Carácter biológico

Carácter biológico ou traço fenotípico,[1][2] por vezes referido simplesmente por traço ou carácter,[3][4] designa em vários campos das ciências biológicas uma variante distinta de uma característica fenotípica de um organismo específico que pode ser predominantemente hereditária ou determinada pelas condições ambientais, mas que tipicamente ocorre por uma combinação desses dois factores.[5] Por exemplo, a cor dos olhos nos humanos é um carácter biológico, enquanto as versões da cor dos olhos que conduzem a olhos castanhos ou azuis, são traços. O termo traço é geralmente usado em genética para descrever a expressão fenotípica de distintas combinações de alelos em diferentes organismos individuais dentro de uma única população, como a famosa coloração roxa versus branca da flor nas ervilheiras de Gregor Mendel. Em contraste, em sistemática, o termo estado de caráter é empregado para descrever características que representam diferenças diagnósticas fixas entre taxa, como a ausência de caudas nos grandes macacos, relativo a outros grupos de primatas.[6]

Um traço fenotípico dos humanos: olhos cinzentos.

Definição editar

Um traço fenotípico é uma característica óbvia de um organismo, reconhecível e mensurável, que é a expressão de genes de forma observável. Um exemplo de uma característica fenotípica em humanos é uma cor específica de cabelo ou cor dos olhos. Os genes subjacentes, que compõem o genótipo, determinam a cor do cabelo, mas a cor do cabelo observada é o fenótipo. O fenótipo é dependente da constituição genética do organismo, mas é também influenciado pelas condições ambientais às quais o organismo é submetido ao longo de seu desenvolvimento ontogenético,[7] incluindo vários processos epigenéticos. Independentemente do grau de influência do genótipo em relação ao ambiente, o fenótipo abrange todas as características de um organismo, incluindo traços em múltiplos níveis de organização biológica, variando de traços comportamentais e características de história evolutiva da vida (por exemplo, tamanho da ninhada), até à morfologia (por exemplo, altura e composição corporal), à fisiologia (por exemplo, pressão sanguínea), às características celulares (por exemplo, composição lipídica da membrana, densidades mitocondriais), às componentes de vias bioquímicas, e até de RNA mensageiro.

Em organismos diploides a origem genética dos diferentes traços fenotípicos é causada por diferentes variantes de genes, ou alelos, que surgem por mutação num único indivíduo e são transmitidos para sucessivas gerações.[8]

Bioquímica da dominância e expressão de traços fenotípicos editar

A bioquímica das proteínas intermediárias determina como elas interagem na célula. Portanto, a bioquímica prediz a forma como diferentes combinações de alelos produzem características biológicas distintas.

Padrões de expressão alargada presentes em organismos diploides incluem facetas de dominância incompleta, de codominância e da presença de alelos múltiplos. Dominância incompleta é a condição na qual nenhum alelo domina isoladamente num heterozigoto, permitindo que o fenótipo seja intermediário, permitindo que cada alelo esteja presente no heterozigoto.[9] Codominância refere-se à relação alélica que ocorre quando dois alelos são expressos no heterozigoto e ambos os fenótipos são observados simultaneamente.[10] A presença de alelos múltiplos denota a presença mais de dois alelos comuns de um determinado gene. Os grupos sanguíneos em humanos são um exemplo clássico. As proteínas dos grupos sanguíneos ABO são importantes na determinação do tipo sanguíneo em humanos, e isso é determinado por diferentes alelos de um único locus.[11]

Referências editar

  1. Williams, David; Schmitt, Michael; Wheeler, Quentin (21 de julho de 2016). The Future of Phylogenetic Systematics: The Legacy of Willi Hennig. [S.l.: s.n.] ISBN 9781107117648 
  2. Yeates, David K.; Wiegmann, Brian M. (2005). The Evolutionary Biology of Flies. [S.l.: s.n.] ISBN 9780231127004 
  3. «Reconstructing trees: A step by step method – Understanding Evolution». 29 de maio de 2021 
  4. Wright, April M; Lloyd, Graeme T; Hillis, David M (2016). «Modeling Character Change Heterogeneity in Phylogenetic Analyses of Morphology through the Use of Priors». Systematic Biology. 65 (4): 602–611. PMID 26715586. doi:10.1093/sysbio/syv122  
  5. Lawrence, Eleanor (2005) Henderson's Dictionary of Biology. Pearson, Prentice Hall. ISBN 0-13-127384-1
  6. Brower, Andrew V. Z.; Schuh, Randall T. (2021). Biological Systematics: Principles and Applications. [S.l.: s.n.] ISBN 9781501752773 
  7. Campbell, Neil; Reece, Jane, Biology, Benjamin Cummings 
  8. Gerstein, Mark B.; Bruce, Can; Rozowsky, Joel S.; Zheng, Deyou; Du, Jiang; Korbel, Jan O.; Emanuelsson, Olof; Zhang, Zhengdong D.; Weissman, Sherman; Snyder, Michael (junho de 2007). «What is a gene, post-ENCODE? History and updated definition». Genome Research (em inglês). 17 (6): 669–681. ISSN 1088-9051. PMID 17567988. doi:10.1101/gr.6339607 
  9. Bailey, Regina. «What is incomplete dominance». About.com 
  10. McClean, Philip. «Variations to Mendel's First Law of Genetics» 
  11. Unknown. «Multiple Alleles» 

Bibliografia editar

  • Lawrence, Eleanor (2005) Henderson's Dictionary of Biology. Pearson, Prentice Hall. ISBN 0-13-127384-1
  • Campbell, Neil; Reece, Jane (março de 2011) [2002], «14», Biology Sixth ed. , Benjamin Cummings 

Ver também editar

Ligações externas editar