O Cursilho (também conhecido como Movimento de Cursilhos de Cristandade) é um movimento eclesial de evangelização cristã.

Logotipo do Cursilho da Cristandade.

Origem editar

Surgiu na Igreja Católica Apostólica Romana, no seio da Ação Católica Espanhola do início do século XX.

Nos dias atuais, o movimento foi adaptado e se expandiu para outras denominações, sendo realizado também por diversas igrejas de confissão protestante, no mundo todo.

Catolicismo editar

No Brasil, o Cursilho foi trazido inicialmente à Arquidiocese de Campinas, tendo a primeira edição realizada na cidade de Valinhos, no ano de 1962.[1]

História editar

O Movimento de Cursilhos de Cristandade ou “Pequeno Caminho” - modo como era conhecido inicialmente -, teve seu início no singular contexto social, econômico, político e religioso da Espanha nas décadas de 1930-1940. Coube a iniciativa à Juventude da Ação Católica Espanhola (JACE) da Diocese de Palma de Maiorca (Ilha de Maiorca, Espanha), encorajada por seus assistentes eclesiásticos e por seu Bispo, D. Juan Hervás.

Participando de peregrinações promovidas pela JACE a destacados Santuários nacionais - especialmente a preparação e realização da grande Peregrinação de 100.000 jovens a Santiago de Compostela, em agosto de 1948 -, intuíram eles a “obra dos Cursilhos”. Aqueles cursillos ("cursinhos", em espanhol) eram feitos em preparação à peregrinação, ministrados a milhares de jovens por toda a Espanha. Com o sucesso da iniciativa, a prática foi repetida por vários outros anos, até ganhar estatuto de movimento eclesial, adotando direcionamento mais amplificado e assumindo identidade própria. Marcado por essa sua origem “peregrinante”, o MCC guarda, ainda hoje, algumas tradições típicas, como por exemplo, o uso do termo Ultreya (palavra espanhola derivada do latim com significado de "ir mais adiante", "caminhar mais além com entusiasmo") para designar encontros de cursilhistas, além de materiais como o “Guia do Peregrino” (pequeno livro de orações), utilizado sobretudo nos retiros.

Um eixo doutrinário específico, constituído pelo anúncio jubiloso do Evangelho, através de um método próprio - querigmático-vivencial - facilitaram a conversão entusiasmada de muitos jovens e sua inscrição nas fileiras da JACE. A conquista do mundo para Cristo era sua bandeira - o que denota, ainda, o caráter cristocêntrico do Movimento, mantido até hoje. Esse foi o objetivo específico daqueles primeiros Cursilhos, denominados “Cursilho de Formação e Apostolado” - o primeiro, em janeiro de 1949. Outros vieram na sequência, com o tema “Cursilhos de Juventude” e, por fim, “Cursilhos de Conquista”, em 1952-53.[2]

Alguns jovens sacerdotes da Diocese de Palma de Maiorca que trabalhavam com a Ação Católica e com a JACE, estavam naturalmente influenciados pelas ainda recentes Encíclicas Mystici Corporis (1943) e Mediator Dei (1947), do Papa Pio XII. Um deles chegara recentemente de Roma, após titulação de doutorado em Teologia e, segundo suas próprias palavras, "Tinha obsessão por explicar às pessoas a verdadeira dimensão do cristianismo a partir da consciência do que era a Graça de Deus", tendo levado "(...) à reunião dois tratados teológicos: De gratia Redemptoris ('Sobre a graça do Redentor', de Lennerz), e o volume correspondente da sinopse de Tanquerey".[carece de fontes?]

O Carisma editar

O Cursilho destaca-se por ser um Movimento eclesial voltado a um primeiro anúncio explícito do ideal evangélico apresentado por Jesus Cristo (kerigma), com o propósito de despertar novas lideranças - preferencialmente, cristãos batizados que estejam afastados da Igreja -, a fim de que se tornem evangelizadoras de suas realidades particulares (denominadas "ambientes").

O chamado carisma da organização, assim, volta-se ao alcunhado propósito de difundir o fundamental cristão através da "Evangelização de Ambientes".

Esse anúncio é feito por meio de palestras ("Mensagens", antigamente denominadas Rollos), proferidas por pessoas que já passaram pela experiência do retiro - equipe de "responsáveis", formada em geral, por cristãos de caráter Leigo (Cristianismo) -, apresentadas às pessoas que estão participando do encontro pela primeira vez (alcunhadas de "neocursilhistas").

O Método editar

A entrada do participante no Movimento se dá por meio da indicação de outras pessoas que já participaram do Cursilho e realiza-se em três fases ou etapas:

  • Pré-Cursilho ("PRÉ"), formado por uma metodologia na qual o candidato é introduzido ao carisma do MCC, Momento em que o candidato toma conhecimento da proposta que lhe será feita no Cursilho ( Segundo tempo do método). São os próprios cursilhistas (aqueles que já foram inseridos no movimento) os responsáveis por fazer a escolha, o convite e assumir ara si o compromisso de ser "padrinho"desse neo.
  • Cursilho, propriamente dito ("CUR"), retiro espiritual de dois ou três dias, nos quais a mensagem será proclamada;
  • Pós-Cursilho ("PÓS"), sequência na qual se espera que o novo cursilhista venha a dar vida às reflexões promovidas e aos propósitos assumidos, ambientado no contexto de suas realidades particulares e da Escola Vivencial do Movimento (ou outras pastorais, movimentos ou serviços da Igreja).

O estilo de proclamação da mensagem no CUR editar

O mecanismo característico de proclamação da mensagem do Movimento surgiu a partir do seu cunho vivencial, testemunhal, simples, honesto e transparente, ainda que o entusiasmo daí resultante pudesse tocar, de preferência, na emotividade das pessoas - o que não deixava de ser sumamente oportuno. Aos poucos, amoldou-se à tônica querigmático-vivencial, prevalecente até os dias de hoje.

Como projeto e iniciativa da JACE, a “obra dos Cursilhos” expandiu-se por quase todas as dioceses da Espanha - embora contasse, também, com muitos adversários, tanto no seio da própria Ação Católica, como do clero. Diante de Roma e dos demais Bispos da Espanha, D. Juan Hervás assumiu pessoalmente a responsabilidade pela obra, dando a ela apoio efetivo, orientação pastoral e defendendo-a das acusações de que era vítima. Isso lhe valeu a transferência da Diocese de Maiorca para a de Ciudad Real. Em Maiorca, os Cursilhos, postos sob suspeita, foram praticamente suspensos pelo sucessor de D. Hervás, Mons. Enciso Viana, enquanto alguns dos iniciadores eram reduzidos ao silêncio. A suspensão provisória durou até fins de 1957, quando então, após revisões, os Cursilhos voltaram a ser organizados.

Em 1953, na 15ª Assembleia Geral da JACE, tentando resolver dificuldades internas de relacionamento e de estrutura, D. Hervás deu àqueles cursillos o nome de "Cursilho de Cristandade": "(...) felicitação, sobretudo, por estes abençoados ‘cursilhos de Cristandade’, que têm a sorte, como Jesus Cristo, de ser ‘sinal de contradição, postos para tropeço e contradição de muitos’", foram suas palavras entusiasticamente aplaudidas (cf. CAPÓ, Jaime, Cursillos de Cristandad, Ed. Águas Buenas, Porto Rico, 1989).

Procurava-se explicar que o termo “cristandade” não tencionava caracterizar uma volta à Igreja medieval, mas de uma tentativa de fazer com que o mundo, “de costas para Deus” (como se dizia), se "transformasse em cristão”, pela ação de uma “cristandade”.

O Movimento prefigurou uma tendência culminada posteriormente nas reformas promovidas pelo Concílio Vaticano II.

O Método editar

O Cursilho utiliza-se, em sua estrutura, do Método VER-DISCERNIR-AGIR, inspirado no contexto da Ação Católica pelo Cardeal belga Josef-Léon Cardijn.

Por esse mecanismo, propõe-se uma análise conjuntural da realidade em que se insere o cursilhista (VER), posta à luz dos critérios de valores do Reino de Deus (DISCERNIR), a fim de que se direcione à assunção de um compromisso (AGIR), voltado à mudança do paradigma potencialmente negativo.

Toda a dinâmica de acontecimento dos fatos, contudo, é reservada à experiência do CUR, cujo conteúdo deve ser mantido em "sigilo" por seus participantes.

"Alavanca" editar

Durante a realização do CUR, comunidades do mundo inteiro permanecem em oração, pedindo a Deus pelo sucesso das atividades do retiro.

Essa prática é conhecida, no meio cursilhista, como "Alavanca", numa metáfora do que ela representa e do que dela se espera: que a intercessão da comunidade orante impulsione o ambiente em que se reúnem os participantes, a fim de que façam a experiência de um profundo encontro com Deus, transformador da própria vida e das realidades em que se vive.

Protestantismo editar

No meio protestante, vale salientar que, em 1972, alguns membros da Igreja Episcopal, com elementos de outras igrejas evangélicas, organizaram o primeiro cursilho ecumênico. Foi chamado de "Três Dias", porque a Igreja Católica não permitiu o uso do nome "Cursilho". Não obstante, o movimento "Três Dias" foi zeloso em seguir os princípios ortodoxos do movimento.

Em 1984, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, na Diocese do Recife, implanta este movimento a partir da Catedral Anglicana do Recife - Paróquia da Trindade, tendo como Deão o Rev. Paulo Garcia. Esse Reverendo e sua equipe implantaram o MCC - Movimento Cursilhista da Cristandade, estendendo-o a outras denominações, isto até o início do ano 2003. Daí, então temos a Igreja Episcopal Carismática do Brasil, cujo Arcebispo é Dom Paulo Garcia, dando continuidade a este ministério, que iniciou na década de oitenta, sendo o Arcebispo Dom Paulo um ícone do Movimento Cursilhista no Brasil.

Referências

Ligações externas editar