Estrutura vestigial: diferenças entre revisões

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É importante ressaltar que vestigial não significa que o órgão ou estrutura não tem função, pode-se sim ter alguma nova função ou desempenhar tarefas secundárias, mas com vestígios de uma função antiga presente em algum outro ser vivo com um grau de parentesco. O processo de adaptação é a causa de um órgão perder ou mudar a sua função, ganhando um novo recurso, ou perdendo a função ancestral, dirigida pela [[deriva genética]] e/ou pela [[seleção natural]], ocorrendo modificações graduais de estruturas já existentes.
 
As estruturas vestigiais são classificadas como [[Homologia|homólogas]] quando comparadas uma espécie à outra, cujo desenvolvimento tem a mesma origem embrionária, porém em diferentes espécies perderam a sua função ou desenvolveram uma nova função de menor importância, podem ser órgãos, DNA sem função “junk DNA”, ou outro tipo de estrutura no organismo do ser vivo, até mesmo refletindo um "comportamento vestigial". Mesmo que o "vestígio" apareça no desenvolvimento embrionário, a mesma pode desaparecer durante essa fase e não se apresentar na vida adulta.<ref name = "Ridley">[[Mark Ridley|RidleyRIDLEY, Mark]]. '''Evolução.''' (3ª edição)''' .Tradução: Henrique Ferreira, Luciane Passaglia, Rivor Fischer - [[Porto Alegre]]: Artmed, 2006 ISBN.</ref>
 
Algumas estruturas podem até ter alguma utilidade limitada a um organismo, mas podem degenerar ao longo do tempo. O ponto principal não é que eles não possuam nenhuma utilidade, mas que eles não conferem uma vantagem significativa o suficiente em termos de aptidão para o indivíduo. É complicado afirmar que uma estrutura vestigial é prejudicial ou não ao organismo a longo prazo, pois o futuro da evolução não é previsível, o que não tem qualquer utilidade no presente pode se desenvolver em algo útil no futuro.<ref name= Dawkins /> As estruturas vestigiais são uma assinatura da [[evolução]], uma evidência de que a evolução existe, e a história dessa evolução está escrita em todo o corpo dos seres vivos. Para melhor esclarecimento de como essas estruturas podem ser encontradas em diversos organismos, inclusive nos seres humanos, segue-se alguns exemplos.
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==== Asas vestigiais ====
 
O [[avestruz]], as [[Ema|emas]] e outras aves não voadoras possuem asas presentes, porém muito pequenas para exercer a função de voar, que é a principal função dessa estrutura, tendo ainda certa funcionalidade no equilíbrio, na direção durante a corrida, exibições sexuais e social, mas para o voo ela é inutilizada, todos avestruzes ainda possuem os dois dedos preservados nas asas (com garras).<ref name="Darwin">[[Charles Darwin|DARWIN, Charles]]. '''A Origem das Espécies.''' (3ª edição)''' -. [[São Paulo (estado)|São Paulo]]: Editora Martin Claret LTDA, 2004. 509-514p. '''<nowiki/>'''</ref> O [[pinguim]] também possui asas que não tem a finalidade do voo, desenvolveram a habilidade do nado com essas asas, tendo uma nova função substancial. Mas claramente ambos os exemplos descenderam de ancestrais que usavam as asas para [[Voo|voar]].
 
Um exemplo dos insetos são as [[Formiga|formigas]], que perderam as suas asas, mas não a capacidade de desenvolvê-las. Somente as '''formigas rainhas''' e os machos possuem as asas, mas as formigas operárias não possuem, provavelmente porque sua vida no subsolo tornou desnecessária essa estrutura.
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==== Ossos vestigiais ====
As cobras possuem vestígios de apêndices, mas não possuem pernas, ao dissecar e examinar com atenção a estrutura interna desse animal, encontram-se pequenos ossos semelhantes aos da bacia e das pernas de animais que possuem apêndices, esse vestígio de bacia não está nem ao menos ligadas à estrutura vertebral, como em sua evolução ocorreu a perda desses apêndices, externamente não são evidentes, mas internamente retiveram a estrutura óssea que era encontrada em seus ancestrais. Além disso, na maioria das cobras o pulmão esquerdo é muito reduzido ou ausente.<ref name= Freeman /> Alguns lagartos "sem patas" carregam vestígios de patas rudimentares dentro da pele, indetectável do lado de fora. As baleias são um clássico exemplo da presença de ossos de quadril, sem nenhuma função, proveniente de sua descendência de um mamífero terrestre.
 
==== [[Nervo laríngeo recorrente|Nervo laríngeo]] ====
O nervo laríngeo é um nervo craniano que parte diretamente do cérebro e não da medula, como é mais comum, sendo uma ramificação do nervo “vago”, que tem este nome porque ele “vagueia” pelo corpo e é utilizado em diversas funções. Um de seus ramos parte de cada lado do pescoço e se dirige à laringe. Uma parte chega à laringe diretamente, mas outra parte chega a ela por um caminho bem longo, ele se dirige para “baixo”, para dentro do tórax, caminha até o coração, dá a volta em uma de suas artérias e volta para cima, até atingir a laringe. Essa [[Gambiarra evolutiva]] com esse caminho diferente do nervo explica-se somente à luz da evolução, nos peixes o nervo vago em direção as guelras, passando por sobre a aorta ventral, mas conforme as modificações, sempre mínimas e graduais, ocorriam com a evolução, a posição relativa dessas partes do plano corporal mudava, o coração migrava, suas artérias se posicionavam em novo espaço e o nervo vago, devido a sua disposição inicial, precisava ficar um pouco mais longo para contornar a aorta. O caminho foi ficando um pouco mais longo em anfíbios, mais longo em répteis e bastante longo em humanos, sendo necessário nos humanos que o nervo laríngeo dê uma grande volta para chegar a um ponto que está a apenas 3 ou 4 centímetros de sua origem craniana. O exemplo mais bizarro seria o da girafa, como sua a aorta se encontra no tórax, e o tórax encontra-se muito distante do crânio, o nervo laríngeo “caminha” 4,5 metros em uma girafa adulta, quatro metros e meio, para chegar a uma posição a centímetros da origem do nervo.<ref name = "Dawkins">[[Richard Dawkins|DAWKINS, Richard]]. '''O maior espetáculo da Terra – EvidenciasEvidências da Evolução.''' (1ª edição)''' -. [[São Paulo (estado)|São Paulo]]: Companhia das Letras, 2009. 317-348p. '''<nowiki/>'''</ref> Segundo Wolf-Ekkehard Lönnig, no entanto, este nervo da girafa também inerva esôfago e traqueia, além de "dá vários filamentos cardíacos para a parte profunda do plexo cardíaco".<ref>''Lönnig, Wolf-Ekkehard. [http://www.weloennig.de/LaryngealNerve.pdf The Laryngeal Nerve of the Giraffe: Does it Prove Evolution?]''. 2010, p 4.</ref>
 
==== Olhos dos vertebrados ====
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==== [[Cóccix|Cauda atrofiada Cóccix]] ====
É um clássico exemplo de estrutura vestigial em humanos, é um pequeno osso que termina a coluna vertebral na parte inferior, sendo um vestígio da cauda dos ancestrais do homem. A coluna vertebral é formada quase sempre por 33 e eventualmente 32 ou 34 vértebras que são ligadas por articulações, tendo um início e um fim, e nessa parte terminal é onde se localiza o cóccix, o vestígio de um "rabo". Sua função original seria na assistência no equilíbrio e na mobilidade do ser, embora ainda serve algumas funções secundárias, como sendo um ponto de fixação para os músculos, nele se inserem vários músculos pélvicos, formando o diafragma pélvico, que mantém fixos muitos órgãos na cavidade abdominal nos seres humanos, o que explica por que razão não foi totalmente degradado.<ref name="Freeman">[[FREEMAN, Scott; HERRON, Jon C]]. '''Análise Evolutiva (4ª edição)''' - [[Porto Alegre]]: Artmed, 2009.</ref> Todos os mamíferos têm uma cauda em um ponto durante seu desenvolvimento; em seres humanos, está presente por um período de quatro semanas, durante os estágios 14-22 da embriogênese humana. Essa cauda é mais proeminente em embriões humanos 31-35 dias de idade. Já ocorreram casos de bebês humanos nascerem com tipo de cauda curta, resultado de um defeito na estrutura.
 
==== [[Apêndice cecal|Apêndice vermiforme]] ====
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=== Vestigialidade em Plantas e Fungos ===
As plantas também têm partes vestigiais, incluindo [[Estípula|estípulas]] e [[Gineceu|carpelos]] sem função, redução de folhas em ''[[Equisetum]]'', [[Paráfise|parafises]] de [[Fungi|Fungos]].<ref>Knobloch, I. "Are There Vestigial Structures in Plants?" ''[[Science]]'' New Series, Vol. 113: 465. 1951.</ref> Exemplos bem conhecidos são as reduções na exibição floral, levando a [[flores]] menores e/ou mais pálidas, em plantas que se reproduzem sem [[reprodução sexuada]], por exemplo, por [[autofecundação]] ou [[clonagem]] obrigatória. <ref name=":0">Ornduff, R. Reproductive Biology in Relation to Systematics. '''Taxon 18:''' 121-133. 1969.</ref> <ref>Eckert, C. G.The loss of sex in clonal plants. '''Evolutionary Ecology''', 45: 501-520. 2002.</ref> As estruturas vestigiais em vegetais envolvem:
 
* Folhas sem função ou [[Efêmera|efêmeras]], como algumas orquídeas<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1108/ajb-10-2018-0058 |titulo=CEO power and corporate social responsibility |data=2019-07-15 |acessodata=2021-03-21 |jornal=American Journal of Business |número=2 |ultimo=Harper |primeiro=Joel |ultimo2=Sun |primeiro2=Li |paginas=93–115 |doi=10.1108/ajb-10-2018-0058 |issn=1935-5181}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://docplayer.net/48417645-Molecular-systematics-and-anatomy-of-vandeae-orchidaceae-the-evolution-of-monopodial-leaflessness.html |titulo=MOLECULAR SYSTEMATICS AND ANATOMY OF VANDEAE (ORCHIDACEAE): THE EVOLUTION OF MONOPODIAL LEAFLESSNESS - PDF Free Download |acessodata=2021-03-21 |website=docplayer.net}}</ref> e [[Cactaceae|cactos]].<ref>BOKE, Norman H .; ANDERSON, Edward F. Estrutura, desenvolvimento e taxonomia no gênero Lophophora. '''American Journal of Botany''' , v. 57, n. 5, pág. 569-578, 1970.</ref><ref>BOKE, Norman H. Caracteres endomórficos e ectomórficos em Pelecyphora e Encephalocarpus. '''American Journal of Botany''' , v. 46, n. 3, pág. 197-209,1959.</ref>
* Plantas sem [[Folha|folhas]] e sem [[clorofila]], mas com organelas fotossintéticas.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.nature.com/articles/s41467-018-04721-8 |titulo=Large-scale gene losses underlie the genome evolution of parasitic plant Cuscuta australis |data=2018-12 |acessodata=2021-03-21 |jornal=Nature Communications |número=1 |ultimo=Sun |primeiro=Guiling |ultimo2=Xu |primeiro2=Yuxing |paginas=2683 |lingua=en |doi=10.1038/s41467-018-04721-8 |issn=2041-1723 |pmid=29992948 |ultimo3=Liu |primeiro3=Hui |ultimo4=Sun |primeiro4=Ting |ultimo5=Zhang |primeiro5=Jingxiong |ultimo6=Hettenhausen |primeiro6=Christian |ultimo7=Shen |primeiro7=Guojing |ultimo8=Qi |primeiro8=Jinfeng |ultimo9=Qin |primeiro9=Yan}}</ref>
* Plantas com [[Folha|folhas]] e sem [[clorofila]], e sem capacidade de [[fotossíntese]].<ref>{{Citar web |url=https://plants.usda.gov/core/profile?symbol=VOYRI&fbclid=IwAR0H00EOvPWqIYSWeygDoMfZpzXeEiono5ZtQq0JhT6V0rF6GCyPxH5ZLfI |titulo=Plants Profile for Voyria (ghostplant) |acessodata=2021-03-21 |website=plants.usda.gov}}</ref>
* Plantas com restos de [[Lóbulo (botânica)|lóbulos]] ou [[Folíolo|folíolos]] no plano corporal das folhas.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1870345317301185 |titulo=The leafy liverworts (Marchantiophyta) of the Valley of Mexico |data=2017-09-01 |acessodata=2021-03-21 |jornal=Revista Mexicana de Biodiversidad |número=3 |paginas=502–518 |lingua=en |doi=10.1016/j.rmb.2017.04.003 |issn=1870-3453}}</ref>
* Plantas com flores que são estéreis e que se reproduzem por clonagem. <ref name=":0" />
* Plantas com frutos sem [[Semente|sementes]].<ref name=":16" />
* Plantas com sementes estéreis.<ref name=":1" />
 
==== Frutos sem sementes ====
Alguns grupos de plantas possuem [[Partenocárpico|frutos partenocárpicos]]. Por definição, frutos partenocárpicos são aqueles onde os rudimentos seminais não se transformam em [[Semente|sementes]] ou quando formam sementes, estas são estéreis<ref name=":1">FONT, Quer P. '''Diccionario de Botánica'''. 4a reimpressão. Editora Labor. Barcelona. 1973. p. 806.</ref>. Espécies brasileiras como a ''Lophogyne lacunosa'' são partenocárpicas: a ''L. lacunosa'' apresenta um fruto com 3,03 mm (± 0,43) X 1,5 mm (± 0,23) e seis costelas, porém, desprovido de sementes<ref name=":16">SILVA, Inara C; KOSCHNIZTKE, Cristiana; BOVE, Claudia P. [http://www.botanica.org.br/trabalhos-cientificos/64CNBot/resumo-ins19032-id5936.pdf?fbclid=IwAR3dqsqs2QqSWNNP0b33rJ5lLt0FbBioiwlqSX6vrZgOCb7SaSbZ7tJmJhM Frutos Partenocárpicos em Lophogyne lacunosa (Podostemaceae]). '''64º Congresso Nacional de Botânica'''. Belo Horizonte. 10-15 de Novembro de 2013.</ref>. Além do gênero ''[[Lophogyne]],'' frutos partenocárpicos ocorrem também nos gêneros ''[[Mourera]]'' e ''[[Podostemum]]''.<ref name=":16" />
 
== Ver também ==