Boteiro
O boteiro é a figura mais emblemática do Entrudio (denominação tradicional do carnaval) da comarca de Viana do Bolo. De acordo com a sua área de procedência, os fatos e dinámicas dos boteiros apresentam diferenças notáveis.
Boteiro de Viana do Bolo
editarHistória
editarAinda que as suas origens provavelmente se situem há muitos séculos, a configuração atual desta personagem encontra-se na década de 80 do século XX, quando em Viana do Bolo, a capital do concelho, se produziu uma confluência das distintas tradições de Entrudio que existiam nas aldeias vizinhas: as comparsas e os fulións.
Uma comparsa está formada por um grupo apenas de jovens de uma aldeia que se movem durante o Entrudio a outros lugares vizinhos para representarem umas peças teatrais humorísticas chamadas disputas. Estas comitivas têm uma série de personagens fixas: o director, a señorita ou madama (senhorita), o paiaso (palhaço), os músicos e os de esquilas ou vellos de esquilas (velhos de chocalhos).
Um fulión é uma comitiva que percorre as ruas das aldeias fazendo soar um ritmo monótono com ferramentas agrícolas e instrumentos de percusão. Normalmente, uma aldeia ou um grupo de aldeias partilha um toque que o diferencia das outras. Os fulións costumavam sair à noite, uma vez realizadas as tarefas do campo, e as datas variam segundo a aldeia. Em alguns destes fulións existia a figura do boteiro, ainda que a sua indumentária fosse diferente da atual.
Para entendermos o traje actual do boteiro é preciso ter em conta que, desde os anos 80, as comparsas começaram a decair devido à falta de mocidade/pessoas até desaparecer nos anos 90. Foi nessa altura quando os fatos dos vellos de esquilas das comparsas passaram a aplicar-se com o fulión e os boteiros, substituindo o traje próprio na maioria das aldeias. Por isso, o boteiro de hoje é uma imitação sofisticada das vestes dos vellos de esquilas misturada com as funções dos antigos boteiros das aldeias.
Funções
editarA função do boteiro está (e sempre esteve) intimamente ligada ao fulión, que é a comitiva à qual anuncia e abre passo. Para afastar o público, o boteiro pode empurrar, baixar a careta e investir contra o público ou arrastar a monca pela sua frente enquanto corre, indicando assim aos espectadores o espaço que deve de ficar livre. Também baila ou efectua saltos apoiando-se na monca com o fim de exibir a sua força e habilidade.
Fato
editar- Máscara
A careta do boteiro é uma verdadeira jóia de artesanato, já que não existem duas iguais. Esta é composta por duas partes.
A parte superior, que recebe o nome de pantalla, é feita de uma armação de ferro que se cobre com centenas de folhas de papel de seda previamente dobradas e recortadas que se colam na dita estrutura procurando uma disposição simétrica das cores.
Na parte inferior situa-se a máscara de madeira que vai fixada à estrutura metálica mediante uma espécie de casco. A expressão facial destas máscaras alterna entre a troça, com sorrisos sarcásticos de dentes bem marcados, e o propósito de intimidar e infundir medo, daí a presença de reptéis, entre os quais se impõe a serpente. Também podem ter caras de animal e é normal adicionar elementos como os chifres. A tradição mais estendida é que a cara se pinte de cor negra, embora existam aldeias cujas máscaras tradicionalmente deixam a cara da cor natural da madeira. Finalmente, nas laterais da máscara de madeira há duas correias de couro que prendem a careta ao pescoço do boteiro e que ficam ocultas debaixo de várias folhas de papel de seda da parte posterior (que fazem a função de cabelo).
- Camisola
A camisola de boteiro é, junto com a careta, o elemento no qual mais se manifesta a criatividade e o virtuosidade da técnica. Sobre uma camisola de pelúcia são cosidos mais de mil metros de fita de cetim de cores vivas. Antigamente, no centro do peito e das costas dispunham-se formas geométricas ou desenhos de formas simples; no entanto, agora fazem-se composições figurativas mais complexas.
- Camisa branca e gravata
O fato de boteiro é uma vestimenta de gala, pelo qual tem de levar camisa branca e gravata.
- Luvas
As luvas são um elemento essencial porque contribuem para preservar o anonimato total do portador da máscara.
- Monca
A monca é um pau resistente que habitualmente ultrapassa os 170 centímetros e cuja grossura está por volta dos 2 centímetros. Pinta-se com cores vistosas e no extremo superior leva um enfeite que pode ser um pompom, uma bola, fitas de cores ou a cauda de uma raposa. O boteiro usa a monca para afastar as pessoas, mas também como vara para impulsionarse na hora de saltar.
- Esquilas
As esquilas referem-se ao cinto que penduram os pequenos sinos típicos do gado bovino. Estas colocam-se de tal jeito que, ao se movimentarem, produzam um som harmónico, daí que se alterne uma esquila macho (som grave) com uma esquila fêmea (som agudo) ao longo de todo o cinto.
- Calças
As calças costumam ser de cor vermelha e contam com franjas, quer colocadas ao longo da costura lateral externa de cada perneira, quer em duas ou três faixas paralelas que rodeiam a perneira.
- Legues de cor negra
As legues são umas polainas de couro que cobrem a zona dos gémeos e protegem a parte inferior das calças do lodo e da água.
- Botas de cor negra
Referências
editar- INFORMATIVOS TELEMIÑO (21 de fevereiro de 2020): «Entroido 2020. Os boteiros de Viana do Bolo».
- BASALO BEMBIBRE, Pedro (2019): «Chama-las cousas polo nome», Entroido en Galicia. Onde ir, que ver (monográfico do periódico O Sil), pp. 44-45.
- BASALO BEMBIBRE, Pedro (2019): «Historia recente do boteiro de Viana do Bolo» VII Xornadas sobre o Entroido de Galiza em Pontevedra.
- INFORMATIVOS TELEMIÑO (13 de fevereiro de 2024): «Entroido 2024. Viana recupera as comparsas das aldeas».