Deolinda Fonseca

pintora portuguesa (1954-)

Deolinda Fonseca (Porto, 1954)[1] foi [2] uma artista portuguesa radicada na Dinamarca desde 1979, ano em que concluiu a sua formação em Artes Plásticas na Escola Superior de Belas Artes do Porto.

Obra de Deolinda, Arcade of Memories, óleo sobre tela, 2010

Formação e actividade artística editar

Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian nos anos de 1973 a 1976. Em 1985 estudou com Poul Gernes na Academia Real de Copenhaga. Tem uma vasta experiência como professora e monitora de ateliers artísticos. Podem destacar-se os anos de ensino de crianças surdas-mudas entre 1976 e 1978, ainda em Portugal, os ateliers de pintura sobre seda desenvolvidos no Louisiana Museum of Modern Art, em 1995, aquando da apresentação de uma exposição de Arte Moderna Japonesa, e os ateliers organizados na Hendriksholm School, em 1998, baseados nas visitas realizadas à The David Collection of Islamic Art in Copenhagen. Ilustrou diversas publicações e trabalhou em cenografia e efeitos cenográficos para filmes de animação.

No âmbito da divulgação da cultura portuguesa na Dinamarca promoveu uma apresentação de livros e publicações da Fundação Calouste Gulbenkian na Biblioteca Central de Copenhaga, em 1996. Quando Copenhaga foi Capital Europeia da Cultura, em 1996, realizou diversas performances com pintura e uma grande instalação de pintura sobre seda na Biblioteca Central de Copenhaga. A performance interessou-a desde o início da sua carreira e, em 2002, faria uma performance no Museu Nacional da Dinamarca em colaboração com o Coro Feminino da DR (radiotelevisão dinamarquesa). A sua actividade como divulgadora cultural levou-a ainda a abrir uma galeria de arte em Esplanaden, Copenhaga, que dirigiu entre 1997e 2005, onde organizou diversas exposições de artistas dinamarqueses e estrangeiros, entre as quais uma exposição com 5 artistas do Porto. Em 2002 foi distinguida com a Ordem do Infante D. Henrique pela República Portuguesa.

Foi membro de duas importantes associações artísticas, em Portugal: Árvore (Cooperativa de Actividades Artísticas) e na Dinamarca: BKF (Sindicato dos Artistas Plásticos Dinamarqueses). Em Portugal é representada pela Galeria S. Mamede, em Lisboa e Porto. O Departamento de Arte da Biblioteca Central de Copenhaga dispõe de um vídeo sobre Deolinda Fonseca, “The More We say – The Less We See”, dirigido por Lars Brok em 1994. [3]

Obra e crítica editar

A sua obra oscila entre duas facetas dominantes: a primeira caracteriza-se pela abstracção próxima de um sentido expressionista que origina trabalhos de grande vitalidade e intensidade. A segunda aborda a figuração e traduz-se, essencialmente, numa actividade notável de retratista. Sobre a sua obra pronunciaram-se, ao longo do tempo, diversos críticos e historiadores de arte.

Fernando Guimarães [4] (Porto – Portugal, 1928), poeta, ensaísta e tradutor escreveu em 1993:

[…] é curioso constatar como os trabalhos mais antigos remetem sempre para um centro. Para uma espécie de sorvedouro donde não é possível qualquer regresso. [5]

Fátima Lambert [6] (1960), crítica de arte e professora universitária afirmou em 1999:

Deolinda Fonseca está efectivamente longe: vive na Dinamarca há longos anos e preserva as suas raízes portuguesas. A luz pulsátil que caracteriza a cromaticidade dos seus trabalhos não esconde uma certa nostalgia da situação geográfica portuguesa. […] O seu olhar de dentro que está fora e retorna, mostra-nos […] uma experiência de rememorização pouco comum. [7]

Laura Castro [8] (Gaia – Portugal, 1963), historiadora, crítica de arte e professora universitária escreveu em 2006:

Nenhum pintor escapa à sua genealogia por mais difusa ou diversificada que ela se apresente. A linhagem em que se integra Deolinda Fonseca é a desse expressionismo oscilante entre a abstracção e a figuração, desse expressionismo que articula o teor abstracto de fundos laboriosamente tratados com uma figuração dispersa e subtil, desse expressionismo cujo legado se impôs nos meados do século através de pintores norte-americanos e europeus.[9]

Sinne Lundgaard Rasmussen [10] doutorada em Estética, investigadora independente na área da arte, referiu-se do seguinte modo a Deolinda Fonseca:

[…] ser artista é estar consciente das suas escolhas e, ao mesmo tempo, deixar a pintura fluir livremente. Esta é a força das pinturas de Deolinda Fonseca. As escolhas de Deolinda são claras, mas, simultaneamente, deixa as suas pinturas ter vida própria.[11]

O sentido experimental de alguns dos projectos de Deolinda Fonseca também deve ser destacado. No projecto Flutuações, de 2009, Deolinda Fonseca, apresenta pintura sobre seda a que se reuniu a cumplicidade das animações digitais através da colaboração com Lars Brok. Laura Castro escreveu a respeito desta colaboração: No diálogo entre as duas linguagens artísticas tão distantes em termos artesanais, oficinais, tecnológicos e conceptuais […] instaura-se uma curiosa proximidade. […] No encontro de duas práticas culturais, do artístico ao visual assiste-se a uma experiência estética que valeria a pena aprofundar.[12]

Em 2010 foi publicado um importante livro sobre a sua obra, com textos de Laura Castro e de Sinne Lundgaard Rasmussen, em edição bilingue (português e inglês) que reúne obras de 1989 a 2010. [13]

Exposições individuais (selecção) editar

  • 1982 – Kunstforening Direcção dos Impostos
  • 1987 – Galleri Secher
  • 1985 – Møstings Hus
  • 1986 – Kunstforening do Banco Dinamarquês; Hospital de Herlev
  • 1988 – Kunstforening da Câmara Municipal de Ballerup; Casa da Cultura de Helsingør
  • 1988/1995 – I.C.L. Data Kunstforening
  • 1990/1992/1995/1997 – Louis Poulsen Kunstforening
  • 1991 – Câmara Municipal de Ishøj; Lundbeck Medico Kunstforening
  • 1992 –Representação da Amnestia Internacional em Casa da Cultura de Åbenrå; Biblioteca de Arte de Lyngby; Sindicato dos Dentistas Kunstforening
  • 1993 – Galleri Dragehøj; D.F.D.S. Kunstforening; Galeria Árvore (Porto – Portugal); Galleri Shambala
  • 1994 – Galleri Art Tegn; Sahva Kunstforening
  • 1995 – Biblioteca Central de Greve; Biblioteca Real Dinamarca; Biblioteca Central de Copenhaga
  • 1995/96 – Câmara Municipal de Hvidovre
  • 1996 – Biblioteca Central de Gladsaxe; Scandibrew Kunstforening
  • 1997 – Galleri Fonseca; Direcção geral do Comércio Kunstforening; Sadolin Akzo Nobel Decorative Coatings Kunstforening
  • 1997/1998/1999 – Skovlundegaard Kunstforening
  • 1998 – Galleri Dragehøj; Embaixada dos Estados Unidos
  • 1999 – Biblioteca Central de Copenhaga; Tryg Baltica Kunstforening
  • 2000 – Skovbo Kunstforening; Weibulls Kunstgalleri
  • 2001 – Instituto Camões – Sala Damião de Goes (Bruxelas – Bélgica); Biblioteca Central de Copenhaga; DRTV Kunstforening; Museu Casa Oficina António Carneiro, integrada no “Porto 2001, Capital Europeia da Cultura” (Porto Portugal); Morgenavisen Jyllands Posten Kunstforening; Akzo Nobel Kunstforening (Dk)
  • 2002 – Akzo Nobel Kunstforening (Suécia); Memória 25 de Abril, Instituto Camões, Centro Cultural do Luxemburgo; Direcção de Energia na Dinamarca; DRTV Kunstforening
  • 2003 – Sindicato dos Dentistas; Illums Bolighus; Galeria Símbolo (Porto – Portugal); Espaços Paralelos, Galeria Municipal de Albufeira (Portugal)
  • 2004 – Galeria do jornal diário Morgenavisen Jyllands Posten, Copenhaga
  • 2005 - Hospital de Hvidovre; Gallery Copenhagen; Deloitte & Touche Kunstforening
  • 2006 – Topologia Cromática, Galeria S. Mamede (Lisboa, Portugal)[14]
  • 2007 – Sincronismos do Olhar, Galeria S. Mamede (Porto, Portugal [15]
  • 2009 – Flutuações, Centro Cultural Português (Luxemburgo); Mind's Eye, Gallery Shorashim (Tel Aviv – Israel); Behind the Clouds, Rappaport Hall (Haifa – Israel)
  • 2010 – Danish Portraits, Galleri Nybro; Paisagens da Mente, Galeria S. Mamede (Lisboa, Portugal)
  • 2011 – Danish Portraits, Borup House of Culture Skovbo Kunstforening

Colecções em que está representada editar

  • Birkeroed Gymnasium
  • Electricians Association of Denmark
  • Embaixada de Portugal em Copenhaga
  • Embaixada de Portugal em Tel Aviv
  • Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
  • Hospital de Hvidovre
  • Instituto Camões – Bruxelas e Luxemburgo
  • Nithona Foundation’s collection at Roennebaeksholm Museum
  • Colecções privadas em Portugal, Espanha, Bélgica, Luxemburgo, França, Suécia, Noruega, Dinamarca, Reino Unido, Irlanda e E.U.A.

Referências

  1. Lista de artistas - Visual Arts Centre in the Danish Arts Agency e Danish Arts Council’s Committee for International Visual Arts: http://www.kunstdk.dk/artist/deolinda_fonseca/
  2. Facebook - Publicação Funeral: https://www.facebook.com/DeolindaFonsecaVisualArtist/posts/pfbid02P6jZNVhwHEmS5gzprkxKaAMRyTGYu9fHCsDd6tDD2hpYJHFXT8aNNArj8R3EN8Jxl?locale=da_DK
  3. http://www.larsbrok.dk/Filmografi.html
  4. Fernando Guimarães. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-12-18]; http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/guimara.htm
  5. GUIMARÃES, Fernando. Deolinda Fonseca. Porto: Árvore, 1993 [catálogo de exposição].
  6. http://ipp.academia.edu/MariadeFatimaLambert
  7. LAMBERT, Fátima. Deolinda Fonseca, Francisco Laranjo, Sebastião Resende, Sobral Centeno 1979-1999. Porto: Galeria Alvarez, 1999 [catálogo de exposição]. Entrada de catálogo da Biblioteca de Arte da FCGulbenkian: http://www.biblartepac.gulbenkian.pt/ipac20/ipac.jsp?session=132511168H0U4.55100&profile=ba&source=~!fcgbga&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!160633~!1&ri=1&aspect=basic_search&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=Deolinda+Fonseca&index=.GW&uindex=&aspect=basic_search&menu=search&ri=1#focus
  8. Curriculum vitae – Laura Castro: http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=4382481107933757
  9. CASTRO, Laura. Deolinda Fonseca. Topologia Cromática. Lisboa: Galeria S. Mamede, 2006 [catálogo de exposição].
  10. http://independent.academia.edu/SinneLundgaardRasmussen
  11. RASSMUNSSEN, Sinne Lundgaard. "Deolinda Fonseca – Abstract Paintings". In Deolinda Fonseca. Paisagens da mente. Representação e Abstracção. Lisboa, Galeria S. Mamede, 2010; http://independent.academia.edu/SinneLundgaardRasmussen
  12. CASTRO, Laura. Deolinda Fonseca. Flutuações. Luxemburgo: Instituto Camões, 2009 [catálogo de exposição]. http://www.instituto-camoes.pt/comunicacao/encarte-jl/1224-as-tres-vidas-de-uma-pintura Arquivado em 2012-09-09 na Archive.today
  13. Deolinda Fonseca. Paisagens da mente. Representação e Abstracção. Lisboa, Galeria S. Mamede, 2010. http://br.blurb.com/bookstore/detail/1340877
  14. Entrada de catálogo da Biblioteca de Arte da FCGulbenkian: http://www.biblartepac.gulbenkian.pt/ipac20/ipac.jsp?session=132511168H0U4.55100&profile=ba&source=~!fcgbga&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!192605~!2&ri=1&aspect=basic_search&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=Deolinda+Fonseca&index=.GW&uindex=&aspect=basic_search&menu=search&ri=1#focus
  15. Entrada de catálogo da Biblioteca de Arte da FCGulbenkian: http://www.biblartepac.gulbenkian.pt/ipac20/ipac.jsp?session=132511168H0U4.55100&profile=ba&source=~!fcgbga&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!218346~!4&ri=1&aspect=basic_search&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=Deolinda+Fonseca&index=.GW&uindex=&aspect=basic_search&menu=search&ri=1#focus

Ligações externas editar