Controvérsia da Revolução: diferenças entre revisões
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[[Ficheiro:Exécution de Marie-Antoinette, Musée de la Révolution française - Vizille.jpg|miniaturadaimagem|Era do Terror na Revolução Francesa|379x379px]]
'''Controvérsia da Revolução''' foi um debate entre escritores ingleses sobre a [[Revolução Francesa]],
Em 1790, na obra ''Reflexões sobre a Revolução em França'', o inglês [[Edmund Burke]] inflamou outros pensadores
== Reflexões de Edmund Burke ==
[[Ficheiro:EdmundBurke1771.jpg|miniaturadaimagem|Edmund Burke|215x215px]]
Membro do [[Partido Whig (Reino Unido)|''Whig Party'']], partido político britânico que reunia tendências liberais, Burke defendia que os acontecimentos desencadeados durante a Revolução Francesa, não passavam de uma guerra partidária entre a antiga ordem civil, política e moral em face de uma seita de ateístas fanáticos e ávidos para
Para Burke, a [[Dia da Independência dos Estados Unidos|
Na obra
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== Reflexões sobre a Revolução em França ==
[[Ficheiro:BurkeReflections.jpg|miniaturadaimagem|433x433px]]
O texto evidencia que Burke agia enviando cartas criticando a Revolução Francesa desde a queda da Bastilha, e essa primeira fase de ação se deve ao receio que tais ideais chegassem à Inglaterra, sendo o primeiro a alertar tais perigos no país. Ele decidiu publicar este livro por acreditar que a revolução deveria honrar um dos seus principais lemas - a liberdade -, afirmando que a instauração de um governo autoritário era uma situação de contradição por parte dos revolucionários; pregava que os escritos iluministas deveriam cair na ilegalidade. Na época em que publicou a obra, passava por dificuldades financeiras, portanto chegou a ser apontado por alguns como um interesseiro que fora subornado para escrever a obra. Defensor do catolicismo, tinha o protestantismo como uma ideologia inaceitável. É de grande notoriedade os três estilos assumidos por Burke na escrita de seu livro: o estilo Whig - fazendo referência ao partido liberal britânico- apresentando racionalidade e perspicácia no objetivo de persuadir a todos explicando que tinham muito a perder ao apoiar a revolução; outro estilo foi o nomeado como [[Jacobitismo|jacobita]], que mostrava algumas ideias advindas do [[gongorismo]] - estilo literário vigente na época que demonstra extravagância, exagero de metáforas e comparações, além de uma linguagem rebuscada e soturna; por fim, e não menos importante, está a ironia - marca registrada da literatura irlandesa -, administrada de maneira agressiva na maioria das vezes. Burke costumava mesclar o estilo Whig com os outros dois estilos individualmente.
=== Argumentos ===
* “O espírito da renovação total e radical; a destruição de todos os direitos consagrados pela tradição; o confisco da propriedade, a destruição da Igreja, da nobreza, da família, dos costumes, da veneração aos ancestrais, da nação - esse é o catálogo de tudo aquilo que Burke odiava nos seus momentos sombrios, e todos esses elementos ele encontraria no marxismo.”<ref>{{citar livro|título=Reflexões Sobre a Revolução em França|ultimo=BURKE|primeiro=Edmund|editora=Universidade de Brasília|ano=1982|local=Brasília|página=03|páginas=}}</ref>;
* “Ele enfatiza sua ignorância sobre o estado atual da situação e desconfia do seu próprio julgamento 'Se eu me pareço'... diz ele, 'expressar-me em uma linguagem de desaprovação, seja gentil em olhá-la como uma mera expressão de dúvida'. Ele explica qual a liberdade que ele admira: 'a liberdade a qual me refiro é a liberdade social. É aquele estado de coisas no qual a liberdade é garantida pela igualdade na aplicação de sanções, um estado de coisas no qual a liberdade de nenhum homem, de nenhum grupo de homens e de nenhuma corporação de homens possa ter meios de se impor à liberdade de qualquer homem ou de qualquer grupo de homens na sociedade. (...)'”<ref>{{citar livro|título=Reflexões Sobre a Revolução em França|ultimo=BURKE|primeiro=Edmund|editora=Universidade de Brasília|ano=1982|local=Brasília|página=|páginas=5-6}}</ref>;
* “Tivesse ele nascido em circunstâncias sociais similares em Arras em 1750 ou em Dublin ou Belfast em 1760, ele provavelmente teria sido um revolucionário
* “Burke pode não ter visto 'nenhuma razão para abandonar' a Igreja da Inglaterra, mas as suas tradições familiares eram tão fortes - e seus sentimentos também - que não lhe era possível encarar os ataques feitos à Igreja de Roma com a típica atitude inglesa, ou seja, com indiferença, complacência e uma certa aprovação.”<ref>{{citar livro|título=Reflexões Sobre a Revolução em França|ultimo=BURKE|primeiro=Edmund|editora=Universidade de Brasília|ano=1982|local=Brasília|página=12|páginas=}}</ref>;
* "A minha maior preocupação é que se chegue na Inglaterra a considerar o confisco como um direito do Estado em prover-se de recursos ou que certas categorias de cidadãos sejam levadas a tomar outras como objeto de pilhagem... As revoluções são favoráveis ao confisco, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados. Estou certo de que os princípios vigentes na França são destinados à aplicação em todo o país, a um grande número de indivíduos e a classes inteiras, que imaginam que sua calma indolência é a garantia da sua segurança. Nada mais fácil que tomar a indolência dos proprietários como inutilidade, e, depois disso, transformar tal inutilidade em capacidade de possuir bens.”<ref name=":0">{{citar livro|título=Reflexões Sobre a Revolução em França|ultimo=BURKE|primeiro=Edmund|editora=Universidade de Brasília|ano=1982|local=Brasília|página=18|páginas=}}</ref> - Sobre o estilo Whig;
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== Respostas ==
=== William Godwin ===
[[Ficheiro:WilliamGodwin.jpg|miniaturadaimagem|
Um dos pioneiros do [[utilitarismo]] e forte contestador dos privilégios aristocráticos, o filósofo [[William Godwin]] era reconhecido no meio radical de escritores da década de 1790 em Londres. Casou-se com [[Mary Wollstonecraft]], uma das figuras principais no debate britânico a respeito da Revolução, em 1797.
Em seu livro [[:en:Enquiry_Concerning_Political_Justice|Inquérito Acerca da Justiça Política]], publicado em 1793, Godwin aponta o governo como um fator intensivamente corruptivo dentro da sociedade
=== Thomas Paine ===
[[Ficheiro:Thomas Paine.jpg|miniaturadaimagem|
Revolucionário, [[Thomas Paine]] acreditava que a resistência era algo legítimo diante de um sistema de governo que suprimiu a liberdade, o desenvolvimento social e econômico. Embora concordasse com Edmund Burke de que as ideias políticas deveriam resultar em ações, Paine defendia a concepção utilitarista do trato social, admitindo que um tipo de gestão de governo que não adere às exigências sociais, deveria ser substituído e não
No ano de 1790, Paine enviou uma carta a Burke explicitando “o entusiasmo dos revolucionários” e os propósitos de não abandonarem o plano revolucionário, mesmo que esse plano lhes custasse a própria destruição, bem como a destruição de seu país.
Em 1791 escreveu o livro ''[[The Rights of Man]]'', uma espécie de manual com ideias iluministas, atacando diretamente o governo monárquico e a tirania desse regime, defendendo que “todo o governo hereditário é tirânico por natureza”. Para Paine o despotismo era a paráclase que impedia a aplicação da liberdade e dos direitos individuais e sociais.
Uma das principais controvérsias entre Thomas Paine e Edmund Burke está em que Paine julgava as revoluções como uma forma de reescrever a história a partir de um novo sistema de governo, ao passo que Burke defendia os novos princípios com base no antigo sistema.
=== Mary Wollstonecraft ===
[[Ficheiro:Mary Wollstonecraft by John Opie (c. 1797).jpg|miniaturadaimagem|
Defensora dos direitos das mulheres, sendo considerada mãe do feminismo moderno, Mary Wollstonecraft juntamente com William Godwin (com quem foi casada) e Thomas Paine participavam de movimentos a favor da revolução com o objetivo de reordenar o poder estabelecido por autoridades monárquicas antecessoras. Com a obra de Burke, Wollstonecraft decide escrever numa clara resposta ao mesmo, no qual ela descreve como “Muito honorável Edward Burke” a carta em forma de panfleto político [[Uma Reivindicação dos Direitos dos Homens|“''A vindication of the rights of men''”]] onde debate diversos pontos por ele propostos no seu livro, e evidencia a importância desta revolução para a França.
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== Desdobramentos ==
=== Alternativas de sistemas propostos ===
Aqueles que discordavam da visão conservadora de Edmund Burke apresentaram diferentes propostas para a substituição do sistema aristocrático vigente, dentre elas: o [[republicanismo]], o [[socialismo agrário]] e o [[anarquismo]].
=== Movimento operário e movimento romântico literário ===
No momento inicial do debate, os participantes estavam argumentando a respeito da revolução britânica, não francesa - a [[Revolução Gloriosa]] do séc. XVII. Ao final já não mais escrevem sobre uma revolução política iminente ou praticável. No entanto, temas e técnicas dos anos 1790 ressurgiram em pelo menos duas áreas distintas no século XIX: no movimento radical operário durante a era pós-napoleônica; e na literatura do movimento Romântico.
=== Receio dos conservadores diante do avanço do radicalismo em meio a opinião pública ===
O período compreendido entre fevereiro de 1792 a fevereiro de 1793, intitulado como annus mirabilis (ano maravilhoso) da atuação dos radicais do século dezoito, não só pela aparição de seus textos clássicos, como também pelo pico da atividade de associação radicais em Londres e nas províncias agora dirigidas por trabalhadores. Segundo Marilyn Butler, em seu livro ''Burke, Paine, Godwin and the Revolution Controversy'', passa a ser uma preocupação para os conservadores o fato da opinião pública aos poucos estar sob influência de intelectuais radicais como [[Joseph Priestley]], [[John Aikin]], [[Anna Laetitia Barbauld|Anna Laetitia Barbuald]], [[Joel Harlow|Joel Barlow]], [[William Blake]], [[Erasmus Darwin]], [[Maria Edgeworth]], [[Johann Heinrich Füssli|Henry Fuseli]], [[William Wordsworth]], [[Thomas Christian Tychsen|Thomas Christie]], [[William Godwin]], [[Thomas Paine|Tom Paine]], [[John Horne|John Horne Tooke]], [[Mary Wollstonecraft]], Thomas Beddoes e [[Humphry Davy]]. A ascensão deste grupo foi vista como perigosa especialmente por ser um período que a importância política da opinião pública começava a ser reconhecida: no início do séc XIX, o governo britânico poderia cair se a imprensa o contrariasse.
=== Derrota do radicalismo e retorno ao debate anos mais tarde ===
A derrota radicalista em meados de 1790 foi um retrocesso temporário. Em 1816, [[William Cobbett]] fez com jornal ''[[Cobbett's Weekly Political Register]]'' o que Paine fez com ''Rights of Man'' em 1792: dirigiu-se diretamente ao público massivo.
=== Repercussão dos ideais de William Godwin dentre intelectuais do século XX ===
O autor Don Locke, em seu livro ''Uma Fantasia da Razão: A Vida e o Pensamento de William Godwin'', interpreta William Godwin - em [[Inquérito Acerca da Justiça Política]] - como alguém lutando com problemas perenes, por exemplo: o progresso governamental e humano, o poder da verdade e da natureza do homem, amizade e obrigação, casamento, sexo e população. O historiador [[E. P. Thompson|E.P. Thompson]], em seu livro ''Benevolent Mr. Godwin'', preocupado com a influência de Godwin, afirma que o autor estava confinado em um pequeno e alto círculo literário. Alguns críticos literários apontam a obra de Godwin ''Inquérito Acerca da Justiça Política'' como periférica para a sua disciplina.
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