Discussão:Behaviorismo radical

O Behaviorismo Radical é uma forma de behaviorismo praticada por B.F.Skinner e adotada por vários outros psicólogos: Ferster, Sidman, Schoenfeld, Catania, Hineline, Jack Michael, etc. Constitue-se numa interpretação filosófica (isto é, baseada numa ideologia) de dados obtidos através da investigação sistemática do comportamento (o corpo desta investigação propriamente dita é a Análise Experimental/Funcional do Comportamento).

Esta interpretação descreve basicamente relações funcionais entre Comportamento e Ambiente (isto é, relações entre discriminações de mudanças na realidade observada e descrições das condições em que essas mudanças se dão) (como produto temos, não explicações realistas, não relações de causa-efeito, não leis baseadas no modelo da Física Mecânica de troca de energia, e sim a construção de seqüências regulares de eventos que eventualmente poderão ser descritas por funções matemáticas).

O behaviorista radical rejeita o mentalismo por ser materialista, e acaba com o dualismo por acreditar que o comportamento é uma função biológica do organismo vivo. Não preciso da mente para respirar, não explico a digestão por processos cognitivos, porque explicaria o comportamento por um ou outro?

O behaviorista radical propõe que existam dois tipos de transações entre o Comportamento e o Ambiente:


a) conseqüências seletivas (que ocorrem após o comportamento e modificam a probabilidade futura de ocorrerem comportamentos equivalentes, i.e., da mesma classe);

b) contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser afetado por suas conseqüências (e que portanto ocorreriam antes do comportamento e que igualmente afetariam a probabilidade desse comportamento).


Estas duas classes possíveis de interações são denominadas "contingências" e constituem as duas classes conceituais fundamentais para a análise do comportamento. Relações funcionais são estabelecidas na medida em que registramos mudanças na probabilidade de ocorrência dos comportamentos que procuramos entender em relação a mudanças quer nas conseqüências, quer nos contextos, quer em ambos.

Por lidarmos com explicações funcionais e não causais, o importante é coletar informações ao longo do tempo, repetidas do mesmo evento, com os mesmos personagens (o behaviorista metodológico prefere observações pontuais em diferentes sujeitos, ou seja, o estudo em grupo, o que leva à estatística para descrever e/ou anular a variabilidade. Para o radical isto é uma heresia, de vez que estou tentando estudar a experiência daquele sujeito. Ao coletarmos registros ao longo do tempo devemos comparar o sujeito consigo mesmo, sua história passada é sua linha de base.

Mas, por outro lado, indivíduos de uma mesma espécie partilham de um mesmo conjunto de contingências filogenéticas, e indivíduos com histórias passadas semelhantes podem partilhar de contingências ontogenéticas semelhantes e, portanto, para certas variáveis é possível descrever funções semelhantes para diferentes indivíduos.

Para sua rejeição do mentalismo/cognitivismo como explicação do comportamento, e por sua posição não reducionista diante de eventos neurais (Skinner não aceita que eventos fisiológicos/neurológicos expliquem o comportamento, estas são outras tantas funções biológicas a serem explicadas. O comportamento é um campo de estudo em si mesmo. Evidentemente que há interação entre essas funções do organismo, mas essa relação não é de causalidade.) O behaviorismo radical é considerado um ambientalista e acusado de esvaziar o organismo, de estudar uma caixa preta... Não! Estas críticas se originam de uma postura pré-galileica, do que poderíamos chamar organocentrismo em Psicologia. O homem é o fenômeno de interesse, é a origem de todas as coisas, não sua interação com o universo. Para Skinner, o organismo não é nem gerente nem iniciador de ações, é o palco onde as interações Comportamento-Ambiente de dão.

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