Travis Hirschi: diferenças entre revisões

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A teoria de Hischi parte do crime já cometido e dos indivíduos que já foram autores de crimes e procura características comuns entre estes que a sociedade identifica como criminosos. Posto isso, busca analisar, a partir de estatísticas, eventuais relações entre a prática de crimes e essas características. Identificar características que compõe frequentemente o perfil do criminoso mas que não parecem guardar qualquer relação de causa e consequência com a prática de crimes em si, se abstém de investigar a razão para que a figura do criminoso, da pessoa mais frequentemente identificada como tendo cometido práticas criminosas, inclui essas características. Escapam à sua teoria, assim, fatos que restam inexplicados pelos fatores que influenciariam os indivíduos de forma a levá-los a cometer práticas criminosos, como por exemplo a marcante predominância de setores pauperizados da população no cárcere, e dependendo do local a predominância de setores identificados com determinada raça ou etnia no cárcere. Desta forma, pode-se considerar que a ausência da consideração de explicações ligadas à formação e composição da sociedade, dando lugar apenas a elementos que induziriam indivíduos isoladamente a cometer crimes, afetando cada um deles, sem a cogitação de explicações maiores e estruturais do que o que levaria cada indivíduo à ação tida como criminosa, é algo a ser problematizado nas teorias elaboradas por Hirschi.
 
== A Teoria do Controle Social em CausesCausas ofde DelinquencyDelinquencia <ref>Hirschi, T. (1969). Causes of Deliquency. Berkeley, Los Angeles, London: University of California Press.</ref> ==
Em seu livro Causes of Delinquency, Travis Hirschi apresenta sua Teoria do Controle Social. A teoria criminológica apresentada pelo autor busca explicar as causas do crime, alocando-as na sociedade, o que insere sua teoria em uma linha de Criminologia Etiológica Social. A teoria do autor traz muito do pensamento do Durkheim, uma vez que considera que o indivíduo comete o delito quando há uma ruptura ou afrouxamento dos laços sociais. Do pensamento durkheimeano também traz para sua teoria os grupos que considera mais essenciais para se estar vinculado: família, nação e humanidade.
=== Metodologia ===
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Hirschi apresenta os elementos dos laços sociais que influem na prática de crime, mas também afirma que o rompimento desses laços não significa que o indivíduo necessariamente virá a cometer crime, mas que há uma maior chance de que venha a cometê-lo. Dessa forma, o autor mostra que ainda que busque a causa da prática do crime, as determinações que apresenta influenciam e criam tendência, mas não são totalmente determinantes.
 
==== AttachmentLigamentos tocom Parentsos Pais: ====
Hirschi analisa, através dos dados coletados, a influência do vínculo com os pais na prática da criminalidade. Afirma que jovens com menor preocupação com a expectativa e a reação dos pais quanto ao seu comportamento têm um reduzido controle sobre si, o que traz uma maior tendência à criminalidade. Essa maior tendência à pratica de delitos também se expressa nas hipótese em que há uma redução na comunicação entre pais e filhos, principalmente quanto à ciência dos pais sobre o comportamento dos filhos. Hirschi considera que o vínculo emocional que liga pais e filhos funciona como uma ponte pela qual são repassadas expectativas e ideais dos pais para os filhos. Na medida em que este vínculo é fraco, a criança não terá contato suficiente com as regras morais da sociedade, ela não desenvolverá o superego, a consciência socialmente adequada, portanto estará mais apta a cometer crimes, uma vez que não internalizou as normas, a crença moral que leva as pessoas a se adequarem às leis estabelecidas.
Acredita-se que as crianças que têm um vínculo mais forte com os pais são menos propensas a cometer crimes pois passam a maior parte do tempo ao lado deles. Mas não é só isso, quando estão distantes fisicamente, permanecem ligadas psicologicamente aos pais, sempre acham que eles sabem onde e com quem estão. Dado isso, quando aparece a tentação de cometer um crime, sempre pensam nas consequências que ele pode trazer, por estarem ligadas psicologicamente aos seus pais e se preocuparem com o que eles pensam.
Hirschi refuta a variante da ''cultural deviance theory'', que diz que quando os pais têm traços criminosos, principalmente aqueles que pertencem às classes mais baixas da sociedade, os filhos estão mais propensos a cometer crime quanto maior o vínculo com seus pais, pois seriam influenciados pela atitude deles. Para essa teoria, então, quando os pais têm traços criminosos, um vínculo mais fraco indicaria menores chances dos filhos cometerem crimes. Travis, por meio da sua pesquisa e de sua base de dados estatísticos, indica que tanto para filhos de pais de classe social baixa e com ‘valores criminosos’ quanto para filhos de famílias convencionais a influência do vínculo parental é a mesma: quando forte, reduz a chance de que o filho praticará crime.
 
==== AttachmentLigamento tocom thea SchoolEscola: ====
Hirschi busca pensar, então, a influência que poderia ter a relação entre o indivíduo e a escola na prática de delitos. O autor traça uma hipótese que sugere, apoiada nos dados empíricos que traz, a existência de uma ''causal chain'', uma cadeia de fatores que influenciam outros que, por sua vez, influenciam na prática da criminalidade. No caso, a conclusão a que chega o autor é de que a relação entre o vínculo da pessoa com a escola e a prática de delitos parte da própria aptidão, ou competência, da pessoa para a atividade acadêmica, ou escolar. A falta de aptidão para as atividades escolares teria influência sobre a relação da pessoa com a escola, posto que dada essa ausência, a pessoa tende a não gostar da escola e ter uma má relação com a escola. O não gostar da escola, por sua vez, mostrar-se-ia, estatisticamente, associado à rejeição da escola quanto autoridade (alguém com legitimidade para controlar, apresentar regras a serem seguidas), o que, por fim, mostrar-se-ia como um fator influente na prática de atos criminosos.
 
==== AttachmentLigamento tocom Peersos colegas: ====
Hirschi analisa a relação que poderia haver entre a prática de atos criminosos e os vínculos das pessoas com seus colegas. Algumas hipóteses envolvendo suposições sobre o vínculo das pessoas com os colegas, e ao mesmo tempo com os pais, são refutadas pelas estatísticas apresentadas. Centralmente, o autor pensa como poderiam se relacionar o vínculo da criança com seus colegas, seu vínculo com seus pais, a importância da opinião de cada um desses, a relevância e a importância que a pessoa dá aos padrões e comportamentos sociais (stakes in conformity), o pertencimento da pessoa a grupos em que seus colegas seriam ou não delinquentes, e, enfim, a prática de atos criminosos em si. O autor apresenta diagramas que representariam hipóteses ideais acerca da relação entre ''low stakes in conformity'' (dar pouca importância aos padrões e comportamentos sociais), possuir colegas delinquentes e a prática de atos criminosos, conforme a teoria do controle social e conforme teorias cuja análise associa mais essencialmente a prática de crimes a uma suposta cultura adolescente, ou a supostas subculturas ligadas à delinquência. Estas últimas supõe uma ligação direta de causa e consequência entre possuir colegas que cometem crimes e não se importar com os padrões e comportamentos sociais e uma ligação direta entre possuir colegas que cometem crimes e cometer crimes. Assim, são teorias que derivam a prática de atos criminosos, e outros fatores que levariam à prática de atos criminosos, sempre do possuir colegas que praticam atos criminosos, do ser parte de um grupo de pessoas que pratica atos criminosos (''gang, por exemplo). A hipótese ideal proposta pela teoria do controle social, por sua vez, difere disso, pois apresenta o possuir colegas que cometem cr''imes e a própria prática de atos criminosos como derivadas do "dar pouca importância aos padrões e comportamentos sociais" (''low stakes in conformity''). Ao levar em conta os dados empíricos, Hirschi sugere revisar esse modelo para incluir a forte relação observada entre ter colegas que praticam crimes e a prática de crimes. Por fim, também com base nos dados apresentados, o autor refuta o modelo ideal proposto pela ''cultural deviance theory'', que insere o possuir colegas que cometem crimes como um intermediário entre outros fatores, como a atitude das pessoas diante das instituições convencionais, e a prática de atos criminosos. Hirschi sustenta, com base nos dados, que há uma relação entre adquirir ou possuir colegas que cometem crimes e cometer crimes, mas sustenta que há também outros fatores que levam à prática de crimes, a exemplo da importância dada pela pessoa aos padrões e comportamentos sociais, ou às instituições convencionais.
Travis conclui, diante dos dados estatísticos, de que não se pode desprezar o efeito das amizades e relações interpessoais na prática de atos criminosos, mas ao mesmo tempo inclui essa entre outras variáveis que podem ter influência sobre a delinquência. A criança que dá pouca importância aos padrões e convenções sociais, em seu ambiente, é mais suscetível a influências pró atos delinquentes, enquanto a criança que dá mais relevo às instituições convencionais e padrões de comportamento sociais tende a ser menos atingida por essas influências. Ao mesmo tempo, quanto maior a exposição da pessoa a influências pró-criminalidade, maior a diferença que pode haver, na tendência à prática de atos criminosos, entre crianças que dão pouco ou muito valor aos padrões sociais e instituições convencionais.
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Essa variante diz respeito ao comprometimento da criança com as linhas convencionais de ação da sociedade. Hirschi afirma que adolescentes que se comportam como adultos (fumam, bebem, namoram), estão mais propensos a cometer crimes, pois estas atitudes indicam falta de comprometimento com o comportamento que seria o adequado para a idade deles, uma lacuna no comprometimento com o sistema educacional. Demonstram a vontade de pertencer a um círculo do qual ainda não fazem parte, comportando-se como adultos, mas não assumindo a responsabilidade que isso acarreta. Desta forma, estes jovens vão de encontro com as expectativas dos adultos e da sociedade como um todo, sentindo-se mais livres para cometerem crimes, pois os laços que os prendiam à ordem convencional foram quebrados. O autor também analisa quais são as expectativas/aspirações das crianças em relação ao futuro ou à vida escolar, concluindo que quanto maiores são as aspirações/expectativas, menor a chance de elas cometerem crimes. Isso significa que quanto maior o comprometimento com a educação (commitment to education), menor a chance do jovem cometer crimes.
 
==== InvolvementEnvolvimento incom ConventionalAtividades ActivitiesConvencionais: ====
Hirschi afirma que algumas atividades convencionais são neutras no que concerne à delinquência: nem inibem-na, nem promovem-na. A análise do envolvimento em atividades convencionais está intimamente ligada ao comprometimento nessas atividades, este sim um índice adequado para verificar a probabilidade de um jovem cometer crime. O envolvimento com a escola, por exemplo, é medido de acordo com o tempo que a criança gasta fazendo a lição de casa: quanto mais tempo passam se dedicando a esta tarefa, menor a chance de que cometam crimes. Além de limitar o envolvimento em atividades que conduzem à delinquência, o autor afirma que o tempo gasto na lição de casa, quando elevado, indica que o jovem tem alto nível de comprometimento com as atividades convencionais, portanto maior dedicação escolar. Quanto mais a criança sente que não tem nada para fazer ou nada que ela queira fazer, maior as chances de ela cometer atos delinquentes. Outra conclusão que Travis tirou de sua pesquisa foi que meninos que ficam passeando de carro frequentemente (normalmente sem destino), estão mais propensos a cometer crimes do que aqueles que não praticam esta atividade.
 
==== BeliefCrença: ====
Adeptos da teoria do controle, como Travis Hirschi, concordam que a delinquência não é causada por crenças que exijam ou estimulem a delinquência, mas ela se torna uma possibilidade diante da ausência de crenças efetivas em normas ou dogmas que a proíbam. Quanto mais forte a criança está ligada à ordem convencional, maiores as chances de ela acreditar e seguir as regras, portanto menor chance de ela utilizar técnicas de neutralização. Para explicar a influência das crenças na prática de atos delitivos, Travis Hirschi fala sobre estas técnicas de neutralização, que funcionam como neutralizadoras do controle social. Jovens acreditam em diferentes níveis que eles devem seguir as leis. Aqueles que acreditam que não necessariamente devem, apresentam maiores chances de cometerem crimes. No entanto, o fato de um jovem acreditar que deve seguir as leis, não indica que ele não cometerá crimes. Existem técnicas de neutralização utilizadas para fazer o ato delitivo parecer menos grave; funciona como uma espécie de justificativa interna, pessoal, para a prática do crime. São elas: negação da responsabilidade (denial of responsability), negação da lesão (denial of injury), negação de que houve vítima (denial of the victim), condenação daqueles que condenam, ou culpabilização daqueles que condenam (condemnation of the condemners). Para o autor, a prática do ato criminoso normalmente vem antes das tentativas de justificá-lo com as crenças. Entretanto, ainda assim, ''beliefs'' funcionam como causas da delinquência, principalmente quando o jovem comete crimes reiteradamente, durante um período de tempo: neutralizações que foram resultado do primeiro ato funcionam como causa para os próximos.