Os Mutantes: diferenças entre revisões

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No início de [[1967]], mudanças na direção artística do programa reduziram paulatinamente as apresentações dos Mutantes. Por discordar das novas diretrizes, eles deixaram a Record, já que também havia a possibilidade de realizar apresentações em outras emissoras. À convite do maestro [[Chiquinho de Moraes]], da [[Rede Bandeirantes]], Os Mutantes exibiram-se no programa "Quadrado e Redondo", apresentado por Sérgio Galvão. Nessa época, conheceram outro maestro, [[Rogério Duprat]], que teria papel decisivo na história do trio. Apadrinhados por Duprat, Os Mutantes começaram a participar dos grandes festivais de música popular brasileira, que viviam sua fase áurea. O maestro sugeriu a [[Gilberto Gil]] que convocasse o grupo como banda de apoio para gravar "Bom Dia", que seria cantada por [[Nana Caymmi]] e inscrita no ''III Festival da Música Popular Brasileira'', da [[TV Record]]. Outra gravação de Gil classificada para o Festival era "[[Domingo no Parque (canção)|Domingo no Parque]]". Apesar de nenhum de seus integrantes ler cifras e partituras musicais e conhecer a complexidade harmônica dos arranjos elaborados por Gil e Duprat, Os Mutantes se saíram muito bem nos ensaios e acabaram participando da gravação de ambas. "Domingo no Parque" ganhou o segundo lugar e aproximou os Mutantes do movimento [[Tropicália|tropicalista]].
 
Em [[1968]], o trio assinou um contrato com a [[Polydor]], graças a uma indicação do produtor Manoel Barenbein. Assim, foi lançado ''[[Os Mutantes (álbum)|Os Mutantes]]'', primeiro disco da banda. Com arranjos de Duprat e participação especial de [[Jorge Ben Jor|Jorge Ben]], o LP foi bastante inovador e experimental, além de muito influenciado pelo trabalho dos [[The Beatles|Beatles]]. Algumas das faixas que se destacaram são "Senhor F" (que contou com participação da mãe dos irmãos Baptista, [[Clarisse Leite]], que tocou piano), "Panis et Circenses" (canção composta por [[Caetano Veloso]] e Gilberto Gil especialmente para os Mutantes) e "Trem Fantasma" (parceria entre os Mutantes e Caetano Veloso, que foi composta na casa do produtor [[Guilherme Araújo]]). O disco venderiavendeu menos de 10.000 cópias, mas adquiririaadquiriu status lendário ao longo dos anos.<ref>[http://virgula.uol.com.br/musica/disco-classico-ios-mutantesi-uma-viagem-experimental]</ref>
 
Também naquele ano, a banda participou, ao lado de vários artistas, de ''[[Tropicalia ou Panis et Circencis|Tropicália: ou Panis et Circencis]]'', disco-manifesto do movimento tropicalista, gravando a faixa-título do LP. Ainda naquele ano, o grupo participou em duas sequências - filmadas na boate Ponto de Encontro - de ''[[As Amorosas]]'', filme do diretor brasileiro [[Walter Hugo Khouri]], estrelado por [[Paulo José]], [[Lilian Lemmertz]] e [[Anecy Rocha]]. Em setembro, ainda participaram do ''III Festival Internacional da Canção'', da [[TV Globo]], defendendo "Caminhante Noturno" (de Arnaldo, Sérgio e Rita), que acabou classificada em sétimo lugar. Mas o episódio mais emblemático daquele festival foi a apresentação de Caetano acompanhado dos Mutantes como banda de apoio. Na final paulista do FIC, realizada no Teatro da [[PUC-SP|Universidade Católica de São Paulo]], eles executaram "É Proibido Proibir". A canção de Caetano foi recebida sob intensas vaias pelo platéiaplateia que lotava o auditório. Mal os Mutantes começaram a tocar a introdução, espectadores enfurecidos atiraram ovos, tomates e pedaços de madeira contra o palco e deram as costas para a apresentação. Imediatamente, os Mutantes responderam, sem parar de tocar: viraram as costas para a platéiaplateia. Revoltado com a recepção, Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se pode ouvir, por causa do barulho dentro do auditório.<ref>[http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/proibido.php É Proibido Proibir] - Tropicália</ref>
 
No final daquele ano, os Mutantes estiveram no ''IV Festival da Música Popular Brasileira'', defendendo "Dom Quixote" e "2001", esta última uma parceria de Rita Lee com [[Tom Zé]].
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No ano seguinte, os Mutantes excursionaram pela [[França]], onde tocaram no célebre ''Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais'' (Midem), na cidade de [[Cannes]], e no tradicional ''Olympia'', em [[Paris]]. Em fevereiro, foi lançado ''[[Mutantes (álbum)|Mutantes]]'', segundo disco da banda - e já com a participação do baterista [[Dinho Leme]] e do baixista [[Liminha (produtor musical)|Liminha]]. Um dos destaques do LP, a faixa "Caminhante Noturno" teve erradamente a omissão do nome de Sérgio Dias como co-autor.
 
Ainda em 1969, os Mutantes realizaram o seu último concerto com Caetano e Gil. Foi durante a conturbada temporada na [[boate]] [[carioca]] ''Sucata'', no qual ocorreu o famoso incidente da bandeira nacional, supostamente desrespeitada, no entender dos [[Regime Militar de 1964|militares que governavam o Brasil]] naquela época.<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm3007200710.htm Tropicália, 40] - [[Folha de S.Paulo]], [[30 de julho]] de [[2007]]</ref> Durante o espetáculo, foi pendurada no cenário uma bandeira, obra do [[artista plástico]] [[Hélio Oiticica]], com a inscrição "Seja Marginal, Seja Herói" e a imagem de um traficante famoso à época, o Cara de Cavalo, que havia sido assassinado violentamentemorto pela polícia.<ref>[http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=231 Oiticica e a Tropicalondon] - Digestivo Cultural, [[12 de novembro]] de [[2007]]</ref> Os militares alegaram ainda que Caetano teria cantado o [[Hino Nacional Brasileiro|Hino Nacional]] inserindo versos ofensivos às [[Forças Armadas do Brasil|Forças Armadas]]. Isto tudo serviriaserviu de pretexto político para que os militares suspendessem a apresentação e prendessem Caetano e Gil, posteriormente soltos e exiladosautoexilados no [[Reino Unido]].<ref>[http://cliquemusic.uol.com.br/br/Servicos/ParaImprimir.asp?Nu_Materia=28 Tropicalismo: Nova atitude, nova música] - Cliquemusic, [[1 de janeiro]] de [[1999]]</ref> O episódio é considerado como o fim do movimento vanguardista.
 
Ainda naquele ano, estreou o espetáculo ''Planeta dos Mutantes'', misturando música, cenas bizarras e [[música psicodélica|psicodelia]]. No final daquele ano, o grupo defendeu a canção "Ando Meio Desligado" no ''IV Festival Internacional da Canção''.
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==== A expulsão de Rita Lee ====
Em maio de [[1972]], com dois meses de atraso, foi lançado ''[[Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets|Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets]]''. O título do disco é uma homenagem a [[Tim Maia]], que era amigo dos Mutantes, e que chamava "baurets" os [[cigarro]]s de [[Cannabis|maconha]] que costumava fumar.<ref>[O Som e a Fúria de Tim Maia - Vale Tudo], [[Nelson Motta]]</ref> O LP mostrou a transição da banda em direção ao [[rock progressivo]], com influências dos grupos [[Emerson, Lake & Palmer]] e [[Yes]]. A faixa "Cabeludo Patriota" sofreu com a [[censura]] e teve de mudar de nome para "A Hora e a Vez do CabelosCabelo Nascer" e foram sobrepostos ruídos para esconder a frase ''"o meu cabelo é verde e amarelo"''. "Balada do Louco" (Arnaldo e Rita) foi o grande sucesso do álbum e um dos maiores da carreira do grupo. Outras canções foram bem executadas na mídia, como "Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Rock and Roll" (de Arnaldo, Rita e Liminha), "Vida de Cachorro" (de Arnaldo, Sérgio e Rita), "Cantor de Mambo" (de [[Élcio Decário]], Arnaldo e Rita), "Todo Mundo Pastou" (de Ismar S. Andrade "Bororó") e "Rua Augusta" ([[Hervé Cordovil]]).
 
Foi também o último LP com a participação de Rita Lee. Alegou-se na época que sua saída ocorreu devido a diferenças musicais com os irmãos Baptista, mas na realidade esteve mais relacionada ao fim do seu casamento com Arnaldo, em uma época em que os integrantes do grupo viviam em uma comunidade [[hippie]] na [[Serra da Cantareira]], na zona norte da [[São Paulo (cidade)|cidade de São Paulo]], onde drogas e trocas de parceiros sexuais eram frequentes. Isso acabou por abalar o relacionamento de Arnaldo e Rita.
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Já sem Rita Lee, em [[1973]] os Mutantes estrearam o espetáculo, "2000 Watts de Som" e gravaram ''[[O A e o Z]]'', LP que marcou de vez a adesão do grupo ao [[rock progressivo]]. Todas as suas faixas foram compostas e executadas sob o efeito de [[ácido lisérgico]] (LSD), o que desagradou a Polydor, que não aprovou o trabalho, o considerou sem valor comercial e decidiu não lançá-lo. Além de não comercializar o disco, a gravadora decidiu demitir a banda. O álbum seria lançado somente em [[1992]], pela [[PolyGram]].
 
Os Mutantes continuamcontinuaram ativos, porém Arnaldo, debilitado pelo uso contínuo de drogas (em especial o LSD) e em depressão com o final do seu casamento, apresentapassou a apreesentar comportamentos patológicos, colecionando sacos cheios de lixo, comunicando-se numa espécie de idioma inventado por ele e fazendo planos de construir uma nave espacial. Arnaldo, então, deixadeixou a banda, seguido pelo baterista Dinho. Em 1974, depois de uma briga com os demais integrantes, o baixista Liminha éfoi o próximo a abandonar o grupo.
 
==== A derrocada e o fim ====
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==== Retorno em 2006 ====
Em [[2006]], os Mutantes foram homenageados na mostra ''Tropicália - A Revolution in Brazilian Culture'', no [[Barbican Hall]], em Londres, o principal centro cultural da [[Europa]]. Alegando compromissos agendados na mesma data do convite, [[Rita Lee]] não aceitou o convite. Liminha também declinou. [[Sérgio Dias]], [[Arnaldo Baptista]] e [[Dinho Leme]] (que não tocava profissionalmente há cerca de trinta anos) aceitaram. Ao grupo original, juntou-se a cantora [[Zélia Duncan]] no lugar de Rita Lee e músicos da banda de Sérgio. Todos os ingressos para o concerto foram vendidos antecipadamente, que teve como banda de abertura o grupo [[Nação Zumbi]] e doo músico [[Texas|texano]] [[Devendra Banhart]], um grande fã dos Mutantes. A primeira apresentação dos novos Mutantes se realizou com grande êxito no dia 22 de maio em [[Londres]]<ref>[http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/05/060523_mutantesthomasg.shtml Mutantes levam público ao delírio em Londres] - [[BBC Brasil]], [[23 de maio]] de 2006</ref> e foi gravada para futuro lançamento em [[CD]] e [[DVD]], pela gravadora [[Sony BMG]].<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u66448.shtml Reunião histórica dos Mutantes chega em CD e DVD] - [[Folha Online]], [[28 de novembro]] de [[2007]]</ref> Depois do concerto em Londres, os Mutantes seguiram para temporada nos [[Estados Unidos]]. Eles se apresentaram no ''Webster Hall'', em [[Nova York]], no ''Hollywood Bowl'', em [[Los Angeles]], no ''The Fillmore'', em [[San Francisco]], no ''Moore Theatre'', em [[Seattle]] e ''Cervantes Masterpiece Ballroom'', em [[Denver]] - além de participarem do ''Pitchfork Music Festival'', em [[Chicago]]. Ainda naquele ano, a gravadora Universal remasterizou todos os disco da banda dos anos de [[1968]] a [[1972]], fazendo uso das fitas originais.
 
Em [[25 de janeiro]] de 2007, o grupo faz sua primeira apresentação no [[Brasil]] em quase trinta anos. O concerto fez parte dos festejos do 453º aniversário da cidade de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] e levou cinquenta mil pessoas ao [[Museu do Ipiranga]].<ref>[http://musica.uol.com.br/ultnot/2007/01/26/ult89u7419.jhtm Os Mutantes reúnem 50 mil no aniversário de SP e chamam Lula de "el grande banana"] - [[UOL]], [[26 de janeiro]] de 2007</ref> Em seguida, o grupo realizou uma turnê pelo Brasil. Em setembro daquele ano, Zélia Duncan e Arnaldo Baptista anunciaram a saída dos Mutantes.<ref>[http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL107798-7085-4470,00.html Arnaldo Baptista e Zélia Duncan saem dos Mutantes] [[G1]], [[20 de setembro]] de 2007</ref><ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u333633.shtml Após saída de Duncan, Os Mutantes procuram novos integrantes] - Folha Online, [[3 de outubro]] de 2007</ref> Zélia alegou que queria se dedicar mais a sua carreira solo. Arnaldo queria se dedicar aos seus projetos pessoais, que incluem escrever uma autobiografia, lançar um livro de ficção (''Rebelde Entre os Rebeldes'') e dois álbuns da [[Patrulha do Espaço]], e promover uma exposição com suas pinturas e esculturas.