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O '''dinheiro''' é na sua aparência mais imediata o meio usado na troca de [[Bem (economia)|bens]], podendo fazê-lo na forma de [[Moeda|moedas]] (pedaços de metal amoedados e cunhados, isto é, marcados por desenhos, letras e números), notas ([[Cédula|cédulas]] de papel, igualmente desenhadas e escritas), ou, como atualmente, sinais elétricos carregados de informação, chamados bits. Vê-se assim como dinheiro e [[moeda]] se confundem; sendo que as moedas - quando mais físicas são, metal ou papel - mais obscurecem que esclarecem o que este é realmente. Isso porque o que o dinheiro é essencialmente é um [[Signo linguístico|signo]]. E um signo representativo de valores, que é a [[informação]] que este signo carrega. Estes valores representados no dinheiro são os das coisas ([[bens e serviços]]) que se desprendem dos homens nos impessoais mercados, mas também e principalmente os valores dos compromissos, dívidas e [[Crédito|créditos]], que os homens estabelecem entre si desde sempre, ou desde muito antes dos [[mercados]].
[[Ficheiro:LouisKeynes Rhead Robin Hood1933.jpg|miniaturadaimagem|305x305px]]
 
As economias modernas, [[Capitalismo|capitalistas]], são essencialmente monetárias<ref>{{citar livro|título=Teatise on money|ultimo=KEYNES|primeiro=John Maynard|editora=Harcourt, Brace and company.|ano=1930|local=New York}}</ref>; isso significa dizer que o conjunto das relações sociais é mediado pelo dinheiro. O dinheiro não apenas media compras de bens e [[Serviço (economia)|serviços]], mas media a obtenção de [[Trabalho (economia)|trabalho]], as decisões das famílias de gastar ou poupar, e as importantes decisões empresariais - de produzir, investir, ou especular. As decisões empresariais como um todo visam obter mais dinheiro do que o dinheiro inicial. Decisões de produzir implicam utilizar a capacidade produtiva existente, de investir implicam em aumentar essa capacidade, o que só é feito se e quando há elevadas expectativas de ganho. Os capitalistas investem o dinheiro que têm, ou mesmo tomam dinheiro emprestado dos bancos ou o conseguem junto a acionistas, se as expectativas de retorno pagam com sobra os juros dos bancos e os dividendos dos acionistas. Mas eles podem também usar o dinheiro de que dispõem (e o que conseguem obter com bancos e acionistas) para aplicar financeiramente eles próprios. Ou seja, não necessariamente o dinheiro tem de ser gasto por eles. Assim sendo, ao contrário do que pensam alguns economistas desde [[Jean-Baptiste Say|Jean Baptiste Say]], o dinheiro não serve apenas para facilitar as trocas, e aquele não gasto na troca por bens de consumo das famílias não será automaticamente usado pelos capitalistas na compra de bens de investimento. Economistas como [[Karl Marx|Marx]], [[John Maynard Keynes|Keynes]], [[Michal Kalecki|Kalecki]], [[Joseph Schumpeter|Schumpeter]] entre outros heterodoxos chamaram a atenção quanto a isso - que o dinheiro pode se ausentar da produção e assim gerar [[Crise econômica|crises]], pois o dinheiro não gasto equivale a máquinas e equipamentos parados e mão de obra desempregada.
 
Sendo o dinheiro um [[Signo linguístico|signo]] de [[valor]] que serve para exprimir os [[Preço|preços]] das coisas, ele próprio não necessita ser uma coisa. Ou seja, não é dinheiro apenas o que é uma [[mercadoria]] produto do [[trabalho]] e sujeita a [[escassez]] como as outras, ainda que isso tenha acontecido em alguns momentos da história (ver adiante). Não é regra que o dinheiro seja aquela mercadoria que no confronto com as demais torna-se a mais aceita por razões de praticidade. Os economistas que pensam o dinheiro como mercadoria derivam suas teorias de um idílico estado primitivo de [[escambo]]. Para estes economistas ser mercadoria garante ao dinheiro ter estabilidade - essencial em algo que serve de medida. Os economistas que pensam o dinheiro como signo também dão importância para a estabilidade de seu valor, mas esse valor é de saída estipulado pelos governantes que o administram, e eles o fazem controlando as taxas básicas de juros que funcionam como preço do dinheiro, ou quão mais caro ou barato é consegui-lo. Esses economistas são filiados mais ou menos diretamente à escola da moeda como oriundo do Estado de [[Knapp]]<ref>{{citar livro|título=The State Theory of Money.|ultimo=KNAPP|primeiro=Georg Friedrich|editora=Simon Publications|ano=2003|local=San Diego}}</ref>.[[Imagem:Usdollar100front.jpg|thumb|412x412px|O dinheiro é um grande símbolo de [[poder]].]]Os [[Estados nacionais]] têm nas moedas nacionais a sua mais importante [[instituição]]. Garantir que a moeda que produzem seja a que efetivamente os cidadãos usam como dinheiro é fundamental para sua credibilidade política. Usar a moeda como dinheiro implica usá-la como meio de troca (compra e venda de bens e serviços), como reserva de valor (poupança e aplicações financeiras) e, fundamentalmente, como unidade de conta (expressão dos preços, definidora de valores nos contratos, signo generalizado de registro de débitos e créditos). Moedas fracas podem perder uma ou mais destas funções para uma moeda estrangeira. Um governo que permite o enfraquecimento de sua moeda corre sério risco de deixar de ser governo e pode colocar em risco a nação que governa. Isso aconteceu, por exemplo, no período de entre guerras na [[Alemanha]] quando o país passou por um processo de [[Hiperinflação na República de Weimar|hiperinflação]]. Contudo, estão equivocados os economistas que julgam que para manter o valor estável da moeda nacional, e os preços sobre controle, devem ser impostas aos governo rígidas regras que os impeçam de emitir dinheiro demais.
 
Os [[Governo|governos]] emitem dinheiro, na forma de suas moedas (de papel ou eletrônicas), toda vez que fazem um gasto e creditam algum valor nas contas comerciais de algum cidadão ou empresa. Contra esse crédito é realizado um débito na conta do governo no seu [[Banco central|Banco Central]]. O financiamento dos gastos do governo nunca é um problema - em território nacional -, como acreditam os que desconhecem que o dinheiro é uma criatura do Estado. Isso não significa que não seja absolutamente relevante que a sociedade controle como, quando e onde gastam seus governos, o que podem e devem fazer por meio das discussões orçamentárias (onde se define, por exemplo, se mais ou menos recursos devem ir para educação ou propaganda). Contudo, o controle quantitativo do total dos gastos dos governos, com vistas a garantir finanças públicas ditas "equilibradas", parte em geral da má compreensão de que os governos gastam a partir do que arrecadam de seus cidadãos e empresas na forma de impostos.<ref>{{citar livro|título=Teoria monetária moderna: A chave para uma economia a serviço das pessoas.|ultimo=GERIONI et all|primeiro=Enzo|editora=Nova Civilização.|ano=2016|local=Rio de Janiero}}</ref>[2[Ficheiro:Louis Rhead Robin Hood.jpg|miniaturadaimagem|259x259px]]Impostos são essenciais para distribuir a renda entre os cidadãos mas não o são para financiar os gastos dos governos<ref>{{citar livro|título=Dívida - os primeiros 5000 anos.|ultimo=GRAEBER|primeiro=David|editora=Tres estrelas|ano=2016|local=São Paulo}}</ref>. De fato, os Estados ao longo da história, tornaram a sua moeda hegemônica justamente por definirem que seus impostos deveriam ser obrigatoriamente pagos nelas <ref>{{citar livro|título=The Deficit Myth: Modern Monetary Theory and the Birth of the People's Economy|ultimo=KELTON|primeiro=Stephane|editora=Public Affairs|ano=2020|local=New York}}</ref>. Ou seja, a parte da riqueza ou do produto do trabalho dos cidadãos que os Estados reivindicam para si se são exigidos nesse signo, a moeda estatal, em vez de bois ou trigo (como nos filmes de [[Robin Hood]]) as pessoas precisam da moeda do Estado, o que acaba por torná-la a mais aceita para cumprir as funções de dinheiro.
Se por alguma limitação auto-imposta a emissão pura e simples de moeda para financiar o gasto público não for possível, os governos podem recorrer a uma [[quase-moeda]], os [[Título público|títulos de dívida pública]]. Tanto moeda quanto títulos são signos de dívida, quem os carrega tem consigo um documento que vale um pagamento em bens e serviços. Se a moeda é a forma mais líquida do dinheiro, como salienta [[John Maynard Keynes|Keynes]], os títulos públicos - que podem ser resgatados por dinheiro sempre que o governo quiser - garante a estes [[liquidez]] semelhante à daquele, com a vantagem de que mantê-los rende juros. Por isso, estes títulos sempre terão compradores no mercado. "Forças de mercado", ou mais explicitamente, pressões políticas de certos grupos de interesses, podem pressionar estes juros para cima, mas um governo soberano e voltado às demandas sociais em primeiro plano, deve e pode contê-las.
 
Impostos são essenciais para distribuir a renda entre os cidadãos mas não o são para financiar os gastos dos governos[3]. De fato, os Estados ao longo da história, tornaram a sua moeda hegemônica justamente por definirem que seus impostos deveriam ser obrigatoriamente pagos nelas[4]. Ou seja, a parte da riqueza ou do produto do trabalho dos cidadãos que os Estados reivindicam para si se são exigidos nesse signo, a moeda estatal, em vez de bois ou trigo (como nos filmes de [[Robin Hood]]) as pessoas precisam da moeda do Estado, o que acaba por torná-la a mais aceita para cumprir as funções de dinheiro.
[[Ficheiro:Louis Rhead Robin Hood.jpg|miniaturadaimagem|305x305px]]
Se por alguma limitação auto-imposta a emissão pura e simples de moeda para financiar o gasto público não for possível, os governos podem recorrer a uma quase-moeda, os títulos de dívida pública. Tanto moeda quanto títulos são signos de dívida, quem os carrega tem consigo um documento que vale um pagamento em bens e serviços. Se a moeda é a forma mais líquida do dinheiro, os títulos públicos - que podem ser resgatados por dinheiro sempre que o governo quiser - garante a estes [[liquidez]] semelhante à daquele, com a vantagem de que mantê-los rende juros. Por isso, estes títulos sempre terão compradores no mercado. "Forças de mercado", ou mais explicitamente, pressões políticas de certos grupos de interesses, podem pressionar estes juros para cima, mas um governo soberano e voltado às demandas sociais em primeiro plano, deve e pode contê-las.
 
Se a moeda nacional cumpre, em condições normais, o papel de dinheiro no território da nação, o papel de dinheiro mundial será disputado pelas nações mais ricas e poderosas. Ou seja, os países mais ricos - aqueles que produzem bens e serviços mais sofisticados e valiosos podendo concorrer em melhores condições que os outros - e mais poderosos - aqueles que têm poder político, cultural e bélico para subjugar outros - têm também as moedas mais desejadas, mais usadas nas compras e vendas e na denominação dos contratos ao nível global. A depender das circunstâncias de época os países cooperam e concorrem entre si de diferentes maneiras, sustentadas por diferentes acordos monetários globais. Estes acordos definem normas para a troca de moedas, câmbio, para as aplicações financeiras e movimentação de capitais entre países. No século XIX a Inglaterra impôs o seu [[padrão-ouro]] ao mundo; no pós segunda guerra os acordos de [[Acordos de Bretton Woods|Breton Woods]] garantiram [[câmbio fixo]] entre as moedas e algum controle sobre bancos em suas operações nacionais e globais. Em 1971 os [[Estados Unidos]] abandonaram unilateralmente com estes acordos; dos anos 80 em diante, o dólar se mantêm como dinheiro mundial ainda que à custa de muita instabilidade.
 
== História ==
[[Ficheiro:Sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade-livro-yuval-harari-320001-MLB20265211115 032015-O.jpg|miniaturadaimagem|346x346px]]
[[Imagem:Coin making at Jorvik Viking Centre.jpg|thumb|direita|250px|Reconstituição de antigo [[processo]] para [[cunhagem]] de [[moeda]]s.]]
A história do dinheiro está absolutamente ligada à história das primeiras comunidades humanas e à sua necessidade de construir, como chama [[Yuval Harari|Yuval Harari,]] "fábulas compartilhadas"<!-- .Estas Em"fábulas" seuseriam livrohistórias, [[Sapiens: Uma Breve História da Humanidade|Sapiens]]lendas, [[Yuval Harari|Harari]] defende o mesmo que outros tantos historiadores e antropólogos ([[David Graeber|Graeber]] mitos, por exemplo): que oos dinheiro é antesmembros de qualqueruma coisadeterminada umacomunidade ideia,compartilhariam umaentre instituiçãosi sociale que tomateriam diferentespor formasfunção emlhes diferentesorganizar momentosa da história humanavida. SeYuval sabemosHarari quedefende oem mercadoseu ebest oseller EstadoSapiens, sãoque tambémideias instituiçõescomplexas quecomo convivemas entrede siDeus aindaou quede disputemDinheiro aofuncionariam longocomo dosideias-bases séculosem etorno milêniosdas a primazia sobrequais a outra,comunidade sabemosse queorganizaria oe dinheirose nãodefiniria precisaa sersi procurado na história como uma criatura exclusiva do mercadomesma. -->.  oEm queseu fazlivro muitos[[Sapiens: economistasUma aBreve apelaremHistória parada a fábula doHumanidade|Sapiens]], [[escamboYuval Harari|Harari]] comodefende sendoo suamesmo origem.que Nestaoutros indivíduostantos soltos do tempohistoriadores e noantropólogos espaço([[David Graeber|Graeber]] seos relacionariamelenca entreem siseu peloslivro produtosacima docitado): seuque trabalho,o edinheiro aé comparaçãoantes de todosqualquer ascoisa coisasuma queideia, trocassemuma entreinstituição si faria comsocial que umatoma delasdiferentes assumisseformas naturalmenteem odiferentes papelmomentos deda dinheiro.história Nessahumana. fábula
 
Se sabemos que o mercado e o Estado são também instituições que convivem entre si ainda que disputem ao longo dos séculos e milênios a primazia sobre a outra, sabemos que o dinheiro não precisa ser procurado na história como uma criatura exclusiva do mercado - o que faz muitos economistas a apelarem para a fábula do [[escambo]] como sendo sua origem. Nesta indivíduos soltos do tempo e no espaço só se relacionariam entre si pelos produtos do seu trabalho, e a comparação de todos as coisas que trocassem entre si faria com que uma delas assumisse naturalmente o papel de dinheiro. Trata-se pois de uma compreensão de dinheiro como [[mercadoria]], pois este surgiria do fato de que algumas delas apresentariam características físicas (como durabilidade e divisibilidade) que as tornariam mais procuradas do que as outras para as representarem e avaliarem seu valor.
=== Origem e evolução do dinheiro ===
==== O engodo do Escambo ====
[[Imagem:Escambo pintura.jpg|thumb|esquerda|180px]]
 
Sociedades muito antigas, em torno de 5000 anos, conforme a minuciosa pesquisa de [[David Graeber]] em seu [[:en:Debt:_The_First_5000_Years|Debt: the first 5000 years]], criaram meios de registrar seus acordos e compromissos que envolviam dívidas e créditos (ou cessão antecipada ou postergada de bens e serviços) fossem acordos entre os membros de uma mesma [[comunidade]] (de mesmo status ou de status diferentes), fossem com membros de outras comunidades, e mesmo com seres imaginários. Estes compromissos se davam dentro de grupos familiares - sendo os principais, o casamento, o nascimento e a morte - ou envolviam toda a comunidade - como expedições e guerras.  
==== Moeda-mercadoria ====
{{Artigo principal|Moeda-mercadoria}}
Algumas mercadorias, pela sua utilidade, passaram a ser mais procuradas do que outras. Aceitas por todos, assumiram a função de moeda, circulando como elemento trocado por outros produtos e servindo para avaliar o seu valor. Eram as [[moedas–mercadorias]].
 
=== Origem e evolução do dinheiro ===
O [[gado]], principalmente o [[gado bovino]], foi dos mais utilizados; apresentava vantagens de [[locomoção]] própria, [[reprodução]] e [[prestação de serviços]], embora ocorresse o risco de [[doença]]s e da [[morte]].
As primeira formas de moeda foram registros das dívidas uma vez feitos num objeto qualquer - esculpido numa pedra ou num pedaço de madeira -, circulava entre os membros da comunidade, sendo trocado diversas vezes por bens equivalentes antes que fosse resgatado pela dupla original de credor-devedor. Isso significa que qualquer coisas aceita como passível de representar outras poderia ser moeda-dinheiro. Ao mesmo tempo, fora das comunidades cujas relações se davam entre conhecidos, onde as penalidades pelo mau comportamento - não pagamento de uma dívida que faria determinado registro perder seu valor - viriam de uma forma ou de outra, é aceitável que coisas com valor em si mesmo - como as mercadorias [[ouro]] e [[prata]], feitas para serem comercializadas - pudessem ser preferidas como dinheiro. Isso porque no caso de pessoas e grupos sociais que não convivessem de perto, ou que não tivessem relações reiteradas no tempo, o que é mais comum no [[comércio]], o valor intrínseco desses metais funciona como um [[seguro]] - uma vez que não se consiga trocá-lo pelo que está escrito nele, sempre se pode derretê-lo.[[Imagem:Escambo pintura.jpg|thumb|esquerda|288x288px|Escambo - onde o dinheiro surgiria naturalmente da troca de coisas com coisas.]]Assim é que, segundo [[David Graeber|Graeber,]] "o dinheiro é quase sempre algo que paira entre uma mercadoria e um símbolo de dívida"<ref>{{citar livro|título=D'vida - os primeiros 5000 anos|ultimo=GRAEBER|primeiro=David|editora=Tres estrelas|ano=2016|local=São Paulo|página=100}}</ref>, sendo portanto estas duas dimensões, as duas faces da mesma moeda. Ainda assim, pelas ponderações históricas e geográficas que apresenta, [[David Graeber|Graeber,]] apoiado em extensa bibliografia, mostra que a face dinheiro-crédito/título de dívida predominou no tempo e no espaço sobre a face dinheiro-mercadoria. Onde as relações envolviam laços fortes de camaradagem e vizinhança, ou mesmo uma [[exploração]] direta mas que não retirava o explorado (servilizado ou escravizado) de seu contexto comunitário, o dinheiro de crédito preponderava - mesmo convivendo com o dinheiro mercadoria na troca com párias dentro da comunidade (pessoas consideradas inferiores e mau pagadores) ou comunidades estranhas (o que inclui o enfrentamento do risco devido a baixa confiança).
 
O [[sal]] foi outra moeda–mercadoria; de difícil obtenção, principalmente no interior dos [[continentes]], era muito utilizado na [[conservação de alimento]]s.
 
Ambas deixaram marca de sua função como instrumento de troca no nosso [[vocabulário]], pois, até hoje, empregamos [[palavra]]s como [[pecúnia]] (dinheiro) e [[pecúlio]] (dinheiro acumulado) derivadas da palavra latina pecus (gado). A palavra capital ([[patrimônio]]) vem do latim capita ([[cabeça]]). Da mesma forma, a palavra [[salário]] (remuneração, normalmente em dinheiro, devida pelo empregador em face do serviço do empregado) tem como origem a utilização do sal, em [[Roma]], para o pagamento de serviços prestados.
 
Se a origem do dinheiro pouco tem a ver com a "fábula do escambo" - onde quem pescasse mais peixe do que o necessário para si e seu grupo trocava este excesso com o de outra pessoa que tivesse plantado e colhido mais milho ou o que fosse - ela também não pode ser reduzida ao "mito da dívida primordial" - onde somos eternos devedores do deus que nos deu a vida, e assim respeitamos a autoridade de quem define o que vai ser a moeda e qual o seu valor, como será o Estado adiante na história.
No [[Brasil]], entre outras, circularam o [[cauri]] – trazido pelo escravo africano –, o [[pau-brasil]], o [[açúcar]], o [[cacau]], o [[tabaco]] e o [[pano]], trocado no [[Maranhão]], no século XVII, devido à quase inexistência de numerário, sendo comercializado sob a forma de novelos, meadas e tecidos.
[[Ficheiro:Rosetta-stone-display-in-1985.jpg|alt=Na Pedra da Roseta encontra-se uma prova do dinheiro como mero registro pois que o faraó "anulou os débitos que numerosos egípcios e o restante do reino tinham com relação à coroa".|miniaturadaimagem|333x333px|Na Pedra da Roseta há indicações do dinheiro como mero registro pois que o faraó "''anulou os débitos que numerosos egípcios e o restante do reino tinham com relação à coroa".'']]
Longe desses modelos idealizados encontramos indícios do dinheiro mercadoria mais ligado ao comércio e iniciativas privadas e do dinheiro signo mais ligado ao poder central (dos "pagé" das tribos, passando pelos administradores dos templos egípcios, aos [[Bancos centrais|Bancos Centrais]] na atualidade) coexistindo ao longo da história. Se se tem a impressão de que o dinheiro foi desde sempre mercadoria (antes dos metais, o gado ou o sal, por exemplo) é porque os metais brilharam excessivamente no passado da humanidade. Ou seja, o dinheiro amoedado em metais como cobre, prata ou ouro, é mais fácil de encontrar que os registros de operações de débito e crédito em frágeis pergaminhos. Contudo, descobertas como a [[Pedra de Roseta|Pedra da Roseta]] conseguiram mostrar como o dinheiro aparece, e desaparece, num simples num édito faraônico que ordena a anulação de certas dívidas. Isso não significa que a pesquisa sobre o dinheiro como notação tenha por base apenas esses comprovantes materiais; pelo contrário, os principais elementos para essa pesquisa são as palavras, os hábitos e costumes que duraram milênios (como a [[Escravidão|escravização]] por dívida ou seus impedimentos, bem como os impedimentos ou estímulos à [[prostituição]]), os documentos que provam as revoltas quando das crises de dívidas que super expropriavam as famílias e as festas quando ocorria o contrário, os grandes perdões onde se "quebravam as tábuas" onde eram registradas.
 
=== '''Dinheiro nas Comunidades antigas (5000 A.C. a VIII A.C.)''' ===
Com o passar do tempo, as mercadorias se tornaram inconvenientes às [[transação comercial|transações comerciais]], devido à oscilação de seu valor, pelo fato de não serem fraccionáveis e por serem facilmente perecíveis, não permitindo o acúmulo de [[riqueza]]s.
As primeiras formas de dinheiro nasceram dentro das comunidades mais que em suas franjas (onde uma comunidade se relaciona com outra) e por isso eram mais ligadas aos registros de dívida que a algo comercializado. As provas mais cabais remetem à civilização Suméria em torno de 3500 AC. A prata física era utilizada, mas como unidade a qual se conferia um equivalente em produto (um "siclo de prata equivalia a um ''bushel'' de cevada"<ref>{{citar livro|título=Dívida - os 5000 primeiros anos|ultimo=GRAEBER|primeiro=David|editora=Tres Estrelas|ano=2016|local=São Paulo|página=55}}</ref>, seu valor não emergia de transações comerciais entre os sumérios todos em livres mercados, mas da necessidade da burocracia (sacerdotes, oficias, administradores de templos e palácios) de "rastrear os recursos e transferir itens entre departamentos"<ref name=":0">{{citar livro|título=Dívida - os primeiros 5000 anos|ultimo=GRAEBER|primeiro=David|editora=Três Estrelas|ano=2016|local=São Paulo|página=55|páginas=}}</ref>. Essa prata não era cunhada e sequer circulava muito, sendo a maioria das transações meramente registradas, e canceladas, com todo tipo de bens<!--Em muitos países e regiões remotas do globo ainda hoje, há resquícios disso na forma de "cadernetas", onde armazéns públicos, comunitários, ou privados, fazem registros que, de tempos em tempos, são apagados mediante transferência física de bens.-->.
[[Ficheiro:Finnish Biblia 1642 2.jpg|miniaturadaimagem|329x329px|Bíblia fala sobre o Jubileu - perdão generalizado de dívidas.]]
Um registro importante das formas antigas de dinheiro são as revoltas quando do acúmulo de dívidas e as festas quando de seu cancelamento. As revoltas se seguiam o elevado endividamento forçava à escravidão "excessiva" (quando um grupo familiar perdia muitos membros e por muito tempo impedindo a sua reprodução material). A destruição dos registros das dívidas eram comum nas civilizações antigas como ainda ocorre com frequência nos nossos dias, apenas no passado era feita de modo mais ritual, em grandes festas onde se "quebravam as tábuas", ou se queimavam os papiros e pergaminhos.<ref>{{citar livro|título=Slavery in Classical Antiquity: Views and Controverses|ultimo=FINLEY|primeiro=Moses|editora=W.Heffer and Sons.|ano=1960|local=Cambridge}}</ref> Entre documentos históricos onde se encontram referências as cerimônias de perdão de dívidas está a Bíblia, que vai além pois refere-se também à sua institucionalização - ou estipulação de regras de como, quando ou onde deveria ocorrer. É o caso da Lei do [[Jubileu (catolicismo)|Jubileu]], citada em [[Deuteronômio]] e [[Levítico]], que mencionam que a cada 7 anos todas as dívidas deveriam ser canceladas, e a cada 50 propriedades deveriam ser devolvidas, bem como pessoas deveriam ser libertadas.
 
Embora seja arriscado dividir a história como se em cada fase reinassem incólumes tais ou tais formas de vida, relações de produção e valores culturais, ainda assim uma divisão um tanto grosseira pode ajudar a ver como o dinheiro mudou de forma e de conteúdo. No geral, nas [[Sociedade|sociedades]] sem mercado e Estado desenvolvidos, o dinheiro era, como tudo mais, muito ligado à pessoalidade (e aos ''status'' das pessoas dentro de uma comunidade) e não a impessoalidade (e a coisificação das próprias pessoas) como nas sociedades modernas. O dinheiro-dívida frequentemente marcava o que não podia ser pago com coisas, e por isso mantinha as pessoas ligadas por laços inquebráveis, sendo por isso chamadas dívidas de sangue.<!--Daí as dívidas ditas de sangue, as dívidas - compensadas mais que "pagas" - com mulheres, crianças, e os arranjos que mantinham laços de dependência por várias gerações. Note-se que estas sociedades acarretam para diferentes indivíduos, em diferentes posições sociais, bônus e ônus.-->Pode-se dizer que o dinheiro antigo marcava relações de inequivalência entre pessoas, enquanto o dinheiro moderno marca a relação de equivalência entre coisas.
==== Metal ====
Quando o homem descobriu o [[metal]], passou a utilizá-lo para fabricar utensílios e [[arma]]s anteriormente feitos de pedra ou madeira.
 
Também pode ajudar a pensar a história passada do dinheiro a partir de um ponto de ruptura crucial com o passado comunal, que foi a centralização do [[poder]] nos grandes [[Império|impérios]] que se organizaram militarmente, e que se expandiram graças a dinâmica entre [[Militarismo|militarização]], [[escravização]] e [[taxação]] que tinha na moeda cunhada seu principal dispositivo operacional. Estes impérios, que dão as bases para a civilização moderna no Oriente e no Ocidente, são os da [[Lídia]] ([[Grécia Antiga|Grécia]]), da [[Índia]] e da [[China]].
Por apresentar vantagens como a possibilidade de entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal foi elegido como principal padrão de valor. Era trocado sob as formas mais diversas. A princípio, em seu estado natural, depois sob a forma de barras e, ainda, sob a forma de objetos, como anéis, braceletes etc. O metal comercializado dessa forma exigia aferição de peso e avaliação de seu grau de pureza a cada troca. Mais tarde, ganhou forma definida e peso determinado, recebendo marca indicativa de valor, que também apontava o responsável pela sua emissão. Essa medida agilizou as transações, dispensando a pesagem e permitindo a imediata identificação da quantidade de metal oferecida para troca.
 
=== Dinheiro nos Impérios axiais (VIII A.C. a VI D.C) ===
==== Moeda em formato de objeto ====
Entre os anos de 800 AC e 600 AC teve lugar em três diferentes regiões do globo - nos territórios mais ou menos correspondentes às atuais Grécia, India e China - fenômenos comuns ainda que com distintas causas e consequências), são eles: fratura política seguida de caos social, emergência de novas ideias/religiões de base mais popular, exércitos profissionais e [[cunhagem]] de moeda por governos centralizados. Há pistas na história<ref name=":0" /> de que tudo isso esteve relacionado às crises devido ao super endividamento das populações com os segmentos proprietários que foram concentrando terras e forçando a uma cada vez maior servidão por dívida. Sem condições de sobrevivência, de acesso à terra e aos familiares para a trabalharem, indivíduos saiam das comunidades e se organizavam militarmente, abandonando de vez os laços que estavam a perder de sangue e posição. O poder das famílias aristocráticas proprietárias será confrontado por um novo movimento que adentrará ao Estado, fazendo uso do poder dos exércitos organizados e da moeda cunhada. A facilitação do acesso à moeda possibilitará à população a quitação de dívidas sem perdas de membros e terras. A cunhagem punha fim assim a servidão por dívida, viabilizava o campesinato, o exército do Império, e mesmo alguma participação popular no poder. Tudo isso, por sua vez, às custas da escravização dos vencidos pelo Império militar. <ref name=":0" />
Os utensílios de metal passaram a ser mercadorias muito apreciadas. Como sua produção exigia, além do domínio das técnicas de fundição, o conhecimento dos locais onde o metal poderia ser encontrado. Essa tarefa, naturalmente, não estava ao alcance de todos. A valorização, cada vez maior, destes instrumentos levou à sua utilização como moeda e ao aparecimento de réplicas de objetos metálicos, em pequenas dimensões, que circulavam como dinheiro. É o caso das moedas faca e chave que eram encontradas no Oriente e do talento, moeda de [[cobre]] ou [[bronze]], com o formato de pele de animal, que circulou na Grécia e em Chipre.
[[Ficheiro:Maximinus_denarius_-_transparent_background.PNG|esquerda|miniaturadaimagem|219x219px|Antigo [[denário]] [[Roma antiga|Romano]].]]
As moedas cunhadas, com brasões dos governantes e símbolos numéricos, passaram a circular muito mais que no passado pois os governos exigiam que elas fossem utilizadas nos pagamentos de impostos (como ocorre também nos nossos dias, dando aos governos o poder de [[senhoriagem]], ou de produtor monopolista da moeda que todos precisam usar). Que sua importância tivesse a ver com ser essa moeda de ouro ou a prata (metais raros e valiosos) não é o mais provável, pois primeiro essa monetização das trocas tem de "pegar" (ser aceita por todos) para então a demanda por metais crescer. O mais provável é que primeiro venha o exército gastando os [[Soldo (moeda)|soldos]] (pagamento dos soldados) recebidos pelo Estado por onde que que ande a conquistar/invadir; depois vem a aceitação dessa moeda estatal por parte daqueles que estão sendo subjugados a pagarem impostos e a fazerem-no nesta moeda; aí então vem a necessidade de material físico para a cunhagem, que serão os metais obtidos graças a escravização dos invadidos. <ref>{{citar livro|título=The Nature of Money|ultimo=INGHAM|primeiro=Geoffrey|editora=Polity Press|ano=2004|local=Cambridge}}</ref>
 
Pesquisadores como [[Karl Polanyi]], Mitchell Innes, [[Michael Hudson]], entre outros, destacam essa proximidade entre escravismo, militarismo e moeda estatal, como estando por trás do fortalecimento de uma economia mercantil e impessoal no [[Mediterrâneo (desambiguação)|Mediterrâneo]], [[China]] e [[Índia]] - uma vez que a demanda generalizada por esta moeda cujo curso foi forçado pelo poder (bélico inclusive) do Estado fazia com que as pessoas se envolvessem cada vez mais em transações monetárias. Se, por um lado, isso trouxe um novo vigor à vida econômica, trouxe novamente, ainda que de forma diferente, as crises devidos ao acúmulo de dívidas que, não perdoadas, implicavam perda de condições objetivas de vida. Sendo assim, as revoltas terão lugar novamente e cada um dos grandes Impérios perecerá cada um ao seu modo. No caso europeu, o fim do [[Império Romano]] será também o fim da moeda estatal, ainda que ela continuasse a circular por séculos.
==== Moedas antigas ====
[[Imagem:8 Escudos.jpeg|thumb|direita|180px|Dobra de 8 Escudos.]]
Surgem, então, no século VII a.C., as primeiras moedas com características das atuais: são pequenas peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do [[cunho]] oficial, isto é, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor. São cunhadas na Grécia moedas de [[prata]] e, na [[Reino da Lídia|Lídia]],<ref>{{citar web |url=http://www.casadamoeda.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2&Itemid=9 |título=Origem do dinheiro |acessodata=17 de janeiro de 2012 |publicado=[[Casa da Moeda do Brasil]] |urlmorta = sim |arquivourl = http://web.archive.org/web/20120305063328/http://www.casadamoeda.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2&Itemid=9 | arquivodata = 5 de março de 2012}}</ref> são utilizados pequenos lingotes ovais de uma liga de [[ouro]] e prata chamada ''electro''.
 
=== '''Do ouro ao dinheiro de papel (VI D.C. a XVI D.C.)''' ===
As moedas refletem a mentalidade de um [[povo]] e de sua época. Nelas podem ser observados aspectos políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. É pelas impressões encontradas nas moedas que conhecemos, hoje, a [[efígie]] de personalidades que viveram há muitos séculos. Provavelmente, a primeira figura histórica a ter sua efígie registrada numa moeda foi Alexandre, o Grande, da Macedônia, por volta do ano 330 a.C.. No princípio, as peças eram fabricadas por processos manuais muito rudimentares e tinham seus bordos irregulares, não sendo, como hoje, peças absolutamente iguais umas às outras.
Falando exclusivamente da Europa - berço da [[Idade Moderna|civilização moderna]] Ocidental e do [[Capitalismo]] como [[modo de produção]] que transformará o dinheiro em capital - pode-se dizer que o dinheiro amoedado de um governo forte central desapareceu durante toda a [[Idade Média]]. De fato, mesmo que moedas de ouro e prata romanas ainda circulassem, não eram usadas no cotidiano nem das populações citadinas (bastante diminuídas nesse período) nem das numerosas populações rurais; e mesmo nas transações mais robustas do comércio de curta distância e longa distância o ouro, prata e cobre utilizados valiam como tais e não pelo brasão que ostentavam. Assim, do mesmo modo como o poder esfacelou-se no mundo [[Feudalismo|feudal]], as moedas circulantes eram inúmeras e, na prática, foram subjugadas novamente pelo dinheiro de crédito que servia muito bem às comunidades reduzidas, mais uma vez, aos seus laços de proximidade e consanguinidade.
 
A decomposição feudal foi lenta e se deu principalmente: pela transformação do trabalho obrigado dos [[Servidão|servos]] nas terras de domínio dos [[Senhores feudais|senhores]] em prestações pagas em gêneros ou dinheiro, o que estimulou a retomada do cálculo pessoal e a luta pelo trabalho livre e propriedades camponesa; e pela retomada do comércio, reativação das [[Feira|feiras]], do [[artesanato]] no âmbito das [[Corporações de ofício|corporações]] citadinas, e da vida urbana em geral<ref>{{citar livro|título=História do capitalismo de 1500 a nossos dias|ultimo=BEAUD|primeiro=Michael|editora=Brasileinse|ano=1987|local=São Paulo}}</ref>. O dinheiro ligado ao comércio, e a uma mercadoria em particular, volta à cena. Mas esta retomada do comércio ocorre numa sociedade em revolução interna, tendo lugar algo como um capitalismo mercantil que dribla as proibições morais, religiosas e legais (que proibiam a chamada usura, ou cobrança de juros dos endividados) que sempre rondaram o dinheiro e ele passa a ser [[negócio]] como nunca antes. Nesse caso, certificados em papel de depósitos de itens de comércio nos portos (como cargas de especiarias ou escravos), de jóias e bens de luxo em lojas de penhores, de quantidades de ouro e prata em casas que os seguravam, passaram a ser aceitos/negociados em bancas de trocas que deram origem aos [[Banco|bancos]]. Além disso, essa mobilização de diversos tipo de moedas privadas acontece ao mesmo tempo que o renascimento dos [[Estado|Estados]]. Desta vez, pequenos (se comparados a dimensão territorial dos antigos impérios) estados nacionais se formam quase simultaneamente na Europa, menos ligados a etnias, castas e exércitos e mais ligados a classes e seus negócios (exércitos ficam mas sob mando dos poderes/burocracias do Estado). A moeda estatal passa a ser novamente central. Um governante (rei ou presidente) não pode precisar de um dinheiro que não emita, não pode dever a um banqueiro privado qualquer, mas ao seu próprio (o [[Banco central|Banco Central]] Holandês e o Inglês nascem já no século XVII).
==== Ouro, prata e cobre ====
Os primeiros metais utilizados na cunhagem de moedas foram o ouro e a prata. O emprego destes metais se impôs, não só pela sua raridade, beleza, imunidade à corrosão e valor econômico, mas também por antigos costumes religiosos. Nos primórdios da civilização, os sacerdotes da [[Babilônia]], estudiosos de astronomia, ensinavam ao povo a existência de estreita ligação entre o ouro e o Sol, a prata e a Lua. Isto levou à crença no poder mágico destes metais e no dos objetos com eles confecionados. A [[cunhagem]] de moedas em ouro e prata se manteve durante muitos séculos, sendo as peças garantidas por seu valor intrínseco, isto é, pelo valor comercial do metal utilizado na sua confeção. Assim, uma moeda na qual haviam sido utilizados vinte gramas de ouro, era trocada por mercadorias neste mesmo valor. Durante muitos séculos os países cunharam em ouro suas moedas de maior valor, reservando a prata e o cobre para os [[Valor|valores]] menores. Estes sistemas se mantiveram até ao final do século passado, quando o cuproníquel e, posteriormente, outras ligas metálicas passaram a ser muito empregados, passando a moeda a circular pelo seu valor extrínseco, isto é, pelo valor gravado em sua face, não dependendo do metal nela contido. Com o advento do papel-moeda a cunhagem de moedas metálicas ficou restrita a valores inferiores, necessários para troco. Dentro desta nova função, a durabilidade passou a ser a qualidade mais necessária à moeda. Surgem, em grande diversidade, as ligas modernas, produzidas para suportar a alta rotatividade do numerário de troco.
 
[[Imagem:papelmoeda1810.jpg|thumb|esquerda|180px|Primeiro bilhete de banco, emitido pelo Banco do Brasil em 1810.]]