Combate de San Pedro

O Combate de San Pedro ocorreu em 7 de junho de 1807 no contexto das invasões britânicas ao Rio da Prata. Na batalha os britânicos derrotaram o corpo expedicionário enviado desde Buenos Aires para auxiliar à campanha da Banda Oriental em sua luta contra o invasor.

Combate de San Pedro
Invasões Britânicas
Data 7 de junho de 1807
Desfecho Vitória britânica
Beligerantes
 Espanha  Reino Unido
Comandantes
Francisco Javier de Elío Denis Pack
Forças
2000 homens
6 canhões
1107 homens
2 canhões
Baixas
120 mortos
105 prisioneiros
5 mortos
40 feridos

Antecedentes editar

 
Samuel Auchmuty.

Depois da captura de Montevidéu na segunda invasão inglesa ao Rio da Prata, o vice-rei Rafael de Sobremonte e as tropas que ainda o seguiam continuaram inativos a curta distância da praça tomada, até que sua deposição e detenção iminentes por parte do Cabildo de Buenos Aires fez desaparecer ainda essa tênue ameaça. Ficava no entanto em pé a possibilidade de uma expedição vinda de Buenos Aires, pelo que em março de 1807 o general Samuel Auchmuty encomendou ao coronel de <i id="mwFw">Highlanders</i> Denis Pack que com um destacamento ocupasse a Colônia do Sacramento, posto fortificado de 2800 habitantes que era considerado o ponto mais ameaçado da costa oriental.[1]

As tropas embarcaram em Montevidéu em 9 de março mas devido ao mau tempo os transportes navais zarparam apenas no dia 13 rumo à Colônia, escoltados pelo HMS <i id="mwHg">Pheasant</i>. Chegaram à Colônia na tarde de 15 de março, desembarcando-se um destacamento de rifles com bandeira de parlamento, que descobriu que o comandante da praça Ramón del Pino se tinha retirado à campanha com as milícias de cavalaria renunciando a defender a posição pela falta de artilharia.[2]

Em 16 de março de 1807, Pack ocupou sem resistência a posição com mais de mil homens. Segundo alguns autores sua divisão estava composta de 6 companhias do 40º Regimento de Infantaria (major Campbell) e quatro companhias ligeiras (três do 95º regimento de Rifles e um esquadrão do 9º de Dragões) sob comando do major William Trotter.[1][3] Outras fontes indicam que contava com as seis companhias do 40º Regimento, mas que as quatro companhias do Batalhão Ligeiro eram companhias de caçadores dos regimentos 38º, 40º, 47º e 87º, às que se agregavam as três companhias do segundo batalhão do 95º comandadas pelo major Thomas Christopher Gardner.[2] Finalmente, fontes britânicas incluem alguns homens do 71º Regimento de Highlanders, a unidade de Pack, que tinham escapado da captura depois da reconquista de Buenos Aires.[4]

Enquanto Pack destacava unidades de 200 e 300 homens em lugares estratégicos e fortalecia as defesas com "cavalos de frisa", del Pino estabeleceu seu acampamento nas orlas do arroio El Colla e destacou em bandos de guerrilhas os Voluntários de Cavalaria da Colônia sob o comando de Pedro Manuel García para fustigar as comunicações terrestres entre Colônia e Montevidéu.[Nota 1][2]

A fins desse mês conseguiu chegar a Buenos Aires o coronel Francisco Javier de Elío, nomeado na Espanha como Comandante Geral da Campanha Oriental que tinha escapado de "Montevidéu disfarçado e diz que toda a tropa que têm os ingleses não vale nada; que com só dois mil homens escolhidos se atreve a todos eles".[5][6]

A Junta de Guerra de 2 de abril decidiu então reunir uma força de 500 homens de infantaria que recrutar-se-ia entre as milícias voluntárias criadas na cidade em 1806 depois da reconquista, principalmente do Regimento de Patrícios, mais os voluntários que pudessem se oferecer, os que ao comando de Elío e apoiados por quatro canhões e 2 obuses, devia cruzar à Banda Oriental com o fim de fustigar os britânicos e evitar que controlassem a campanha.[1] A esses fins autorizava-se-lhe a Elío a assumir o comando de todas os grupos de voluntários ou dispersos do exército de Sobremonte que permanecessem em armas, a dispor das caballadas que encontrasse nas estadias reais, e a considerar botim de guerra toda mercadoria inglesa que se capturasse distribuindo seu valor entre suas tropas.[5]

Além do botim, como incentivo o Cabildo de Buenos Aires assegurou que velaria pelas famílias dos caídos e ofereceu uma recompensa de 4000 pesos fortes para o que capturasse ao tenente coronel Pack por perjuro.[2]

Destinaram-se para as despesas operativas da expedição 12000 pesos. O responsável seria Antonio Isla, Oficial de Contabilidade do Exército, até que efetuado a travessia se faria Rafael Pérez del Puerto servidor público da Real Fazenda residente na Capela de Mercedes que tinha sido designado Ministro da Expedição.[2]

 
Oficial de Patrícios (1807).
 
Oficial de Arribeos.

O número dos efetivos finalmente reunidos para o denominado “Exército em operações na Banda Oriental do Rio da Prata” varia segundo os autores: de 900 ou 1000 até 1500 homens (ainda que este seja provavelmente o número ao momento do ataque).[2][3][2][7][8] As tropas estavam organizados da seguinte maneira:[5]

  • Comandante: coronel Francisco Javier de Elío;
  • Segundo Chefe: capitão de fragata José Corvera;
  • Chefe da Frota: capitão de fragata Juan Gutiérrez da Concha;
  • Batalhão de Arribeños: 2 companhias com um total de 120 homens ao comando do tenente Agustín Marquéz;[9]
  • Batalhão de Castas: 2 companhias de granadeiros ao comando do capitão Agustín José Sosa com 120 homens e 2 companhias de fuzileiros com similares efetivos.[9] Servia como agregado o capitão Juan Bautista Raymond;[Nota 2]
  • Regimento de Patrícios: 1ª companhia do Primeiro Batalhão a ordens do capitão Martín Medrano, com 61 homens;[10][11]
  • Terço de Minhões de Catalunha: 7ª e 8ª companhia com os capitães José Grau e Juan Santos de Irigoyen com 200 homens;[5]
  • Blandengues de Buenos Aires: um destacamento de 10 homens ao comando do alferes de la Peña;[5]
  • Regimento "Fixo" de Dragões de Buenos Aires: uma companhia reduzida ao comando do capitão Nolasco Solano com 42 homens;[5]
  • Corpo de Voluntários Artilheiros da União: 4 canhões da 6 libras e 2 obuses de 6 polegadas.[9]

Em 9 de abril, o capitão de fragata Juan Gutiérrez de la Concha dispôs das embarcações de tráfico necessárias para o transporte e as de guerra disponíveis como escolta da expedição.[2]

Em 12 de abril de 1807, produziu-se o embarque das tropas, que zarparam na manhã do 13 de abril e chegaram ao anoitecer do dia 16 em Las Higueritas (atual Nova Palmira). Depois de finalizar o desembarque dos víveres e as tropas, ao dia seguinte iniciaram sua marcha a pé e com o auxílio de só catorze carretas (se previa contar com 56 transportes) para a população de Las Víboras onde deixaram parte do parque, para em 18 de abril se localizar na Calera de las Huérfanas.[2][5] Depois de aumentar suas forças com dispersos de Sobremonte até remontar 1500 homens, iniciou sua aproximação a Colônia.[1]

Combate de Colônia do Sacramento editar

 Ver artigo principal: Combate de Colonia (1807)

Após quatro dias de marcha, em 21 de abril Elío chegou com seu exército às imediações do Real de San Carlos, onde deixou a artilharia com uma escolta e às 22:00 horas do 21 de abril Elío iniciou o avanço com suas tropas por cânions e desfiladeiros afastados do caminho que une o Real de San Carlos com a Colônia confiando em encontrar a guarnição dormindo.[2][6]

Ainda que avançou "com a mais torpe precipitação, sem adiantar espiões, sem ocultar o grosso de nossa gente, sem saber explorar o campo inimigo, e numa palavra, sem a mais mínima precaução", as tropas da vanguarda conseguiram infiltrar-se entre as linhas inimigas mas "…no momento em que estavam prontos para o assalto, a um minhão se lhe disparou a arma, com o que perderam o efeito surpresa.[5][8]".[5][12][13]

Os espanhóis tiveram na ação oito mortos, entre 8 e 16 feridos e vários prisioneiros, enquanto os britânicos tiveram um soldado morrido e feridos o major William Trotter, o capitão Willgrass e um cabo.[1][2][5]

Reorganização das forças espanholas editar

Pese à falta de perseguição, os atacantes retiraram-se até a estadia de Calera de las huerfanas, distante 70 quilómetros.[5]

Em 23 de abril, Elío comunicou a Buenos Aires o falhanço e seu desânimo pela falta de valor e disciplina em seus soldados, e solicitou urgentes reforços. Entre os que permaneceram com ele e os desertores capturados pelos bandos, só tinha reunido 450 homens. Desconfiando de seus oficiais, anunciou que mal tivesse navios disponíveis a maioria regressaria a Buenos Aires e que ele permaneceria à espera dos reforços escoltado só por 40 marinheiros e alguns Miñones.[2]

O anúncio só serviu para promover a indisciplina. Durante o conselho de guerra seguinte terminou com um Patrício ferindo com sua baioneta um oficial e outros dois soldados de seu corpo, Elío caiu na conta de que a maioria de seus homens, sem bem contavam com experiência de combate urbano, eram uma milícia voluntária de cidadãos e jamais tinham recebido instrução sobre disciplina militar nem se consideravam particularmente sujeitos a ela. Elío ordenou então se lê-se o regulamento às suas tropas, em especial aos Miñones a quem considerava sediciosos.[2]

Ao receber as notícias, a Real Audiência em Buenos Aires, reuniu-se à Junta de Guerra e em 25 de abril decidiu enviar os reforços solicitados e ordenou que deviam marchar à Banda Oriental um esquadrão dos Hussardos de Pueyrredón, tropas do Regimento de Patrícios, da Marinha Real e do Regimento de Infantaria de Buenos Aires, o Fixo, às ordens do capitão José Píriz.[5][2]

Em 2 de maio, Elío recebeu a confirmação do envio de reforços e o comunicou a seus oficiais. Na junta Juan Bautista Raymond solicitou deixar o comando dos Miñones por considerar que dirigia um "Batalhão de Ingratos, que com nenhuma razão podia entusiasmá-los» e era incapaz de motivá-los a lutar. Elío se dirigiu aos milicianos do dito corpo (em sua maioria franceses e italianos, com alguns irlandeses e alemães desertores dos britânicos), que o confirmou de sua decisão de não continuar na expedição por considerarem-se ofendidos de que os atribuiu o fracasso do ataque à Colônia.[2]

Com 30 miñones, os únicos a obedecê-lo, Elío formou uma Companhia de Caçadores Estrangeiros que pôs ao comando de Carlos Laforett, e fez desarmar ao resto da unidade. Assim mesmo, considerando que reforçaria a disciplina, nomeou oficiais e sargentos brancos nas companhias de Castas, o que gerou novos descontentamentos.[2]

Nesse mesmo dia enviou à Real Audiência de Buenos Aires um "Ofício sobre indisciplina e criação do Corpo de Caçadores Estrangeiros" onde depois de citar o pedido de relocalização de Raymond, relatou que "fui falar aos Miñones, e após lhes fazer ver que V. A. não queria a nenhum da Expon. que o que não seja capaz de defender a seu Rei aqui, não o era em nenhuma parte, a desonra que resultar-lhes-ia de se apresentar fugindo do perigo, quando outros corpos vinham voluntariamente"[5]

Ainda que finalmente desistiu de sua ideia de colocar oficiais e sargentos brancos nas companhias de Pardos, ao menos, até a chegada do novo contingente de tropas em 5 de maio as companhias de Castas solicitaram formalmente o translado a Buenos Aires.[2] Elío os fez encerrar e apontar com duas peças de artilharia carregadas com metralha. Presas do pânico, os milicianos arrojaram-se à terra desculpando-se e jurando obediência absoluta a seu comandante.[2] Um cronista da época relataria que "após os expor aos mais inúteis sacrifícios, os tratava publicamente de ineptos e covardes, chegando até o extremo, quando o descalabro da Colônia, de desarmar vários troços destas tropas, formadas da comunidade de Buenos Aires, encerrando num pátio do quartel general da Calera e abocanhando-lhes dois obuses com ordem de disparar ao mais leve movimento".[5][14]

Desconhecedor das características de uma força como a que mandava, consciente de seu carácter voluntário e orgulhoso de seus direitos cidadãos e de sua vitória sobre os britânicos especialmente destacada pelo falhanço das unidades profissionais, e presa de um carácter unanimemente descrito como "desacertado, altaneiro e atrevido", jactancioso e volúvel, Elío se fez "objeto de aborrecimento universal.[14][15]"[14]

Nesse mesmo dia recebeu a notícia de que os britânicos tinham tomado San José pelo que enviou duas companhias com cem homens dos Voluntários de Cavalaria da Colônia sob o comando do capitão Pedro Manuel García para hostilizar as comunicações inimigas entre San José e Santa Luzia com Montevidéu.[2]

Também nesse 5 de maio, chegaram notícias de que os ingleses tinham saqueado a igreja de Colônia do Sacramento, pelo que Elío enviou a Pack uma missiva declarando que "…o sangue de V. S. e de todos seus soldados será derramada e não dar-se-á quartel a ninguém".[5][9]

Em 18 de maio, zarpou de Buenos Aires o capitão José Píriz. A expedição estava composta por:

  • Patrícios: 1ª (Medrano), 7ª (del Texo) e 8ª (Patrón) companhias do Primeiro Batalhão, 200 homens aproximadamente;
  • Arribeños: 2 companhias ao comando do capitão de Miguel e tenente Agustín Marquéz, 120 homens;
  • Castas: 4 companhias (2 de granadeiros e 2 de fuzileiros) ao comando do capitão Sosa, 240 homens aproximadamente;
  • Real Corpo de Marinha: duas companhias de marinheiros ao comando do tenente de navio de la Corvera, 80 homens;[5]
  • Caçadores, Miñones e estrangeiros: sem dados de seu número;
  • Hussardos de Núñez: 2 companhias ao comando do capitão Núñez, 181 homens;
  • Patriotas da União: 2 canhões de 2 libras, 2 canhões de 4 libras e 2 obuses de 6 polegadas;
  • Voluntários de Colônia: 2ª e 3ª companhias do Primeiro Esquadrão, sb comando de Ramón S. del Pino e os capitães Pedro García e Benito Chain, 100 homens aproximadamente;
  • Blandengues, ao comando do alferes de la Peña, 10 homens;
  • Voluntários recrutados na campanha e escapados de Montevidéu: sem dados de seu número (provavelmente ao redor de um milhar).

Em 22 de maio, chegaram ao acampamento da Calera os reforços. Elío recebeu seus homens e tomou-lhes juramento de fidelidade nestes termos: "Soldados e irmãos meus: A sorte por meios extraordinários trouxe-me de Espanha a ter a honra de mandar-vos.[5] Ali tenho meditado 24 anos e feito a guerra contra mouros em África, contra portugueses e contra franceses, inimigo o mais respeitável do mundo. Deveis pois considerar tenho algum conhecimento dela."

"Tenho tido ações favoráveis, outras contrárias, tenho recebido nelas dois tiros e jamais tenho tido mais vontades de brigar, nem mais probabilidade de vencer este inimigo mandado por Chefes ignorantes da guerra de terra, composto de soldados comprados e desagradados, como o experimentais por sua extraordinária deserção."

"Vocês sois uns cidadãos que voluntariamente estais com as armas na mão para defender vossa pátria, vossas famílias e a coroa de nosso Augusto Soberano que veneramos e amamos e não quereis sofrer o jugo infame destes piratas, que se têm prevalência do letargo em que estava este pacífico e feliz país. Eles são inferiores em número por mais que o tentem aumentar, se sabe certamente; e não têm recurso algum para escapar como os ataque com firmeza."

"Os conduzi à Colônia a atacá-la de noite para aproveitar-me de seu descuido e aflorar vosso sangue que o estimo como o meu e ser mais completa a vitória. La sorte a tirou de nossas mãos; mas espero que será para consegui-la mais completa."

"Estes colegas valorosos e cheios de fogo que se nos tem reunido vêm a ter parte nela. Recusareis os acompanhar e me acompanhar? Não o posso crer. Dois meses sozinhos de constância bastam para oprimi-los ou para que tenham a sorte dos de Buenos Aires. Aquela era sua tropa mais escolhida: já vistes o que fizeram; considerem o que farão estes se tendes valor. Fiem pois, em meus desvelos."

"A disciplina, soldados meus vos encarrego, a subordinação a vossos chefes a que vos recomendo, sem elas não pode ter exércitos, nem vitórias que não sejam momentâneas. Senhores oficiais, a vocês os faço responsáveis por que nesta matéria não disimularam nada."

"Agora pois armas ao ombro, Jurais a Deus e prometeis ao Rei defender vossa Pátria e não abandonar a nossos chefes até perder a vida?.".[5][9]

Durante o discurso ficou de manifesto que nem Arribeños, nem Pardos e Morenos saudaram com entusiasmo a seu comandante. Elío pôs então a seu secretário Julián de Miguel ao comando das duas companhias de Arribeños, secundado por novos oficiais, e comunicou à Real Audiência sua decisão de transladar o acampamento à ribeira norte do arroio de San Pedro, distante a 22 quilómetros da Colônia, para disciplinar a seus homens, fustigar e fomentar a deserção do inimigo e reconhecer o terreno com vistas a um novo ataque à Colônia.[2]

Assim mesmo, a decisão de nomear o tenente de navio Corbera como segundo comandante da expedição, estendeu o descontento a Ramón Del Pino, comandante dos Voluntários de Cavalaria da Colônia, e a seu segundo Francisco Albín, que têm maior grau e antiguidade.[2]

Em 25 de maio, chegam as notícias da chegada de tropas britânicas à Colônia e Elío anuncia que pedirá novos reforços a Buenos Aires se isto se confirma. Por seu lado, aproveitando a presença de vários artilheiros veteranos desertores em seu acampamento, Elío fomenta o envio de suas cartas aos antigos camaradas na Colônia, comentando o bom trato dos espanhóis e incitando-os à deserção.[2]

Depois de encarregar ao Ministro da expedição Rafael Pérez del Puerto a organização de um hospital e depósito de fornecimentos nas orlas do rio San Juan, na madrugada do 4 de junho Elío iniciou a marcha à frente de 1500 homens e estabeleceu seu acampamento num terreno elevado sobre a margem norte do arroio San Pedro. A elevação do terreno, ainda que só de 20 m, era um dos lugares mais altos da zona e era estrategicamente adequada para o acampamento, já que permite a visualização dos arredores e controlava o único vau do caminho entre Colônia e Las Víboras sobre o arroio, que rodeava a posição ao sul e oeste.[3][2] As orlas pantanosas e a irregularidade do leito do arroio protegeriam sua frente e flancos.[5]

Combate de San Pedro editar

Movimentos britânicos editar

Como consequência do ataque de Elío à Colônia, Auchmuty decidiu reforçar Pack com as três companhias restantes do primeiro batalhão do 40º, três companhias do 9º Dragões Ligeiros, sob as ordens do capitão Carmichael, e dois canhões de seis libras da Artilharia Real, a cargo do tenente Shepherd. As tropas em Colônia somavam 1500 homens, com o que Pack se considerou com as forças suficientes como para procurar ao inimigo e antecipar um novo assalto.[2][1][4]

Em 6 de junho Pack, recebeu notícias de Elío e depois de deixar um forte destacamento na cidade de Colônia sob o comando do major Piaget, às 3 da manhã do 7 de junho pôs-se em marcha à frente de 1107 homens:[4][5][Nota 3]

 
Soldado do 95º Rifles (1815).
  • 9º Dragões ligeiros, ao comando do capitão Carmichael com efetivos que atingiam aos 54 ginetes, atuando como vanguarda;
  • 40º de Infantaria, 6 companhias do Primeiro Batalhão sob ordens do major Archibald Campbell, com aproximadamente 481 homens de tropa e um total de 541;
  • 95º Rifles, 3 companhias do Segundo Batalhão (diminuído) ao comando do major Thomas Christopher Gardner com efetivos aproximados aos 200 homens;
  • Batalhão de Infantaria ligeira, ao comando do major William Trotter com 3 companhias reduzidas, 247 homens;
  • Artilharia Real, ao comando do tenente Lewis Sheperd com 34 homens do arma, 31 condutores e 2 canhões de 6 libras.

Forças espanholas editar

Em San Pedro, Elío conseguiu remontar seu destacamento até uns 2000 homens, a metade dos quais eram voluntários de cavalaria de came apressada e não enquadrados em regimentos.[5][12] Do resto, o grosso correspondia às forças de Buenos Aires (751 homens mais os servidores de artilharia) às que se somavam homens do cais e milicianos de Colônia. Por arma, 640 eram de infantaria e, descontando artilheiros, o resto de cavalaria, em sua maioria irregular. Por unidades, compunha-se de:

  • Patrícios: 1ª (Medrano), 7ª (del Texo) e 8ª (Patrón) companhias do Primeiro Batalhão, 200 homens aproximadamente;
  • Arribeños: 2 companhias ao comando do capitão de Miguel e tenente Agustín Marquéz, 120 homens;
  • Castas: 4 companhias (2 de granadeiros e 2 de fuzileiros) ao comando do capitão Sosa, 240 homens aproximadamente;
  • Real Corpo de Marinha: duas companhias de marinheiros ao comando do tenente de navio de la Corvera, 80 homens;[5]
  • Caçadores, Miñones e estrangeiros: sem dados de seu número;
  • Hussardos de Núñez: 2 companhias ao comando do capitão Núñez, 181 homens;
  • Patriotas da União: 2 canhões de 2 libras, 2 canhões de 4 libras e 2 obuses de 6 polegadas;
  • Voluntários de Colônia: 2ª e 3ª companhias do Primeiro Esquadrão, sb comando de Ramón S. del Pino e os capitães Pedro García e Benito Chain, 100 homens aproximadamente;
  • Blandengues, ao comando do alferes de la Peña, 10 homens;
  • Voluntários recrutados na campanha e escapados de Montevidéu: sem dados de seu número (provavelmente ao redor de um milhar).

O combate editar

Pack chegou com seus homens ao arroio às 7 da manhã, "descobrindo a posição do inimigo pela luz de seus fogos à distância de para perto de 5 milhas".[16]

Segundo consta também em sua versão do ocorrido, encontrou seu adversário "…fortemente situado numa altura, com sua frente e flancos protegidos por um rio profundo e pantanoso, no qual só tinha um passo escassamente transitável, que estava defendido por quatro peças de 6 e dois obuses… sua força ultrapassava os dois mil homens".[5][9]

Elío tinha distribuído sua infantaria localizando em seu flanco direito os marinheiros, no esquerdo os Arribeños, e no centro as tropas do batalhão de Castas. Provavelmente a cavalaria se distribuiu como era habitual nos flancos e a artilharia no centro.[5]

Enquanto às 8 da manhã aproximadamente abriam fogo a artilharia de ambos exércitos, Pack constatou a impossibilidade de flanquear a posição espanhola e decidiu encarar a travessia com a infantaria pelo único vau disponível, para o que ordenou adotar um dispositivo de frente por seções.[5]

Uma vez efetuado a passagem por baixo do fogo da artilharia de Elío, as tropas formaram-se em linha, fizeram uma conversão para a esquerda e lançaram-se num ataque frontal morro acima sem abrir fogo.[5][1]

Ante o avanço, relata Pack que cedo "retrocedeu a cavalaria inimiga, mas a infantaria, com minha surpresa ficou até que nos aproximamos a poucos passos, fugindo então em desordem, atirando suas armas e munições e nos deixando em posse de seus canhões e campo com um estandarte e cento e cinco prisioneiros, inclusive o segundo comandante e cinco oficiais mas…se tivéssemos podido fazer passar pelo vau a nossa cavalaria e aos canhões, tenho a segurança de que tivéssemos tomado ou destruído toda a força inimiga".[5]

Efetivamente, quando os britânicos "chegaram a se pôr a 30 passos de distância então Elío, que muito (sic) pouco fogo quis que se trocasse(sic), mandou disparar e atacar com baionetas (…) o flanco direito composto pelos Marinheiros, e a esquerda dos Arribeños, que não puderam sustentar o ataque pela excessiva desigualdade…" se dispersaram junto com a cavalaria pelo que a descarga fechada e o ataque frontal foi suportado pelo centro, Patrícios e Castas.[5]

Pack em sua parte relata que "O inimigo parecia muito resolvido, até que chegaram os ingleses à distância de oitenta varas deles, e fazendo uma descarga geral se voltaram e jogaram a correr em confusão grandíssima, atirando ao solo todas suas armas e vestimentas."[16]

Como fora, o ataque conseguiu se impor e ao choque inicial lhe seguiu uma retirada desordenada ficando os ingleses donos do campo de combate.[5]

Os britânicos não perseguiram aos vencidos e regressaram à Colônia do Sacramento no mesmo dia.[16]

Consequências editar

De acordo com a versão de Pack publicado o 10 de julho pelo jornal “As Estrelas do Sul” de Montevidéu "as perdas dos espanhóis foram de 120 mortos e um número grande de feridos e que o vencedor se apoderou de um estandarte, seis peças de artilharia, para perto de 300 fuzis, uma quantidade de equipamentos de guerra e 105 prisioneiros" entre os quais se encontravam "O segundo comandante D. Juan Bautista Raymond, um major, dois capitães e dois tenentes".[9][5] Tanto Raymond como um dos capitães, Agustín Sosa, foram autorizados por Pack a regressar a Buenos Aires, enquanto o resto foi conduzido num bergantim para Montevidéu.[16]

Morreram em combate o tenente da 5.ª Companhia do 1º Batalhão de Patrícios José Quesada, 10 soldados do mesmo Corpo e 109 soldados de outros corpos, sendo estas as primeiras baixas em combate da Legião de Patrícios.[5]

As tropas inglesas tiveram 2 soldados morridos e 23 feridos entre eles o major Trotter (substituído à frente de sua unidade pelo tenente Shepherd), o capitão Willgrass e um cabo.[16] Ao fim do combate e ao querer destruir duas carroças com munições ficaram feridos o major Thomas Christopher Gardner, o cirurgião assistente Turner e 14 soldados do 95º Rifles.[5]

Outras fontes contabilizam ao todo 5 mortos e 40 feridos entre os britânicos e cifram o número de fuzis perdidos pelos espanhóis em 253, coincidindo no resto.[1]

Os feridos foram atendidos no hospital de Colônia pelos cirurgiões britânicos (excetuando Turner que resultou ele mesmo ferido) e pelo doutor Francisco García.[17]

Devido a derrota, Elío teve que regressar com rapidez a Buenos Aires, finalizando todo a tentativa de disputar o domínio da banda oriental com os britânicos, enquanto estes estavam livres para manobrar contra a capital do vice-reino. A libertação de Colônia e o resto da banda oriental conseguir-se-ia nas ruas de Buenos Aires durante a defesa.

Referências editar

Notas explicativas editar

  1. Guesas vigas erizada de hojas de armas blancas destinadas a dificultar una carga de caballería.
  2. Jean Baptiste Raymond, corsario francés.
  3. Carlos Roberts en su obra da un total de 1139 hombres: 34 artileros, 61 del 9 de Dragones, 541 del regimiento 40, 225 del regimiento 95, 278 cazadores de varios cuerpos y dos piezas. Por su parte, Pack da en su parte un total de 950 hombres. Tomo el valor medio referenciado.

Notas de rodapé editar

  1. a b c d e f g h (Carlos Roberts 2000, pp. 291/3)
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x «Colonia bajo bandera británica». Consultado em 16 de novembro de 2012. Arquivado do original em 8 de junho de 2012 
  3. a b c «Proyecto de Prospección Arqueológica del Campo de Batalla de San Pedro» (PDF) 
  4. a b c «The Invasion of the South America and the Rio de la Plata Campaigns» 
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af «Batalla de San Pedro» 
  6. a b (Domingo Matheu 1960, pp. 2239/2241)
  7. (Beruti 2001)
  8. a b (Sagui 1960, pp. 61)
  9. a b c d e f g (Beverina 1939, pp. 210/6)
  10. (Saavedra, Solicitud de certificación de servicios 1808, pp. 6)
  11. (Saavedra, Estado… 1947, pp. 373)
  12. a b (Luzuriaga 2004, pp. 80, 81 y 115)
  13. (Vicente Fidel López 1833, pp. 81/2)
  14. a b c (Ignacio Núñez 1960, pp. 425 y 426)
  15. (Bartolomé Mitre 1942, pp. 140)
  16. a b c d e «Parte de Pack a Withelocke, en Batalla de San Pedro» 
  17. «Médicos y medicina en las Invasiones Inglesas, 1806-1807». Consultado em 16 de novembro de 2012. Arquivado do original em 8 de junho de 2012 

Bibliografia editar

  • Roberts, Carlos, As invasões inglesas do Rio da Prata (1806-1807), Emecé Editores, 2000, ISBN 950-04-2021-X, 9789500420211.
  • Matheu, Domingo, Autobiografía, Biblioteca de Maio, Senado da Nação, Tomo III, Buenos Aires (1960)
  • Beruti, Juan Manuel, Memórias Curiosas, Buenos Aires, Emecé, 2001, ISBN 950-04-2208-5
  • Sagui, Francisco, Os últimos quatro anos da dominación espanhola no antigo Virreinato do Rio da Prata, Memórias, Biblioteca de Maio, Senado da Nação, Tomo I, Buenos Aires (1960)
  • Beverina, Juan, As Invasões Inglesas ao Rio da Prata (1806-1807), Círculo Militar, Biblioteca do Oficial, Buenos Aires (1939)
  • Bartolomé Mitre, História de Belgrano e da Independência Argentina, Biblioteca do Suboficial, volumes 108, 109, 110, Tomo I, página 140, Buenos Aires (1942).
  • Saavedra, Cornelio, Solicitação de certificação de serviços, Real Imprenta dos Meninos Expósitos, Buenos Aires (1808)
  • Saavedra, Cornelio, Estado que manifesta a distribuição e operação dos três batalhões do Corpo de Patricios, no lugar e defesa da cidade de Bons Ayres atacada por um exército inglês a mais de 10 mil homens ao comando do tenente geral John Whitelocke, no mês de julho de 1807, na reconquista e defesa de Buenos Aires, Peuser, página 373, Buenos Aires (1947).
  • Juan Carlos Luzuriaga, Uma gesta heroica, as invasões inglesas e a defesa do Prata, Torre do Vigía Edições, Páginas 80, 81 e 115, Montevideo (2004)
  • López, Vicente Fidel, História da República Argentina, Carlos Casavalle Editor, Tomo II, páginas 81 e 82, Buenos Aires (1833)
  • Núñez, Ignacio, Notícias históricas da República Argentina, Memórias, Biblioteca de Maio, Senado da Nação, Tomo I, Buenos Aires (1960)
  • Melián, José, Apontes Históricos, em Biblioteca de Maio.
  • Reseña Histórica e Orgânica do Exército Argentino, Círculo Militar, Buenos Aires, 1972
  • Ignacio Núñez, Notícias históricas da República Argentina, Memórias, Biblioteca de Maio, Senado da Nação, Tomo I, Buenos Aires (1960)
  • Mitre, Bartolomé, Obras Completas, Vol. IV, História, Congresso da Nação, Buenos Aires, 1940.
  • Díaz Buschiazzo, Cap. Marcelo, Acções Militares do Corpo de Patricios de Buenos Aires na Banda Oriental (1807-1811), Tradinco, Montevideo (2007).

Ligações externas editar