Batismo de fogo de Mossoró

O batismo de fogo de Mossoró foi como passou a ser conhecida a invasão da cidade de Mossoró pelo bando de Lampião, no estado brasileiro do Rio Grande do Norte, no ano de 1927.

O cangaceiro Jararaca, preso em Mossoró, ao lado de dois soldados em 1927

Esta foi a primeira vez que o chamado "rei do cangaço" teve um ataque frustrado, e resultou na morte dos cangaceiros Colchete e Jararaca. A magnitude da malograda incursão teve um impacto permanente nas manifestações políticas e culturais no município.

O ataque editar

Em 13 de junho de 1927, o bando de Lampião invadiu Mossoró. A cidade tinha grandes dimensões para os padrões da época, cerca de vinte mil habitantes.[1] Anteriormente, o cangaceiro escreveu ao prefeito Rodolfo Fernandes, ameaçando invadi-la caso não pagassem quatrocentos contos de réis. Em vez de ceder à chantagem, Fernandes mobilizou uma resistência ao ataque, que foi frustrado.[2] Em 2020, o escritor Robério Santos localizou uma carta, escrita por Rodolfo Fernandes para o coronel Antonio Gurgel, que estava refém de Lampião, em que o político nega o pagamento dessa quantia.[3]

Perdas de Lampião editar

O cangaceiro Colchete foi morto em combate.[4][5] Como resultado da derrota de Lampião, o cangaceiro Jararaca foi capturado e, no dia 19 de junho, executado.[2][6] Supostamente enterrado vivo, Jararaca passou a ser cultuado no município e é considerado um santo popular.[7]

Repercussão editar

O evento teve fortes consequências culturais e políticas.[8] O batismo de fogo de Mossoró foi a única derrota de Lampião. Em razão desse triunfo, o evento é rememorado como um marco da história da cidade, que passou a ser considerada a "cidade da resistência", imagem construída com apoio do jornal O Mossoroense.[6] O simbolismo da resistência de Mossoró foi amplamente explorado por políticos locais, sobretudo a família Rosado, o que permanece na atualidade.[8][9]

Representações culturais editar

Devido à sua relevância histórica, o evento foi explorado na literatura de cordel.[8] Em 2002, 75 anos após a invasão, o escritor potiguar Tarcísio Gurgel escreveu a peça Chuva de Bala no País de Mossoró, encenada anualmente no município desde então.[10][3][8]

Referências

  1. Falcão, Marcílio Lima (28 de julho de 2018). «Batismo de fogo: imprensa e monumentalização da narrativa sobre o ataque de Lampião a Mossoró (1927- 1931)». Ponta de Lança: Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura (22): 43–61. ISSN 1982-193X. Consultado em 23 de outubro de 2023 
  2. a b TAVARES, Edgley Freire; SILVA, Francisco Paulo da. A inscrição da memória no espaço urbano: efeitos de sentido na contação da invasão de lampião a Mossoró feita monumento. IN: MILANEZ, Nilton; SANTOS, Janaina de Jesus. (org.). Análise do discurso: sujeito, lugares e olhares. São Carlos: Claraluz, 2009. p.23-30
  3. a b «93 anos depois, carta que representa resistência de Mossoró ao bando do cangaceiro Lampião é encontrada». G1. 2 de junho de 2020. Consultado em 24 de outubro de 2023 
  4. Alves, Robson (27 de maio de 2018). «Lugares de memória: a relação entre a memória e os espaços físicos em Mossoró/RN». Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Revista Eletrônica Discente. 4 (8). Consultado em 24 de outubro de 2023 
  5. Neto, Francisco Linhares Fonteles; Alves, Antônio Robson de Oliveira (20 de maio de 2019). «O bandido Jararaca, "mais perverso que lampião": As narrativas jornalísticas sobre sua prisão e morte». Vozes, Pretérito & Devir: Revista de historia da UESPI (1): 48–68. ISSN 2317-1979. Consultado em 24 de outubro de 2023 
  6. a b Falcão, Marcilio Lima (20 de fevereiro de 2018). «No labirinto da memória: fabricação e uso político do passado de Mossoró pelas famílias Escóssia e Rosado (1902-2002)». Consultado em 23 de outubro de 2023 
  7. «Morto em invasão do bando de Lampião a Mossoró, cangaceiro Jararaca tem túmulo visitado todos os anos no Dia de Finados». G1. 2 de novembro de 2022. Consultado em 23 de outubro de 2023 
  8. a b c d Lima, Elizabeth Christina de Andrade; Souza, Karlla Christiane Araújo (2 de julho de 2021). «Os jogos da política e a teia cultural de Lampião em Mossoró». Revista Internacional de Folkcomunicação (42): 28–49. ISSN 1807-4960. doi:10.5212/RIF.v.19.i42.0002. Consultado em 24 de outubro de 2023 
  9. Falcão, Marcílio Lima (2012). No país de Mossoró: a memória de Mossoró, cidade da resistência como estratégia de manutenção do poder da Família Rosado (1970-2007). [S.l.: s.n.] 
  10. Santos, Isabela (21 de abril de 2023). «Escritor Tarcísio Gurgel cede direitos autorais e Chuva de Bala vira patrimônio de Mossoró». Saiba Mais. Consultado em 24 de outubro de 2023