O Cerco de Gidá foi uma batalha naval que aconteceu na baia de Gidá entre uma frota Portuguesa liderada por Lopo Soares de Albergaria e a defesa Otomana comandada por Selmã Reis.[4] A frota Portuguesa chegou à costa da cidade na Páscoa do ano de 1517 (dia 12 de abril), ano Hijri 923, e se ancorou no canal.[5] Depois de uma batalha rápida com poucas baixas, a artilharia costal não deixou que os portugueses pousaram pé na terra e o clima finalmente os obrigou a retirar-se.[6]

Cerco de Gidá
Data 12 de abril de 1517
Beligerantes
Império Português
Comandantes


Forças

  • 36 naves: [1]
    • 15 naus
    • 10 caravelas
    • 8 galés
    • 1 caravelão
    • 1 bargantim
    • 1 junque indiano.
  • ~1 800 a 5 400 homens

  • 19 naves
  • 3 000 soldados
    • 1 300 turcos[2]
Baixas
2 ou 3 naves[3] 2 ou 3 naves, 1 parcialmente queimada[3]

Contexto editar

Relações entre os portugueses, os mamelucos, e os otomanos no Mar Vermelho eram contenciosas nos anos antes do cerco de Gidá considerando as incursões marítimas dos portugueses no meio oriente. As ilhas de Socotorá e Ormuz tinham sido capturadas pelos portugueses para controlar rotas de comercio nas entradas do Mar Vermelho e o Golfo Pérsico em 1506 e 1515, respectivamente.[7] Por isso, laços políticos informais foram formados entre os impérios otomanos e mamelucos para combater as incursões portuguesas.[8] Os otomanos mandaram ao seu almirante Selmã Reis com naves e provisões para que ele se unisse à defesa mameluca da cidade de Gidá comandada pelo Mirocém.[8]

Construções nas defesas da cidade tem continuado desde 1506, ano Hijri 912, e incluíram a adição de uma muralha, 8 torres, e vários elementos de artilharia.[9]

 
Defesas de Gidá

Um mapa de Gidá feito pelo C. Niebuhr em 1762 revela partes dessa defesa, incluindo 1) a casa do Pasha, 2) Bāb Sharīf, 3) Bāb Jadīd, 4) Bāb Makka, 5) torres na rua em direcao a Meca, 6) campos para a cultivacao de sal, 7) um cemeterio Cristiano 8) torres com artilharia, 9) porto dos galeãos, 10) a casa de Niebuhr e companheiros, 11) a alfândega, 12) a casa do Kiḫya, 13) a tomba de Eva, 14) morros de coral e concha e 15) ancoragem para naves da India e de Suez.[10]

Batalha editar

Depois de navegar desde Goa, os portugueses chegaram no Áden em fevereiro de 1517, onde conseguiram pilotos locais para navegar até Gidá.[5] Depois de que a frota portuguesa chegasse na baia de Gidá, em Pascoa de 1517, (dia 12 de abril), ano Hijri 923, os relatos dos otomanos e dos portugueses deixam de concordar.[11]

De acordo com o cronologista otomano, enquanto percebeu a frota portuguesa na baia, o almirante Selmã Reis, “os procurou em um ou dois barcos...e abriu fogo neles com seus canhões, destruindo a dois ou três das naves.”[4] Em algum ponto na ação, um dos canhões otomanos sofreu uma falha técnica e explodiu. O historiador Hadrami Al-Shiri conta que:

“O artilheiro adicionou alguma coisa na pólvora para que a arma deixasse de funcionar, e o fogo queimou parte da nave onde ficava Selmã; se falou que o artilheiro era um Cristiano servindo com Selmã – mas Selmã mandou que ele fosse executado e volto bem a Gidá.”[12]

Ainda que parte da nave dele estivesse queimada, Selmã foi capaz de expulsar aos portugueses que se foram na direção de Iémen.[13]

O relato português, em contraste, diz que depois de chegar na baia, a frota de Lopo de Soares encontrou-se incapaz de pousar pé na terra a causa da artilharia mameluca.[11] Ainda que os portugueses tenham logrado queimar algumas das naves ancoradas na baia, as condições climáticas impossibilitaram a navegação.[14] Depois de ter esperado 13 dias por clima favorável, falta de água e danos nas naves fizeram que os portugueses abandonassem o ataque.[11]

Resultado editar

Os portugueses se retiraram à Ilha do Camarão, onde ficaram presos pela falta de vento por 3 meses.[14] Lopo Soares de Albergaria pronto precisou de provisões e mandou um bergantim para se reabastecer na costa árabe.[14] A missão falhou depois de que “Selmã ou um dos seus homens seguiram [aos portugueses] numa nave até a localidade de al-Luhaiyah [Al Luhayyah]” onde capturaram aos 17 marinheiros portugueses e enviaram-lhes à Constantinopla.[15] Só um foi capaz de escapar e voltar a Portugal para contar a história.[15]

Ainda que os portugueses tenham falhado em capturar a cidade, eles lograram bloquear o comercio no porto com obrigar ao governador de Calicute a diminuir exportas a Gidá.[16] Além disso, o historiador ibne Ias conta que “Huceine, o superintendente de Gidá, cobrou uma decima parte do valor dos produtos dos mercadores indianos, então eles deixaram de frequentar Gidá e a condição do porto decaiu."[16] Em corto prazo, o bloqueio e os impostos reduziram a importância de Gidá como porto estratégico nas rotas comerciais da zona.[16]  

Referências

  1. Conquistadores, Mercenaries, and Missionaries: The Failed Portuguese Dominion of the Red Sea’, Northeast African...Andreu Martínez d'Alòs-Moner, p. 8 e Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 160-161.
  2. An Economic and Social History of the Ottoman Empire, Volume 1" by Halil İnalcik p.321ff
  3. a b R.B.Serjeant, The Portuguese Off the South Arabian Coast: Ḥaḍramī Chronicles, with Yemeni and European Accounts of Dutch Pirates Off Mocha in the Seventeenth Century, 1963, Clarendon Press, p. 51
  4. a b Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 50-51, citando a al-Shiḥrī
  5. a b Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 223.
  6. Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 223, citando as Lendas da India por Gaspar Correa
  7. Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 43-44, e Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 221.
  8. a b Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 222.
  9. Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 160-161.
  10. Maneval, Stefan. “A Brief History of Jeddah in the Nineteenth and Twentieth Centuries.” New Islamic Urbanism: The Architecture of Public and Private Space in Jeddah, Saudi Arabia, UCL Press, 2019, pp. 22–39. JSTOR, https://doi.org/10.2307/j.ctv13xprrv.7.
  11. a b c Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 224.
  12. Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 51, citando a al-Xihri
  13. Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 51.
  14. a b c Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 170, citando a Gaspar Correa
  15. a b Serjeant, R. B. (1974). The Portuguese off the South Arabian Coast: Hadramī chronicles, with Yemeni and European accounts of Dutch pirates of mocha in the seventeenth century. Librairie du Liban. 170.
  16. a b c Meloy, J. L. (2010). Imperial power and Maritime Trade: Mecca and Cairo in the later Middle Ages. Publicado pelo Middle East Documentation Center por parte do Center for Middle Eastern Studies, University of Chicago. 225