O Cavalo Nordestino ou Cavalo Crioulo Nordestino, também conhecido por Cavalo de Mourão (vulgo Mourão), Cavalo Pé Duro Nordestino ou Cavalo Sertanejo do Nordeste[1] é uma raça de cavalos surgida na região nordeste do Brasil.

Cavalo nordestino em pista de vaquejada.
Cavalo Nordestino
Cavalo nordestino na Caatinga.
Cavalo Nordestino castanho.
Cavalo nordestino castanho.

A raça está actualmente ameaçada de extinção (menos de 500 mil exemplares puros e mistos) principalmente devido a falhas na organização para manutenção da raça, a cruzas entre exemplares remanescentes com outras raças (gerando mestiços) e à falta de interessados em possuir esta raça de cavalos.

História editar

Com o descobrimento do Brasil pelos portugueses, o cavalo (até aí inexistente no território[2].) foi introduzido na América do Sul para ser utilizado como meio de deslocação. Esta introdução na Região Nordeste do Brasil ocorreu em 1549[2] e deu-se ao empenho de Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco[3]., que ao estabelecer ao longo do Rio dos Currais (actual Rio São Francisco) fazendas de gado bovino providas de gado e cavalos foi o percursor desta nova raça[4].

Esta raça de cavalos foi originária de vários animais: de cavalos e garranos que fugiram das ditas fazendas, dos que foram abandonados e daqueles que sobreviveram aos ataques indígenas praticados contra as fazendas aí existentes. Estes cavalos, na natureza agreste do Sertão nordestino sofreram cruzamentos e apuramentos de modo a que foi criada a primeira raça autóctone de cavalos do Brasil.

Durante muitos anos esta raça foi utilizada pelos vaqueiros do Sertão nordestino como animal de trabalho (transporte, apanha e perseguição de gado etc). Com o desaparecimento quase completo desta profissão, no fim do Séc. XX, a raça seguiu rumo igual. Hoje restam muito poucos exemplares.

Fundo genético editar

É descendente principalmente das raças de cavalos ibéricas, nomeadamente do cavalo garrano, do cavalo sorraia e do cavalo berbere[5]. Estes foram trazidos principalmente da Ilha da Madeira, Cabo Verde e Portugal Continental[2].

Características editar

Esta raça de cavalos é muito rústica, sendo altamente adaptada ao clima semiárido do sertão nordestino. Suporta ambientes secos e quentes. Em termos alimentares tem facilidade em se adaptar e subsistir de ingestão de plantas de baixa qualidade nutricional e água escassa ou insalubre.

Além de ter porte baixo (típico dos cavalos curraleiros[6]), suporta bastante o desgaste do casco (casco sem ferradura) por ser muito duro, por isso é comum ser chamado de "pé duro". A maioria dos exemplares tem o andamento considerado marchador, característica esta bastante desejável, pois dá ao cavaleiro bastante conforto no uso deste animal no dia a dia[7].

 
Potro da raça Cavalo nordestino.

Possiu porte pequeno, entre 1,30m e 1,50m de altura no garrote/cernelha, contudo não é considerado pónei conforme registro da raça.


Características morfologicas padrão[5].:

  •  
    Mãe e filho da raça Cavalo nordestino.
    Tipo – Perfil recto, por vezes côncavo. Animais de corpo leve (em média 150kg a 250kg), pernas longas e pêlo curto durante o todo o ano.
  • Altura – Medida ao garrote, com hipómetro, nos animais adultos é entre 1,30m e 1,50m[6] .
  • Pelagem – A pelagem mais comum é a castanha (cores do Garrano ), mas pode ser tordilha[8] (branco), tordilho[8] (vulgo pedrês, que é fundo branco com pintas levemente mais escuras de um branco sujo) ou alazã[8] (todo o corpo coberto por pelos de tonalidade avermelhada).
  • Temperamento – É activo e dócil, possui aptidão para o trabalho com gado, esporte e tiro leve.
  • Andamentos – Geralmente fáceis, rápidos, de pequena amplitude mas altos. Nos caminhos de montanha são firmes, a subir e a descer, e cuidadosos com as pedras e obstáculos das estradas acidentadas. Aptidão natural para marchar (andadura ou “molliter incedere”/passo travado ou “numeratim”).
  • Aptidão – Sela e transporte de carga, com especial aptidão para caminhos de mato e perseguição a bovinos. Utilizado por vaqueiros e carroceiros.
  • Cabeça – Fina, mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo, proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil recto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma que a parte superior da fronte é convexa de perfil, a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Órbitas salientes sobre a fronte, transversalmente plana. Os olhos são redondos e expressivos. Largas narinas. Orelhas médias. Os dentes são característicos. As ganachas são fortes e musculosas.
  • Pescoço – Bem dirigido e longo.
  • Cernelha – A cernelha é levemente saliente e o dorso é recto.
  • Peitoral – Amplo.
  • Costado – Tronco de costelas, em geral, chatas e verticais.
  • Garupa – A garupa é densa, de ancas saídas e largas.
  • Espádua – Vertical e curta.
  • Membros – Aprumados, proporcionais e estreitos. Cascos cilíndricos, geralmente da cor preta, e muito duros (capaz de percorrer distâncias de até 70km por dia e não necessitar de uso de qualquer tipo de ferradura).

Associações de criadores e entusiastas editar

Criadores e entusiastas estão se organizando e trabalhando para a recuperação e preservação desta raça, emitindo registro inicial (RI), estimulando a cruza entre animais puros e divulgando a raça para atrair interessados com o objectivo de manter vivo este patrimônio genético equino brasileiro[9][10].

A grande maioria dos animais estão concentrados no nordeste brasileiro, cujo trabalho de preservação tem sido conduzido por três associações distintas: uma pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN); outra pelo Núcleo de Preservação e Seleção do Cavalo Nordestino (NPSCN); e outra pela Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN), orientando os proprietários e amantes da raça a manter as qualidades e características originais da raça[11].

Em 2021 foi divulgado que o Instituto Nacional do Semiárido e a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN) e o Núcleo de Conservação do Cavalo Nordestino da Paraíba (NCCN-PB) iniciaram os primeiros estudos e conservação de alguns exemplares dando os primeiros passos para a preservação do cavalo nordestino.[12]

Relação da raça com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil editar

O MAPA reconhece a raça, cujo padrão foi submetido à análise e aprovado em 1987. Porém isto não foi suficiente para consolidar uma criação organizada da raça e atrair mais interessados. Em documento disponibilizado em 2016, embasado com dados de 2013, o MAPA alerta para a necessidade de organização da raça, estimando em 500 mil animais vivos, entre puros e mestiços. No mesmo documento o MAPA indica que a associação responsável pela raça se encontra desativada há 8 anos, sem citar qual é esta associação[13]. Provavelmente o documento se refere à Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN), cuja autorização para efetuar os registros genealógicos da raça foi revogada um ano depois, na Portaria n. 1.537/2017 do MAPA publicada no Diário Oficial da União, no dia 26/07/2017, Seção 1, página 17[14], autorização esta concedida em 1974. Actualmente as associações que, por iniciativa própria, estão assumindo os registros de exemplares da raça são o Núcleo de Preservação e Seleção do Cavalo Nordestino (NPSCN) e a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN)[15].

Porém, ao que tudo indica a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN) voltou a ativa em relação aos trabalhos relacionados ao cavalo nordestino, uma vez que sua página na internet voltou a fazer postagens depois de um hiato de 2 anos (em 2017 tinham 3 postagens, em 2019 tinham 3 postagens) e sua página pessoal no Instagram é bastante ativa, com muitas fotos e informações da associação postadas com bastante frequência.[16][17]

Já a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN) ao que tudo indica desativou sua página no Facebook onde mantinha constantes postagens sobre o cavalo nordestino.

Referências

  1. DOMINGUES, Octavio - O CAVALO SERTANEJO DO NORDESTE, Revista de Agricultura da Escola Nacional de Agronomia, Universidade Rural (Rio de Janeio). [Em linha]. Rio de Janeiro: Typographia Commercial, 1853 pág. 53 a 56. Disponível em WWW:<URL:http://cavalonordestino.blogspot.com/>.
  2. a b c COSTA, Maria Rosa Travassos da R. - A História dos Eqüinos na Amazônia: Ênfase ao cavalo marajoara. [Em linha]. Belém-PA: embrapa. [Consult. 26 Ago. 2020]. Disponível em WWW:<URL:https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/60443/1/s01.pdf>.
  3. MIRANDA, Luiz - HISTÓRIA DA RAÇA NORDESTINO, Tropel Nordestino. [Em linha]. [Consult. 26 Ago. 2020]. Disponível em WWW:<URL:http://cavalonordestino.blogspot.com/>.
  4. ARRAES, Esdras - Rio dos currais: paisagem material e rede urbana do rio São Francisco nas capitanias da Bahia e Pernambuco. [Em linha]. São Paulo: Scielo, 2013. ISSN 0101-4714 [Consult. 26 Ago. 2020]. Estudos de Cultura Material. Disponível em WWW:<URL:https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142013000200003>.
  5. a b MELO, J. B.; PIRES, D. A. F. - Perfil fenotípico do remanescente do cavalo nordestino no nordeste do brasil. [Em linha]. Brasil: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2012. [Consult. 26 Ago. 2020]. Disponível em WWW:<URL:https://www.researchgate.net/publication/316891717_Perfil_fenotipico_do_remanescente_do_cavalo_nordestino_no_nordeste_do_brasil>.
  6. a b RIBEIRO, Maria Victoria Ferreira et al. - CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DO CAVALO CURRALEIRO: RESULTADOS PARCIAIS. [Em linha]. Brasil: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2018. [Consult. 26 Ago. 2020]. 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Disponível em WWW:<URL:https://www.researchgate.net/publication/316891717_Perfil_fenotipico_do_remanescente_do_cavalo_nordestino_no_nordeste_do_brasil>.
  7. Verde, Redação Pensamento (4 de fevereiro de 2014). «Cavalo nordestino: Um animal brasileiro em extinção». Pensamento Verde. Consultado em 10 de abril de 2018 
  8. a b c EQUOIDEIAS - As cores dos cavalos para a Equoterapia, Material pedagógico. [Em linha]. [Consult. 26 Ago. 2020]. Disponível em WWW:<URL:https://equoideias.com/2019/03/25/as-cores-dos-cavalos-para-a-equoterapia/>.
  9. «Rancho Clark | Cavalo Nordestino». ranchoclark.com.br. Consultado em 21 de março de 2018 
  10. Alberto Pereira (21 de julho de 2017), Cavalo Nordestino - AEPCN, consultado em 26 de março de 2018 
  11. «"Nordestino" conquista novos criadores no CE - Regional - Diário do Nordeste». Diário do Nordeste. Consultado em 21 de março de 2018 
  12. «INSA/MCTI desenvolverá projeto voltado para preservação, conservação e multiplicação da raça Cavalo Nordestino». Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Consultado em 5 de janeiro de 2022 
  13. Público, Arquivo (1 de janeiro de 2016). «Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo». Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Consultado em 23 de março de 2018 
  14. «Imprensa Nacional - Visualização dos Jornais Oficiais». pesquisa.in.gov.br. Consultado em 23 de março de 2018 
  15. PIRES, DENEA DE ARAÚJO FERNANDES (1 de junho de 2012). «CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE REMANESCENTES DA RAÇA EQUINA NORDESTINA EM MESORREGIÕES DOS ESTADOS DA BAHIA, PERNAMBUCO E PIAUÍ ATRAVÉS DE MARCADORES MICROSSATÉLITES» (PDF). Universidade Federal Rural de Pernambuco. Consultado em 23 de março de 2018 
  16. «CAVALO NORDESTINO». cavalonordestino.blogspot.com. Consultado em 5 de janeiro de 2022 
  17. «ABCCN - Cavalo Nordestino». www.instagram.com. Consultado em 5 de janeiro de 2022 
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