Gambiarra evolutiva: diferenças entre revisões

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Ricardo L1ma (discussão | contribs)
Preguiças confundem os braços com galhos.
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== Aparições na literatura ==
 
=== (2007) O Vazio da Máquina: Niilismo e outros abismos (2007) ===
O termo Gambiarra evolutiva aparece na obra ''O vazio da Máquina'', livro de André Cancian, que investiga alguns dos tópicos mais incômodos trazidos à luz pelo vazio da existência. O nada, o absurdo, a solidão, o sofrimento, o suicídio, a hipocrisia são alguns dos assuntos principais abordados ao longo da obra. Em um trecho de sua obra, ele usa o termo Gambiarra como analogia para poder retratar sobre a desajeitada formação da consciência humana<ref name=":3" />:<blockquote>''[...] Mas o fato é que somos uma '''gambiarra evolutiva''', e mesmo que essa ideia seja incômoda, ela nos permite compreender em função de que está programada essa realidade virtual chamada consciência – e as emoções que a norteiam - , e assim finalmente entendamos um pouco melhor por que somos tão contraditórios e tão complicadamente incoerentes''<ref name=":3" />''.''</blockquote>
 
=== (2007) The Accidental Mind: How Brain Evolution Has Given Us Love, Memory, Dreams, and God (2007) ===
Gambiarra evolutiva aparece também no livro ''The Accidental Mind'' do neurocientista [[David Linde|David Linden]], onde o mesmo discute como os defensores do [[design inteligente]] interpretaram mal a anatomia do [[cérebro]]. Linden contesta a suposição generalizada de que o cérebro é um modelo de design - e em seu lugar nos dá uma explicação convincente de como a evolução acidental do cérebro resultou em nada menos do que a humanidade na espécie [[Homo sapiens]]. A obra mostra como o cérebro não é uma máquina de resolução de problemas otimizada e de propósito geral, mas sim uma aglomeração estranha de soluções ad hoc que foram empilhadas por milhões de anos de história evolutiva<ref name=":1" />. Em um trecho Linden aborda:<blockquote>''As coisas que possuímos mais alto em nossa experiência humana (amor, memória, sonhos e uma predisposição para o pensamento religioso) resultam de uma aglomeração particular de soluções ad hoc que foram acumuladas através de milhões de anos de história da evolução.  Não é que tenhamos pensamentos e sentimentos fundamentalmente humanos, apesar do '''design gambiarra''' do cérebro moldado pelas reviravoltas da história evolutiva. Pelo contrário, nós os temos precisamente por causa dessa história''<ref name=":1" />.  </blockquote>
 
=== (2008) Kluge: The Haphazard Construction of the Human Mind (2008) ===
O livro do psicólogo de pesquisa [[:en:Gary_Marcus|Gary Marcus]], ''Kluge'' <ref name=":2" />, compara os kluges evolucionários com os de [[engenharia]], como limpadores de para-brisas com vácuo - quando você acelerou ou dirigiu para cima, "seus limpadores abrandaram, completamente". O livro é dedicado a mostrar como as faculdades mentais humanas mais caras -consciência e raciocínio lógico- foram construídas pela evolução aproveitando estruturas cerebrais primitivas, e que na falta de algo melhor serve ao humano, mas o preço pago pela gambiarra cerebral é que ela frequentemente entra em "[[Curto Circuito|curto-circuito]]"<ref name=":0" />. Em um trecho da obra Marcus dá um outro exemplo de gambiarra evolutiva que também ocorre no humano:<blockquote>''Outro exemplo bem conhecido de uma '''gambiarra evolutiva''' vem a partir de um detalhe bastante íntimo da anatomia masculina. A tubulação que funciona desde o testículo até a uretra (o canal deferente) é muito mais necessário: ele corre de volta para a frente, dá voltas ao redor, e faz um grau de 180 graus olta para o pênis. Um designer parsimonioso interessado em conservar materiais (ou na eficiência de entrega) teria o testículo diretamente para o pênis com apenas um curto comprimento de tubulação; só porque a biologia baseia-se no que veio antes, é um sistema criado tão aleatoriamente''<ref name=":2" />.</blockquote>
 
=== (2009) Virus of the Mind: The New Science of the Meme (2009) ===
Richard Brodie levanta em seu livro ''Virus of the Mind,'' a definição de gambiarra evolutiva como um [[jargão]] para o uso de uma peça inadequada particularmente para seu propósito, ele aborda que a [[evolução]] favorece e valoriza a formação dos mesmos, e justifica o termo apresentando o [[olho humano]] como exemplo de uma gambiarra evolutiva formada por um conjunto de outras gambiarras:<blockquote>''Exemplo clássico de uma '''gambiarra evolutiva''' é o olho humano. Os nervos que conectam as células sensíveis à luz ao cérebro realmente saem pela frente da retina, em vez da parte de trás - a "fiação" se projeta no campo de visão do olho. É difícil imaginar um engenheiro, muito menos Deus, projetando algo dessa maneira. Mas a evolução tomou que teve que trabalhar e com gambiarra por gambiarra, construiu um olho<ref name=":6" />.''</blockquote>
 
=== (2011) Inside Jokes: Using Humor to Reverse-Engineer the Mind (2011) ===
Matthew Hurley, Daniel Dennett e Reginald Adams oferecem uma perspectiva evolutiva e cognitiva no livro. A obra propõe que o humor evoluiu a partir de um problema computacional que surgiu quando os antepassados humanos há muito tempo estavam decorados com pensamento aberto. Eles salientam que a [[seleção natural]] não pode simplesmente ordenar o cérebro a encontrar e corrigir todos os problemas e a inteligência rápida nos seres humanos é o resultado de uma série de gambiarras evolutivas empilhadas uma sobre a outra - onde um dos quais é o traço de [[humor]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Bc7xCwAAQBAJ&pg=PA95&dq=evolutionary+kluges&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiCl4KQoMDTAhVNlpAKHc9HABgQ6AEIMjAC#v=onepage&q=evolutionary%20kluges&f=false|título=Inside Jokes: Using Humor to Reverse-Engineer the Mind|ultimo=Hurley|primeiro=Matthew M.|ultimo2=Dennett|primeiro2=Daniel C.|ultimo3=Adams|primeiro3=Reginald B.|data=2011-03-04|editora=MIT Press|lingua=en|isbn=9780262294812}}</ref>.
 
=== (2012) O Cérebro Imperfeito: Como as Limitações do Cérebro Condicionam as Nossas Vidas ===
Embasando-se em estudos científicos, referências filosóficas e antropológicas, o neurocientista Dean Buonomano revela quais são os “pontos cegos” do cérebro humano e de que forma eles podem levar indivíduos à tomarem decisões equivocadas; O autor apresenta ainda, a impressionantes exemplos sobre como o funcionamento do cérebro pode distorcer a percepção humana da realidade, tornando os humanos suscetíveis a manipulação, induzindo à decisões irracionais e desencadeando falsas lembranças: <blockquote><br />''O neurocientista David Linden descreveu o cérebro humano como uma progressiva acumulação de soluções de contorno ou remendos temporários, as famosas '''gambiarras'''. Durante a evolução do cérebro, novas estruturas foram colocadas sobre estruturas funcionais mais antigas, o que gerou redundâncias, desperdícios de recursos, complexidade desnecessária e, às vezes, soluções conflitantes para o mesmo problema''<ref>BUONOMANO, Dean. '''O Cérebro Imperfeito: Como as Limitações do Cérebro Condicionam as Nossas Vidas'''. Editora Elsevier Brasil. Rio de Janeiro. 2012. ISBN: 978-85-352-4760-2. </ref>''.''</blockquote>
 
=== (2013) Fofuchos de Darwin (Superinteressante) ===
Um artigo publicado na revista superinteressante aborda que o processo evolutivo tornou os humanos fanáticos por crianças pequenas, influenciando até a evolução artificial dos nossos bichos domésticos. Segundo a publicação, esse comportamento começou com os primeiros vertebrados e certamente alcançou seu ápice nos seres humanos, pois todos esses possuem uma origem evolutiva comum, descendendo de um mesmo ancestral. Essa ascendência compartilhada deixou uma série de marcas na maneira como o organismo de todos animais se desenvolve, e como os seres adultos se comportam diante dos filhotes, independentemente da espécie. <blockquote>''Embriões de peixe e tartaruguinhas que acabaram de sair do ovo já ostentam olhos grandalhões, focinho encurtado e membros (ou nadadeiras) proporcionalmente mais curtos, a exemplo do que vemos em filhotes de mamíferos como nós. Para entender melhor o significado desse fato, é importante levar em conta que a evolução é mestra em pegar características já existentes e usá-las para criar “'''gambiarras'''” se isso for capaz de favorecer as chances de um indivíduo de sobreviver e se reproduzir''<ref>Redação. [https://super.abril.com.br/comportamento/fofuchos-de-darwin/ Fofuchos de Darwin: Como a evolução produziu bebês rechonchudos, lindinhos e completamente dependentes dos papais e das mamães]. Superinteressante. 2013.</ref>''.'' </blockquote>
 
=== (2018) Ateísmo e Niilismo: Reflexões sobre a morte de deus ===
A obra de Cancian explora a relação entre [[ateísmo]] e [[niilismo]], para compreensão dos impactos da descrença em Deus na subjetividade humana. A obra aborda que a [[religiosidade]] (não a [[religião]]) é reflexo da própria humanidade e que não há cabimento em reduzir a religiosidade à uma “aberração”, apesar das evidências atuais são suportarem as crenças na existência de um "criador sobrenatural" que tenha projetado os seres vivos. Cancian aponta:<blockquote>''[...] Entendemos não apenas como nos reproduzimos, mas também por que nos reproduzimos, e que essa reprodução, em si mesma, não tem sentido, só tem função. Naturalmente, seríamos os últimos a negar o quanto isso tudo é insólito. Caímos de paraquedas nessa megaestrutura de '''gambiarras evolutivas''', e não foi fácil colocar cada peça em seu lugar. mesmo assim, parecem ser poucos os que conseguem assimilar esses fatos sem enlouquecer, pelo menos um pouco''<ref>CANCIAN. André. '''Ateísmo e Niilismo: Reflexões sobre a morte de deus'''. Volume 3. Editora André Cancian, 2018. ISBN: 978-04-634-9720-3.</ref>''.''</blockquote>
 
=== (2019) Darwin sem frescura ===
A obra trabalha apresenta as mais modernas e variadas descobertas científicas sobre a [[Evolução das espécies|evolução das espécies]] já feitas na história, respondendo questões que se relacionam com a teoria evolutiva de Darwin. Com isso, muitas das questões exploradas só podem ser respondidas satisfatoriamente considerando a modificação das espécies ao longo dos anos, que se enquadram também como as gambiarras da evolução. Logo, o livro faz uma breve menção ao termo gambiarra evolutiva para explicar estruturas vestigiais como [[Pseudogene|pseudógenes]]:<blockquote>''[...] Como o nobre leitor já deve ter percebido, não só o pseudogene não é um indício de falha na teoria como é inclusive uma das possibilidades preditas que se cumpriu e da qual só tivemos conhecimento depois que aprendemos a vasculhar o DNA [...] Também pode ser um ótimo exemplo de exaptação: quando uma estrutura que evoluiu com determinada função vira uma “gambiarra” evolutiva de sucesso, sendo usada para funções diferentes. Um exemplo do papel que muitos''<ref>PIRULA; LOPES, Reinaldo José. '''Darwin sem frescura: Como a ciência evolutiva ajuda a explicar algumas polêmicas da atualidade'''. Editora HarperCollins. Rio de Janeiro. 2019. ISBN: 9788595085145.</ref>''.''</blockquote>
 
== Exemplos de Gambiarras evolutivas ==