Camisola poveira

camisola de lã decorada com motivos marinhos, característica da Póvoa de Varzim, Portugal

A camisola poveira é o traje tradicional da Póvoa de Varzim em Portugal.

A camisola poveira é usada pelos homens no Rancho Poveiro. É o traje de romaria por excelência, deixando de ser massivamente usada, depois de uma tragédia no mar em 27 de Fevereiro de 1892

Estas camisolas têm motivos marinhos, o brasão da Póvoa de Varzim e de Portugal, e siglas poveiras. As cores utilizadas são três: o branco (a cor da malha), o vermelho e o preto (bordadas sobre a camisola, a ponto de cruz), utilizando motivos marítimos e siglas. As camisolas originalmente poderiam ser brancas, castanhas ou azuis e eram bordadas a ponto de cruz pelas noivas, irmãs ou mães dos pescadores, como sinal de afecto. O remate com o nome ou a sigla poveira eram mais que um registo de propriedade, eram uma dedicatória.[1]

História

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O traje seria de romaria e festas, visto que nas fotografias obrigatórias para a inscrição marítima na Capitania (instalada em 1885), eram muito poucos os pescadores que se apresentavam de camisolas poveiras (camisolas de lã branca bordadas a ponto de cruz). Isto devia-se a que quando a fotografia era tirada, os pescadores estavam com roupa de trabalho, que usariam à semana. Concluindo-se assim que as camisolas não seriam usadas no dia-a-dia, nem em trabalhos pesqueiros. A fotografia mais representativa da camisola poveira e da versão generalizada é a do pescador José da Silva Braga (o Tio Piroqueiro). A sua imagem tem servido de inspiração a fotógrafos, pintores, escultores e a modernos estilistas de moda. A foto estava exposta na Foto Neta no Largo do Café Chinês, local de passagem de banhistas, o que causava admiração e curiosidade entre os forasteiros.[1]

De acordo com os etnógrafos António dos Santos Graça e Maria da Glória Martins da Costa, a autenticidade da camisola poveira não deve ser posta em causa, sendo um traje de festa, autêntico e genuíno dos pescadores da Póvoa de Varzim.[1]

Santos Graça, ao criar o Rancho Poveiro em 1936, escolheu este traje tradicional como símbolo da comunidade poveira. A camisola teve o seu auge de produção nos anos 50, 60 e 70 do século XX muito devido ao impacto do filme Ala-Arriba de Leitão de Barros, tendo entrado em declínio nas décadas seguintes. No período de maior produção, houve exportação para diversos países em todos os continentes, onde o filme foi também exibido.[1]

Em 1955, o professor Fernando Barbosa, apaixonado pela história local, toma posse como vereador e presidente da Comissão municipal de Turismo da Câmara poveira. Barbosa lutou para que os banheiros, durante a época balnear, usassem a camisola poveira que a Câmara ofereceria generosamente. Dessa forma não só seriam facilmente reconhecidos, como fariam uma operação de charme inédita. Os banheiros não aguentaram o traje mais que um ano por ser pesado e de lã, usada em pleno Verão sob sol escaldante.[1]

Hoje em dia, tem-se buscado formas para a modernizar por um lado e por outro manter os saberes tradicionais. Recentemente, o estilista Nuno Gama, apresentou camisolas poveiras em desfiles em Milão, Barcelona e Nova Iorque; havendo outros estilistas interessados no rejuvenescimento deste artesanato.[2]

Em 2021, a camisola ganhou um interesse renovado após uma polémica com a estilista norte-americana Tory Burch, que criou um artigo muito semelhante e o promoveu como produção própria. O incidente ganhou dimensão mediática e, apesar de a empresária ter admitido o erro e retirado o artigo das suas plataformas de venda, o Estado Português interpôs, nos tribunais dos Estados Unidos uma ação judicial, contra a estilista, com um pedido de indemnização pelos danos causados por alegada apropriação abusiva do património local e nacional.[3]

A partir de 9 de setembro de 2022, a Camisola Poveira passou a ser oficialmente um produto certificado e com Indicação Geográfica Protegida.[4]

Referências

  1. a b c d e Azevedo, José de (2007). Poveirinhos pela Graça de Deus. [S.l.]: Na Linha do horizonte - Biblioteca Poveira CMPV 
  2. Azevedo, José de. «Camisolas poveiras nos desfiles de moda». Jornal de Notícias. Consultado em 27 de abril de 2021 
  3. «Camisola Poveira 'desfila' na Semana da Moda de Londres» 
  4. «Camisola Poveira já é oficialmente produto certificado»