Rifte
Em geologia, rifte (do inglês rift: 'fenda', 'falha'; 'fratura', 'abertura') corresponde a uma estrutura resultante do afinamento e ruptura da crosta do planeta, em razão de forças distensionais atuantes na superfície. Tais forças atuam basicamente em sentidos opostos, provocando então essas rupturas. O afastamento causado pelo estágio de rifte é bem evidenciado por subsidências do terreno (que dão origem a grabens e horsts). São falhas normais e costumam ocorrer em junções tríplices de aproximadamente 120°. Atividades vulcânicas também podem ser resultantes de fraqueza estrutural da crosta e do alto fluxo de calor decorrente do processo de rifteamento.[1]
Origem
editarOs principais elementos causadores do início da ruptura e separação das porções de terra, são:
- os hotspots (“pontos quentes” localizados abaixo da litosfera e resultantes da ação das plumas mantélicas), que causam o afinamento da crosta até que ela comece a sofrer subsidência e inicie o seu processo de rompimento;
- as correntes de convecção, que, através dos movimentos de ascensão do magma no interior do planeta, são responsáveis pelo afastamento das porções de terra, desde o início do rifteamento até a separação total dos continentes.[1]
Há também a possibilidade da ocorrência de riftes abortados, que correspondem basicamente a riftes que iniciaram o processo de ruptura e separação das porções de um terreno, mas que por algum motivo não teve sequência. Esse tipo de rifte também é chamado de aulacógeno.[1]
Fases do rifte (evolução da bacia rifte)
editarDo início da ruptura da crosta, passando pelo começo da abertura de um oceano até a separação total dos continentes, há um longo caminho que pode levar milhões de anos para ser percorrido, sempre dependendo das condições físicas da região em que ocorre o rifte.
Tudo se começa com o soerguimento dos flancos do rift que acontece devido ao alto fluxo de calor regional proveniente das plumas mantélicas. Devido a extensão da crosta, as falhas começam a surgir, delimitando o rifte e criando vales que acabam sendo preenchidos por sedimentos provenientes dos flancos do rifte.[1]
Com a continuidade da extensão crustal e o consequente afastamento das porções de terra, se inicia a formação de lagos e sistemas fluviais que alimentam esses lagos no interior dos vales formados pelo rifte. É comum que nessa fase também tenha a ocorrência de vulcanismo na região, com a presença de vulcões que propiciam derrames magmáticos.[1]
Após isso, se tem a fase de transição entre ambiente continental e ambiente marinho, chamada de Estágio Proto-Oceânico. Nesse ponto já ocorreu a ruptura continental da crosta e o oceano começa a invadir esporadicamente o espaço criado pelo rifte, formando ambientes de lagos com água salgada, propício para a formação de evaporitos. Quando um magma basáltico ascende à superfície, formando uma nova crosta oceânica entre as duas metades do rifte, a bacia formada é conhecida como calha proto-oceânica, iniciando o estágio de margem passiva. A fase em que se inicia a formação de uma bacia marinha também é conhecida como pós-rifte.[1]
Margem passiva
editarAs margens passivas resultam da separação e deriva dos continentes, com a formação de uma abertura oceânica em riftes oceânicos evoluídos. Esse estágio é também conhecido como fase drifte.[1]
A evolução das margens passivas dão origem a bacias oceânicas. Essas bacias crescem através da expansão do assoalho oceânico, a partir de novos magmas derramados nas dorsais meso-oceânicas.[1]
Exemplos de riftes no Brasil
editarA costa brasileira, de norte a sul, é resultado de uma separação continental, que se iniciou através de um rifte. Há mais de 130 milhões de anos, o continente sul-americano era ligado ao continente africano, formando o supercontinente Gondwana. Por volta de 130 a 120 milhões de anos, se iniciou o processo de separação desse supercontinente, que resultou na configuração geográfica atual dos continentes como conhecemos hoje. Até chegar no estágio de margem passiva atual, os continentes sul-americano e africano passaram por todas essas fases descritas acima: rifte, pós-rifte e drifte.[2]
No Brasil, as bacias do tipo rifte são importantes na exploração de petróleo. A grande maioria do petróleo extraído no país é proveniente desse tipo de bacia, que se desenvolveu posteriormente para bacias de margem passiva.[2]
Exemplos de riftes no Mundo
editarVale do Rifte Africano e Mar Vermelho
editarAtualmente é possível observar em nosso planeta um grande rifte, localizado a leste do continente africano, conhecido como “Grande Vale do Rifte”. O vale do rifte africano, com as rupturas que abrigam o Mar Vermelho e o Golfo de Adem formam uma junção tríplice de aproximadamente 120º, característico do rifteamento. Os dois segmentos que abrigam o Mar Vermelho e o Golfo do Adem estão em estágios mais avançados, em que o oceano já começou a invadir o vale formado pelo rifte. Já o vale do rifte africano está na fase de expansão crustal, e atualmente apresenta lagos e vulcões em seu interior.[3]
A expectativa é que daqui a alguns milhões de anos o leste da África se separe do resto do continente. A velocidade de separação do leste africano está por volta de 2,5 a 5 cm por ano.[3]
Zona de Rifte de Baikal
editarA Zona de Rifte de Baikal se localiza na região sudeste da Rússia, próximo da Mongólia. Essa zona consiste em uma bacia de falha, que contém cerca de 6 km de sedimentos. Além disso, possui um domo elevado com altura de cerca de 2 a 3 km, podendo ser dividido em domo Baikal que está a nordeste, com 800 km de comprimento e 400 km de largura; e em domo de East Sayan a noroeste, com 600 km de comprimento e 300 km de largura.[4]
Sistema de Rifte do Oeste da Antártida
editarO Sistema de Rifte do Oeste da Antártida é um dos maiores, porém menos conhecidos sistemas de rifte do mundo. Se estende por uma área de mais de 3000 km de comprimento e 750 km de largura, que está em uma área amplamente coberta por gelo. Esse Sistema de Rifte só foi observado através de métodos geofísicos empregados no continente.[5]
A atividade de extensão do rifte, é evidenciada por atividade vulcânica e rápida evolução das ombreiras do rifte e se deu por volta de há 35 milhões de anos. Porém, o início do rifte se deu há mais tempo, há cerca de 60 milhões de anos.[5]
Rifte Rio Grande
editarSe localiza no oeste dos Estados Unidos, mais especificamente na região de cordilheiras do oeste norte-americano. O terreno sofreu afinamento e extensão da crosta há mais de 30 milhões de anos. Atualmente, a configuração extensional do rifte corresponde a limites transformantes, que ocasiona em deslizamentos laterais das bordas do rifte.[6]
Rifte do Golfo de Corinto
editarLocaliza-se ao sul da Grécia e corresponde a uma bacia sedimentar extensional ativa que iniciou sua deformação há cerca de 5 milhões de anos. O Golfo possui cerca de 100 km de comprimento e 30 km de largura. Atualmente, o rifte de Corinto está se abrindo de maneira contínua, em uma taxa de aproximadamente 10 a 15 mm por ano e se distanciando da placa tectônica Euroasiática.[7]
Referências
- ↑ a b c d e f g h Gary., Nichols, (2009). Sedimentology and Stratigraphy. [S.l.]: John Wiley & Sons. OCLC 476272712
- ↑ a b Mohriak, Webster Ueipass; Torres, Luiz Carlos (6 de junho de 2017). «Levantamentos geofísicos para a delimitação da margem continental brasileira». Revista USP (113). 59 páginas. ISSN 2316-9036. doi:10.11606/issn.2316-9036.v0i113p59-80. Consultado em 17 de julho de 2022
- ↑ a b Corti, Giacomo (setembro de 2009). «Continental rift evolution: From rift initiation to incipient break-up in the Main Ethiopian Rift, East Africa». Earth-Science Reviews (1-2): 1–53. ISSN 0012-8252. doi:10.1016/j.earscirev.2009.06.005. Consultado em 17 de julho de 2022
- ↑ Mats, Victor D.; Perepelova, Tatiana I. (julho de 2011). «A new perspective on evolution of the Baikal Rift». Geoscience Frontiers (3): 349–365. ISSN 1674-9871. doi:10.1016/j.gsf.2011.06.002. Consultado em 17 de julho de 2022
- ↑ a b Behrendt, J. C.; LeMasurier, W. E.; Cooper, A. K.; Tessensohn, F.; Tréhu, A.; Damaske, D. (dezembro de 1991). «Geophysical studies of the West Antarctic Rift System». Tectonics (6): 1257–1273. ISSN 0278-7407. doi:10.1029/91tc00868. Consultado em 17 de julho de 2022
- ↑ Baldridge, W.S.; Keller, G.R.; Haak, V.; Wendlandt, E.; Jiracek, G.R.; Olsen, K.H. (2006). «Chapter 6 The Rio Grande Rift». Elsevier: 233–XIII. Consultado em 17 de julho de 2022
- ↑ Bell, R. E.; McNeill, L. C.; Bull, J. M.; Henstock, T. J.; Collier, R. E. L.; Leeder, M. R. (dezembro de 2009). «Fault architecture, basin structure and evolution of the Gulf of Corinth Rift, central Greece». Basin Research (6): 824–855. ISSN 0950-091X. doi:10.1111/j.1365-2117.2009.00401.x. Consultado em 18 de julho de 2022