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<!-- Edite abaixo desta linha -->== Definição ==
A nova história política é uma abordagem historiográfica ['''hiperlink nathan[Historiografia|historiográfica]'''] que se dedica à compreensão do [[poder político]] e suas manifestações, incluindo atores, práticas e discursos ao longo do tempo. Examina a construção e transformação das [[Relação de poder|relações de poder]], considerando fatores [[sociais]], [[Cultura|culturais]], [[Economia|econômicos]] e ideológicos ['''hiperlink nathan[Ideologia|ideológicos]]''', valorizando as perspectivas das pessoas comuns e [[Marginalização|grupos marginalizados]].{{sfn|Hernández|2012|p.=9-11}}
 
Enquanto [[Disciplina (conhecimento)|campo de estudo]], a nova história política também explora [[questões globais de segurança]], incluindo [[violência política]], [[terrorismo]] e [[segurança econômica]]. Analisa a influência das [[Organização não governamental|organizações não governamentais]], [[relações transnacionais]] na negociação de ideias e os impactos da [[globalização]] nas políticas de [[Migração humana|migração]]. Destaca a importância da [[Supranacionalismo|supranacionalidade]] na história contemporânea, promovendo abordagens historiográficas comparativas para compreensão de questões políticas complexas.{{sfn|Brückweh|2023|p=}}
 
Essa abordagem inovadora da [[história política]] analisa as práticas simbólicas e discursivas da política, ultrapassando as estruturas institucionais tradicionais. Originada no final do século XX, integra [[estudos culturais]] e da [[história intelectual]], situando os estudos políticos não mais como um campo autônomo da historiografia, mas sim uma dimensão emergente e inseparável das demais.{{sfn|Bogue|1977|p.=201-202}}
 
Desse modo, a nova história política é uma abordagem que tem como objetivo a ampliação da compreensão sobre a política enquanto dimensão da experiência humana, indo além da visão tradicional que se concentra nas [[Elite|elites]] e no [[Estado]]. Para isso, ela explora tópicos como o comportamento dos eleitores, a influência dos grupos de pressão, a [[opinião pública]], as [[relações internacionais]], entre outros aspetos. A nova história política também se apoia na utilização de [[Teoria|teorias]] e [[Método científico|métodos]] [[Interdisciplinaridade|interdisciplinares]], incorporando suas ideias e perspectivas para apurar a [[análise histórica]], valorizando a [[cultura política]], que compreende as [[Norma|normas]], [[Valores morais|valores]], [[Atitude|atitudes]], [[Crença|crenças]] e conceitos compartilhados por distintos [[grupos políticos]]. A nova história política procura uma compreensão mais completa e sofisticada dos [[fenômenos políticos]], considerando tanto as estruturas e instituições políticas quantos as suas práticas, comportamentos e [[Representação cultural|representações culturais]].{{sfn|Motta|1996|p.=92-100}}
 
== Contexto intelectual de surgimento ==
O surgimento da nova história política ocorreu na segunda metade do século XX como uma resposta às limitações da [[História política|história política tradicional]].'''[quais, eramtais essascomo limitações?o levandogrande emenfoque consideraçãonas quelideranças opolíticas leitore foquenos apenas[[Estado|estados nesse itemnacionais]''']. A nova história política buscou ampliar os horizontes da pesquisa histórica voltada aos [[fenômenos políticos]], incorporando abordagens [[Interdisciplinaridade|interdisciplinares]] e levando em consideração uma grande variedade de [[atores sociais]].{{sfn|Cardoso|2012|p.=53}}
 
Esse processo variou conforme o contexto intelectual de [[produção histórica]]. No caso da história política dos [[Estados Unidos]], a nova história política começou a surgir na década de 1970, porém ganhou um impulso significativo a partir da década de 1990. Esse impulso foi desencadeado por uma série de debates sobre a [[participação política]] das [[Mulher|mulheres]], [[Afro-americanos|população negra]], e [[Movimento social|movimentos sociais]], vinculados aosao interesse pelo estudo de aspectos como [[identidade política]] e [[cultura política]]. Entre os autores mais influentes nesse contexto, podemos citar [[Allan G. Bogue]], [[Jeffrey L. Pasley]], [[Andrew W. Robertson]] ['''hiperlink nathan]'''e [[David Waldstreicher]], reconhecidos por sua contribuição para a ampliação das abordagens e temas explorados no campo da nova história política. O livro [[Beyound the Founders: New Approaches to the Political History of the Early American Republic]] |'''[itálico]'Beyound the Founders: New Approaches to the Political History of the Early American Republic'']] é um exemplo de uma importante obra que trouxe novas perspectivas e enfoques para o campo da nova história política nos Estados Unidos, pois explorou temas como [[Género|gênero]], [[Raça (categorização humana)|raça]], [[cultura]] e [[participação política]] de grupos tradicionalmente excluídos das [[Narrativa histórica|narrativas históricas]].{{sfn|Bogue|1977|p.=202-213}}{{sfn|Beneke|2005|p.=314-318}}
 
Na historiografia francesa ['''hiperlink nathan[França|francesa]]''', a nova história política surge na década de 1970, também como uma resposta às limitações da história política tradicional. Essa nova abordagem incorporou métodos mais abrangentes que considerava não somente as instituições políticas, mas também os aspectos sociais, as [[relações de poder]], as [[Ideologia|ideologias]] e as práticas políticas em diferentes contextos. A relação entre a nova história política e a [[Escola dos Annales ['''hiperlink nathan]'''] é imbricada e complexa. Os historiadores ligados à Escola dos Annales eram críticos à história política tradicional, que consideravam factual e descritiva, portanto havia desconfiança quanto aos novos estudos no campo da política. Todavia, a partir de meados do século XX, o estudo dos fenômenos políticos passou a interessar a [[historiografia]] novamente . '''[questrão do ponto]'''Historiadores como [[René Rémond]] e [[Jacques Julliard]], começaram a explorar a esfera política de maneiras inovadoras, ampliando suas análises para incluir aspectos culturais, [[Sociedade|sociais]] e simbólicos ['''hiperlink nathan[Símbolo|simbólicos]]''', se empenhando em defender a abordagem da nova história política.{{sfn|Mederiros|2017|p.=262-265}}{{sfn|Barros|2008|p.=7-10}}{{sfn|Bourdé|Martin|2018|p.=341-346}}
 
Na [[Alemanha]], observamos o surgimento da nova história política a partir da década de 1960, nona mesmomesma contextoconjuntura das demais: a crise da história política tradicional. Nesse contexto, a nova história política passou a se concentrar principalmente em aspectos como [[Ideia|ideias]], [[Valores morais|valores]], [[Identidade|identidades]], práticas e [[estruturas sociais]] moldavam e eram moldadas pela [[política]]. No campo historiográfico da nova história política na Alemanha, [[Heinz-Gerhard Haupt]] é considerado um dos principais expoentes com pesquisas relacionadas à [[violência política]] e de [[Violência de Estado|Estado]].{{sfn|Mergel|2012|p.2-3}}{{sfn|Brückweh|2023|p=}}
 
Entre muitas abordagens, a [[Kulturgesschichte der Politik]] |'''[itálico?Kulturgesschichte nathan]'der Politik'']], ou [[história cultural da política]], ganhou relevância na historiografia alemã entre o fim do século XX e início do século XXI, buscando compreender como as [[práticas políticas]] são influenciadas por [[fatores culturais]] e como a política, por sua vez, molda a cultura de uma sociedade. Um dos seus principais conceitos é o de [[política simbólica]], reconhecendo que a política não é apenas uma questão de ação prática, mas também de significado [[O Simbólico|simbólico]], ou seja, procura-se a compreensão de como os [[símbolos políticos]] são utilizados para construir identidades, legitimar o poder, mobilizar as massas e atuar sob a [[opinião pública]].{{sfn|Mergel|2012|p.=4-7}}
 
== História Política Tradicional ==
O século XIX foi um período de ascensão e consolidação da [[historiografia]] dedicado a explicar os fenômenos políticos. Impulsionada por um paradigma predominante no período conhecido como [[Positivismo histórico|positivismo]], a história política tornou a busca pela [[verdade histórica]] o seu principal objetivo. A procura pela reconstrução do passado "tal qual ele ocorreu" com base nas [[Fonte documental|fontes documentais]] foi a tônica da história política neste período. Historiadores proeminentes, como [[Leopold von Ranke|Leopold Von Ranke]] e [[Numa Denis Fustel de Coulanges]], eram defensores da escrita da história "como ela essencialmente foi", o que marcava essa abordagem pela [[Objetividade (filosofia)|objetividade]].{{sfn|Oliveira|2009|p.=95-96}}
[[Ficheiro:Jacques-Louis David, The Coronation of Napoleon edit.jpg|miniaturadaimagem|367x367px|"[[A Coroação de Napoleão]]", pintada por [[Jacques-Louis David]], captura o apogeu do poder político no século XIX. Esta obra imortaliza o momento em que [[Napoleão Bonaparte]] é coroado imperador da [[França]] em 1804, destacando a influência dos líderes políticos naquele período.]]
Neste período, essa abordagem também foi marcada pela ênfase em construção de narrativas ['''hiperlink nathan[Narrativa|narrativas]]''' lineares, descritivas, cronológicas ['''hiperlink nathan[Cronologia|cronológicas]]''', centradas no Estado e na lógica das [[Elite|elites]], nas ações das lideranças políticas e seu enaltecimento. Possuía uma tendência a não se concentrar em aspectos contemporâneos, pois uma de suas características era a necessidade de olhar para o passado distante para alcançar a objetividade por meio do distanciamento temporal. Os eventos políticos eram tratados com ênfase nas decisões e estratégias dos governantes, os quais eram os principais atores presentes nas pesquisas desenvolvidas. Os [[Estadista|estadistas]], [[Militar|militares]] e até mesmo [[Líder religioso|líderes religiosos]] eram frequentemente tratados como figuras heroicas e visionárias, cujas ações eram os verdadeiros motores da história. Esta história política se limitava, portanto, ao relato das crises ministeriais, das mudanças de [[Regime político|regime]] ou de [[chefe de governo]] e dos feitos dos "grandes homens".{{sfn|Medeiros|2017|p.=258-261}}
[[Ficheiro:Hermannsdenkmal statue.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Monumento criado em 1875 em homenagem a [[Armínio]], um comandante [[Germanos|germânico]] que impôs uma dura derrota ao [[Império Romano]] na [[Batalha da Floresta de Teutoburgo|Batalha da floresta de Teutoburgo]]. Sua imagem foi utilizada na [[Alemanha]] do século XIX para inflar o nacionalismo local, construindo a imagem de um líder germânico que unificou o seu povo contra um invasor estrangeiro. ]]
O século XIX igualmente foi marcado pelo surgimento da [[História]] como uma ciência autônoma em relação a outras áreas, ou seja, o campo da disciplina ganhou uma série de processos [[Metodologia|metodológicos]] que caracterizaram o "jeito correto" de se fazer História como ciência. Nesta mudança o [[testemunho]] e a [[Oralidade|transmissão oral]] '''[mudar hiperlink para oralidade? nathan]''' perderam espaço para os vestígios históricos pertencentes ao passado, que habitualmente são chamados de [[fontes históricas]]. Portanto, segundo o raciocínio da época, o processo da pesquisa histórica, se construída corretamente, levaria o pesquisador ao rumo da verdade histórica.{{sfn|Rousso|2016|p=?}}
 
É neste momento do nascimento da História como disciplina científica independente que se consolida o uso político dela pelo [[Estado-nação]]. Durante o século XIX os países europeus se preocuparam em construir suas origens com a intenção de inflar a onda de [[Nacionalismo|nacionalismos]] que o continente vivia, sendo assim, os historiadores se tornaram "servos da nação" e lideraram um processo que punha a ciência a serviço do [[Estado]]. As nações europeias usavam da História para criar uma narrativa linear sobre a origem comum de seus cidadãos, procedimentos que visavam estabelecer um sentimento de pertencimento a nação baseado em uma construção histórica. Desde modo, vários países romantizaram suas origens em um passado longínquo, incentivando nacionalismos exacerbados e, ao mesmo tempo, legitimando suas próprias existências e intenções expansionistas. Este clima vai dominar o cenário do continente por décadas, gerando rivalidades entre os países e influenciando tanto no [[imperialismo]] europeu do século XIX quanto no desencadeamento da [[Primeira Guerra Mundial]].{{sfn|Olivier|2017|p=?}}
 
No entanto, essa abordagem historiográfica manteve-se com grande relevância até as primeiras décadas do século XX. Contudo, começou a enfrentar críticas substanciais devido à natureza elitista, [[Reducionismo|reducionista]] e superficial em relação aos temas que buscava investigar. Importantes historiadores do período, como [[Marc Bloch]], [[Lucien Febvre]] e [[E. H. Carr|E.H. Carr]], foram alguns dos críticos proeminentes desse paradigma, destacando que essa maneira "tradicional" de abordar a [[história]] negligenciava as complexidades da sociedade e limitava-se a uma visão estreita, centrada principalmente nas ações de líderes políticos e eventos de grande magnitude. Além disso, ao focar excessivamente nas figuras proeminentes e nas decisões políticas, essa abordagem deixava de lado as demais nuances e conexões que constituem a sociedade como um todo.{{sfn|Bourdé|Martin|2018|p.=338-341}}{{sfn|Carr|1984|p.=50-53}}
 
== A Escola dos Annales e a mudança de paradigma ==
{{Artigo principal|[[Escola dos Annales]]}}
'''[sugestão de colocar a lupa o link para o verbete da Escola dos Annales. NATHAN]'''
 
No decorrer do século XX, a [[história política]] passou por significativas transformações, afastando-se de uma exclusiva concentração no [[Estado]], suas lideranças e [[Guerra|eventos bélicos]]. Essas mudanças marcaram o surgimento de uma nova abordagem histórica neste campo da historiografia, focada nas diversas formas de [[poder]], incluindo o [[Símbolo|simbólico]].{{sfn|Almeida|2015|p.=355-357}}
[[Ficheiro:Marc Bloch.jpg|miniaturadaimagem|[[Marc Bloch]] (1886-1944). Foi um historiador francês. Célebre por ter sido um dos fundadores da Escola dos Annales.]]
A [[Escola dos Annales]] desempenhou um importante papel nessa transformação. Ao criticar a abordagem tradicional da História Política, introduziu os conceitos de "[[longa duração]]" e promoveu a [[interdisciplinaridade]] ao dialogar com campos como a [[Geografia]], [[Economia]], [[Psicologia]] e [[Antropologia]]. Ela se preocupou em romper com a relação que a História e os historiadores tinham com os Estados. Estes não mais serviriam a uma causa nacional, mas sim, a uma nova maneira de se pensar a [[pesquisa histórica]]. Deste modo, as abordagens que eram comuns durante o século XIX e início do XX, tais como: a historia dos líderes políticos, das grandes batalhas e da formação da nação ['''hiperlink nathan[nação]]''', caíram em desuso. Agora, sob a perspectiva dos Annales as preocupações dos historiadores estavam em outros pontos, como por exemplo: no interesse pelas estruturas profundas da sociedade, na preferência de análises baseadas na longa duração e no olhar mais atento as [[Subalterno|classes populares ['''hiperlink nathan]''']. Os historiadores da Escola dos Annales adotaram a abordagem da "[[história-problema]]", na qual formularam questões específicas para orientar a escolha de [[Fonte histórica|fontes]] e [[Método|métodos]] de análise. Era construída uma nova forma de pensar a [[Disciplina (conhecimento)|disciplina]].{{sfn|Oliveira|2009|p.=97-98}}
 
Esta verdadeira [[revolução]] na História[[história]] como ciência fez com que o campo da História[[história Políticapolítica]] caísse em desuso, pois ela ficou estigmatizada por ter sido usada tanto tempo pela causa do Estado, consequentemente, seu prestígio caiu bruscamente a partir das décadas anos de [[1920]] e [[1930]], dando assim, espaço para que outros campos surgissem no âmbito da [[pesquisa Históricahistórica]]. Essa nova abordagem não se limitou ao estudo das instituições estatais, mas também explorou as complexas relações de poder na [[sociedade]]. Buscou investigar a [[participação política]], examinar as representações coletivas, analisar as práticas políticas cotidianas e os [[Eleição|processos eleitorais,]] mergulhando na vida dos indivíduos comuns e investigando como a [[política]] influencia o seu cotidiano. Assim, a influência da Escola dos Annales na Históriahistória foi marcada pela introdução de novos métodos e abordagens, expandindo o campo de estudo, permitindo uma compreensão mais profunda e abrangente também dos [[fenômenos políticos]].{{sfn|Barros|2008|p.=1-6}}{{sfn|Cardoso|2012|p.=50-53}}
 
== Perspectivas Contemporâneas sobre o Conceito de Poder ==
Com o surgimento da nova história política, houve uma mudança significativa na forma como a [[historiografia]] passou a observar o conceito de [[poder]], pois a história política tradicional tendia a se concentrar nas [[instituições políticas ['''hiperlink nathan]'''] formais e nas [[Elite|elites governantes]], direcionando a análise das [[Estrutura de poder|estruturas de poder]] nas ações das lideranças políticas. No entanto, a nova história política ampliou o escopo de análise ao considerar também os aspectos informais do poder e as práticas cotidianas que formam as [[relações políticas]], não focando somente nas instituições e nos indivíduos pertencentes às elites políticas, mas buscando compreender como o [[poder]] é exercido, negociado e contestado em todos os níveis da [[sociedade]]. Ao perceber o conceito de poder dissociado da atuaçãoação de poucosum número limitado de atores sociais, a nova história política adota uma perspectiva mais abrangente e inclusiva, pois destaca a importância a considerar múltiplas vozes na análise dos [[fenômenos políticos]], permitindo uma compreensão mais complexa das dinâmicas que permeiam as [[Relação de poder|relações de poder]] ao longo do tempo.{{sfn|CARDOSO|2012|p.=43-47}}{{sfn|MENDONÇA|FONTES|2012|p.=58-60}}
 
Durante o século XX, o processo de transformação da [[história política]] contou com a influência do desenvolvimento de novas perspectivas teóricas e com o desenvolvimento de outros campos do conhecimento como a [[ciência política]], [[sociologia]], [[antropologia]] e [[linguística]], entre outras, num processo não necessariamente vinculado à historiografia, porém estritamente relacionado ao conceito de poder, aspecto central na nova história política.{{sfn|CARDOSO|2012|p=37-42}}
=== Influência dos teóricos: Gramsci, Bourdieu e Foucault ===
Durante o século XX, o processo de transformação da [[história política]] contou com a influência do desenvolvimento de novas perspectivas teóricas, não necessariamente ligadas à historiografia, relacionadas ao conceito de poder, aspecto central na nova história política.{{sfn|CARDOSO|2012|p=37-42}}
 
=== Influência de Antônio Gramsci ===
[[Antonio Gramsci|Antônio Gramsci]] aborda o conceito de poder de forma ampla e heterogênea. Em sua teoria, o poder não se limita apenas à coerção por meio da violência, mas também está enraizado na [[cultura]], nas [[Ideia|ideias]] e nas [[Relação social|relações sociais]], argumentando que o poder é exercido não apenas pelas [[Classe dominante|classes dominantes]] através do [[Estado]], além disso, o poder é exercido pela construção de um consenso ativo por parte das [[classes subalternas]]. Nesse contexto, desenvolve o conceito de [[hegemonia]] para explicar como ocorre a dominação de uma classe pela outra. Segundo Gramsci, a hegemonia é alcançada quando as classes dominantes conseguem obter a adesão e consentimento das outras classes sociais, tornando a sua visão de mundo e seus interesses particulares como se fossem os interesses gerais de toda a sociedade.{{sfn|GRAMSCI|2017|p=79-83}}
[[Antonio Gramsci|Antônio Gramsci]] aborda o conceito de [[poder]] de forma ampla e heterogênea. Em sua [[teoria]], o poder não se limita apenas à coerção por meio da [[violência]], mas também está enraizado na [[cultura]], nas [[Ideia|ideias]] e nas [[Relação social|relações sociais]], argumentando que o poder é exercido não apenas pelas [[Classe dominante|classes dominantes]] através do [[Estado]], além disso, o poder é exercido pela construção de um consenso ativo por parte das [[classes subalternas]]. Nesse contexto, desenvolve o conceito de [[hegemonia]] para explicar como ocorre a dominação de uma [[Classe social|classe]] pela outra. Segundo Gramsci, a hegemonia é alcançada quando as [[Elite|classes dominantes]] conseguem obter a adesão e consentimento das outras classes sociais, tornando a sua visão de mundo e seus interesses particulares em interesses gerais de toda a sociedade.{{sfn|GRAMSCI|2017|p=79-83}}
 
A teoria de Gramsci influenciou a nova história política ao ampliar o seu escopo de análise, incluindo a cultura, a [[sociedade civil]] e os [[Intelectual|intelectuais]] como elementos centrais na compreensão das [[Relação de poder|relações de poder]] e das [[práticas políticas]]. A nova história política, influenciada pelas ideias de Gramsci, busca analisar não apenas as instituições políticas formais, mas também os exercícios de poder cotidianos, as relações de dominação e resistência, procurando compreender como diferentes grupos sociais constroem e exercem sua [[influência política]], levando em consideração as dimensões culturais, sociais e [[Ideologia|ideológicas]].{{sfn|MENDONÇA|2012|p=62-64}}
 
=== Influência de Pierre Bourdieu ===
Outro teórico que trabalha com a lógica de perceber o poder para a além da coerção física é [[Pierre Bourdieu]], que desenvolveu o conceito de [[violência simbólica]] para explicar o poder exercido de forma sutil e imperceptível, por meio de [[Símbolo|símbolos]], [[Discurso|discursos]] e [[práticas culturais]]. A violência simbólica está relacionada à imposição de [[Valores morais|valores]], [[Norma|normas]] e [[Crença|crenças]] que são internalizados pelos indivíduos e que constituem suas percepções e [[Comportamento|comportamentos]]. Essa forma de violência ocorre quando os [[agentes sociais]] aceitam e reproduzem as [[estruturas de dominação]] e [[desigualdade]] sem questioná-las, as percebendo como naturais e [[Legitimação|legítimas]], gerando um efeito de ocultamento das relações de dominação nas estruturas sociais.{{sfn|BOURDIEU|1989|p.11-13}}{{sfn|MENDONÇA|2012|p=65-67}}
Outro teórico que trabalha com a lógica de perceber o [[poder]] para a além da [[coerção física]] é [[Pierre Bourdieu]], que desenvolveu o conceito de [[violência simbólica]] para explicar o poder exercido de forma sutil e imperceptível, por meio de [[Símbolo|símbolos]], [[Discurso|discursos]] e [[práticas culturais]]. A violência simbólica está relacionada à imposição de [[Valores morais|valores]], [[Norma|normas]] e [[Crença|crenças]] que são internalizados pelos indivíduos e que constituem suas percepções e [[Comportamento|comportamentos]]. Essa forma de [[violência]] ocorre quando os [[agentes sociais]] aceitam e reproduzem as [[estruturas de dominação]] e [[desigualdade]] sem questioná-las, as percebendo como naturais e [[Legitimação|legítimas]], gerando um efeito de ocultamento das relações de dominação nas [[estruturas sociais]].{{sfn|BOURDIEU|1989|p=11-13}}{{sfn|MENDONÇA|2012|p=65-67}}
 
O conceito de [[violência simbólica]] desenvolvido por [[Pierre Bourdieu|Bourdieu]] contribui para a nova história política ao enfatizar a importância de observarmos as disputas simbólicas nas dinâmicas de poder na sociedade, destacando que as [[Elite|classes dominantes]] não detêm apenas o [[poder econômico]], mas também possuem um capital simbólico que lhes permite impor sua visão de mundo e legitimar sua posição de dominação, ampliando assim o escopo de objetos de estudo.{{sfn|MENDONÇA|2012|p=68-70}}
 
=== Influência de Michel Foucault ===
A partir de década de 1950, [[Michel Foucault]] passou a trabalhar com o conceito de poder intrinsicamente ligado ao [[discurso]], argumentando que o poder não é apenas uma relação de dominação exercida por instituições ou indivíduos, mas também é produzido e mantido por meio do discurso. Segundo Foucault, o discurso não é simplesmente uma reprodução da realidade, além disso, é uma forma de exercício de poder que constitui e controla a maneira como as pessoas pensam, agem e se relacionam. O poder atua por meio do discurso ao estabelecer [[Valores morais|valores]], normas, [[Crença|crenças]] e [[Representações sociais|representações]] que são internalizadas pelas pessoas e reproduzidas de forma socialmente aceita. Assim, há uma legitimação do poder ao criar e impor certas formas de [[Conhecimento|conhecimentos]] e [[verdade]], excluindo e silenciando outras perspectivas e vozes.{{sfn|FOUCAULT|2008|p.134-142}}{{sfn|BARROS|2008|p18-19}}
A partir de década de 1950, [[Michel Foucault]] passou a trabalhar com o conceito de [[poder]] intrinsicamente ligado ao [[discurso]], argumentando que o poder não é apenas uma relação de dominação exercida por [[Instituição|instituições]] ou [[Indivíduo|indivíduos]], mas também é produzido e mantido por meio do discurso. Segundo Foucault, o discurso não é simplesmente uma reprodução da realidade, além disso é uma forma de exercício de poder que constitui e controla a maneira como as pessoas pensam, agem e se relacionam. O poder atua por meio do discurso ao estabelecer [[Valores morais|valores]], [[Norma|normas]], [[Crença|crenças]] e [[Representações sociais|representações]] que são internalizadas pelas pessoas e reproduzidas de forma socialmente aceita. Assim, há uma legitimação do poder ao criar e impor certas formas de [[Conhecimento|conhecimentos]] e [[verdade]], excluindo e silenciando outras perspectivas e vozes.{{sfn|FOUCAULT|2008|p=134-142}}{{sfn|BARROS|2008|p=18-19}}
 
Por meio da análise do discurso, Foucault influenciou profundamente a [[historiografia]] no século XX e por consequência, a nova história política ao incluir uma visão [[Holismo|holística]] e detalhada das [[Relação de poder|relações de poder]] na sociedade, ampliando inclusive as fontes utilizadas pela historiografia, desde anotações médicas a documentos que registram o cotidiano, [[relatos de experiência]], [[registros de prisões]], entre outras fontes. Foucault inclui no espectro de análise da historiografia a experiência de atores sociais historicamente marginalizados em campos de atuação pouco observados como o [[Familia|âmbito familiar]], as relações de [[parentesco]], a [[Sexualidade humana|sexualidade]] e a própria comunicação por meio da [[linguagem]]. {{sfn|Barros|2008|p=19-22}}
 
Por meio da análise do discurso, Foucault influenciou profundamente a historiografia no século XX e por consequência, a nova história política ao incluir uma visão [[Holismo|holística]] e detalhada das relações de poder na sociedade, ampliando inclusive as fontes utilizadas pela historiografia, desde [[registros médicos]] a documentos que registram o cotidiano, [[relatos de experiência]], [[registros de prisões]], entre outras fontes. Foucault inclui no espectro de análise da historiografia a experiência de atores sociais historicamente marginalizados em campos de atuação pouco observados como o âmbito familiar, as relações de [[parentesco]], a [[Sexualidade humana|sexualidade]] e a própria comunicação por meio da [[linguagem]]. {{sfn|Barros|2008|p.19-22}}
== Campos de Estudo da Nova História Política ==
 
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A partir do momento em que a '''nova história política''' abraça os estudos dos partidos políticos eles passam a serem considerados, antes de tudo, locais de mediação política, ou seja, ambientes em que o indivíduo se associa a outras pessoas que têm as mesmas aspirações e necessidades no âmbito político. A partir daí, em conjunto, este grupo de pessoas vai lutar por suas pautas comuns, que variam de acordo com o tipo de partido. Por exemplo, um partido formado por [[Proletariado|classes operárias]] tende a ter uma postura ativa em pautas como: melhores condições de trabalho, melhores salários, jornadas de trabalho menores, além de outras pautas relacionadas com [[Trabalhador|trabalhadores]].
[[Ficheiro:Alternative-fuer-Deutschland-Logo-2013.svg|miniaturadaimagem|259x259px|O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) foi fundado em 2013 na cidade de [[Berlim]]. Com orientação de extrema-direita, o partido tem entre suas pautas uma menor integração com do país com o resto da [[Europa]] e uma política contrária a [[imigração]]. ]]
Ao estudar partidos, o historiador da '''nova história política''' deve se atentar ao conflito de [[Geração|gerações]] existentes dentro de cada [[instituição]]. É muito comum que, em um mesmo partido, existam pessoas de [[Pirâmide etária|faixas etárias]] distintas. Muitas vezes, estes grupos entram em conflito, devido a diferenças de perspectivas próprias de cada geração. Em um partido de esquerda, uma geração que foi formada politicamente antes da [[queda do Muro de Berlim]] em 1989 tende a ter uma postura diferente de gerações que iniciaram na vida política após a queda, por exemplo. Conflitos de gerações também podem resultar em mudanças significativas na orientação ideológica dos partidos. Portanto, ao analisar as fontes e produzir seu trabalho, é dever do [[historiador]] estar atento em como as diferentes gerações presentes em um partido se relacionam.
 
Ao estudar partidos, o historiador da '''nova história política''' deve se atentar ao conflito de [[Geração|gerações]] existentes dentro de cada [[instituição]]. É muito comum que, em um mesmo partido, existam pessoas de [[Pirâmide etária|faixas etárias]] distintas. Muitas vezes, estes grupos entram em conflito, devido a diferenças de perspectivas próprias de cada geração. Em um partido de esquerda, uma geração que foi formada politicamente antes da [[queda do Muro de Berlim]] em 1989 tende a ter uma postura diferente de gerações que iniciaram na vida política após a queda, por exemplo. Conflitos de gerações também podem resultar em mudanças significativas na orientação ideológica dos partidos. Portanto, ao analisar as fontes e produzir seu trabalho, é dever do [[historiador]] estar atento em como as diferentes gerações presentes em um partido se relacionam.
Para finalizar, cabe destacar que os partidos políticos são representantes ideológicos do contexto ao qual eles estão inseridos, isto é, a orientação ideológica predominante em determinada [[sociedade]] vai refletir diretamente no crescimento e desenvolvimento do partido. Portanto, estas instituições podem servir como ponto de socialização entre pessoas próximas ideologicamente falando. Tomando o exemplo da [[Alemanha]], recentemente, devido principalmente ao alto número de imigrantes e a ascensão de um forte nacionalismo, a [[extrema-direita]] cresceu de forma considerável. Podemos perceber o movimento pela formação de um partido que representasse esta [[ideologia]]. O [[Alternativa para a Alemanha]] foi fundado em 2013, e desde então se tornou um importante ator no cenário político daquele país. O fato se torna mais interessante para estudos porquê representa o primeiro partido desta orientação desde no país desde o [[Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães|Partido Nazista]]. Logo, pela lógica da nova história política, temos a conclusão que a constante mudança de posição ideológica da população alemã ao longo dos anos resultou na formação de um ponto de representatividade e sociabilidade política: um partido de extrema-direita.
 
==== Desempenho do partido nas eleições legislativas ====
{| class="wikitable"
! rowspan="2" |Data
! rowspan="2" |Líder
! colspan="4" |M. Uninominal
! colspan="4" |M. Proporcional
! rowspan="2" |Deputados
! rowspan="2" |+/-
! rowspan="2" |Status
|-
!CI.
!Votos
!%
!+/-
!CI.
!Votos
!%
!+/-
|-
|2013
|[[Bernd Lucke]]
|8.º
|810 915
|{{Info/Partido político/lugares|1.9|100.0|dodgerblue}}
|
|7.º
|2 056 985
|{{Info/Partido político/lugares|4.7|100.0|dodgerblue}}
|
|{{Info/Partido político/lugares|0|631}}
|
|Extra-parlamentar
|-
|2017
|[[Alice Weidel]]
|3.º
|5 316 095
|{{Info/Partido político/lugares|11.5|100.0|dodgerblue}}
|{{Increase}}9,6
|3.º
|5 877 094
|{{Info/Partido político/lugares|12.6|100.0|dodgerblue}}
|{{Increase}}7,9
|{{Info/Partido político/lugares|94|709|dodgerblue}}
|{{Increase}}94
|Oposição
|-
|2021
|[[Alice Weidel]]
|4.º
|4 695 611
|{{Info/Partido político/lugares|10.1|100.0|dodgerblue}}
|{{Decrease}}1,4
|5.º
|4 803 902
|{{Info/Partido político/lugares|10.3|100.0|dodgerblue}}
|{{Decrease}}2,3
|{{Info/Partido político/lugares|83|736|dodgerblue}}
|{{Decrease}}11
|Oposição
|}
 
===== Desempenho do partido nas eleições europeias =====
{| class="wikitable"
!Data
!CI.
!Votos
!%
!+/-
!Deputados
!+/-
|-
|2014
|5.º
|2 065 162
|{{Info/Partido político/lugares|7.0|100.0|dodgerblue}}
|
|{{Info/Partido político/lugares|7|96|hex = dodgerblue}}
|
|-
|2019
|4.º
|4 103 453
|{{Info/Partido político/lugares|11.0|100.0|dodgerblue}}
|{{Increase}}4,0
|{{Info/Partido político/lugares|11|96|hex = dodgerblue}}
|{{Increase}}4
|}