João Cruz Costa: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Gramática corrigida
Etiquetas: Edição via dispositivo móvel Edição via aplic. móvel
Erro ortográfico corrigido
Etiquetas: Edição via dispositivo móvel Edição via aplic. móvel
Linha 15:
Sua contribuição mais importante foi o livro ''Contribuição à História das Ideias no Brasil'',<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=MZBXAAAAMAAJ|titulo=Contribuição à história das idéias no Brasil|ultimo=Costa|primeiro=Cruz|data=1967-01-01|editora=Civilização Brasileira|lingua=pt}}</ref> publicado em 1956 e posteriormente editado e traduzido para vários idiomas. Nele, defendeu um pensamento crítico e mais voltado para a realidade brasileira, não necessariamente rejeitando os autores estrangeiros (europeus e estadunidenses) ou aceitando-os acriticamente, mas sim criando algo novo, original e brasileiro. <blockquote>A filosofia era assim considerada como uma disciplina livresca. Da Europa ela nos vinha já feita. E era sinal de grande cultura o simples fato de saber reproduzir as ideias mais recentemente chegadas. A novidade supria o espírito de análise, a curiosidade supria a crítica. O filoneísmo é, assim, um velho característico da nossa vida intelectual. Na história da nossa inteligência aparece ainda outro curioso traço: a mais completa e desequilibrada admiração por tudo o que é estrangeiro – talvez uma espécie de ‘complexo de inferioridade’ que deriva da situação colonial em que por longo tempo vivemos (CRUZ COSTA, 1967, p. 8).<ref>{{citar periódico|ultimo=Pansarelli|primeiro=Daniel. Matos, Hugo Allan|titulo=A Filosofia como Pedagógica: Compreensões a Partir de Enrique Dussel|jornal=Revista Sul- Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação – RESAFE, Número 14: maio-outubro/2010|doi=|url=http://periodicos.unb.br/index.php/resafe/article/viewFile/5317/4431|acessadoem=13 julho 2016}}</ref></blockquote>[[File:Contribuição à Historia das Ideias no Brasil.jpg|thumb|Capa do livro Contribuição à Historia das Ideias no Brasil, de João da Cruz Costa|esquerda]]Com sua preocupação de viabilizar um pensamento nacional autônomo, deu destaque ao advento do positivismo como "momento de maior transformação da história brasileira",<ref name=":1" /> nas palavras do próprio Cruz Costa. Tinha grande interesse na evolução das ideias filosóficas brasileiras e exercia a reflexão permanentemente, fosse entre estudantes, família ou amigos, como descreve [[José Arthur Giannotti]]:<blockquote>A reflexão, rente aos acontecimentos, exercia-se cotidianamente no círculo dos alunos e dos amigos. Nunca conseguiu dar uma aula magna. Mas com pontualidade e persistência de fazer inveja aos relógios, durante trinta anos, entrava numa sala, tirava do bolso umas pequenas folhas de papel, preenchidas com sua letra gorda, e começava a conversa com os alunos. Esta girava em torno de um tema central, mas, pouco a pouco, ia divergindo, entremeando um comentário sobre um livro lido na véspera ou sobre um acontecimento político. Não havia reflexão que não tentasse agarrar o cotidiano muito nosso.<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Giannotti|primeiro=José Arthur|titulo=João Cruz Costa|jornal=Estudos Avançados|volume=8|numero=22|paginas=237–239|issn=0103-4014|doi=10.1590/S0103-40141994000300026|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141994000300026&lng=en&nrm=iso&tlng=pt}}</ref></blockquote>Cruz Costa tinha uma preocupação importante em aplicar a reflexão à realidade brasileira, o que era a sua mania, como lembrado pelo crítico literário [[Antonio Candido|Antônio Cândido]]: "(...) o Professor Cruz Costa insistia sem parar na necessidade de aplicar a reflexão ao Brasil, mesmo que para isso fosse preciso sair da filosofia (ou da sociologia) estritamente concebida. Daí termos sido confirmados na vocação de críticos."<ref>{{Citar periódico|titulo=Antonio Candido de Mello e Souza|jornal=Trans/Form/Ação|volume=34|numero=SPE|paginas=3–13|issn=0101-3173|doi=10.1590/S0101-31732011000300002|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-31732011000300002&lng=en&nrm=iso&tlng=pt}}</ref>
 
Em sala de aula, o professor Cruz Costa referia-se em suas aulas a "modas filosóficas", produtos de importação que absorvíamos no Brasil:<blockquote>A Filosofia no Brasil sempre foi um produto de importação. Eu procurei mostrar isso em meu livro. Na Colônia, a escolástica importada de Coimbra; no Império, o ecletismo; a seguir o positivismo e o evolucionismo, que chegaram até a República. Depois, o neo-kantismo, um pouco de bergsonismo, muito ralo; o marxismo, o existencialismo e até Husserl, Hartmann e [[Martin Heidegger|Heidegger]]! Ouvi dizer que vão traduzir Heidegger! Será um trabalho de Hércules. Mais recentemente, o estruturalismo. Até a fundação da Faculdade de Filosofia, o ''filoneísmo'' dominou nossa cultura. Era importante haver lido a obra mais recentemente publicada e, de preferência, no original. Mas não se indagava muito se o leitor ''assimilava'' o que lera. Assim, a ''Filosofia'', como muito mais, era privilégio de raríssimas pessoas. Com o advento dos cursos regulares de Filosofia, a situação modificou-se em parte. Começamos então a nos vestir mais simplesmente, mais moderadamente, tendo em conta, por certo, a moda, mas sem os atavios e falsos luxos filoneístas. Fugir a moda não é fácil, mas vestir-se com exagero é ridículo. Foi por isso que terminei o meu livro citando ''[[Macunaíma]]'', que se farta de todas as comezaimascomezainas, de todas as frutas. Fala de indumentária, mas veste-se pouco. Canta todas as canções e dança todas as músicas. É o herdeiro latino, mas ignorante de todas as culturas...<ref name=":0" /></blockquote>João Cruz Costa desempenhou funções relevantes, como a de conselheiro da [[Biblioteca do Congresso]] em Washington (foi convidado pelo governo dos EUA em 1948), membro da Comissão de Historia das Idéias do Instituto Pan-americano de Geografia e História, delegado por São Paulo no 1º Congresso Brasileiro de escritores e correspondente da Cátedra Alejandro Korn, de Buenos Aires.<ref name=":3">{{Citar periódico|ultimo=A.|primeiro=Costa, Hebe C. Boa-Viagem|titulo=Resgatando a memória dos pioneiros: João Cruz Costa (* 13/02/1904 - † 10/10/1978) Patrono da cadeira nº 32|jornal=Boletim - Academia Paulista de Psicologia|volume=28|numero=2|issn=1415-711X|url=http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2008000200002}}</ref> Ainda, foi condecorado com o título de doutor honoris causa da Universidade de Rennes<ref name=":4">{{Citar periódico|titulo=Chronique générale|jornal=Revue Philosophique de Louvain|volume=56|numero=52|url=http://www.persee.fr/doc/phlou_0035-3841_1958_num_56_52_4983}}</ref> e duas vezes homenageado pelo governo francês, como Cavaleiro da [[Ordem Nacional da Legião de Honra|Legião de Honra]] e [[Ordem das Palmas Académicas|Palmas Acadêmicas]] no grau de cavaleiro.
 
Em seus últimos anos, ficou amargurado com a seriedade uniformizada que tomara conta do Brasil e era suspeito por seus colegas dedo-duros de faculdade, como descreve [[José Arthur Giannotti|José Arthur Gianotti]]:<ref name=":2" /><blockquote>Seus últimos anos foram amargurados pela seriedade uniformizada que tomou conta do país. Ele, que dedicava tempo integral ao estudo das coisas nossas, metido o dia inteiro em sua riquíssima biblioteca, foi posto em suspeição pelos dedos duros da Universidade, como se estivesse a serviço de potências estrangeiras. Foi um dos primeiros a responder ao IPM instalado pela aliança entre os velhos professores rinocerontes e os militares de repressão. Para avaliar seu patriotismo lhe foi pedido que recitasse o Hino Nacional. A resposta veio incontinente: "Sem música, eu não sei cantá-lo".</blockquote><blockquote>Na semana passada um repórter me pedia, pelo telefone, dados sobre sua pessoa. Sua última questão, a mais formal, dizia: "Você acha que sua morte foi uma grande perda?" Esperando continuar como seu discípulo respondi depressa: "Não, Cruz Costa cumpriu seu ciclo de vida; sua irreverência, sua ironia, sua forma de ser brasileiro estão vivas entre nós; para ele só restava uma vida vegetal, que sempre recusou"... "Mas isto eu não posso publicar, respondeu o repórter, isto fere os sentimentos da família". Ele se esquece que sua família se entrelaça com seus amigos e seus estudantes na tentativa de aceitar risonhamente a finitude da vida e a indefinida expansão do espírito. Contra a carranca da ciência abstrata, temos a ironia dos acontecimentos; contra as promessas feitas para não serem cumpridas, temos a gravidade musical do comprometimento com tudo aquilo que é nosso e não comparece na cultura oficial; contra a versão burocrática da nacionalidade, opomos a tradição dos velhos cronistas de ''por em estória'' os acontecimentos decisivos do cotidiano.</blockquote>Hoje, a rica biblioteca de Cruz Costa, com mais de 9.000 livros, pode ser acessada e consultada na [http://biblioteca.fflch.usp.br/ Biblioteca Florestan Fernandes da FFLCH].