Cristo Negro (escultura)

O Cristo Negro é uma escultura de autor desconhecido, datada do século XIV. Pensa-se que terá sido produzida numa oficina de Coimbra, destacando-se como uma das mais importantes peças escultóricas da arte portuguesa do período medieval.

Cristo Negro
Cristo Negro (escultura)
Autor Desconhecido
Data Século XIV
Género Escultura
Técnica Madeira policromada
Localização Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra

Características / Historial

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Cristo Negro
Cristo Negro

Proveniente do Oratório de S. João das Donas, anexo ao Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra, o Cristo Negro — madeira policromada, 284,5 x 140 x 61 cm –, faz parte do acervo do Museu Nacional de Machado de Castro (MNMC) desde 1915 e é hoje uma das peças emblemáticas em exposição permanente nesse museu conimbricense. Desconhece-se a autoria desta obra, quando e quem a encomendou, bem como o local exato onde foi executada. A sua denominação deriva da cor enegrecida que apresentava antes da última ação de restauro a que foi submetido e que lhe restituiu uma aparência mais próxima da original.[1]

A longa história de devoção associada ao Cristo Negro não despareceu aquando da extinção do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, prolongando-se até ao século XX. Em 1968, receando-se a morte do Chefe do Governo, Dr. Oliveira Salazar, foi o Cristo Negro pedido para Lisboa. O museu aproveitou a oportunidade para solicitar a recuperação da obra, que se encontrava muito danificada e aparentemente prejudicada por restauros antigos.[1]

Os estudos realizados pelo Instituto José de Figueiredo revelaram a existência de três intervenções anteriores, em diferentes datas, para consolidação da madeira, muito fragilizada por caruncho e humidade. Foi retirada a última camada, que adulterava os volumes e cromatismo da obra, mantendo-se as duas primeiras por serem menos extensas e intrusivas. "O Cristo então ressurgido, na cor próxima do original, revelou-se uma presença esmagadora, no seu dramático realismo".[1]

Os especialistas inclinam-se para que seja obra de um escultor português, embora sem excluir outras alternativas. "É nas representações do Crucificado da escola alemã trecentista que radica o realismo patético que o Cristo de S. João das Donas exibe. A cruz muito estreita obrigando ao cruzamento das pernas e à flexão do corpo; os pés cravados um sobre o outro, no alinhamento do eixo mediano, e voltados para fora; os braços erguidos em arco e o gesto abençoador das mãos; o tamanho e a forma de atar do perizonium; a ondulação dos cabelos e da barba são características comuns durante o séc. XIV, numa linha evolutiva com origem no século anterior. Nenhum dos Cristos de madeira, da mesma época atribuídos à produção nacional, iguala a qualidade técnica e estética desta peça".[1]

O Cristo Negro reflete as alterações ocorridas no final da Idade Média quanto à forma de representar e mesmo pensar a figura divina; "aspetos como a transubstanciação de Deus, o dogma da Encarnação e da realidade física de Deus enquanto homem entre os homens — ou seja, a realidade de Jesus, como entidade divina simultaneamente inscrita na História — levaram à generalização da representação de Cristo Crucificado, não já coroado e de olhos bem abertos, triunfando sobre a morte, mas antes a de um ser em agonia e dor, perante o sacrifício".[2]

Ligações externas

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Referências

  1. a b c d Alcoforado, Ana – Museu Nacional Machado de Castro. Aveleda, Vila do Conde; QUIDNOVI, 2011, pág. 28. ISBN 978-989-554-859-0
  2. Pereira, Paulo – Arte Portuguesa: História Essencial. Lisboa: Círculo de Leitores; Temas e Debates, 2011, p. 338. ISBN 978-989-644-153-1