Batalha da Maria Antônia: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
DDI FeNEA (discussão | contribs)
Etiqueta: Remoção considerável de conteúdo
Linha 5:
| legenda = Alunos da Universidade de São Paulo e da Universidade Mackenzie enfrentando-se na rua Maria Antônia, em São Paulo.
| período = 3 de outubro de 1968
| local = [[Rua Maria Antônia]], [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]{{BRA}}
| coordenadas = {{coord|23|32|46|S|46|39|3|W}}
| causas = Conflito político-ideológico
Linha 21:
O ano de 1968 foi um momento de forte resistência da classe estudantil, que era majoritariamente contrária ao [[Ditadura|regime militar]]. Em 1964, houve uma divisão da [[classe média]] brasileira que, em cima da propaganda [[anticomunista]] e da [[crise econômica]], apoiou a deposição de [[João Goulart]] e passou a esperar por uma transição rápida para a [[democracia]]. Nos quatro anos seguintes, sem perspectiva de abertura e diante de uma política econômica recessiva e de sinais de violência por parte dos militares, a maior parte da classe média começou a se posicionar contra o regime militar. Seus filhos, mais de 200 mil estudantes universitários e centenas de milhares secundaristas, seguiam pelo mesmo caminho.<ref name="HV"> "A resistência dos estudantes". Por Rodrigo Valente. Revista ''História Viva'', ano V, n. 54, p. 44—7. Editora Duetto. São Paulo.</ref>.
 
A universidade brasileira vivia uma crise de sentido na [[década de 60]]: não servia a quem queria mudanças na sociedade e nem ao [[capitalismo]] brasileiro, que vivia uma fase de modernização. Assim, a vanguarda do movimento estudantil que agitava a universidade com seus discursos (1965-1967) tinha agora ao seu lado a massa dos estudantes. Depois das grandes mobilizações de junho de 1968, como a "[[Sexta-Feira Sangrenta]]" e a [[Passeata dos cem mil]] no [[Rio de Janeiro]], auge da resistência popular à [[ditadura militar]], o movimento refluiu. As condições de luta no segundo semestre eram mais difíceis: muitos estudantes foram presos e a polícia se empenhava em acabar com as ocupações em universidades.<ref name="HV" />
 
Pelo fato de abrigar a Faculdade de Filosofia da USP e a Universidade Mackenzie, a rua Maria Antônia, no centro da capital paulista, foi palco da luta entre estudantes de esquerda e de direita, no começo de outubro de 1968. Os estudantes se enfrentavam como podiam - pedras, paus e até bombas - e a polícia assistia a tudo sem intervir. Os estudantes de direita, ligados ao CCC incendiaram o prédio da USP com coquetéis molotov. Depois de dois dias de enfrentamento, um tiro vindo do prédio da Mackenzie feriu mortalmente o jovem secundarista José Guimarães. Os estudantes da USP, com a camisa ensanguentada do estudante, tomaram as ruas de São Paulo e entraram em choque com a repressão. Ao final do conflito, a polícia invadiu os prédios da USP e da Mackenzie e prendeu dezenas de estudantes. Os estudantes se manifestavam com barricadas, pregos para os pneus dos carros da polícia e bolas de gude para derrubar a cavalaria. O jovem [[José Dirceu]], entre outros, liderou a ocupação da Maria Antônia. <ref name="HV" />
Linha 28:
Desde meados de julho de 1968 o prédio da [[USP]] estava ocupado por estudantes que se reuniam constantemente em assembleias. No dia 3 de outubro, o tumulto começou por conta de um pedágio que os alunos da USP, situada no prédio onde antes funcionava a Junta Comercial de São Paulo, cobravam na rua Maria Antônia - o valor serviria para custear o congresso da [[União Nacional dos Estudantes]]. Irritado, um aluno da Universidade Mackenzie atirou um ovo podre contra os cobradores do pedágio, o que levou os estudantes da Universidade de São Paulo a revidaram com pedras e tijolos. Mackenzistas e uspianos acabaram se enfrentando com rojões, foguetes, coquetéis molotov e tiros <ref>{{citar web|url=http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp833/pag12.htm|titulo=O endereço da agitação estudantil|publicado=Jornal da USP|acessodata=29/04/2014}}</ref>.
 
Segundo a revista [[O Cruzeiro (revista)|O Cruzeiro]], de [[9 de novembro]] de [[1968]]<ref>{{citar web|url=http://pt.scribd.com/doc/25019616/Revista-O-Cruzeiro-com-Boris-Casoy-no-CCC|titulo=CCC ou O Comando do Terror|publicado=O Cruzeiro|acessodata=06/09/2013}}</ref>, estiveram presentes no conflito da rua Maria Antônia: Francisco José Aguirre Menin (comandou o ataque), [[Boris Casoy]] (locutor da rádio[[Rádio Estadão|Rádio Eldorado]]), João Marcos Monteiro Flaquer, [[José Roberto Batochio]], João Parisi Filho,<ref>{{citar web|url=http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_09101968.shtml|titulo=Destruição e morte por quê? |acessodata=}}. ''[[Veja]]'', 9 de outubro de 1968.</ref>, Flávio Bernardo Caviglia, Lionel Zaclis, Raul Careca e Souvenir Assumpção Sobrinho. No entanto, segundo matéria de Carlos Brickmann, publicada no [[Observatório da Imprensa]], a foto que o relaciona com os ataques à Faculdade de Filosofia da USP seria de outra pessoa - Pedro Roberto Chaves de Lara. Batochio, à época, já não era mais estudante da Universidade Mackenzie.<ref>[http://www.observatoriodaimprensa.com.br/images/575CIR001.jpg Assassinato de reputação - Importante é a manada e a notícia que se dane]. Por Carlos Brickmann. ''Observatório da Imprensa'', ed nº 575, 2 de fevereiro de 2010.</ref>
 
Durante o confronto, o estudante secundarista José Carlos Guimarães, de 20 anos, que estudava no Colégio Marina Cintra da [[Rua da Consolação]], foi atingido na cabeça por um tiro vindo da Mackenzie e acabou morrendo. Estudantes de outras escolas, como os do [[Colégio Sion]], também se encontravam na região - dentre eles estava a filha do governador [[Abreu Sodré]]. O confronto se seguiu até que o prédio da USP foi incendiado. O acontecimento influenciou a transferência dos cursos da USP do campus da rua Maria Antônia para o campus Armando de Salles Oliveira, no bairro do [[Butantã]], cuja obra já estava em andamento. A mudança para a [[Cidade Universitária]] desagregou o núcleo do movimento estudantil e também desestabilizou o local que recebia outros movimentos combatentes da ditadura militar. Esse conflito foi inclusive um dos pretextos para que o governo endurecesse o regime,<ref>{{citar web|url=http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp847/pag10.htm|titulo=A Maria Antonia revisitada|publicado=Jornal da USP|acessodata=29/04/2014}}</ref> promulgando o mais rígido do período de recessão: o [[Ato Institucional Número 5|Ato Institucional número 5]].
Linha 37:
 
 
{{Ditadura militar no Brasil (1964–1985)}}{{Movimento Estudantil Brasileiro}}
{{Portal3|São Paulo|Educação}}