Elena é um documentário brasileiro de 2012 dirigido por Petra Costa. A obra é baseada na vida de Elena Andrade – irmã mais velha de Petra, que havia se mudado para Nova Iorque com o sonho de ser atriz.[1][2][3]

Elena
Elena (filme)
 Brasil
82 min 
Direção Petra Costa
Produção Busca Vida Filmes
Roteiro Petra Costa, Carolina Ziskind
Cinematografia Janice D'Avila, Will Etchebehere, Miguel Vassy
Direção de arte Alonso Pafyeze, Lorena Ortiz, Martha Kiss
Edição Marilia Moraes, Tina Baz
Lançamento Brasil 10 de maio de 2013, Países Baixos novembro de 2012
Idioma português

Com roteiro de autoria de Petra Costa e Carolina Ziskind, depoimentos, ensaios fotográficos, imagens de arquivo e entrevista com a diretora, o primeiro documentário longa metragem de Petra[4][5] foi premiado em diversos festivais, dentre eles, o Festival de Brasília, Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, o Festival Internacional de Documentários da Croácia, o Los Angeles Brazilian Film Festival, o Festival de Havana e Festival Internacional de Cinema de Arquivo.[6]

Sinopse

editar

Elena Andrade decide sair do Brasil, onde cresceu na clandestinidade durante a ditadura militar e teve uma adolescência vivida entre peças de teatro e filmes caseiros, e viaja para a cidade de Nova Iorque em busca de se estabelecer como atriz. Contra a vontade da mãe, Petra, sua irmã mais nova e também uma aspirante a atriz, seguiu os passos de Elena e, anos mais tarde, se muda para Nova Iorque para estudar teatro na Universidade de Columbia. Narrados pela própria cineasta, o filme conta com farto material de arquivo entre filmes caseiros, recortes de jornais, diários e trechos de cartas.

Produção

editar

A ideia de fazer um filme sobre a irmã surgiu quando a diretora Petra Costa tinha 17 anos e encontrou, em casa, um antigo diário de Elena, escrito quando ela tinha a mesma idade, 13 anos antes. "Tive a estranha sensação de estar lendo palavras minhas, como se aquele diário fosse meu", diz Petra. A identificação foi enorme.[7] Na mesma época, a leitura de Hamlet e a descoberta de Ofélia[8][9] também serviram de inspiração, bem como assistir ao filme Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodansky[10] - que, entre outros assunto, trata do rito de passagem para a vida adulta, embora do ponto de vista dos rapazes. O projeto do filme permaneceu em banho-maria por dez anos, sendo elaborado pouco a pouco. Durante esse tempo, Petra se envolveu em outros trabalhos, dirigiu o premiado curta Olhos de Ressaca, até finalmente se sentir preparada para mergulhar nas memórias da irmã.

Petra encontrou cerca de 50 horas de filmes caseiros feitos pela irmã,[11] das quais ao menos 20 horas haviam sido gravadas no ano em que ela, Petra, nasceu. Foi quando Elena, aos 13 anos, ganhou sua primeira câmera. Em seguida, Petra entrevistou cerca de 50 familiares e amigos de Elena, totalizando algo em torno de 200 horas de material.[12] Quando foi à Nova York, levou consigo uma agenda de telefone com os antigos contatos da irmã e pôs-se a procurar todas as pessoas que estavam ali, uma por uma, buscando os nomes na internet e nas redes sociais. O longa finalmente começou a tomar corpo e a ganhar o aspecto definitivo quando a diretora decidiu inserir-se na cena, como personagem e documentarista, gravando também seu percurso e estruturando o roteiro em parceria com Carolina Ziskind.[13]

Além de Nova York e São Paulo, algumas cenas de Elena foram rodadas na Bahia e também em Barra do Una, no município de São Sebastião, no litoral paulista. Foram dois anos e meio de produção até a première, no 45o Festival de Brasília, em setembro de 2012, onde Elena ganhou os prêmios de melhor direção, direção de arte, montagem e de melhor filme, segundo o júri popular, e todos os prêmios da categoria documentário.[14]

Recepção

editar

Crítica

editar

De acordo com o site AdoroCinema, Elena teve uma pontuação média de 3,9 de cinco estrelas dentre nove críticas sondadas, todas veiculadas na imprensa brasileira.[16] O cineasta Eduardo Escorel, da revista Piauí, recebeu bem o filme, sustentando que "a narrativa complexa e delicada de Elena flui de forma harmoniosa, articulando com maestria materiais heterogêneos, sem se tornar lúgubre".[8] Luiz Zanin, d'O Estado de S. Paulo, considerou o filme "emocionante", ponderando que o filme é uma "reflexão sobre a função da memória",[17] enquanto Roberto Guerra, do Cineclick, considerou Elena "carregado de lirismo e poesia".[18]

Alysson Oliveira, do site Cineweb, entretanto, julgou o documentário "frágil", notando alguns excessos em certas cenas "[repletas] de composições visuais que se esvaziam em si mesmas".[19] Sérgio Alpendre, da Folha de S. Paulo, apontou para a tentativa de "atingir alguma universalidade" na exposição da angústia da autora e criticou o que ele percebeu como um "exagero de doçura" de certas sequências do filme.[20]

Prêmios

editar
Ano Prêmio Categoria
2012 Festival de Brasília (Brasil)[18] Melhor Documentário (Júri Popular)
Melhor Direção
Melhor Montagem
Melhor Direção de Arte
2013 Festival Internacional de Cinema de Guadalajara (México)[15] Menção Especial
ZagrebDox: Festival Internacional de Documentários (Croácia)[15] Menção Especial
Films de Femmes (França)[15] Melhor Documentário
Planete+ Doc Film Festival Varsóvia (Polônia)[15] Prêmio Canon de Cinematografia
Cine Música – Festival de Cinema de Conservatória (Brasil)[15] Melhor Música Original
Los Angeles Brazilian Film Festival (Estados Unidos)[15] Melhor Documentário
Festival de Havana (Cuba)[15] Melhor Documentário
2015 Arquivo em Cartaz (Brasil)[21] Melhor filme de longa-metragem


Referências

  1. «Petra Costa faz retrato afetivo da irmã morta precocemente em documentário». O Globo. 10 de maio de 2013. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  2. «Diretora de "Elena" diz que filme é íntimo e também universal». Folha de S.Paulo. 11 de maio de 2013. Consultado em 12 de novembro de 2020 
  3. Eliana Brum (25 de junho de 2013). «Petra». Revista Época. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  4. Flavia Guerra (8 de maio de 2013). «A falta que nos move». O Estado de S.Paulo. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  5. Stephen Holden (29 de maio de 2014). «Searching for Her Sister, as Well as for Herself». O Estado de S.Paulo. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  6. «Elena - Awards». IMDb. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  7. Busca de diretora por irmã encerra mostra de documentários em Brasília. G1, 23 de setembro de 2012
  8. a b Eduardo Escorel (6 de maio de 2013). «Seja bem-vinda, Elena». Piauí. Consultado em 15 de junho de 2013 
  9. 5 questions with Petra Costa.Filmmaker Magazine
  10. 5 Major Influences From Petra Costa. Tribeca Film Institute
  11. Memória inconsolável[ligação inativa]. Tribuna de Minas
  12. Petra Costa no Metrópolis. Metrópolis, TV Cultura
  13. A arte de transformar a dor. Harper´s Bazaar
  14. Documentários em que diretores resgatam a história de parentes viram fenômeno. O Globo, 24 de novembro de 2012
  15. a b c d e f g h «Elena (site oficial)». Consultado em 15 de junho de 2013 
  16. «Elena: críticas da imprensa». AdoroCinema. Consultado em 15 de junho de 2013 
  17. Luiz Zanin (10 de maio de 2013). «Elena, ou o que os mortos têm a dizer aos vivos». O Estado de S. Paulo. Consultado em 15 de junho de 2013 
  18. a b «Elena - Cineclick». Cineclick. Consultado em 15 de junho de 2013 
  19. Alysson Oliveira (8 de maio de 2013). «Elena - Crítica Cineweb». Cineweb. Consultado em 15 de junho de 2013 
  20. Sérgio Alpendre (10 de maio de 2013). «Crítica: Documentário "Elena" traz jorro de imagens impressionistas». Folha de S. Paulo. Consultado em 15 de junho de 2013 
  21. Silveira, Mariana Monteiro da (2016). «Mostra Competitiva». Revista Arquivo Em Cartaz. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. p. 116. Consultado em 4 de dezembro de 2020 

Ligações externas

editar