econômico está de cara nova». Jornal do Brasil, ano C, edição 271, Caderno Economia e Negócios, página 3. Consultado em 29 de setembro de 2024 
  25. «Auxiliar de Geisel volta a Esplanada». Jornal do Brasil, ano CII, edição 2, página 4. 10 de abril de 1992. Consultado em 29 de setembro de 2024 
  26. MOTTA, Cezar (2018). Até a última página: Uma história do Jornal do Brasil 1ª ed. [S.l.]: Objetiva. p. 269. 552 páginas. ISBN 9788547000455 
  27. a b Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «SA, ANGELO CALMON DE». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  28. http://www.muco.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=462:escandalo-banco-economico&catid=34:sala-dos-escandalos&Itemid=53
  29. «BTG anuncia compra do controle do Banco Econômico, que estava em liquidação extrajudicial». O Globo. 30 de março de 2022. Consultado em 28 de abril de 2022 
  30. a b «O que o BTG (BPAC11) quer com um banco que não opera há 27 anos». TradeMap. 30 de março de 2022. Consultado em 28 de abril de 2022 
  31. «BTG vai adquirir controle do Banco Econômico, em liquidação extrajudicial». Valor Econômico. Consultado em 28 de abril de 2022 
  32. «Banco Econômico sai de liquidação depois de 26 anos e ganha novo nome sob o controle do BTG». Estadão. Consultado em 10 de outubro de 2022 
  33. InfoMoney, Equipe (7 de outubro de 2022). «BTG Pactual (BPAC11) conclui compra do Banco Econômico, que deixa liquidação extrajudicial após 26 anos». InfoMoney. Consultado em 10 de outubro de 2022 
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