Caniços ao vento (Deledda)
Caniços ao vento (Canne al vento, em italiano) é um romance de Grazia Deledda. Saiu primeiro em folhetim na L'Illustrazione Italiana, de 12 de janeiro a 27 de abril de 1913, e alguns meses depois foi publicado em livro, pela editora Treves de Milão.
Canne al vento | |||||||
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Caniços ao vento [BR] | |||||||
Autor(es) | Grazia Deledda | ||||||
Idioma | Italiano | ||||||
País | Itália | ||||||
Género | Romance | ||||||
Edição brasileira | |||||||
Tradução | Mario de Murtas | ||||||
Editora | Ed. Delta [Artes Graf. Gomes de Souza] | ||||||
Lançamento | 1964 | ||||||
Páginas | 241 | ||||||
Cronologia | |||||||
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O título do romance mais famoso de Grazia Deledda alude ao tópico profundo da fragilidade humana e da dor da existência e nesta direcção se fixam as reflexões e as fantasias do herói protagonista, como um primitivo, um simples, muito similar ao pastor errante asiático leopardiano ou a um dos humildes manzonianos.[1]
De acordo com Salvatore Satta e Sergio Atzeni, escritores italianos em comentário para a editora italiana do livro: "Exotismo, arcaísmo, sensualismo e psicologismo, quase obrigatório para uma obra na Sardenha, logo exotismo do espírito, antes e para além de Macondo ou Elvira."[2]
A relação de similitude entre a condição dos caniços e a vida dos homens, invocada no título do romance, vem da obra Elias Portolu, de 1903, da própria Deledda: Homens somos, Elias, homens frágeis como os caniços, se pensares bem. Acima de nós está uma força que não podemos vencer.[1]
Foi efetuada uma adaptação do livro ao cinema em 1958.[3]
Resumo do enredo
editarNuma aldeia da Sardenha, na sua costa tirrena, vive a família nobre Pintor: pai, mãe e quatro filhas. O pai, Don Zame, apresentado como vermelho e violento como o diabo, é um homem arrogante e orgulhoso, mas também prepotente e sobretudo zeloso da honra da família e de proteger o seu prestígio e a sua reputação nobre local. As mulheres, dedicadas aos trabalhos domésticos, ficavam em casa. Contra esta condição feminina apenas Lia se revoltava, a terceira das suas filhas, a qual transgredindo as regras impostas do pai foge para o continente para tomar parte na festa da vida. Chega a Civitavecchia, casa, tem um filho e morre.
O pai quando tenta ir em busca da filha é encontrado morto misteriosamente na ponte à saída da povoação. O facto criminoso permanecerá envolto em mistério: infortúnio ou crime? Este é o fundo do romance que em termos novelísticos vem revelado com anacronismo no curso da narrativa, que na verdade começa no momento em que é anunciada a chegada de Giacinto, o filho de Lia, a casa dos Pintor.
A vida das Pintor decorre melancolicamente em que o seu orgulho se vai esfumando. Em vão são protegidas pela dedicação do criado Efix (Efisio é um nome muito difundido no sul da Sardenha sendo o nome de um dos padroeiros da cidade de Cagliari), dedicada a elas, tem um forte sentimento de culpa (por ter favorecido a fuga de Lia, a quem tinha um devoção apaixonada muito parecida ao amor). Sonha, com paciência e devoção, no reflorescimento da casa e da família. Uma esperança se acende com a chegada de Giacinto.
À volta estão os personagens menores, membros da comunidade e do grupo, leais e participam com sua sabedoria primitiva, os jovens contemporâneos de Giacinto, e os contemporâneos das Pintor, e de Efix. As reacções à chegada de Giacinto são minuciosamente descritas em diversos mecanismos de aceitação e de recusa, até que o amor acaba por restabelecer um novo equilíbrio, em que cada membro da comunidade paga com a própria experiência e na medida adequada ao seu papel.
O narrador deleddiano adopta gradualmente o ponto de vista dos outros protagonistas, como Noemi e Giacinto, mas sobretudo de Efix. O narrador distingue entre o diálogo que aporta o material novelístico objectivo, o espaço-temporal, e o plano subjectivo da percepção do mundo que vem representado pelas imaginações e as fantasias do protagonista.
Crítica
editarV. Louise Katainen, da Auburn University, analisou Canne al vento do seguinte modo para a World Literature Today:[4]
- Uma qualidade onírica envolve a história. O passado é presente e o futuro aparentemente será sempre como o passado. No estilo sutilmente lírico de Deledda, o passado tanto é algo a ser venerado como um obstáculo ao crescimento individual e social. Assim, as tradições duradouras são igualmente uma armadilha e um tesouro. Na Sardenha de Deledda, a vida continua em ciclos eternos dominados pelas estações da natureza. A principal ferramenta estilística de Deledda é o símile, que ela emprega abundantemente. O mundo humano é comparado com as coisas da natureza: terra, vegetação, pássaros e animais. Em sentido oposto, o mundo natural é antropomorfizado, de modo que se torna tão vivo e sabedor como as pessoas que o habitam. Assim, a divisão entre os humanos e os mundos naturais é esbatida; os dois se fundem para produzir um todo panteístico. O que Deledda tenta transmitir, unindo os mundos da natureza e da sociedade humana é que, para os personagens deste romance poderoso tanto o natural como o humano são partes indispensáveis inseparáveis do seu universo conhecido.
- Deledda é bem-sucedida a retratar uma sociedade em transição lenta, uma sociedade incrivelmente distante da dos tempos modernos. Antigas tradições, superstições e uma estrutura social feudal aparentemente imóvel bloqueiam a adaptação às novas circunstâncias. Embora separada da costa ocidental da Itália por apenas cerca de 150 milhas de mar, a Sardenha que Deledda evoca é uma ilha povoada por alguns nobres anacrónicos e uma maioria de camponeses empobrecidos e fatalistas, que parecem presos num mundo imutável de miséria que se auto perpétua. Eles são, como sugere o título do romance, juncos inclinando-se ante os ventos do destino, incapazes e/ou não dispostos a alterar a trajectória do percurso das suas vidas.
Edições
editarAlgumas edições em várias línguas da obra:
- (em francês) Des roseaux sous le vent, trad. Marc Hélys, Grasset, Paris, 1919
- (em português) Caniços ao Vento, Delta, S. Paulo; 1964
- (em italiano) Canne al vento. Sedes, Milão 1993.
- (em inglês) Reeds in the wind, Italica Press Inc. Nova Iorque, 1999
- (em italiano) Canne al vento, Arnoldo Mondadori Editore, 2001;
- (em francês) Roseaux au vent, trad. Marie Billoret, ebook Falige Editore, 2014
Referências
- ↑ a b Neria De Giovanni, Come leggere Canne al vento di Grazia Deledda, Milano, Mursia, 1993, pag. 26
- ↑ Salvatore Satta e Sergio Atzeni, comentário sobre o lvro na página da ItaliaLibri em julho de 2003
- ↑ «Ficha técnica do filme». www.imdb.com
- ↑ V. Louise Katainen, World Literature Today, Winter 2001, citada na página da Italicapress em http://www.italicapress.com/index098.html
Ligação externa
editar- Audiolibro gratuito, licença Creative Commons, em ALK Libri
- D'Angelo, Carlo; Greci, José; Ferro, Lida (8 de novembro de 1958), Canne al vento, RAI Radiotelevisione Italiana, consultado em 15 de outubro de 2023
- Rizzi, Nicoletta; Ninchi, Carlo; Pagliai, Ugo (13 de janeiro de 1974), L'edera, consultado em 15 de outubro de 2023
- «L'edera (romance)». Wikipedia (em inglês). 28 de setembro de 2022. Consultado em 15 de outubro de 2023