Competências InfoComunicacionais


As Competências InfoComunicacionais referem-se à convergência entre Competências em Informação e competências em comunicação. A competência em informação envolve alguns elementos fundamentais: saber quando e como acessá-la, possuir capacidade cognitiva para compreendê-la, analisá-la e sintetizá-la, empregar critérios para avaliá-la e usá-la para resolver um problema, para conectar com outras informações ou para gerar conhecimento. No entanto, se a informação necessária está com pessoas, ademais de competências em informação, será necessário interagir, estabelecer relações, comunicar-se em última análise. Assim, a competência em comunicação refere-se à capacidade de estabelecer interação com outras pessoas ou grupos, trocar, criticar e apresentar as informações e ideias de forma a atingir uma audiência e com ela manter uma relação bilateral. Essas reflexões levaram à proposição da noção de competências infocomunicacionais (BORGES, 2011, 2013).[1] [2]

A Expressão editar

No Brasil, o conceito sob a expressão information literacy aparece registrado por alfabetização informacional, letramento informacional e fluência informacional, embora predomine a expressão “competência em informação”. O conceito sob a expressão, no entanto, permaneceu pouco alterado ao longo do tempo. Usualmente se entende como competente em informação aquele que percebe que determinados problemas podem ser resolvidos com acesso à informação, que sabe onde buscá-la eficientemente, que emprega critérios de avaliação e seleção e que a aplica sob preceitos éticos e legais.

Nos últimos anos ocorreu uma mudança fundamental no ambiente informacional: a emergência do prossumidor de informação, um indivíduo que além de usuário é um produtor de conteúdos. A observação desse cenário ajudou a consolidar as competências infocomunicacionais como um conceito adequado sob o qual se poderiam estudar as capacidades demandadas para o consumo e produção de informação, mas também as novas ou renovadas competências agora requeridas para atuar num contexto de cultura participativa: adequar a produção a determinado público, produzir em cooperação, participar de processos sociais etc. Assim, enquanto o conceito subjacente à competência em informação permanece indispensável para entender a relação entre pessoas e informação, a competência em comunicação contribui para entender a relação entre pessoas.

Antecedentes editar

Em meados de 2010, conduziu-se uma pesquisa[3] em profundidade com 44 organizações da sociedade civil atuantes politicamente. O objetivo era compreender quais empregos davam à internet em suas ações. Invariavelmente as respostas giravam em torno de “saber o que está acontecendo” (manter-se informadas) e trocar informações com parceiros” (comunicar-se). A aproximação com teorias da comunicação permitiu perceber que embora as fronteiras entre informação e comunicação sejam tênues e permeáveis, elas existem. No caso da informação, por exemplo, as competências inerentes – saber buscar, selecionar, avaliar etc. – são suficientes para lidar com a informação registrada. No entanto, se a informação necessária está com pessoas, ademais de competências em informação, será necessário interagir, estabelecer relações, comunicar-se em última análise. [4]

A partir desta compreensão, as pesquisas se voltaram para a construção de indicadores de observação das competências infocomunicacionais. Os indicadores são importantes porque permitem confrontar uma ideia, uma noção ou uma teoria com a realidade. Desenvolveu-se então um processo em espiral de testagem, ajuste e reflexão durante o qual pôde-se avançar no conhecimento. Assim, os indicadores vêm sendo testados desde 2011 com distintos públicos (estudantes de graduação e pós-graduação, arquivistas, bibliotecários etc.) sob diferentes métodos (observação do comportamento, questionários, entrevistas etc.), mas sempre com a perspectiva de que o mais valioso não é medir a competência de pessoas ou grupos, mas compreender quais competências infocomunicacionais vêm evoluindo e como repercutem na vida (acadêmica, profissional, social etc.) das pessoas.[5]

Conceitos Correlatos editar

O conectivismo é apresentado por Siemens (2010)[6] como uma teoria de aprendizagem no contexto digital, onde as ferramentas sociais estão propiciando um rápido intercâmbio de informações e mais diálogo, levando as pessoas a descobrir novos recursos (pessoas, aplicativos, conteúdos etc.) que podem conectar para criar sua própria rede de aprendizagem. Para o conectivismo, a aprendizagem é essencialmente um processo de criação de redes, porque na medida em que o aprendiz é capaz de atualizar de forma dinâmica sua rede de aprendizagem, estará continuamente frente a novas informações que pode combinar e contextualizar para gerar seu próprio conhecimento.

Isso pressupõe uma mudança fundamental no ensino porque desloca o foco do conteúdo para as conexões. Se não damos conta de processar toda a informação e ao mesmo tempo sabemos que ela está disponível em algum lugar, o que precisamos é aprender a conectar com outras pessoas ou dispositivos que nos permitam acessar e contextualizar informação quando a necessitarmos. Essa compreensão converge com as competências infocomunicacionais uma vez que o conceito se assenta na capacidade de lidar com informação em qualquer meio ou formato e na capacidade de interagir com pessoas.

A capacidade de pensar sobre o pensamento é uma peça chave do conectivismo, onde o aprendiz é o grande responsável pelo aprendizado e deve avaliar continuamente que elementos da rede lhes são úteis e como conformar sua ecologia de acordo com suas necessidades. Ao mesmo tempo, esse aspecto metacognitivo é basilar para a metaliteracy, porque destaca a necessidade de reconhecer características de ambientes em mutação e a eles adaptar-se e adequar-se de acordo com cada situação de informação e comunicação:

  • "A habilidade de acessar criticamente diferentes competências e reconhecer a necessidade de integrá-las no ambiente informacional atual é uma metaliteracy. Essa abordagem metacognitiva desafia a confiança na competência em informação baseada no ensino de habilidades e muda o foco para a aquisição do conhecimento em colaboração com outros. O indivíduo metaliterato tem a capacidade de adaptar-se a tecnologias mutantes e ambientes de aprendizagem, enquanto combina e compreende as relações entre competências relacionadas. Isto requer um alto nível de pensamento crítico e análise sobre como nós desenvolvemos nosso próprio conceito de competência em informação como aprendizes metacognitivos em ambientes abertos e mídias sociais." (MACKEY; JACOBSON, 2014, p.2, tradução nossa[nota 1])[7]

Além do aspecto metacognitivo, é importante atentarmos que além de considerar as competências para lidar com a informação nos ambientes informacionais, a metaliteracy abrange também a produção e o compartilhamento de conteúdos, o que nos remete ao aspecto da interatividade no modelo defendido por Jacobson e Mackey (2013)[7]

Ressalta-se que a interatividade é considerada fator importante para se estabelecer a comunicação com outras pessoas, especialmente no que diz respeito à capacidade de argumentar, de ser articulado e crítico, e apresentar as informações e ideias de forma a atingir uma audiência. Para Primo (2011) a interação está muito além da transmissão de mensagens, pois defende a construção interativa do relacionamento em progresso. A interação mútua tem caráter interdisciplinar e de recursividade, então não se trata de um processo linear no qual está embutida a ideia de causalidade (relação de causa e efeito) mas sim de caráter recursivo “onde cada ação retorna por sobre a relação, movendo e transformando tanto o próprio relacionamento quanto os interagentes (impactados por ela).” (PRIMO, 2011, p. 107)[8]

As discussões em torno das competências infocomunicacionais também consideram o manuseio de aparatos tecnológicos como subjacentes à competência em informação e a competência em comunicação quando trata das competências operacionais. Essas competências operacionais referem-se à capacidade operativa para usar e compreender as ferramentas tecnológicas, adaptando-as às suas necessidades. O emprego e desenvolvimento dessas competências favorecem as mediações pelas tecnologias de informação e comunicação.

Notas

  1. Tradução livre de: “The ability to critically self-access different competencies and to recognize one´s need for integrated literacies in today´s information environment is a metaliteracy. This metacognitive approach challenges a reliance on skills-based information literacy instruction and shifts the focus to knowledge acquisition in collaboration with others. The metaliterate individual has the capability to adapt to changing technologies and learning environments, while combining and understand relationships among related literacies. This requires a high level of critical thinking and analysis about how we develop our self-conception of information literacy as metacognitive learners in open and social media environments.”

Referências

  1. BORGES, Jussara; SILVA, L. O. . Competências infocomunicacionais em ambientes digitais. Observatorio (OBS*), v. 5, p. 291-326, 2011. Disponível em: <http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/508/460>
  2. BORGES, Jussara. Participação política, internet e competências infocomunicacionais: evidências a partir de organizações da sociedade civil de Salvador. 1. ed. Salvador: EDUFBA, 2013. v. 1. 260p . Disponível em:<http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12637>
  3. BORGES, Jussara. Participação política, internet e competências infocomunicacionais: evidências a partir de organizações da sociedade civil de Salvador. 1. ed. Salvador: EDUFBA, 2013. v. 1. 260p . Disponível em: <http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12637 >
  4. BORGES, Jussara. Competências infocomunicacionais na atuação política de organizações da sociedade civil. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, v. 7, p. 81-102, 2014.
  5. BORGES, Jussara; BRANDÃO, G. . Análise das competências infocomunicacionais a partir da metaliteracy: um estudo com arquivistas. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ONLINE), v. 45, p. 15-25, 2016. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/3798/3352>
  6. SIEMENS, G. Conociendo el conocimiento: Nodos Ele, 2010
  7. a b MACKEY, T.P.; T.E. JACOBSON. Metaliteracy: reinventing information literacy to empower learners. London: Facet, 2014
  8. PRIMO, A. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2011

Ver também editar

Padrões de Competência em Informação