Carlos Luz: diferenças entre revisões
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Em novembro de 1955, o presidente [[Café Filho]] ficou inativo por motivo de doença. Assim, Carlos Luz, como presidente da Câmara dos Deputados, seria seu sucessor legal, e foi empossado em 8 de novembro. Entretanto, após de acusações de conspiração contra a posse do eleito [[Juscelino Kubitschek]], [[Impeachment de Carlos Luz|sofreu um ''impeachment'']] três dias depois. Após isso, Luz teve baixa participação na política. Morreu no [[Rio de Janeiro]] em 9 de fevereiro de 1961.
== Início de vida
Carlos Coimbra da Luz nasceu em [[Três Corações]], [[Minas Gerais]], no dia 4 de agosto de 1894. Foi filho do juiz de direito e depois desembargador [[Alberto Gomes Ribeiro da Luz]], e de Augusta Coimbra da Luz. Seus estudos
Em 1923, Carlos Luz foi eleito [[vereador]] em Leopoldina. Logo após, assumiu a presidência da [[Câmara municipal (Brasil)|Câmara Municipal]] e, depois, a prefeitura da cidade,<ref name=cpdoc /> até 1932, mas foi afastado por um curto período devido à [[Revolução de 1930]].<ref name=bio/> Em setembro do mesmo ano, foi nomeado secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas de Minas Gerais. No dia 15 de dezembro assumiu o cargo de secretário do Interior. Em outubro de 1934, elegeu-se [[deputado federal]] de Minas Gerais, pelo [[Partido Progressista de Minas Gerais|Partido Progressista]] (PP). Deixou seu cargo no governo do estado em janeiro de 1935, iniciando seu mandato em maio.<ref name=cpdoc />
== Presidência da Caixa Econômica Federal e Ministro da Justiça ==
Devido à dissolução da Câmara<ref name=estadaoacervo>{{Citar web |url=http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,carlos-luz,561,0.htm |titulo=Carlos Luz - Acervo |acessodata=2021-02-16 |website=[[O Estado de S. Paulo|Estadão]]}}</ref> com o golpe que implantou o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], em 1937, Carlos Luz foi nomeado por [[Getúlio Vargas]] para o conselho administrativo da [[Caixa Econômica Federal]]. Em dezembro do ano seguinte, foi eleito vice-presidente da instituição, e mais tarde presidente, em julho de 1939. Ele também se tornou membro do conselho e diretor da [[Companhia de Seguros Minas-Brasil]]. Após se tornar presidente da instituição, passou a integrar o Conselho Superior das Caixas Econômicas Federais. Foi reeleito para o cargo em novembro de 1942, permanecendo até fevereiro de 1946.<ref name=cpdoc />
Com o fim do Estado Novo, [[Eurico Gaspar Dutra]] o convidou para ocupar a pasta da Justiça do novo governo, empossado em janeiro de 1946. Mais tarde, nas eleições suplementares para a [[Câmara dos Deputados]] realizadas em 1947, Carlos Luz foi o único candidato eleito, pelo [[Partido Social Democrático (1945)|Partido Social Democrático]] (PSD). Tornou-se no mesmo ano diretor-presidente do [[Banco Ribeiro Junqueira]]. Foi reeleito para dois mandatos sucessivos na Câmara dos Deputados, em 1950 e 1954. Em seu segundo mandato, empossado em fevereiro de 1955, Carlos Luz foi eleito presidente da Câmara dos Deputados.<ref name=cpdoc />
== Presidente do Brasil ==
O governador de Minas Gerais na época, [[Juscelino Kubitschek]], teve sua candidatura a presidência homologada em fevereiro de 1955, após convenção nacional do PSD. Seções estaduais de [[Pernambuco]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], bem como representantes da [[Bahia]] e do [[Distrito Federal]], recusaram-se a apoiar a candidatura [[ratificação|ratificada]], e formaram uma [[dissidência]] que propôs ao partido, como alternativa a Juscelino, os nomes de [[Etelvino Lins]], [[Nereu Ramos]] e [[Lucas Lopes]], além de Carlos Luz.<ref name=cpdoc />▼
=== Contexto ===
▲O governador de Minas Gerais na época, [[Juscelino Kubitschek]], teve sua candidatura a presidência homologada em fevereiro de 1955, após convenção nacional do PSD. Seções estaduais de [[Pernambuco]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], bem como representantes da [[Bahia]] e do [[Distrito Federal (Brasil)|Distrito Federal]], recusaram-se a apoiar a candidatura [[ratificação|ratificada]], e formaram uma [[dissidência]] que propôs ao partido, como alternativa a Juscelino, os nomes de [[Etelvino Lins]], [[Nereu Ramos]] e [[Lucas Lopes]], além de Carlos Luz.<ref name=cpdoc />
Juscelino e [[João Goulart]] foram eleitos com 35,6% e 44,3% dos votos como presidente e vice-presidente, respectivamente. Após a divulgação dos resultados, a [[União Democrática Nacional]] (UDN) realizou uma campanha liderada pelo deputado [[Aliomar Baleeiro]] contra a posse dos eleitos, alegando que eles não haviam obtido a maioria absoluta dos [[sufrágio]]s. [[Henrique Teixeira Lott]], [[Ministério da Guerra (Brasil)|ministro da Guerra]], reiterou sua posição favorável à posse dos eleitos, mas a crise não foi solucionada.<ref name=cpdoc />
A situação se agravou no dia 1 de novembro após o coronel [[Jurandir Bizarria Mamede|Jurandir de Bizarria Mamede]], durante o enterro do general [[Canrobert Pereira da Costa]], que havia morrido no dia anterior, elogiar Canrobert por ter liderado o movimento de 1954 contra Vargas, afirmando que seria uma "indiscutível mentira democrática" permitir a "vitória da minoria", a posse de Juscelino e Goulart. Lott considerou o discurso uma demonstração de indisciplina, e julgou imprescindível a punição de Mamede, opinião contrária à do ministro da Aeronáutica, brigadeiro [[Eduardo Gomes]].<ref name=cpdoc />
{{quote box |quote=Não é possível prever o futuro. Parece-nos, entretanto, que as condições da vida nacional, as exigências de trabalho em todos os setores, estão a reclamar daquele clima de tranquilidade e de ordem, sem o qual é impossível manter-se num ritmo normal à vida nacional. Parece-nos que com essa substituição dar-se-á simplesmente o preenchimento, numa forma constitucional, de uma vaga ocorrida temporariamente, por motivo de saúde. |source=—[[Franco Montoro]], 10 de novembro de 1955.<ref name=cdm10/> |align=right |width=23em}}▼
Lott dependia do consentimento do presidente, [[Café Filho]], para punir o coronel. Entretanto, na manhã do dia 3 de novembro, o presidente sofreu de um distúrbio cardiovascular, tendo sido internado no [[Hospital dos Servidores do Estado]]. Diante do imprevisto, Lott pediu ao brigadeiro [[Gervásio Duncan]] no dia 5 o retorno de Mamede às fileiras do Exército sob o argumento de que já se esgotara o prazo-limite de três anos permitido para um oficial servir na [[Escola Superior de Guerra]] (ESG). Entretanto, baseado em informações do comandante da instituição, almirante [[Ernesto Araújo]], Duncan respondeu que Mamede ainda era necessário na escola.<ref name=cpdoc />
No dia 5 de novembro, Carlos Luz visitou o Ministério da Guerra para se informar da situação do Exército. Nesta ocasião, Lott mostrou algumas soluções para punir Mamede e disse que, se nenhuma delas fosse adotada pelo presidente da República, pediria demissão do ministério. [[Carlos Lacerda]] continuava exigindo a intervenção dos militares, com a UDN prosseguindo na tentativa de impugnar a eleição de Kubitschek e Goulart. Também começou a circular em diversas unidades militares um boletim assinado pelo [[Movimento Militar Constitucionalista]] (MMC), com a denúncia da iminência de um [[golpe de Estado]], que seria deflagrado possivelmente até o dia 20 de novembro sob a chefia do coronel Mamede.<ref name=cpdoc />
=== Posse, demissão de Lott e outros atos ===
A tensão se agravou no dia 8, com a informação de que Café Filho, informado pelos médicos de que deveria ficar inativo por mais um tempo, comunicou os ministros de sua decisão de transmitir imediatamente o governo a Carlos Luz, que seria seu sucessor legal. Assim, mais tarde no mesmo dia, Luz foi empossado, e o deputado José Antônio Flores da Cunha assumiu a presidência da Câmara dos Deputados.<ref name=cpdoc />
▲{{quote box |quote=Não é possível prever o futuro. Parece-nos, entretanto, que as condições da vida nacional, as exigências de trabalho em todos os setores, estão a reclamar daquele clima de tranquilidade e de ordem, sem o qual é impossível manter-se num ritmo normal à vida nacional. Parece-nos que com essa substituição dar-se-á simplesmente o preenchimento, numa forma constitucional, de uma vaga ocorrida temporariamente, por motivo de saúde. |source=—[[Franco Montoro]], 10 de novembro de 1955.
Após o início da audiência, o presidente comunicou a Lott o parecer de Cavalcanti, que era contrário à punição do coronel Mamede. Imediatamente, Henrique Lott colocou a pasta da Guerra à disposição de Luz, que não só aceitou seu pedido de demissão, como declarou que já havia pensado num substituto para o posto: o general Álvaro Fiúza de Castro. Substituir Lott já era uma intenção prévia de Luz, já que o Diário Oficial do dia 11, impresso na tarde do dia 10, antes da audiência, já trazia a notícia da indicação de Fiúza.<ref name=cpdoc /> Ao ''[[Correio da Manhã (Brasil)|Correio da Manhã]]'', Luz explicou sobre o caso Mamede que casos como esse seriam resolvidos "com base nas informações dos órgãos competentes", sem entrar em maiores detalhes.{{sfn|Correio da Manhã|1955a|pp=14, 7}}
No dia 9, Carlos Luz reuniu o gabinete, comunicando aos ministros de Café Filho sua intenção de mantê-los nos cargos. Logo após, em audiência particular, Lott pediu a Luz uma solução rápida para o caso Mamede. Luz acreditava que seria conveniente ouvir o consultor-geral da República, [[Temístocles Cavalcanti]], mas Lott insistiu que se tratava de um assunto interno do Exército, e não de natureza jurídica. Entretanto, a opinião do presidente foi prevalecida, sendo marcada uma nova audiência entre ambos para o dia 10 às 18 horas. Lott foi recebido com uma hora e meia de atraso, acompanhado por repórteres de rádio e ''flashes'' do palácio, acentuando o caráter crítico da situação.<ref name=cpdoc />
Devido ao curto período em que Carlos Luz foi presidente, fez poucos atos. No dia 9, foi noticiado que ele entregaria credenciais ao novo embaixador da [[Argentina]], [[Felipe Espil]], às 16 horas do dia seguinte.{{sfn|Correio da Manhã|1955a|p=4}} Outro ato que fez foi autorizar, em caráter excepcional, a cobrança de [[ágio]] de sete [[Cruzeiro (moeda)|cruzeiros]] por [[dólar]], para a compra de três lanchas destinadas à Guardamoria da Alfândega do Rio de Janeiro.{{sfn|Correio da Manhã|1955b|p=4}} Ele também autorizar o [[Banco do Brasil]] a adiantar a importância de 50 mil dólares ao Commodity Credit Corporation, do [[Departamento de Agricultura dos Estados Unidos]], para atender despesas de transporte de [[leite em pó]] para a [[Campanha da Merenda Escolar]].{{sfn|Correio da Manhã|1955b|p=6}}
== ''Impeachment'' e morte ==
{{AP|Impeachment de Carlos Luz|Movimento de 11 de Novembro}}
A notícia da demissão de Lott provocou intensa atividade nos círculos políticos e militares ligados a Juscelino. Num primeiro momento, Lott não julgou conveniente tomar alguma medida para não alarmar a população, mas voltou atrás.<ref name=cpdoc /> Após uma reunião entre militares, passaram a ocupar pontos-chave da capital para forçar o governo a respeitar a disciplina militar, no dia 10. Na madrugada do dia 11, tropas interditaram o acesso ao [[Palácio do Catete]], ocuparam os quartéis de polícia e a sede da companhia telefônica, bem como passaram a controlar as operações de telégrafo. Isto culminou no [[Movimento de 11 de Novembro]], chefiado por Lott, que tinha como objetivo barrar a conspiração tramada pelo governo de impedir a posse de Juscelino e Goulart.<ref name=onze>{{Citar web |ultimo=Lamarão |primeiro=Sérgio |url=https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/JkRumoPresidencia/11Novembro |titulo=O Governo de Juscelino Kubitschek: Movimento de 11 de novembro |publicado=[[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]]}}</ref> Na manhã do dia 11, o Almirantado decidiu acatar a decisão que o [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]] viesse a tomar quanto ao problema presidencial, sendo revelada a existência de divisão no interior da [[Marinha do Brasil|Marinha]].<ref name=cpdoc />
[[Imagem:Enterro de Carlos Luz. Na foto vê-se Afonso Arinos.tif|miniatura|direita|Enterro de Carlos Luz]]
Carlos Luz, alguns ministros, [[Carlos Lacerda]], Mamede e outros tentaram se refugiar no [[C Tamandaré (C-12)|cruzador Tamandaré]], saindo às 9h00min, com rumo a [[Santos]]. Isso fazia parte de um plano para organizar a resistência em [[São Paulo]], ideia que não funcionou, pois o general [[Olympio Falconière da Cunha]], partiu de carro para São Paulo a fim de garantir o sucesso do Movimento.<ref name=onze /> No mesmo dia, Carlos Luz foi deposto, pois, conforme alegações, estaria ligado a conspiradores que queriam impedir a posse de Juscelino.<ref name=bio>{{Citar web |url=http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/carlos-luz/biografia |titulo=Biografia de Carlos Luz |acessodata=2021-02-16 |website=
Em 31 de janeiro, Nereu Ramos passou o governo a Juscelino Kubitschek. Depois de seu ''impeachment'', Carlos Luz teve uma atuação política ofuscada. Em 3 de outubro de 1958, foi mais uma vez eleito para a Câmara dos Deputados. Entre 1951 e 1957, integrou a diretoria da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Casou-se com Maria José Dantas Luz, de quem ficou viúvo e com quem teve dois filhos e, depois, com [[Graciema da Luz|Graciema Junqueira da Luz]], com quem também teve dois filhos.
== Obras ==
▲Depois de seu ''impeachment'', Carlos Luz teve uma atuação política ofuscada. Em 3 de outubro de 1958, foi mais uma vez eleito para a Câmara dos Deputados. Entre 1951 e 1957, integrou a diretoria da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Casou-se com Maria José Dantas Luz, de quem ficou viúvo e com quem teve dois filhos e, depois, com [[Graciema da Luz|Graciema Junqueira da Luz]], com quem também teve dois filhos.<ref name=cpdoc /> Morreu no [[Rio de Janeiro]] em 9 de fevereiro de 1961.<ref name=bio />
Carlos Luz escreveu ''Viação rodoviária na Zona da Mata'', tese apresentada no I Congresso de Municipalidades, em 1927, e ''Em defesa da Constituição'', de 1956, além de outros trabalhos jurídicos, relatórios administrativos e discursos.<ref name=cpdoc />
==Ver também==
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{{Referências|refs=
<ref name=cpdoc>{{citar web |ultimo=Malin |primeiro=Mauro |url=http://
}}
;Bibliografia
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*{{citar periódico |url=https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_06&pasta=ano%20195&pagfis=54870 |título=Edição 19210 |jornal=[[Correio da Manhã (Brasil)|Correio da Manhã]] |data=9 de novembro de 1955 |acessodata=2021-02-17 |ref={{sfnRef|Correio da Manhã|1955a}}}}
*{{citar periódico |url=https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_06&pasta=ano%20195&pagfis=54896 |título=Edição 19211 |jornal=[[Correio da Manhã (Brasil)|Correio da Manhã]] |data=10 de novembro de 1955 |acessodata=2021-02-17 |ref={{sfnRef|Correio da Manhã|1955b}}}}
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