O caburé-acanelado (Aegolius harrissi), é uma espécie de ave estrigiforme pertencente à família Strigidae.[1] Outros nomes para a espécie incluem caburé‑acanelado, caburé‑canela e coruja‑canelão.[2]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCaburé-acanelado
Caburé-acanelado em Dourado, Estado de São Paulo, Brasil
Caburé-acanelado em Dourado, Estado de São Paulo, Brasil
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Strigiformes
Família: Strigidae
Género: Aegolius
Espécie: A. harrisii
Nome binomial
Aegolius harrisii
(Cassin, 1849)
Distribuição geográfica

Distribuição editar

O caburé-acanelado é encontrado em diversas regiões da América do Sul.[2] No Brasil, é encontrado nos estados de Maranhão[3] Pernambuco,[1] Sergipe e outros estados do nordeste,[4] em múltiplas partes do estado de São Paulo,[5] no Paraná[6] e no bioma do Pampa, no Sul do Brasil.[7]

A ave também é encontrada na Colômbia,[8] no Peru[9] e na Argentina.[10]

Taxonomia editar

O ornitólogo John Cassin (1813‑1869), natural dos Estados Unidos, descreveu Nyctale harrisii em 1848 homenageando o naturalista Edward Harris (1799‑1863), seu conterrâneo da Filadélfia.[11] Como incentivador da ornitologia, Harris também foi anteriormente prestigiado com duas espécies descritas pelo naturalista norte‑americano John James Audubon (1785‑1851). A publicação original foi organizada em fascículos, fazendo com que o volume encadernado ao final tivesse dois anos estampados em sua capa: 1848 e 1849. O fascículo nº 7 foi distribuído em junho de 1848[12] contendo a descrição, sendo esta data citada para a descrição da espécie por alguns autores.[2]

Cassin baseou‑se em um espécime obtido pelo taxidermista nova‑iorquino John G. Bell (1812‑1889), que não soube especificar a localidade de origem deste material, apenas indicando ser da América do Sul.[13] A primeira ilustração da ave foi publicada logo depois,[14] asseme‑lhando‑se ao espécime de sexo indeterminado usado na descrição e tombado na Academia de Ciências Naturais da Filadélfia (USA) sob o número ANSP 2723.[2] Diante da imprecisão na procedência do holótipo, a Colômbia acabou associada como sua pátria típica[15] após o conhecimento dos primeiros exemplares de A. harrisii com indicação do país de origem,[16] com alguns casos onde a etiqueta desta espécie incluía somente tal informação (e.g. FMNH 13714).

No começo do século XIX havia remessas comerciais de aves colombianas taxidermizadas para o exterior sem etiquetagem apropriada, sendo a maioria obtida por caçadores treinados pelo explorador francês Justin Goudot, cujas atividades neste país se iniciaram por volta de 1825.[17] Somente a partir de 1849, após a descrição de A. harrisii, o ornitólogo francês Adolphe Delattre (1805‑1854) começou a coletar as primeiras aves na Colômbia que foram devidamente etiquetadas (op. cit.). Um antigo espécime atribuído para “Amer. mer. Brasilia”[18] teria origem no Brasil, e, este se encontra depositado no Rijksmuseum van Natuurlijke Historie, em Leiden, Holanda (RMNH 88278).[2] Contudo, sua origem é indicada para a Colômbia, tendo sido negociado pelo comerciante holandês Gustav Adolph Frank (1808‑1880).[19]

Uma lista sinonímica foi organizada para a espécie em 1875[20] e hoje são reconhecidas duas subespécies além da nominal:

  • Aegolius harrisii iheringi (Sharpe, 1899)
  • Aegolius harrisii dabbenei (Olrog, 1979)

Gisella jheringi foi o nome escolhido em 1899 pelo londrino Richard Bowdler Sharpe (1847‑1909), curador de aves do British Museum,[21] para nomear a espécie baseada em um exemplar enviado em 1898 por Hermann von Ihering (1850‑1930), então diretor do Museu Paulista,[22] Sharpe entendeu erroneamente que a ave procedia de São Paulo, tendo sido corrigido pelo próprio Ihering (1900), que informou como origem do espécime a colônia de São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, onde fora coletado pelo pesquisador alemão Christian Enslen (1854‑1930). Ihering mencionou outro espécime de São Paulo tombado no Museu Paulista (MZUSP 9705),[2] o que pode ter relação com o mal entendido.[2]

Em 1979, o pesquisador sueco Claës Christian Olrog (1912‑1985) descreveu a subespécie Aegolius harrisi dabbenei tendo como holótipo uma fêmea procedente de Concepción, na província de Tucumán, Argentina, coletada em 1920 por Juan Mogensen e tombada na Coleção Ornitológica Miguel Lillo (COML 7186).[2] Na ocasião, foram examinados mais seis parátipos de Tucumán, um de Salta e três de Jujuy, outras duas localidades argentinas. O ornitólogo italiano Roberto Dabbene (1864‑1938) foi homenageado por Olrog por ter percebido diferenças dos espécimes de Tucumán em relação aos de Misiones e sudeste do Brasil.[23][2][nota 1]

Notas

  1. Este trecho incorpora texto em licença CC-BY-4.0 da obra "Sinopse da história, taxonomia, distribuição e biologia do caboré Aegolius harrisii (Cassin, 1849)", de Weber Girão e Ciro Albano.

Referências editar

  1. a b Oliveira, A. J. S.; Cabral, L. S.; Silva, A. S.; Souza, V. C.; Florêncio, S. L.; Telino-Júnior, W. R.; Lyra-Neves, R. M. (2020). «First record of the buff-fronted owl, Aegolius harrisii - () (Aves - Strigidae) from the Brazilian state of Pernambuco». Brazilian Journal of Biology (em inglês). 80 (1): 190–191. ISSN 1519-6984. doi:10.1590/1519-6984.202857 
  2. a b c d e f g h i Girão, Weber; Albano, Ciro. «Sinopse da história, taxonomia, distribuição e biologia do caboré Aegolius harrisii (Cassin, 1849». Revista Brasileira de Ornitologia 
  3. Silva, Anderson Felipe Teixeira da; Melo, Hilda Raianne Silva de; Ubaid, Flávio Kulaif (3 de março de 2021). «First records of Buff-fronted Owl, Aegolius harrisii (Cassin, 1849) (Aves, Strigiformes), from the state of Maranhão, northeastern Brazil, and the northernmost record for the Cerrado domain». Check List (2): 353–358. ISSN 1809-127X. doi:10.15560/17.2.353. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  4. Ruiz-Esparza, Juan; Mendonça Costa, José Percílio; Santos, Caroline; Ruiz-Esparza, Daniela Pinheiro Bitencurti; Beltrão-Mendes, Raone; Ferrari, Stephen F. (março de 2017). «Range extension for Buff-fronted Owl Aegolius harrisii in north-east Brazil and a case of Heterochromia iridis in Strigidae». Bulletin of the British Ornithologists' Club (1): 91–93. ISSN 0007-1595. doi:10.25226/bboc.v137i1.2017.a8. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  5. Jesus, Shayana de; Buzzato, Adriano César; Bianco, Alexandre; Legal, Evair; Chimentão, Fábio Gaio; Pelissari, Márcio Coutinho; Cadorin, Tiago Jaão (1 de fevereiro de 2014). «Recent records of endangered birds in the state of São Paulo, southeastern Brazil». Check List (1). 230 páginas. ISSN 1809-127X. doi:10.15560/10.1.230. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  6. Ribas, Cassiano; Santos, Raphael. «Novo registro documentado do caburé-acanelado Aegolius harrisii (Cassin, 1849) para o estado do Paraná» (PDF). Atualidades Ornitológicas 
  7. Hartmann, Paulo Afonso; Rebelato, Marluci Müller; Cunha, Guilherme Garcez; Machado, Renata Figueira (21 de fevereiro de 2011). «Novo registro do caburé-acanelado (Aegolius harrisii) no Bioma Pampa, sul do Brasil doi:10.5007/2175-7925.2011v24n1p105». Biotemas (1). ISSN 2175-7925. doi:10.5007/2175-7925.2011v24n1p105. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  8. Penagos, Angie. P; Martínez, Alejandro; Rodríguez-Bolaños, Abelardo (15 de dezembro de 2018). «Nuevo registro y ampliación de distribución del búho bicolor (Aegolius harrisii) en Colombia». Biota Colombiana (2): 140–146. ISSN 0124-5376. doi:10.21068/c2018.v19n02a13. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  9. Bravo, Antonio García; Barrio, Javier (1 de fevereiro de 2014). «New distribution records of the Buff-fronted Owl Aegolius harrisii Cassin, 1849 (Aves: Strigidae) in Peru». Check List (1). 156 páginas. ISSN 1809-127X. doi:10.15560/10.1.156. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  10. Bodrati, Alejandro; et al. «Nidificación de la lechucita canela (aegolius harrisii) en Misiones, Argentina». Ornitología Neotropical 
  11. Street, P. b. (1948). «The Edward Harris collection of birds.». Wilson Bull 
  12. Peterson, A. P. «Zoonomen Nomenclatural data.» 
  13. Cassin, John (1849). «Descriptions of New Species of the genera Nyctale, Brehm., and Sycobius, Vieill; specimens of which are in the collection of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia.». roc. Acad. Nat. Sci. Philadelphia 
  14. Cassin, John. «Descriptions of owls, supposed to be new, (Syrnium virgatum, S.albogularis, and Nyctale harrisii) ind the collectionof the Academy, (with three colored plates). Plate V – Nyctale harrisii». J. Acad. Nat. Sci. Philadelphia 
  15. Cory, C. B. (1918). «Catalogue of the birds of the Americas and the adjacent islands. Part II, No. 1. (Publ. 197)». Field Mus. Nat. Hist. Zool. Ser 
  16. Gray, George Robert (1869). Hand-list of genera and species of birds : distinguishing those contained in the British Museum /. London :: printed by order of the Trustees, 
  17. L., Hilty, Steven (1986). A guide to the birds of Colombia. [S.l.]: Princenton University. OCLC 778164327 
  18. Bonaparte, Charles Lucian; Tucker, Marcia Brady (1850). Conspectus generum avium /. Lugduni Batavorum :: Apud E.J. Brill, 
  19. «Type-specimens of birds in the National Museum of Natural History, Leiden» 
  20. Sharpe, R. B. (1875). Catalogue of the Striges or nocturnal birds of prey, in the collection of the British Museum. Vol. II. [S.l.]: Londres: British Museum 
  21. Allen, J. A. (1910). Richard Bowdler Sharpe. Auk, 27(2):124‑129
  22. Pinto, O. (1945). Cinqüenta anos de investigação ornitológica. Arq. Zool. São Paulo, 4(8):261‑340
  23. Roberto., Dabbene, (1914). Distribution des oiseaux en Argentine d'après l'ouvrage de Lord Brabourne et Chubb: The birds of South America. [S.l.]: Coni. OCLC 16850669 

Ligações externas editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Caburé-acanelado