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{{Mais notas|data=junho de 2020}}
{{Info/Batalha
| cores = background:#c0c0c0;
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| comandante1 = [[Francisco de Almeida, vice-rei da Índia|Dom Francisco de Almeida]]
| comandante2 = [[Mirocem|Amir Husain Al-Kurdi]],<br />[[Meliqueaz|Malik Ayyaz]]<br>Kunjali Marakkar
| for1 = 9 naus<br>6 [[caravelas]]<br>2 galés e 1 [[brigantim]]<br>800 soldados portugueses<br>400 [[nair]]esnaires malabares.
| for2 = 10 naus<br>6 galés<br>30 galés pequenas<br>70-150 navios-guerra<br>450 mamelucos<br>4000 a 5000 guzarates
 
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== Contexto ==
Dois anos após ter [[Vasco da Gama]] descoberto o caminho marítimo para a Índia, os portugueses chegaram à conclusão seria impossível comerciar ali tão pacatamente como faziam em África, devido à oposição das elites mercantes muçulmanas instaladas, que incitavam ataques contra feitorias, navios e agentes portugueses, sabotavam os esforços diplomáticos dos portugueses e encorajaram o [[Samorim|Samorim de Calecute]] a massacrar ou permitir o massacre dos portugueses em [[Calecute]] em 1500.<ref>Saturnino Monteiro (2011), ''Portuguese Sea Battles Volume I – The First World Sea Power'' p. 153-155</ref>
 
[[Pedro Álvares Cabral]] assinou portanto uma aliança com um inimigo de Calecute, o rajá de Cochim, em cujos reino convidou os portugueses a construirem uma fortaleza. O Samorim invadiu Cochim, mas os portugueses conseguiram devastar as terras e o comércio de Calecute, que na época servia como o principal exportador de especiarias para a Europa, através do [[Mar Vermelho]]. Em dezembro de 1504, os portugueses destruíram a frota mercante anual do Samorim com destino ao Egipto, carregada de especiarias.<ref>Saturnino Monteiro (2011), ''Portuguese Sea Battles Volume I – The First World Sea Power'' p. 200-206</ref>
 
Quando o rei [[Manuel I de Portugal|D. Manuel I]] recebeu em Portugal notícias destes desenvolvimentos, decidiu nomear D. Francisco de Almeida como primeiro vice-rei da Índia com ordens claras para não só salvaguardar as feitorias portuguesas, como também para combater a hostil navegação muçulmana. D. Francisco partiu de Lisboa em março de 1505 com vinte navios acompanhado pelo seu filho de 20 anos, D. Lourenço, este nomeado como capitão-mor do mar da Índia.<ref>Saturnino Monteiro (2011), ''Portuguese Sea Battles Volume I – The First World Sea Power'' p. 207</ref>
 
A intervenção portuguesa estava a causar sérios prejuízos ao comércio muçulmano no Oceano Índico, ameaçando também os interesses venezianos, dado que os portugueses eram capazes de vender mais barato que os venezianos no comércio de especiarias na Europa.
 
Incapazes de se oporem aos portugueses, as comunidades mercantis muçulmanas na Índia, bem como o Samorim de Calicute, enviaram enviados ao Egipto pedindo ajuda ao seu Sultão.<ref name="Logan316">''Malabar manual'' by William Logan p.316, [https://books.google.com/books?id=9mR2QXrVEJIC&pg=RA1-PA316 Books.Google.com]</ref>
 
=== O Sultanato do Egipto ===
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Como os soldados mamelucos tinham pouca experiência em guerra naval, o sultão Al-Ashraf Qansuh al-Ghawri, solicitou apoio aos venezianos, em troca da redução de tarifas para facilitar a competição com os portugueses.<ref name=":1" /> Veneza forneceu aos mamelucos naus do tipo mediterrâneo e [[Galé|galés]] de guerra tripuladas por marinheiros gregos, que os construtores navais venezianos ajudaram a desmontar em Alexandria e remontar no [[Suez]]. As galés podiam montar canhões à frente e atrás, mas não ao longo das amuradas por causa dos remadores. Os navios nativos ([[Dhow|dhows]]), com suas pranchas de madeira costuradas, só podiam transportar canhões muito leves.
 
O comando da expedição foi confiado a um mameluco curdo, ex-governador de [[Gidá|Jidá]], Amir Hussain Al-Kurdi ou Mirocem. A expedição (referida pelos portugueses pelo termo genérico "os rumes")<ref>Ozbaran, Salih, [http://findarticles.com/p/articles/mi_6748/is_17/ai_n28127644/?tag=content;col1 "Ottomans as 'Rumes' in Portuguese sources in the sixteenth century"] Portuguese Studies, Annual, 2001</ref> incluía não só mamelucos egípcios, mas também um grande número de mercenários turcos, núbios e etíopes, bem como artilheiros venezianos.<ref name=":0" /> A maior parte da "artilharia" da coligação eram arqueiros, que os portugueses poderiam facilmente superar com as suas [[Besta (arma)|bestas]] e arcabuzes.
 
A frota levantou âncora do Suez em novembro de 1505, com 1100 homens.<ref name=":0" /> Foi-lhes ordenado que a fortificassem Jidá contra um possível ataque português e também que reprimissem rebeliões em Suaquém e Meca. Tiveram que passar a monção na ilha de Camarão e desembarcaram em Adém na ponta do Mar Vermelho, e nesta cidade envolveram-se em custosas políticas locais com o emir Tahírida, antes de finalmente cruzarem o Oceano Índico.<ref>Brummett, Palmira.''Ottoman Seapower and Levantine Diplomacy in the Age of Discovery'', SUNY Press, New York, 1994, <nowiki>ISBN 0-7914-1701-8</nowiki> , pp. 35, 171,22</ref> Devido a estes atrasos, só quase dois anos volvidos, em setembro de 1507 lograram alcançar Diu, uma cidade na foz do Golfo de Cambaia, viagem que poderia ter durado não mais que um mês, se feita a todo o pano.<ref>Porter, Venetia Ann (1992) The history and monuments of the Tahirid dynasty of the Yemen 858-923/1454-1517, Durham theses, Durham University. Available at Durham E-Theses Online: <nowiki>http://etheses.dur.ac.uk/5867/</nowiki> p. 100</ref>
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De Cochim, os portugueses passaram primeiro por Calecute, procurando interceptar a frota do Samorim, mas já tinha esta partido para Diu. A armada ancorou então em [[Baticalá|Baticala]], para resolver uma disputa entre o seu rei e [[Timoja]], um corsário hindu aliado dos portugueses. Em Onor, D, Francisco encontrou-se com Timoja em pessoa, que informou o vice-rei dos movimentos inimigos. Em Onor, as galés portuguesas destruíram uma frota de corsários a soldo do Samorin de Calecute.<ref>Pissarra, José (2002). ''Chaul e Diu −1508 e 1509 – O Domínio do Índico'' Lisbon, Tribuna da História, pg.70</ref>
 
A frota fez aguada em Angediva e ali Dom Francisco encontrou-se com um enviado de Meliqueaz, porém desconhecem-se pormenores relativos a tal encontro.<ref>Pissarra, 2002, pg. 71</ref> Em [[Ilha de Angediva|Angediva]]. os portugueses foram atacados por uma frota de navios de [[Dabul]], importante cidade portuária fortificada pertencente ao Sultanato de Bijapur, que os portugueses não haviam molestado.
 
=== Dabul ===
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A batalha saldou-se numa vitória retumbante para os portugueses, com a coligação de guzerates, mamelucos e malabares derrotada. Os mamelucos lutaram ferozmente até à morte, mas não sabiam combater uma experiente força naval que nunca antes haviam visto. Os portugueses possuíam navios modernos, tripulados por marinheiros experientes, infantaria mais bem equipada – com pesadas armaduras integrais de aço, arcabuzes, e uma espécie de granada de barro cheia de pólvora – mais canhões e artilheiros mais hábeis do que os dos mamelucos.
 
Após a batalha, Meliqueaz devolveu os prisioneiros capturados em Chaul, bem vestidos e alimentados. Dom Francisco recusou-se a tomar posse Diu, alegando que seria dispendioso mantê-la.<ref>Saturnino Monteiro (2011), ''Portuguese Sea Battles Volume I – The First World Sea Power'' pg. 272</ref> Os portugueses procurariam mais tarde construir uma fortaleza em Diu, mas isto Meliqueaz conseguiu protelar enquanto se manteve ao comando da cidade.
 
Os despojos da batalha incluíam três galés, três naus, 600 peças de artilharia de bronze e três bandeiras reais do sultão do Cairo, que foram enviadas a Portugal para serem expostas no [[Convento de Cristo]], em [[Tomar]], sede da [[Ordem de Cristo]], ex-Cavaleiros Templários, dos quais Almeida fazia parte.<ref name="Pissarra 93">Pissarra, 2002, pg. 93</ref>
 
O vice-rei obteve dos mercadores de Diu (que haviam financiado o reequipamento da frota muçulmana) um pagamento de 300.000 [[xerafins]] de ouro, 100.000 dos quais foram distribuídos entre as tropas e 10.000 doados ao hospital de Cochim.<ref>Saturnino Monteiro (2011), ''Portuguese Sea Battles Volume I – The First World Sea Power'' pg. 273</ref>
 
O tratamento dado aos cativos mamelucos pelos portugueses foi, por outro lado, violento. O vice-rei mandou que a fossem enforcados, queimados vivos ou despedaçados, amarrados às bocas dos canhões, em retaliação à morte do seu filho. Comentando o rescaldo da batalha, Almeida relatou ao rei D. Manuel: “Enquanto fores poderoso no mar, manterás a Índia como tua; e se não possuires este poder, pouco te servirá uma fortaleza na costa."<ref name="ghosh">Ghosh, Amitav ''The Iman and the Indian: Prose Pieces'', Orient Longman, New Delhi, 2002, {{ISBN|81-7530-047-7}}, 377pp, 107</ref> Em novembro de 1509, entregou o governo da Índia a Afonso de Albuquerque e partiu para Portugal, mas não chegaria ao destino, pois foi morto em dezembro, numa escaramuça em terra perto do Cabo da Boa Esperança contra [[Coissãs|hotentotes]] tribais, juntamente com outros 70 portugueses – mais do que pereceram na Batalha de Diu. O corpo foi enterrado na praia e nunca mais recuperado ou localizado.
[[Ficheiro:Codice Casanatense Cafres.jpg|miniaturadaimagem|"Cafres do Cabo da Boa Esperança" representados no Códice Casanatense.]]
Mirocem por sua vez sobreviveu à batalha e conseguiu fugir de Diu a cavalo acompanhado por mais 22 mamelucos. Alcançou o Cairo e vários anos mais tarde foi encarregue de comandar uma nova frota com 3.000 homens contra os portugueses, mas foi assassinado no Mar Vermelho, pelo seu vice-almirante turco Selman Reis – que haveria de servir mais tarde os turcos [[Império Otomano|Otomanos]]. O sultanato mameluco do Egipto entrou em desagregação e foi conquistado pelos Otomanos em 1517, em parte devido aos estragos económicos causados pelos portugueses nos mares da Índia.<ref name="Pissarra 93"/>
 
De todos os principais participantes da Batalha de Diu, só Meliqueaz não morreria de forma violenta; morreu rico na sua propriedade, em 1522.<ref>Pissarra, 2002, pg. 57</ref>
 
=== Legado ===