Formalismo russo: diferenças entre revisões

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Sob o domínio de [[Stalin]] o formalismo tornou-se termo pejorativo.
 
O formalismo russo foi um movimento múltiplo, que não produziu uma doutrina unificada e nem um consenso entre seus participantes. O "formalismo russo" descreve dois movimentos distintos: o [[OPOJAZ]] (''Obscestvo izucenija Poeticeskogo Jazyka'' - Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética) de [[São PetesburgoPetersburgo]] e o [[Círculo Linguístico de Moscou]], de [[Moscou]]. Assim é mais preciso referir-se aos "formalistas russos" do que usar um termo mais amplo e vago como "formalismo".
 
O termo "formalismo" foi usado primeiramente pelos adversários do movimento com um significado explicitamente rejeitado pelos formalistas. Nas palavras de um dos mais ilustres formalistas, Boris Eichenbaum: "É difícil recordar quem criou este nome, mas não foi uma criação muito feliz. Deve ter sido conveniente como um grito de guerra simplista, mas ele falha, como um termo objetivo, ao delimitar as atividades da 'Sociedade para o Estudos da Linguagem Poética'."
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Dois princípios gerais fundamentam o estudo formalista de literatura: primeiro, a literatura por ela mesma, ou especialmente, as características que a distinguem de outras atividades humanas devem constituir o objeto de inquisição da [[teoria literária]]; segundo, 'fatos literários' têm de ser priorizados sobre os compromissos metafísicos da crítica literária (sejam filosóficos, estéticos ou psicológicos) (Steiner, "Russian Formalism", p. 16). Para alcançar esses objetivos muitos modelos foram desenvolvidos.
 
Os formalistas concordaram sobre a natureza autônoma da linguagem poética e sua especificidade como um objeto de estudo da crítica literária. Seu principal empenho consistia em definir um conjunto de propriedades características da linguagem poética (seja ela [[poesia]] ou [[prosa]]) que pudesse ser reconhecida por sua "articidade" (''artfulness'') e conseqüentementeconsequentemente assim analisá-la.
 
==Formalismo mecanicista==
[[Imagem:Sklovsky.jpg|thumb|right|200px|[[Viktor Chklovsky]] (1893–1984) considerado o pai do formalismo russo.]]
O OPOJAZ (Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética), grupo liderado por [[Viktor Chklovsky]], era primariamente preocupado com o método formal e focado na técnica e no dispositivo. "Obras literárias, de acordo com esse modelo, assemelham-se a máquinas: elas são o resultado de uma atividade humana intencional na qual uma habilidade específica transforma matéria bruta num mecanismo complexo adequado para um propósito particular" (Steiner, "Russian Formalism", p. 18). Esse tipo de visão despe o artefatoartefa(c)to literário de sua conexão com o [[autor]], leitor, e momento histórico.
 
Uma ilustração clara disso pode ser dada pelo argumento principal de um dos textos mais recentes de Viktor Chklovsky, "Arte como Procedimento" (Iskusstvo kak priem, 1916): arte é a soma de dispositivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua obra (in  Teoria da Literatura; Formalistas Russos. Porto Alegre: Globo, 1973).
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Os formalistas não procuravam concordam entre si em qual seria este "dispositivo" (''priem''), nem em como esses dispositivos são usados ou como eles devem ser analisados em determinado texto. A ideia central é a descoberta dos procedimentos que caracterizam a linguagem poética.
 
Alguns membros do OPOJAZ discutiram e defenderam que a linguagem poética era o maior dispositivo artístico. Chklovsky, entretanto, insistiu que nem todos os textos artísticos desfamiliarizam a linguagem, alguns deles chegam aoà desfamiliarizamentodesfamiliarização ou "estranhamento" manipulando a composição e a [[narrativa]].
 
O movimento formalista tentou sistematicamente distinguir entre [[arte]] e não-arte. Por isso, suas noções são organizadas em termos de oposições polares. Uma das dicotomias mais famosas introduzidas pelo formalismo mecanicista é a distinção entre história e enredo, ou ''fabula'' e ''sjuzhet''. História (''fabula'') é uma sequência cronológica de eventos, enquanto o enredo (''sjuzhet'') pode desdobrar-se em ordem não-cronológica. Os eventos podem ser arranjados de forma artística por meio de dispositivos como repetição, [[paralelismo]], [[gradação]] e retardamento.
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Desapontados pelos constrangimentos do método mecanicista, alguns formalistas adotaram o modelo orgânico. "Eles utilizaram a similaridade entre corpos orgânicos e o fenômeno literário em duas formas diferentes: ela aplicada ao trabalho individual e aos gêneros literários" (Steiner, "Russian Formalism", p. 19).
 
Um artefatoartefa(c)to, como um organismo biológico, não é um todo desestruturado, suas partes são hierarquicamente integradas. Daí a definição de dispositivo foi estendida para sua função no texto. "Enquanto a oposição binária - material ''versus'' dispositivo - não explica a unidade orgânica de trabalho, Zhirmunsky a complementou em [[1919]] com um terceiro termo, o conceito ''[[teleologia|teleológico]]'' de ''estilo'' como a união de dispotivos" (Steiner, "Russian Formalism", p. 19).
 
A analogia entre [[biologia]] e [[teoria literária]] forneceu a estrutura de referência para o estudo do estilo. "Assim como cada organismo individual compartilha certas características com outros organismos do seu tipo, a obra individual é parecida com outras obras de mesma forma e formas literárias homólogas pertencem ao mesmo estilo" (Steiner, "Russian Formalism", p. 19). A obra mais conhecida dessa tradição é ''Morfologia do Conto Popular'', de [[Vladimir Propp]] (1928).